quarta-feira, 28 de abril de 2010

RUA DO TERREIRO DO TRIGO [ III ]

Rua do Terreiro do Trigo - (2009) Foto de APS (Parte do edifício da Alfândega no lado Sul e início do Largo do Terreiro do Trigo) ARQUIVO/APS
Rua do Terreiro do Trigo - (2009) (Foto de autor não identificado) (A Rua do Terreiro do Trigo - o segundo prédio à direita com os números 78 a 84, foi em tempos "OS BANHOS DO BAPTISTA", hoje uma agência do BPI) in SKYSRAPERCITY

Rua do Terreiro do Trigo - (s/d) - Fotógrafo não identificado (Mercado Central de Produtos Agrícolas, actual edifício da Alfândega) in AFML
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(CONTINUAÇÃO)
RUA DO TERREIRO DO TRIGO [ III ]
«O CELEIRO PÚBLICO DE LISBOA (2)»
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No meio das pilastras abre-se um portal, de grande efeito arquitectónico e por cima, sobre plataforma de cantaria apoiada em robustas consolas divergentes, uma janela de sacada entre dois remates piramidais adoçados à parede, parcialmente cobertos por salientes espigas de trigo.
Embora não visível do exterior, e talvez mais engenhoso o reforço da parede Sul do bloco Norte do edifício só observável da passagem interior, também era utilizado para depósito do cereal, por beneficiar do calor do sol.
Quando a utilização do edifício mudou para a actual, os artifícios técnicos descritos perderam todo o sentido. A passagem longitudinal média, a céu aberto, foi coberta e alterada a disposição de alguns espaços interiores; e os gigantes, de funcionais passaram a decorativos, numa fachada de grande impacto visual.
Este espaço funcionava como depósito obrigatório, mercado regulador e alfandega de trigo e outros cereais, proibindo-se a venda fora do terreno, sob pena de multa e de açoites com baraço e pregão. O «CELEIRO DE PORTUGAL», assim lhe chamou o padre «DUARTE DE SANDE», na centúria de quinhentos, não deixando de enaltecer a mestria das padeiras alfacinhas e o «SABOR FINÍSSIMO» do seu pão.
Não se pode imaginar a miscelânea de gente que davam vida e cor a esta local. Se os moços vadios e amigos do alheio que por aqui abundavam não destoam num cenário onde outrora se realizavam «EXECUÇÕES CAPITAIS», já o mesmo não se pode dizer da convivência entre os carregadores do trigo e as centenas de «MEDIDEIRAS», que ali trabalhavam e cuja reputação deveria ser incontestável, pois teriam de ser "casadas ou viúvas honestas, mulheres de homem de idade, que não presuma delas fazerem o que não devem".
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O «CELEIRO PÚBLICO DE LISBOA» há muito que cessou a função para que foi destinado. Com o aparecimento das fábricas de Moagem e em determinada época foi o «GRÉMIO DO TRIGO» que se encarregava de gerir o cereal.
O tão falado "agasalho do pão" do tempo de «D. MANUEL I», tomou então variantes, hoje irreconhecíveis na expressão orgânica e administrativa.
Neste edifício funcionou o «MERCADO CENTRAL DE PRODUTOS AGRÍCOLAS», e recebeu obras de limpeza em 1911, tendo funcionado até Março de 1937, os seguintes serviços: «DIRECÇÃO GERAL DE PECUÁRIA»; «DIRECÇÃO GERAL DOS SERVIÇOS FLORESTAIS E AGRÍCOLAS».
A transformação do velho «TERREIRO DO TRIGO» no seu interior, esteve subordinada à «DIRECÇÃO GERAL DOS EDIFÍCIOS E MONUMENTOS NACIONAIS», dirigida pelo arquitecto «JORGE BERMUDES» e pelo engenheiro «DÁCOME DE CASTRO». No edifício após a sua renovação, foram instaladas a «DIRECÇÃO GERAL DAS ALFÂNDEGAS» e seus serviços anexos, bem como a «GUARDA FISCAL»(1937).
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«RUA DO TERREIRO DO TRIGO [ IV ] - A ALFÂNDEGA DE LISBOA»


sábado, 24 de abril de 2010

RUA DO TERREIRO DO TRIGO [ II ]

Rua do Terreiro do Trigo - (2009) Foto de APS (Fachada Sul do edifício da Alfândega, visto do parque de estacionamento) ARQUIVO/APS
Rua do Terreiro do Trigo - (2009) (Foto de autor não identificado) (Fachada da entrada Norte do antigo Celeiro Público de Lisboa depois Alfândega de Lisboa) in SKYSRAPERCITY

