sábado, 31 de julho de 2010

AVENIDA 24 DE JULHO [ VIII ]

Avenida 24 de Julho - (2009) - (Políptico de S. VICENTE DE FORA, pintura do século XV, sendo a autoria atribuída a "NUNO GONÇALVES", representando a "ADORAÇÃO DE S. VICENTE" - MNAA) in ENCICLOPÉDIA
Avenida 24 de Julho - (2009) - Fotógrafo não identificado (Museu Nacional de Arte Antiga, Palácio de Alvor-Pombal do século XVII. Também conhecido pelo Museu das Janelas Verdes) in ENCICLOPÉDIA

Avenida 24 de Julho - (1975) Foto de Armando Serôdio (Escadas José António Marques junto da Cruz Vermelha, vendo-se o Edifício do MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA e a Avenida 24 de Julho em baixo) in AFML
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(CONTINUAÇÃO)
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AVENIDA 24 DE JULHO [ VIII ]
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«MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA»
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Debruçado sobre a «AVENIDA 24 DE JULHO» com entrada principal pela «RUA DAS JANELAS VERDES», encontramos o «MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA» (ver mais aqui), popularmente conhecido por «MUSEU DAS JANELAS VERDES», instalado num palácio dos finais do século XVII (mandado edificar por um dos TÁVORAS), e num anexo cuja construção, terminada em 1940, integrou a pequena igreja do antigo «CONVENTO DE SANTO ALBERTO».
Este Museu, o primeiro do país pela importância do seu acervo, nasceu em 1884. Nessa altura, tinha colecções e responsabilidades teoricamente mais vastas, pois a sua primeira designação oficial foi «MUSEU NACIONAL DE BELAS-ARTES E ARQUEOLOGIA».
A génese das suas colecções situa-se porém bem mais cedo, na conjuntura da revolução liberal triunfante em 1834. É desse ano a abolição das Ordens Religiosas, que implicaria a passagem para o Estado de milhares de objectos artistícos até então propriedade dos Mosteiros.
As mais destacadas peças desse património foram encontradas e muito mal instaladas em Lisboa, no edifício do recém-extinto «CONVENTO DE S.FRANCISCO», passando a ser gerida por uma instituição entretanto criada - a "ACADEMIA DE BELAS-ARTES" (1836).
O êxito retumbante de uma exposição internacional, em 1883, determina a compra do «PALÁCIO DOS CONDES DE ALVOR», às «JANELAS VERDES» e consequente organização do «MUSEU NACIONAL DE BELAS-ARTES E ARQUEOLOGIA».
Com o advento da REPÚBLICA, as colecções que albergava dividem-se entre várias instituições e o «MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA» fica com a vocação de reunir, mostrar e estudar peças que vão, fundamentalmente, da «IDADE MÉDIA» ao início do século XIX. Para além do núcleo inicial oriundo dos Conventos extintos, as colecções do Museu tem-se alargado segundo vários processos.
Após a implantação da República dá-se uma importante incorporação de peças dos PALÁCIOS REAIS e das SÉS e PALÁCIOS EPISCOPAIS, neste último caso em virtude da lei da separação da IGREJA do ESTADO.
Peças oferecidas, legadas ou doadas por coleccionadores, peças em depósito por entidades públicas e privadas, bem como peças adquiridas directamente pelo MUSEU vêm-lhe acrescentando as colecções.
Reúne colecções de PINTURA PORTUGUESA do século XIX, PINTURA DE ESCOLAS EUROPEIAS do século XIV ao século XIX, OURIVESARIA PORTUGUESA do século XII ao século XVIII, OURIVESARIA FRANCESA do século XVIII (com o importante conjunto que é a Baixela Germaim), CERÂMICA PORTUGUESA do século XVI ao século XIX, ARTE NAMBAM, escultura religiosa do século XII ao século XVII (com um pequeno mas fundamental núcleo de esculturas clássicas), MOBILIÁRIO PORTUGUÊS do século XV ao século XIX, TAPEÇARIA EUROPEIA, tapetes persas e indianos.
Tudo isto completado por uma importante biblioteca especializada.
Revelando-se museologicamente ultrapassado, o interior do gigantesco anexo construído em 1940 é modificado nos anos de 1982 e 1983, sofrendo mais tarde várias alterações que permitissem uma instalação condigna do núcleo de pintura portuguesa.Em 1994 foram realizadas obras de infraestruturas e modificação de espaços no MUSEU, nomeadamente o alargamento da zona de exposição temporária, a reinstalação do «GABINETE DE DESENHO E ESTAMPAS» e dos serviços técnicos e administrativos, e ainda a criação de mais amplos serviços de apoio ao visitante.
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(CONTINUA) - (PRÓXIMA) - «AVENIDA 24 DE JULHO [ IX ] - PALÁCIO ÓBIDOS-SABUGAL - CRUZ VERMELHA PORTUGUESA (1)».


