terça-feira, 15 de janeiro de 2008

LARGO DAS NECESSIDADES

Largo das Necessidades(1963) Foto Armando Serôdio (Palácio das Necessidades fachada)-in AFML
Largo das Necessidades[s.d.] Foto António Passaporte (Chafariz das Necessidades)-in AFML

Largo das Necessidades[19--] Foto Paulo Guedes (Palácio das Necessidades) -in AFML


Largo das Necessidades(1908) Foto Joshua Benoliel (Chegada ao Palácio após a cerimónia em S. Bento do juramento e proclamação de D. Manuel II como Rei de Portugal) in AFML



Largo das Necessidades (1908) foto Alberto Carlos Lima-(A guarda no Palácio das Necessidades após o atentado) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
O LARGO DAS NECESSIDADES, freguesia dos PRAZERES, situa-se entre a Rua das Necessidades e a Rua Capitão Afonso Pala.
Segundo Gomes de Brito em Ruas de Lisboa, chegava-se ao Largo depois de se descer a Calçada das Necessidades e atravessar o Largo do Rilvas.
Tanto D. Maria II como D. Pedro V fizeram do Palácio das Necessidades residência permanente. Ali vivia a família quando o Rei D. Carlos foi vítima do regicídio e o 5 de Outubro afastou D. Manuel II do trono.
Grande parte do recheio deste Palácio foi enviada para o Museu de Arte Antiga, tal como aconteceu com outros Palácios portugueses aquando da implantação da República. No entanto, ainda hoje lá existem pinturas, retratos, mármores trabalhados, decoração prateada e dourada, sem esquecer a capela onde se encontram estátuas de Giusti e de José de Almeida, assim como ricas alfaias e ornamentos. Também os jardins são magníficos e o seu parque encontra-se repleto de árvores e arbustos exóticos.
Presentemente, a parte da frente do Palácio das Necessidades está ocupada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, que para ali foi transferido em 1916, e na parte de trás está instalado o quartel-general da Primeira Divisão Militar, com entrada pelo Largo do Rilvas.
Afirma Norberto de Araújo nas suas Peregrinações em Lisboa no livro IX:«Não é indiferente que nos quedamos a olhar a sua fachada, glórias e tragédias, alegrias e dores, confiança e certeza, fausto e penumbra passaram por ele. Não temos que o olhar com saudade, mas com um certo respeito comovido: não será do seu tempo, aquele que for insensível... às coisas do passado».
O Paço das Necessidades, largo aberto de linda vista para o Tejo e oxigenado pela frondosa Tapada do mesmo nome.
O Bloco das Necessidades, chamamos-lhe assim porque foi crescendo a partir de uma pequena Ermida, que nasceu de uma devoção. Uma grande peste martirizou Lisboa no reinado de Filipe III; a cidade ficou despovoada porque muitos morreram e outros fugiram. Entre as famílias em fuga, uma havia de devotos tecelões que na Ericeira encontraram abrigo, colocando-se sob a protecção de Nossa Senhora da Saúde cuja imagem veneravam numa pequena Ermida daquela praia. Anos depois regressaram à cidade e trazem consigo a imagem, procurando dar-lhe em Lisboa um local de culto, que conseguem por doação no Alto de Alcântara num pedaço de terreno enquanto que a construção da Ermida é custeada por esmolas piedosas. Alguns anos depois, em 1613, conhecida a sua fama milagreira, a Senhora é agora das Necessidades.
Já com uma Irmandade de marítimos da Carreira da Índia, a sua Ermida ia sofrendo melhoramentos. Com a proximidade do Palácio de Alcântara, a devoção vai estender-se aos Reis de Portugal, D. Pedro II e sua mulher D. Isabel de Sabóia que mandaram levantar uma tribuna ricamente guarnecida para as suas visitas ao pequeno templo, contribuindo para a ornamentação e paramentação da imagem.
Quando este Rei adoece em 1705, requer a santa na sua presença; uma vez restabelecido atribui à Senhora a benesse da sua cura, mandando pendurar a sua mortalha na ermida.
Seu filho D.João V, numa tarde de Maio de 1742 sente todo o seu lado esquerdo paralisar. Pensando que vai morrer, à semelhança do pai pede que a imagem da Nossa Senhora das Necessidades o assista na sua morte, esperançado talvez num milagre da Santa. O Rei salva-se e promete a construção de uma igreja para a sua milagreira, mantendo a imagem à sua cabeceira para sempre.
O "Magnânimo" rei, cumpre a sua promessa e para além da igreja manda construir um hospício e convento que doa aos frades da congregação do Oratório de S. Filipe Néri que, quando para lá se mudam, já em 1757, seguindo a vocação da Ordem, abrem uma escola que vai das primeiras letras aos preparatórios para a Universidade.
Mas D. João V, rei absoluto, não edifica sem deixar a marca do poder temporal, e completa a construção com um Palácio, símbolo da omnipresença Real: O Trono patrocina e protege o Altar.
O Palácio, insuficiente para alojar a corte absolutista, servirá sobretudo para receber visitantes ilustres como diz o francês Carrére na sua Voyage au Portugal... no fim do século XVIII, o Palácio era particularmente ocupado por particulares com autorização da rainha D. Maria I. Murphy, na mesma altura, no mapa de Lisboa inserto na sua obra sobre o país, apenas menciona o hospício.
O original William Beckford, na primeira estada em Portugal em 1797, habitou junto às Necessidades; e fala-nos no seu Diário de uma cerimónia religiosa a que assistiu no convento: a consagração de um frade oratoriano elevado a Bispo do Algarve. A Igreja estava ricamente decorada e o chão repleto de tapeçarias persas: «Era extraordinário o esplendor das capas, dos turíbulos(1), das mitras e dos báculos(2) em contínuo movimento». Mas a sua ligação ao sítio, referido várias vezes no livro, passa sobretudo pelos refrescantes passeios no terreiro, ao fim da tarde, só ou na companhia de amigos; pelo contacto com a natureza, o fruir da paisagem, dos jardins, do ruído tranquilo das águas do chafariz. Num dia inicia o seu diário dizendo: «Tenho estado debruçado sobre os jasmins que trouxe das Necessidades, inalando o seu doce perfume». Confessa-nos, no entanto, que duma vez não conseguiu acalmar o seu temperamento de achaques românticos, e tanto andou pelo terreiro das Necessidades que voltou coxo para casa.
Usufruindo de toda a infra-estrutura existente e das instalações da biblioteca, funcionou nas Necessidades durante os primeiros anos da vida de 1780 a 1791, a Academia Real de Ciências.
A riqueza da biblioteca Oratoniana é comentada desde sempre. O italiano Gorani que a visitou ainda no tempo do Marquês de Pombal, maravilhou-se com a raridade das suas obras.
Após a extinção das Ordens Religiosas, todo o seu recheio passou para a Biblioteca da Ajuda.
O Largo das Necessidades, com o seu jardim (hoje Olavo Bilac), foi mandado construir por ordem de D. João V conjuntamente com o chafariz das Necessidades no ano de 1747, ao arquitecto Caetano Tomás de Sousa.
Esta obra escultórica, resulta da implantação de um obelisco que emerge do interior do tanque quadrilobado, sendo cada lobo ornado ricamente com belíssimos mascarões que jorram água. Este conjunto de mármore é rematado superiormente por uma resplandecente custódia, encimada por uma cruz dourada.
(1) - Vaso em que se queima o incenso
(2) - Cajado pastoral dos Bispos, que tem a extremidade superior curva.





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