Rua do Terreiro do Trigo - (1928) Foto de Eduardo Portugal - (Mercado Central de Produtos Agrícolas, actual edifício da Alfândega) in AFML

Rua do Terreiro do Trigo - (Início do século XX) - Fotógrafo não identificado (Memórias das Alfandegas - Alfândega de Lisboa ainda com o edifício junto ao rio) in DIRECÇÃO-GERAL DAS ALFÂNDEGAS.
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(CONTINUAÇÃO)
RUA DO TERREIRO DO TRIGO [ II ]
«O CELEIRO PÚBLICO DE LISBOA ( 1 ) »
O vasto edifício de três andares, com cerca de 110 metros de comprimento por 30 de largura, ocupando todo o lado Sul da «RUA DO TERREIRO DO TRIGO» e construído em 1765 a 1768, para substituir o «TERREIRO DO TRIGO» ou «TERREIRO DO PÃO» - descrito no Sumário: "pegado com o mar está a casa do terreiro do trigo, grande e formoso posto em trinta e dois arcos, repartidos em duas partes por oitenta casas onde se recolhe todo o pão de que se provê a cidade, e o mais do termo" (1) - de origem «MANUELINO», na construção actual «POMBALINA».
Por ter funcionado até 1777, sob a tutela do «SENADO DA CÂMARA DE LISBOA», ostenta a pedra de armas desta instituição nos cunhais Nordeste e Noroeste.
Hoje, é sede da «DIRECÇÃO DAS ALFÂNDEGAS DE LISBOA E IMPOSTOS ESPECIAIS SOBRE O CONSUMO», depois de, durante alguns anos, ter sido o «MERCADO CENTRAL DE PRODUTOS AGRÍCOLAS».
Na versão original, e repetindo a planta do velho «TERREIRO DO PÃO», o edifício era construído por duas alas semelhantes e paralelas a todo o comprimento, separadas por largo corredor a céu aberto e ligado pelas fachadas Leste e Oeste, de três corpos, em que, no central, de cantaria e terminando por frontão triangular, se abrem os portões de acesso ao corredor.
Os carros que transportavam as mercadorias entravam por um dos lados e saíam pelo outro, contactando, na passagem, com as lojas dos comerciantes, dispostos de um e de outro lado do percurso.
A longa fachada voltada ao Norte tem no corpo central, sobre a porta, a seguinte inscrição: JOSÉ:I. AUGUSTO INVICTO PIO REI E PAI CLEMENTISSIMO DOS SEUS VASSALOS PARA ASSEGURAR A ABUNDANCIA DE PÃO AOS MORADORES DA SUA NOBRE E LEAL CIDADE DE LISBOA E DESTERRAR DELA A IMPIEDOSA DOS MONOPÓLIOS DEBAIXO DA INSPECÇÃO DO SENADO DA CÂMARA SENDO PRESIDENTE DELE PAULO DE CARVALHO MENDONÇA MANDOU EDIFICAR DESDE OS FUNDAMENTOS ESTE CELEIRO PÚBLICO ANO MDCCLXVI (1766).
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O edifício é notável e beneficia de alguns pormenores técnicos originais, cuidadosamente pensados e executados, patentes em especial no desenho da fachada virada a Sul, hoje na actual «AVENIDA INFANTE D.HENRIQUE», onde à data da sua fundação chegavam as águas do Tejo, as quais, certamente, na época das cheias, podiam galgar o cais que então existia; esta circunstância explica o jorramento de cantaria que se observa na base da fachada. E, como o edifício se destinava a armazéns de trigo, acumulava-se o cereal contra as paredes mais aquecidas, que são as voltadas ao Sul, o que exercia sobre estas paredes uma pressão suplementar; para reforço, foram criadas gigantes de cantaria na zona inferior, que arrancam do solo e vão morrer junto à cimalha geral, distribuídos a espaços regulares, oito em cada lado do pano central da fachada, definido por duas pilastras.
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(1) - Lisboa em 1551 - SUMÁRIO de Cristóvão Rodrigues de Oliveira - pág. 103
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DO TERREIRO DO TRIGO [III] CELEIRO PÚBLICO DE LISBOA (2)»


quarta-feira, 21 de abril de 2010

RUA DO TERREIRO DO TRIGO [ I ]