quarta-feira, 28 de julho de 2010

AVENIDA 24 DE JULHO [ VII ]

Avenida 24 de Julho - (2010) Foto gentilmente cedida por Luís Miguel Correia (Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos) in SHIPS & THE SEA - BLOGUE DOS NAVIOS E DO MAR
Avenida 24 de Julho - (2010) Foto gentilmente cedida por Luís Miguel Correia (Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos) in SHIPS & THE SEA-BLOGUE DOS NAVIOS E DO MAR

Avenida 24 de Julho - (1943-1945) - (Almada Negreiros -1893-1970) (Tríptico de Almada na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos-Partida de emigrantes) in CARTA ESTRATÉGICA


Avenida 24 de Julho - (1943-1945) Painel de Almada Negreiros (Foto de Mário Novais (1926-1985) - Biblioteca de Arte - Fundação Caloutre Gulbenkian) (Painel na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos) in FLICKR

Avenida 24 de Julho (1943-1945) Painel de Almada Negreiros (Foto de Mário Novais (1926-1985) Biblioteca de Arte - Fundação Caloustre Gulbenkian - (Painel na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos) in FLICKR
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(CONTINUAÇÃO)
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AVENIDA 24 DE JULHO [ VII ]
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«GARE MARÍTIMA DA ROCHA DO CONDE DE ÓBIDOS»
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Construída entre 1945 e 1948 a «GARE MARÍTIMA DA ROCHA DO CONDE DE ÓBIDOS), destinada ao serviço de passageiros numa altura em que o movimento de paquetes era intenso, dispondo a Marinha Nacional nessa altura, um apreciável número de navios.
Trata-se de uma construção com estrutura de betão-armado e de linhas modernas, projectadas pelo arquitecto «PORFÍRIO PARDAL MONTEIRO», igualmente autor de muitos edifícios públicos no período do «ESTADO NOVO».
O primeiro andar era reservado aos passageiros, prevendo-se a ligação directa do seu amplo terraço, aos navios através de passadiços móveis, que nunca chegaram a ser construídos.
Compõe-se o edifício de dois corpos, constituindo um deles o vestíbulo principal, e o outro, uma nave alongada destinada à instalação de diferentes serviços para passageiros, ambos situados no primeiro andar.
O terraço ou varanda prolonga-se na direcção nascente para além do próprio edifício, por forma a poder receber mais que um navio simultâneamente.
Também para esta estação o arquitecto pediu a colaboração do pintor «ALMADA NEGREIROS», que executou uma série de murais envolvendo o grande vestíbulo.
Trata-se de cenas alusivas à actividade marítima, com uma forma modernista muito acentuada. As pinturas compõem-se de dois "tríptos". No primeiro, «ALMADA» desenvolve os temas «SALTIMBANCOS»; «VARINAS» e «PASSEIO DE BARCO». No segundo são representados «A PARTIDA»; «O TRABALHO DE CONSTRUÇÃO» e «O REGRESSO».
Ao contrário das pinturas da «ESTAÇÃO MARÍTIMA DE ALCÂNTARA», as diferentes figuras são aqui recortadas por vigoroso traço a negro, que dão à composição uma feição que nos faz lembrar o cubismo, assumindo o desenho um grande protagonismo.
Foi em razão da sua modernidade que os governantes da época mostraram o seu desagrado pelos murais de «ALMADA», tendo chegado a ser colocada a possibilidade da sua destruição. Deve-se a sua preservação à acção esclarecida e determinada do «DR. JOSÉ DE FIGUEIREDO», ao tempo director do «MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA» e personalidade bem vista pelo regime, que ousou defender publicamente a obra de «ALMADA NEGREIROS».
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Tendo sido praticamente extintas as carreiras regulares de passageiros com a concorrência do transporte aéreo, o movimento de paquetes no «PORTO DE LISBOA» resume-se aos navios de cruzeiro que o escalam sobretudo durante o Verão. É para acolher estes passageiros que a «ADMINISTRAÇÃO GERAL DO PORTO DE LISBOA», anunciou, em 1994, a modernização desta «ESTAÇÃO MARÍTIMA», dotando-a de todos os necessários serviços.
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No mês de Março de 2010 constou que vai encerrar como «GARE MARÍTIMA» para atracadouro de CRUZEIROS, dando lugar (como a vizinha Alcântara), a um terminal de contentores. Os serviços de Cruzeiros ficará assegurado no cais do «JARDIM DO TABACO» a «SANTA APOLÓNIA», tal como já vem acontecendo.
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «AVENIDA 24 DE JULHO [VIII]-MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA»




sábado, 24 de julho de 2010

AVENIDA 24 DE JULHO [ VI ]

Avenida 24 de Julho - (2005) Foto de APS (Mercado da Ribeira na Avenida 24 de Julho) ARQUIVO/APS
Avenida 24 de Julho - (2002) Foto de Andres Lejona ( Mercado da Ribeira na Avenida 24 de Julho) in AFML

Avenida 24 de Julho - (Post. 1940) Foto de Mário de Oliveira (Vista aérea da zona do Cais do Sodré, Praça Duque da Terceira e parte da Avenida 24 de Julho) in LISBOA RIBEIRINHA


Avenida 24 de Julho - (s/d) Foto de Eduardo Portugal ( Avenida 24 de Julho visto da Estação do Cais do Sodré) in AFML

Avenida 24 de Julho - (s/d) Fotógrafo não identificado (Mercado de peixe da Ribeira) (Um agradecimento a Maria-Portugal) in OS MEUS POSTAIS ANTIGOS
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(CONTINUAÇÃO)
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AVENIDA 24 DE JULHO [ VI ]
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«MERCADO DA RIBEIRA NOVA ( 2 )»
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Veio depois a moda dos mercados de ferro e assim surgiu, em 1822, o mercado a que se quis dar o nome de «MERCADO 24 DE JULHO» ( a coincidir com a vizinha Avenida), mas ao qual o povo continuou, por tradição, a chamar de «RIBEIRA». Foi inaugurado em 01.01.1882, tinha oito grandes portões, e a coxia central permitia a passagem de carros.
Não teve o novo edifício grande sorte, destruído que foi parcialmente por um incêndio no ano de 1893.
Os trabalhos de reconstrução e arranjos duraram até 1930, tendo no entanto sido aproveitado sempre o espaço e as imediações.
O «MERCADO DA RIBEIRA NOVA» era principalmente de peixe. Em 1905, formou-se, em frente, encostado à linha férrea, um mercado de hortaliças e frutas, gerado pelo fim recente do «MERCADO DA RIBEIRA VELHA» e por uma greve das hortaliceiras da «PRAÇA DA FIGUEIRA», entretanto vindas do «CAIS DE SANTARÉM», onde se tinham juntado.
A situação conservou-se até 1927, acabando por se fazer a unificação no mesmo espaço. Manteve-se, porém, durante muitos anos, uma lota de peixe junto ao rio.
Só no ano de 1930 o «MERCADO 24 DE JULHO» (entretanto já consagrado com o nome popular de «RIBEIRA» e dispensando o adjectivo "NOVA" porque a "VELHA" tinha desaparecido), foi dado como pronto.
Fora-lhe construída uma curiosa cúpula, com um lanternim, revestido de azulejo por fora e com um tecto pintado por dentro. Na entrada, foram colocadas silhares de azulejos, da autoria do pintor «VITÓRIA PEREIRA», e outros painéis, de «JORGE COLAÇO», representando fainas do mar.
Os novos costumes, determinaram o aparecimento de grandes superfícies, fizeram correr riscos a este e a outros mercados. Mas foi decidido, inteligentemente, manter vivo o velho espaço, adaptando-o a novas funções.
Da sua frente, junto ao TEJO, desapareceu o mercado abastecedor e, com ele, voou para sempre o mais gostoso cacau que aquecia as madrugadas lisboetas. Existiu alguns substitutos, nomeadamente no interior do Mercado, mas não é a mesma coisa.
Assim, actualmente, a «RIBEIRA» concentra a venda para que foi destinada, tudo no piso térreo. O piso superior tem sido usado para os mais diversos fins; além de uma amostra e venda permanente de artesanato e da existência de um restaurante, ali tem sido realizadas feiras de livros, exposições, feiras de coleccionismo e muitas outras actividades lúdicas e culturais.
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«AVENIDA 24 DE JULHO [ VIII ]-GARE MARÍTIMA DA ROCHA DO CONDE DE ÓBIDOS»