Rua do Terreiro do Trigo - (2010) - Panorama da Rua do Terreiro do Trigo (ALFAMA) - LEGENDA: (A) - Antigo "CELEIRO PÚBLICO DE LISBOA" actual "ALFANDEGA DE LISBOA". - (B) -Antiga "ESTAÇÃO ELEVATÓRIA DA PRAIA" actual "MUSEU DO FADO". - (C) - Antigo "CHAFARIZ DOS CAVALOS" actual "CHAFARIZ DE DENTRO" (Desactivado). - (D) - As antigas "ALCAÇARIAS" do DUQUE; de D. CLARA; do J.A.BAPTISTA e os "BANHOS DO DOUTOR(FERNANDO) nas traseiras do Largo do Chafariz de Dentro. in WIKIMAPIA
Rua do Terreiro do Trigo - ( 2009) - Foto de autor não identificado (Mapa de Alfama em azulejo - Largo do Chafariz de Dentro) in SKYSCRAPERCITY

Rua do Terreiro do Trigo - (1856-1858) - (Atlas da Carta Topográfica de Lisboa sob a direcção de Filipe Folque: 1856-1858) Câmara Municipal de Lisboa - Departamento de Património Cultural - Arquivo Municipal de Lisboa.


Rua do Terreiro do Trigo - (1805) (Autor: Manuel Godinho - Fonte: Museu da Cidade de Lisboa) (Vista do Terreiro da Cidade de Lisboa - Edifício do Celeiro Público de Lisboa) in Secretaria Geral do Ministério das Finanças e da Administração Pública - SGMF.
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RUA DO TERREIRO DO TRIGO [ I ]
«A RUA DO TERREIRO DO TRIGO»
A «RUA DO TERREIRO DO TRIGO» pertence a duas freguesias.
À freguesia de «SÃO MIGUEL» todos os números pares, à freguesia de «SANTO ESTEVÃO» os números ímpares. Começa no «LARGO DO CHAFARIZ DE DENTRO» e finda no «LARGO DO TERREIRO DO TRIGO».
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«A "RUA DO TERREIRO DO TRIGO" E SEU ENVOLVENTE»
Esta memória da velha «LISBOA RIBEIRINHA», conheceu vários nomes ao longo dos séculos, tais como: «RUA DA PRAIA»; «RUA DO TERREIRO PÚBLICO»; «RUA DO TERREIRO»; «RUA DIREITA DO TERREIRO»; «LARGO DO TERREIRO DO TRIGO», correspondente ao seguimento de todo o espaço ocupado da actual Rua e Largo com a mesma designação.
O topónimo definitivo deve ter a sua origem no edifício do «CELEIRO PÚBLICO DE LISBOA» mandado construir por «D. JOSÉ» em 1766, em substituição do «TERREIRO DO TRIGO» Manuelino, destruído com o Terramoto de 1755.
Situa-se num dos bairros mais antigos e típicos de Lisboa «ALFAMA» (ver mais aqui).
O seu nome deriva do árabe "al-hamma" que significa "banhos" ou "fontes". Durante o domínio muçulmano, poder-se-ia falar de uma Alfama do Alto, mais aristocrata, situada dentro da «CERCA MOURA», na parte Oriental da actual freguesia da «», que comunicaria pela «PORTA DE ALFAMA» ou de «SÃO PEDRO» (na actual "RUA DE SÃO JOÃO DA PRAÇA") com uma «ALFAMA DO MAR», arrabalde popular.
Com o domínio Cristão a designação «ALFAMA» foi-se alargando mais para Leste, dentro dos limites da «CERCA NOVA» ou «CERCA FERNANDINA», passando para lá do «CHAFARIZ DE DENTRO».
Diz-nos «NORBERTO DE ARAÚJO» nas suas «PEREGRINAÇÕES EM LISBOA» que: (...) Alfama, começando por ser árabe, foi assim, dentro da cristandade, de todas as castas e civilizações: mouros, judeus, fôrros, cativos, negros - mais tarde - , portugueses de todas as classes, alfamistas de todos os títulos. Plebeia, marítima, fidalga, religiosa. Desta amálgama de costumes à semelhança do próprio aglomerado, resulta talvez o seu interesse de agora. O Terramoto não lhe alterou a disposição urbana, no traçado, do acaso antigo, de serventias grandes e pequenas, nas artérias e nas linhas fininhas, quase imperceptíveis.(...) Tornando aos limites de «ALFAMA» podemos hoje circunscreve-la convencionalmente à sua expressão pitoresca, de casario amontoado e agachado aos pés do velho «PAÇO»(...) dando-lhe ainda por limites altos «S. VICENTE», ao sul o Mar, ou seja o «TERREIRO DO TRIGO» e a «RUA JARDIM DO TABACO», a poente a «SÉ», e a nascente as «PORTAS DA CRUZ», ou seja a confluência «REMÉDIOS - PARAÍSO».
Existem registos históricos documentados da existência de nascentes nesta zona de «ALFAMA», mas isso deixamos para mais tarde...
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DO TERREIRO DO TRIGO [ II ] - O CELEIRO PÚBLICO DE LISBOA (1)»





sábado, 17 de abril de 2010

RUA DE XABREGAS [ XIX ]