quarta-feira, 21 de julho de 2010

AVENIDA 24 DE JULHO [ V ]

Avenida 24 de Julho - (2005) Foto de APS (Avenida 24 de Julho - Mercado da Ribeira) ARQUIVO/APS
Avenida 24 de Julho - (1962) Foto de Armando Serôdio (Avenida 24 de Julho junto à Praça de D. Luís I, antigo espaço do Forte de S. Paulo) in AFML

Avenida 24 de Julho - (1936) (Mercado da Ribeira - Mercado 24 de Julho na Avenida 24 de Julho) in AFML


Avenida 24 de Julho - (19__?) Foto de Eduardo Portugal ( Mercado da Ribeira Nova antes de lhe ser colocada a cúpula) in AFML

Avenida 24 de Julho - (Post. 1873) Foto de Paulo Guedes (Avenida 24 de Julho e Mercado da Ribeira) in AFML
(CONTINUAÇÃO)
AVENIDA 24 DE JULHO [ V ]
«MERCADO DA RIBEIRA NOVA (1)»
Existiram desde cedo em Lisboa locais aonde eram trazidos os produtos vindos do campo para abastecer a cidade. Os mercados floresceram assim em sítios diversos, de acordo com o aparecimento das comunidades compradoras.
Nesta cidade, quando se fala em praça ou mercado tradicional, logo vem à ideia a palavra «RIBEIRA».
Há razões para tal: a chamada «RIBEIRA VELHA» instituída como única praça destinada para a venda do peixe, fruta e hortaliças, já vem do século XVI.
Ficava, obviamente junto do TEJO, sensivelmente em frente à «CASA DOS BICOS». A sua celebridade veio do facto de ter sido o grande mercado lisboeta durante mais de 200 anos, como do facto de se terem ali celebrizados os fritadores de peixe, que deram ao local o aspecto e o cheiro que se adivinha. Chamava o povo ao sítio e as respectivas locadas «O MAL COZINHADO».
Mas depois do Terramoto de 1755, surgia a «RIBEIRA NOVA», já para OCIDENTE do Terreiro do Paço.
Coexistiram, durante largo tempo, as duas Ribeiras.
O novo mercado instaurado por alvará de 1771, formava quase um quadrado, com cento e trinta e dois telheiros ou cabanas (lugares de vendas) o chão era calcetado e lajeado.
O próprio «MARQUÊS DE POMBAL» determinou medidas policiais que impedissem a concentração de vendedores ambulantes nas ruas de acesso à Praça, o que possivelmente nunca veio a acontecer.
O «MERCADO DA RIBEIRA NOVA», projectado por «RESSANO GARCIA», foi erguido nos terrenos do antigo «FORTE DE S. PAULO», demolido no último quartel do século XIX, por ocasião das obras que deram origem ao «ATERRO DA BOAVISTA» e à actual «AVENIDA 24 DE JULHO», foi aproveitado o terreno para edificar um mercado já com ares mais modernos.
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FORTE DE SÃO PAULO
Situava-se onde hoje fica a Praça de D. Luís era, possivelmente, uma pequena fortificação setecentista, de forma trapezoidal, em que a maior frente, voltada para Norte, tinha cerca de 50 metros de comprimento, e o menor, voltada para poente, perto de 28 metros. Em 1 de Dezembro de 1864, o Ministério da Marinha comunicou à C.M. de Lisboa já ter expedido as ordens convenientes para que fosse demolido, o que teria sido executado de imediato, pois, em 13 de Janeiro de 1865, parte dos materiais da demolição foram vendidos em haste pública (1).
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( 1 ) - CASTILHO, Júlio de - RIBEIRA DE LISBOA - Lisboa - 1893.
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «AVENIDA 24 DE JULHO [ VI ] -MERCADO DA RIBEIRA NOVA (2)»