Rua de Xabregas - (1989) - Foto de APS (O edifício onde funcionava o IPA, nos terrenos da antiga "FÁBRICA DAS VARANDAS") ARQUIVO/APS
Rua de Xabregas - (1989) - Foto de APS ( Centro Comercial instalado nos terrenos da antiga FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS ORIENTAL (vulgo) "FÁBRICA DAS VARANDAS") ARQUIVO/APS

Rua de Xabregas - (1989) - Foto de APS (Final da Calçada de Dom Gastão inicio da Rua de Xabregas, esquina com a Rua José António Lopes - que nesta altura, existia a "Farmácia Conceição" na esquina) ARQUIVO/APS
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(CONTINUAÇÃO)
RUA DE XABREGAS [ XIX ]
«FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS ORIENTAL (vulgo) "FABRICA DAS VARANDAS" (3)»
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A antiga unidade fabril era em finais do século XIX conhecida por "EMPRESA DA FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS ORIENTAL".
Em 1947 entrou para a administração o «ENGº TOMÁS DA ROCHA LEÃO DE SOUSA EIRÓ». Esta mudança parece estar relacionada com o aumento de capital e reforço do fundo de reserva. Nos últimos anos da década foram adquiridos à Inglaterra máquinas para a oficina de preparação e de fiação (abridores, batedores, cardação, penteação e torcedura).
A política social da empresa registou uma mudança significativa entre os finais de 40 e a década seguinte.
Na década de cinquenta caracterizou-se por uma grande queda nos lucros da empresa que se reflectiram nas opções industriais dos anos seguintes.
No ano de 1966 é encerrada a secção de tecelagem, que é transferida para o PORTO, para uma empresa do grupo económico a que pertencia.
A «FÁBRICA DAS VARANDAS» manteve-se em funcionamento até ao início da década de oitenta, apenas com a secção de fiação.
A história laboral da «FÁBRICA DAS VARANDAS», encontra-se recheada de múltiplos acontecimentos laborais (greves, despedimentos).
A mudança de atitude apoiada pelo ESTADO NOVO permitiu suprir parcialmente as críticas dos operários, em relação à assistência social. Constrói-se um edifício apropriado para os diversos serviços, como uma creche, um refeitório, cozinhas e um posto de socorros.
Em 1976, reflectia-se na «FÁBRICA DAS VARANDAS» os problemas económicos e sociais criados após o 25 de Abril de 1974.
Pertencia então a «MANUEL F. A. COIMBRA» e encontrava-se em laboração intermitente por falta de matéria-prima, baixa de produção e dificuldades de obtenção de acessórios para as máquinas. Os edifícios encontravam-se em mau estado de conservação, laborando ainda 254 operários, a maioria mulheres.
Finalmente, em 1983, o seu encerramento estava iminente. O conjunto fabril foi depois objecto de uma urbanização, preservando-se apenas o janelão de ferro, localizado agora no piso térreo do Centro Comercial, única testemunha desta fábrica que deu emprego a muita gente, nesta modesta zona de XABREGAS.
Como curiosidade, na «FÁBRICA DAS VARANDAS» trabalhavam os pais do grande matador de touros «MANUEL DOS SANTOS», (ver mais aqui). Sabemos que moravam no «ALTO DOS TOUCINHEIROS».
Os pais de «MANUEL DOS SANTOS» separaram-se e o Manuel, ainda pequeno foi com sua mãe para casa do avô (materno) na «GOLEGû.
Mais tarde o pai de Manuel passou a viver maritalmente com uma senhora que morava no «PÁTIO JOSÉ INGLÊS», tiveram uma filha (meia-irmã de Manuel) de nome «MANUELA».
O Toureiro «MANUEL DOS SANTOS» sempre a protegeu, tanto na sua criação como nos estudos. Mais tarde trabalhou na empresa de seu irmão «SOCIEDADE DO CAMPO PEQUENO», até à morte deste, em 1973.
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BIBLIOGRAFIA
- Araújo, Norberto - 1992-1993 - Peregrinações em Lisboa - Livro XV - Lisboa - Vega.
- Ferreira, Jaime Alberto do Couto - 1999 - Farinhas, Moinhos e Moagens - Lisboa - Ancora.
- Ferreira, Paula Cristina - Sanchez, Paula e Figueiredo, Sandra - 1995 - A FREGUESIA DO BEATO NA HISTÓRIA - Lisboa - Junta de Freguesia do BEATO.
- Folque, Filipe - 2000 - Atlas da Carta Topográfica de Lisboa, sob a direcção de: 1856-1858 - Lisboa - CML - Departamento de Património Cultural - Arquivo Municipal de Lisboa.
- Folgado, Diolinda e Custódio, Jorge - 1999 - Caminho do Oriente - Guia do Património Industrial - Lisboa - Livros Horizonte.
- Furtado, Mário - 1997 - Do Antigo sítio de Xabregas - Lisboa - Vega.
- Matos, José Sarmento de e Paulo, Jorge Ferreira - 1999 - Caminho do Oriente - Guias Históricas II - Lisboa - Livros Horizonte.
- Matos, José Sarmento de - 1994 - Lisboa, um passeio a Oriente - Lisboa - Parque Expo'98 e Metropolitano de Lisboa
- Oliveira, Cristóvão Rodrigues - 1987 - Lisboa em 1551 - SUMÁRIO - Lisboa - Livros Horizonte.
- Santana, Francisco e Sucena, Eduardo (Coord) - 1994 - Dicionário da História de Lisboa - Lisboa - Carlos Quintas e Associados.
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(PRÓXIMO) «RUA DO TERREIRO DE TRIGO [ I ] - A RUA DO TERREIRO DO TRIGO»



quarta-feira, 14 de abril de 2010

RUA DE XABREGAS [ XVIII ]

Rua de Xabregas - (2006) (Sitio da antiga "Fábrica das Varandas" existe agora esta edifício de serviços onde funcionou o -IPA-Instituto Superior Autónomo de Estudos Politécnicos) in FACULDADE DE ARQUITECTURA DA UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA.
Rua de Xabregas - (1989) Foto de APS ( Terrenos da antiga Fabrica de Fiação e Tecidos Oriental, vulgarmente chamada "Fábrica das Varandas", hoje um edifício de serviços) ARQUIVO/APS

Rua de Xabregas - (1989) - Foto de APS ( A RUA JOSÉ ANTÓNIO LOPES o Centro Comercial no lado esquerdo, em terrenos da antiga "FABRICA DAS VARANDAS") ARQUIVO/APS
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(CONTINUAÇÃO)
RUA DE XABREGAS [ XVIII ]
«FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS ORIENTAL (vulgo) "FÁBRICA DAS VARANDAS" (2)»
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Após as dificuldades iniciais a Têxtil passou a funcionar regularmente, desde 1893, com o capital inicial. Entre os principais produtos refiram-se diversos números de fios, tecidos e estofos (pano cru, enfeitados, lonas e sarjas).
Em 1898 trabalhavam nesta fábrica 425 operários.
Na segunda década do século XX procedeu-se à alteração dos estatutos e ao aumento do capital social para (550 contos).
As diversas crises fabris, entre a «I GUERRA MUNDIAL» e a crise da Bolsa de Nova Iorque em 1929, reflectiram-se na vida da empresa.
A partir de 1930, passou a ser administrada pelo empresário catalão, «LORENZO CISA Y TAY». A planta fabril sofre alterações e a área é ocupada em 15 000 metros quadrados. Segundo nos diz «CARLOS BASTOS» compreendia cinco secções: "fiação com doze mil cento e sessenta fusos; tecelagem, com trezentos e quarenta e sete teares; branqueio e acabamento; e fios para embalagens e fita vegetal (1947). (1)
A nível de produção enveredou-se para tecidos mais finos (cassas (2), bretanhas (3), estamparias etc.) e algodão e gazes para fins farmaceuticos. Especializara-se também no ramo das fitas e fios de vegetal, organizando-se em oficinas especializadas.
Diz-nos ainda da «FÁBRICA DAS VARANDAS» «MÁRIO FURTADO», no seu livro «DO ANTIGO SÍTIO DE XABREGAS» na página 107 o seguinte: "os salários mínimos (estamos a referir-nos à primeira metade dos anos 50 do século passado) oscilavam entre 110$00 e 130$00 (cento e dez escudos e cento e trinta escudos).
As tecedeiras que trabalhassem de empreitada (empreiteiras), se produzem ou o trabalho correr bem, poderão tirar médias de 180$00 ou 190$00.
O ruído na secção de Tecelagem era de tal ordem que obrigava as pessoas a comunicar por mímica, ou a bradar em altos berros. Por outro lado, como as condições atmosféricas influíssem no rendimento do trabalho - a trama (4) partia com mais facilidade com tempo seco - , as pobres sujeitavam-se, frequentemente, à acção dos humidificadores instalados nas oficinas de fiação.
Quanto a férias remuneradas - uma semana - era normal as operárias só terem direito a 2,3 ou quatro dias, se tivessem faltado para acudir ao filho ou marido doente".
- (1) - CARLOS BASTOS "EMPRESA DA FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS ORIENTAL", in O Algodão no Comércio e na Industria Portuguesa - Porto - Grémio dos Importadores de Algodão em Rama, (1947) pp 37-38.
- (2) - Tecido transparente de linho ou algodão
- (3) - Tecido fino de linho ou algodão
- (4) - Fio que se conduz com a lançadeira através do urdume da teia
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DE XABREGAS [ XIX ] - FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS ORIENTAL (vulgo) "FÁBRICA DAS VARANDAS" (3)»FINAL.