sábado, 17 de julho de 2010

AVENIDA 24 DE JULHO [ IV ]


Avenida 24 de Julho (186_?) Fotógrafo não identificado (ATERRO da 24 de Julho, a Praça Duque da Terceira ainda sem a estátua mas arborizada e com calçada à portuguesa) in AFML

Avenida 24 de Julho - (Post. 1900) Foto de Joshua Benoliel (Vista panorâmica do Porto de Lisboa na zona de Santos e área envolvente) in LISBOA RIBEIRINHA

Avenida 24 de Julho - (Depois de 1877) Fotógrafo não identificado (Aspecto da zona antes da construção da Rua 24 de Julho) (Colecção Seixas) in AFML


Avenida 24 de Julho - (ant. 1882) Fotógrafo não identificado (Panorama da Ribeira - Mercado 24 de Julho, projecto de Frederico Ressano Garcia e inaugurado em 1882) in AFML

Avenida 24 de Julho - (entre 1871 e 1872) Fotógrafo não identificado (Aterro da BOAVISTA) in AFML


Avenida 24 de Julho - (18__) Fotógrafo não identificado (Aspecto da Praça Duque da Terceira durante as obras de construção do aterro) in LISBOA RIBEIRINHA
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(CONTINUAÇÃO)
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AVENIDA 24 DE JULHO [ IV ]
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«O ATERRO»
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O «ATERRO» está simultâneamente ligado ao «PORTO DE LISBOA».
Com a construção do «Porto de Lisboa» reconhecia-se a necessidade de obviar as medidas sanitárias nas margens do rio TEJO, bem assim como a inevitável expansão urbanística, condicionada pela realização do «ATERRO» (ver mais aqui) na zona com a designação muito frequente usada na época de: «ATERRO DA BOAVISTA».
Com o fim de acabar de vez com a verdadeira lixeira que nesta zona existia, e pensando já numa ordenação costeira na margem direita do rio, tendo em vista uma futura zona portuária, procedeu-se à construção de um «ATERRO» entre o «CAIS DO SODRÉ» e «ALCÂNTARA».
Vem seguramente do tempo de «D. JOÃO V» a ideia de ser criado o primeiro porto digno da sua capital.
Seguiu-se a administração do «MARQUÊS DE POMBAL» tendo o arquitecto «CARLOS MARDEL» dado certo contributo no estudo que compreendia entre o «TERREIRO DO PAÇO» e «BELÉM».
Mas só em 25 de Abril de 1884, «ANTÓNIO AUGUSTO DE AGUIAR» iria propor ao Parlamento, que fosse aberto concurso público para a construção do porto.
Depois de algumas alterações ao projecto inicial, foi adjudicada a obra à firma «HERSENT».
A 31 de Outubro de 1887 foi inaugurada a construção do PORTO DE LISBOA, pelo rei «D. LUÍS I».
Revestido de várias circunstâncias técnicas e administrativas, esta primeira fase de 1892 a 1894, teve o ESTADO de chamar a si a administração. Após o último ano, voltou novamente à empresa inicial.
Em 1907 depois de grande parte do porto se encontrar já concluído, passou toda a administração directamente para o ESTADO, através da «ADMINISTRAÇÃO GERAL DO PORTO DE LISBOA» até aos dias de hoje.
No ano de 1855 a praia da «BOAVISTA» começou gradualmente a ver o seu areal substituído por terra. Em 1858 todo este aterro alterava entre o «FORTE DE S. PAULO» (hoje Praça de D. Luís) e a praia de «SANTOS», que babujava o antigo PAÇO REAL «PALÁCIO DOS MARQUESES DE ABRANTES».
Em 1858-1859 abriam-se ruas ou boqueirões transversais e construía-se a «RAMPA DE SANTOS».
Teve a «CÂMARA» necessidade de expropriar nesta zona; a casa de «ABRANTES» e a de «ASSECA», para finalmente poder rasgar a «RUA 24 DE JULHO».
Data precisamente de 1860 a muralha de «SANTOS».
Embora a lentidão da obra fosse uma constante, sabe-se que em 1865 o «ATERRO» estava concluído até à «RIBEIRA NOVA», e em 1867 até ao «ARSENAL DA MARINHA», já com muralha.
Podemos datar com pouca margem de erro, o ano de 1867 como data provável na conclusão do «ATERRO».
Foi denominada «RUA 24 DE JULHO» (1878) à parte do ATERRO ocidental construída no prolongamento daquela rua, que começava na «PRAÇA DE D. LUÍS» e terminava no caneiro de «ALCÂNTARA». No ano de 1928 foi convertida a «AVENIDA».
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) «AVENIDA 24 DE JULHO [ V ] - MERCADO DA RIBEIRA NOVA (1)».





quarta-feira, 14 de julho de 2010

AVENIDA 24 DE JULHO [ III ]


Avenida 24 de Julho - (2003) Foto de Dias dos Reis (Avenida 24 de Julho) in DIAS DOS REIS

Avenida 24 de Julho - (200_?) Fotógrafo não identificado (Antiga Fábrica das Lâmpadas) in MÁXIMA INTERIORES


Avenida 24 de Julho - (1969) Foto de Artur Inácio Bastos ( Estabelecimento comercial da SINGER na Avenida 24 de Julho) in AFML



Avenida 24 de Julho - (1965) - Foto de Armando Serôdio (Edifício da CUF visto pelo lado Nascente) in AFML


Avenida 24 de Julho - (1961) Foto de Armando Serôdio (Edifício da CUF-Companhia União Fabril na Avenida 24 de Julho) in AFML
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(CONTINUAÇÃO)
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AVENIDA 24 DE JULHO [ III ]
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«AVENIDA VINTE E QUATRO DE JULHO (3)»
No início do século XIX todo este local era chamado «TERCENAS», (embora de pouca relevância) era tudo uma orla marítima (antes do Aterro), o mar banhava o paredão das «TERCENAS» e tudo cheirava a maresia.
A «TRAVESSA DE JOSÉ ANTÓNIO PEREIRA» serpenteada por sucessivos arcos, leva-nos até à «RUA DAS JANELAS VERDES». Num dos arcos existe uma inscrição a informar que em; (Abril de 1805 «JOSÉ ANTÓNIO PEREIRA» foi grande negociante e armador, proprietário de cais e de armazéns).
«JOSÉ ANTÓNIO PEREIRA» de cujo nome está ligado à Travessa desde o ano de 1889, vendeu ainda na primeira metade do século dezanove, uma casa de habitação própria que aqui possuía com os armazéns contíguos, a um grande comerciante de nome «JOAQUIM JOSÉ FERNANDES». Este tinha uma filha de nome «D. MARIA DO CARMO FERNANDES», (dama honorária da Rainha D. Amélia) que casou em 29.01.1873 com «D. ANTÓNIO DE CARVALHO E MELO DAUN ALBUQUERQUE E LORENA». Do casamento resultou dois filhos, sendo que o primogénito sucedeu nos títulos de «OEIRAS» e «POMBAL».
Passamos na parte de baixo do «MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA» deixamos a «ESCADARIA JOSÉ ANTÓNIO MARQUES» e ficamos a apreciar o lindíssimo palácio que que foi dos «CONDES DE ÓBIDOS», hoje propriedade da «CRUZ VERMELHA PORTUGUESA».
O local Chamado «ROCHA CONDE DE ÓBIDOS» tinha efectivamente uma «ROCHA» que lhe deu nome a qual foi necessário eliminar, no âmbito da reconversão paisagística e da rede viária e pedestre.
Como ficava junto do «PALÁCIO DOS CONDES DE ÓBIDOS», o morro e rocha ficaram conhecidos por «ROCHA CONDE DE ÓBIDOS».
No ano de 1880, foi planeada uma abertura para uma nova ligação entre «O ATERRO» e o interior da cidade. Assim, na «ROCHA DO CONDE DE ÓBIDOS» foi aberta uma escadaria que ainda hoje permanece.