sábado, 10 de abril de 2010

RUA DE XABREGAS [ XVII ]

Rua de Xabregas - (1989) Foto de APS (Rua de Xabregas, em segundo plano o Palácio Olhão e o edifício nos terrenos da antiga "FÁBRICA DAS VARANDAS") ARQUIVO/APS
Rua de Xabregas - (2005) - Foto de APS (O local onde se encontra este edifício, outrora a Fábrica de Fiação e Tecidos Oriental, vulgarmente chamada de "Fábrica das Varandas", pertence hoje a um C.C. e nele está instalado o IPA) ARQUIVO/APS

Rua de Xabregas - (1898 ?) - Fachada da Fábrica de Fiação e Tecidos Oriental (vulgo) Fábrica das Varandas, na Rua de Xabregas em finais do século XIX) in CAMINHO DO ORIENTE
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(CONTINUAÇÃO)
RUA DE XABREGAS [ XVII ]
«FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS ORIENTAL (vulgo) "FÁBRICA DAS VARANDAS" (1)»
Na «RUA DE XABREGAS» nos números 2 a 20 existiu a «FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS ORIENTAL» de (1888 a 1983), tendo sido uma das mais emblemáticas e importantes unidades têxteis, deixando uma auréola na vida social e na história do sítio de «XABREGAS».
«ABEL BOTELHO» no seu romance «AMANHû, refere-se que no tempo em que já era conhecida por "FÁBRICA DAS VARANDAS", designação popular que se manteve até ao encerramento. Na história do operariado português é um marco indispensável, porque está associado a dirigentes operários, greves e lutas sociais, que motivaram frequentes despedimentos e outros acontecimentos de relevo na sua existência de cerca de cem anos.
A fábrica foi fundada pela «COMPANHIA ORIENTAL DE FIAÇÃO E TECIDOS», uma Sociedade Anónima criada em 2 de Abril de 1888.
Nos primeiros anos foi dirigida por «ERNESTO DRIESEL SCHROETER (1850-1942)» e «MANUEL JOSÉ DA SILVA». O capital inicial era de 400 contos. Em 14 de Agosto de 1888, a referida Companhia estabeleceu um contrato com «FRANCISCO BAERLEIN», representante da firma «BAERLEIN & Cª.» de Manchester, para a construção de uma fábrica de primeira classe, nos seus terrenos de «XABREGAS».
«FRANCISCO BAERLEIN» concretizou o projecto entre essa data e 31 de Agosto de 1891, fornecendo o maquinismo mais aperfeiçoado para a industria de fiação e tecelagem de algodão, incluindo uma máquina a vapor.
A nova fábrica, muito embora fosse equipada com o melhor que existia nessa altura para a industria têxtil, não ficou desde logo perfeita, devido a um problema grave ocorrido na máquina a vapor.
Por essa razão, entre Dezembro de 1891 (altura da inauguração) e 1893, houve um contencioso judicial entre os empreiteiros e a Companhia.
O estabelecimento fabril encontrava-se protegido da via pública por uma correnteza de um piso, onde ficavam as oficinas, sobre as quais se situavam as varandas.
Na parte de trás encontravam-se as duas oficinas principais, a fiação e a tecelagem, em edifícios separados, construídos com dois pisos cada um. A fiação organizava-se longitudinalmente à via pública e a tecelagem transversalmente, logo a seguir à portaria e à escada que subia aos escritórios.
Próximo a essa escadaria encontrava-se um grande janelão em ferro forjado e fundido, com a data de 1888 (hoje, na frontaria do novo edifício, conforme foto de 2005). Esse janelão iluminava a casa das máquinas, onde foi instalado um motor a vapor de alta e baixa pressão.
(CONTINUA)-(PRÓXIMO)-«RUA DE XABREGAS [XVIII]-FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS ORIENTAL (vulgo) "FABRICA DAS VARANDAS" (2)»