Antes de passarmos a «AVENIDA INFANTE SANTO», nos edifícios que ficam à nossa direita, existiu naqueles terrenos uma grande fábrica com o nome de «ALIANÇA FABRIL» que no último quartel do século XIX, fabricava essencialmente velas, sabões duros e moles, óleos de purgueira e glicerina. Devido a certas dificuldades financeiras, acabou por se fundir com a «UNIÃO FABRIL» fundada em 1865, pertença naquela altura de «ALFREDO DA SILVA». Teve lugar a fusão no ano de 1898 sendo a designação aprovada «CUF-COMPANHIA UNIÃO FABRIL», (ver mais aqui) sendo o seu administrador-gerente o grande industrial «ALFREDO DA SILVA-(1871-1942)» (ver ainda mais aqui).
Esta firma era uma referência no âmbito do panorama produtivo nacional.
Ao fundo da «AVENIDA INFANTE SANTO» no seu lado direito quem desce e quase de esquina com a «AVENIDA 24 DE JULHO» existia o «HOTEL RESIDENCIAL INFANTE SANTO», que em finais da década de 50 (no simpático café-bar) era o meu lugar de reuniões.
Vamos finalizar (por agora) esta ronda pela «AVENIDA 24 DE JULHO» dando a conhecer que no número 150 desta avenida, existiu uma antiga fábrica de lâmpadas «LUMIAR». Foi adquirida mais tarde pela «OSMAR» e presentemente oferece-nos um conjunto de setenta apartamentos, criados pelo Arquitecto «RAUL ABREU» e «MIGUEL VARELA GOMES».
Esta antiga fábrica foi completamente restaurada a cargo do Engenheiro «JOÃO APPLETON», onde foram mantidas as fachadas dos anos 20 do século passado. Numa das fachadas existe um painel de azulejos «ARTE NOVA», da Cerâmica «VIÚVA LAMEGO».
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«AVENIDA 24 DE JULHO [IV] - O ATERRO»



sábado, 10 de julho de 2010

AVENIDA 24 DE JULHO [ II ]


Avenida 24 de Julho - (1900?) (A. Editora) (Praça de D. Luís e Monumento ao Marquês Sá da Bandeira junto da Avenida 24 de Julho) (Brinde oferecido pela Biblioteca Social Operária aos seus assinantes do romance "COROA DE ESPINHOS" (Biblioteca Nacional Digital) in PURL


Avenida 24 de Julho - (1969) Foto de Artur Inácio Bastos ( Edifício da antiga Garagem Conde Barão, na Avenida 24 de Julho no sítio de Santos) in AFML





Avenida 24 de Julho (1969) Foto de Artur Inácio Bastos ( Companhia de Gás e Electricidade na Av. 24 de Julho) in AFML




Avenida 24 de Julho - (1965) Foto de Armando Serôdio (Avenida 24 de Julho
- Largo de Santos - no lado direito a rampa de Santos) in AFML




Avenida 24 de Julho - (1965) Armando Serôdio (Avenida 24 de Julho esquina com a Praça D. Luís I) in AFML





Avenida 24 de Julho (29.04.1908) Foto de Joshua Benoliel (Abertura das Cortes - Cortejo Real, antiga Rua 24 de Julho a caminho do Palácio das Necessidades) in AFML .