quarta-feira, 7 de abril de 2010

RUA DE XABREGAS [ XVI ]

Rua de Xabregas - (2009) - Foto de Dias dos Reis (Palácio de Xabregas ou dos Marqueses de Olhão restaurado no século XXI) in DIAS DOS REIS
Rua de Xabregas - (1998 ?) - Fotógrafo não identificado (Fachada sobre o pátio com o portal nobre do Palácio dos Marqueses de Olhão) in CAMINHO DO ORIENTE

Rua de Xabregas - (1989) - Foto de APS (Palácio Olhão ou Palácio de Xabregas na Rua de Xabregas) ARQUIVO/APS


Rua de Xabregas - (1989) Foto de APS (Fachada do Palácio Olhão com catorze janelas, na Rua de Xabregas) ARQUIVO/APS
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(CONTINUAÇÃO)
RUA DE XABREGAS [ XVI ]
«PALÁCIO DOS MARQUESES DE OLHÃO ( 2 )»
O herdeiro natural deste Palácio foi o filho mais velho de «TRISTÃO DA CUNHA» de nome «NUNO DA CUNHA», figura de reconhecido merecimento com menos sorte, andou por terras da ÍNDIA, onde, de 1529 a 1539, exerceu o cargo de 10º Governador.
Como o primogénito só tivesse sucessão feminina, a propriedade de XABREGAS, veio a entrar na posse da casa do MONTEIRO-MOR do reino, um ramo da família «MELO».
Assim continuou, até que dela foi herdeiro «JORGE DE MELO», filho do MONTEIRO-MOR «MANUEL DE MELO». Foi outra figura de primeiro plano na nossa história, juntamente com seu irmão, o MONTEIRO-MOR «FRANCISCO DE MELO», brilhante diplomata, foi um dos conspiradores de 1640. É tradição que, nas casas de XABREGAS se reunião os conjurados, o que valoriza a dimensão histórica deste velho Palácio.
Com a morte deste louvado patriota, herdou a casa sua sobrinha «D. FRANCISCA DE MENDONÇA», casada com «SIMÃO DA CUNHA», seu parente, descendente de um dos outros filhos citados de «TRISTÃO DE CUNHA», também «SIMÃO DA CUNHA».
Pela ausência de geração deste casal, a casa passa para «PEDRO CUNHA E MENDONÇA», sobrinho de «SIMÃO DA CUNHA», filho de seu irmão «TRISTÃO DA CUNHA», 1º senhor de «VALDIGEM», que foi governador de ANGOLA.
Veio a aumentar-se a confusão sobre a transmissão da propriedade no momento em que estes «CUNHAS» se fundiram, por casamento, com a casa do «MONTEIRO-MOR».
«FRANCISCO DE MELO DA CUNHA E MENDONÇA E MENESES» viria a herdar, de pai e mãe, esta mansão de XABREGAS.
É «PEDRO DA CUNHA E MENDONÇA», 2º senhor de «VALDIGEM», que irá transformar a casa no Palácio imponente que hoje podemos observar.
Apesar de frequentemente apontado como exemplar típico da arquitectura palaciana do século XVII, a verdade é que a construção, ou melhor, o acrescente, se iniciou já bem entrado o século XVIII.
Sobre estas obras existem em arquivo uma mão-cheia de documentos.
Relatam-nos as suas peripécias, como a acção movida contra «DOMINGOS DA SILVA», mestre pedreiro contratado para as obras nas casas junto a «S. FRANCISCO DE XABREGAS», em 02.10.1717.
Ficamos a saber do objectivo acordado entre o fidalgo e o mestre pedreiro, em contracto assinado em 1715: (...) toda a obra de seu ofício assim a do quarto novo que se há-de fazer, estrebarias, cocheiras e mais obras como no quarto baixo das mesmas casas conforme a planta que tem tirado (...).
Podemos, através de outros documentos concluir, que as obras estavam prontas no ano de 1724. Assim, só então se finalizou o bonito portal que, a olho nu, se diria obra exemplar do gosto seiscentista.
O que hoje se vê no «PALÁCIO DE XABREGAS» é resultado das obras de «PEDRO CUNHA», no século XVIII.
Como é óbvio, diversos foram os restauros, as intervenções, as sobreposições feitas ao longo deste tempo, embora a imagem desta casa esteja muito marcada pelas pinturas murais que a decoram.
Séculos atrás, ainda os seus proprietários podiam desfrutar aprazivelmente e espairecerr a vista sobre o estuário do Tejo, hoje tudo mudou. Mas nada é eterno neste mundo. E bom será que ainda durante e longo tempo possam estas paredes continuar a albergar todo este recheio de relevante significado histórico e artístico, que, além do mais, constitui também um pouco da nossa própria memória colectiva.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DE XABREGAS [XVII] - FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS ORIENTAL (Vulgo)-FÁBRICA DAS VARANDAS(1)»




sábado, 3 de abril de 2010

RUA DE XABREGAS [ XV ]

Rua de Xabregas - (2009) - Foto de Dias dos Reis (Palácio dos Marqueses de Olhão e o portão que restou da Fábrica das Varandas de 1888) in DIAS DOS REIS
Rua de Xabregas - (1989) - Foto de APS (Fachada do Palácio dos Marqueses de Olhão, também conhecido pelo Palácio de Xabregas) ARQUIVO/APS

Rua de Xabregas - (194_?) Foto de Horácio Novais (Palácio Olhão também chamado de Palácio de Xabregas) in AFML


Rua de Xabregas - (193_?) Foto de Eduardo Portugal (Portal nobre e brasão no pátio do Palácio Olhão da Rua de Xabregas) in AFML
(CONTINUAÇÃO)
RUA DE XABREGAS [ XV ]
«PALÁCIO DOS MARQUESES DE OLHÃO (1)»
Não muito longe (cerca de cem metros) do antigo «CONVENTO DE S. FRANCISCO DE XABREGAS» existe um dos palácios de grandes tradições em Xabregas.

O «PALÁCIO DOS MARQUESES DE OLHÃO» (dos finais do século XVII, restauro do século XVIII) pertenceu aos «CONDES DE CASTRO MARIM».
O primeiro proprietário (das casas anteriores ao Palácio) foi «TRISTÃO DA CUNHA», fidalgo dos mais conceituados nas Cortes de «D. MANUEL I» e de «D. JOÃO III».
Edifício de dois andares, arquitectura simples e pendor solarengo, domina com a sua fachada de 14 janelas de andar nobre, sobre a antiga «ESTRADA DE XABREGAS» abrangendo do número 22 ao 40-A.
O portal brasonado sobre a verga, conduz ao «PALÁCIO NOBRE» através de uma passagem. Neste pátio, do lado Sul, rasga-se, acima de uns tantos degraus, o pórtico nobre, com um grande brasão de armas dos «CUNHAS, MENDONÇAS e MENEZES», em boa lavra de pedra.
O vestíbulo exterior, de tecto liso, em madeira, mostra azulejos de setecentos e um empedrado de laje de mármore branco e rosa, já muito desgastado.
Interiormente, o palácio transpira um ambiente antigo sem sumptuosidade mas com indiscutivel carácter.
O salão de entrada, já no interior do Palácio, é de tecto apainelado, muito ao gosto de seiscentos, e nele se ostentam retratos a óleo de «D. TRISTÃO DA CUNHA», de «D. PEDRO DA CUNHA», e do 1º Marquês de Olhão, «D. FRANCISCO DE MELLO DA CUNHA DE MENDONÇA E MENEZES».
Tem frescos em várias salas, assim como pinturas nas paredes, atribuídas ao célebre pintor «PILMENT».
Este Palácio é constituído por 64 divisões, sendo 27 no seu andar nobre, e as restantes distribuidas pelos outros pisos, bem como jardins e terrenos anexos. No andar térreo tem lojas e armazéns.
O «PALÁCIO DOS MARQUESES DE OLHÃO», com boas lembranças em Xabregas, e memórias escritas em letras de ouro nas páginas da nossa história, sendo um dos poucos edifícios nobres que se mantiveram até ao início do século XXI na posse dos seus legítimos proprietários (e atravessou quinze gerações), cuja linhagem remonta à época da nossa epopeia marítima.
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