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(CONTINUAÇÃO
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AVENIDA 24 DE JULHO [ II ]
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«AVENIDA VINTE E QUATRO DE JULHO (2)»
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O início do Atêrro, ou seja da «AVENIDA 24 DE JULHO, fica entre a «PRAÇA DO DUQUE DA TERCEIRA» e o «CAIS DO SODRÉ».
Desnecessário seria dizer que, antes do atêrro tínhamos a praia da «BOA VISTA» e com este, toda a configuração urbana se alterou.
Diz-nos o mestre «NORBERTO DE ARAÚJO» no seu livro «PAREGRINAÇÕES EM LISBOA» que: « O francês "LEBOIS" levantava em 1852 a planta da praia da "BOA VISTA", e em 1855 começou a ser engolido, gradualmente, o areal; em 1858 entrou a aterrar-se parte entre o "FORTE DE S. PAULO" hoje "PRAÇA D. LUÍS I".
Podemos adivinhar o quadro deste local, antes do desmantelamento do «FORTE DE S. PAULO». O mar a bater-lhe no parapeito, para nascente e poente a inexistência de prédios e cais, apenas areia, casotas de madeira e fragatas do peixe.
Seguindo mais à frente nos terrenos da «ABEGOARIA DA CÂMARA» a «FÁBRICA DO GÁS», cortada pela antiga «RUA VASCO DA GAMA». Segue-se a «RUA BOQUEIRÃO DOS FERROS» ladeada por pequenas industrias de serralharia, predominantes em toda a área da BOAVISTA.
E vamos passar pela «RUA DO INSTITUTO INDUSTRIAL» também com características antigas fabris.
Aparece-nos à direita a «AVENIDA PRESIDENTE WILSON», inaugurada (era então "Avenida de D. Carlos") em 28 de Dezembro de 1889; depois da proclamação República, mudaram-lhe o nome para «AVENIDA DAS CORTES» mas, depois da primeira grande guerra, passou a chamar-se com o nome que hoje conhecemos de «AVENIDA D. CARLOS I».
O «JARDIM DE SANTOS» e «LARGO DE SANTOS» datam da década de 1870 a 1880. Muito próximo ao «JARDIM DE SANTOS» encontramos o «LARGO VITORINO DAMÁSIO». Este engenheiro, director do Instituto Industrial, foi quem dirigiu as obras do ATÊRRO desde «SÃO PAULO» a «SANTOS» em 1858.
Passadas as «ESCADINHAS DA PRAIA», que antes da existência da rampa de Santos, ligava o adro da «IGREJA DE SANTOS» à praia antiga, encontra-se nas imediações o edifício da «GARAGEM CONDE BARÃO».
Segue-se o «PÁTIO DO PIZALEIRO», que começa na «RUA DAS JANELAS VERDES».
Por detrás do grande edifício da antiga «FÁBRICA 24 DE JULHO» (hoje um conjunto de prédios), também corre o estreito «BECO DA GALHETA».
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «AVENIDA 24 DE JULHO [ III ] - AVENIDA VINTE E QUATRO DE JULHO (3)».





quarta-feira, 7 de julho de 2010

AVENIDA 24 DE JULHO [ I ]


Avenida 24 de Julho - (2005) Foto de APS (Avenida 24 de Julho vista da Praça Duque da Terceira) ARQUIVO/APS

Avenida 24 de Julho - (2008) Fotógrafo não identificado (Praça D. Luís I junto da Avenida 24 de Julho) in SKYSCRAPERCITY



Avenida 24 de Julho - s/d Fotógrafo não identificado (Avenida 24 de Julho junto da Praça D. Luís) in A CAPITAL





Avenida 24 de Julho - (1950) Fotógrafo não identificado (Avenida 24 de Julho) in SKYSCREPERCITY




Avenida 24 Julho - (191_) Foto de José Manuel da Silva Passos (Vista da Rua 24 de Julho) in BIC LARANJA
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AVENIDA 24 DE JULHO [ I ]
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«A AVENIDA VINTE E QUATRO DE JULHO ( 1 )»
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A «AVENIDA 24 DE JULHO» pertence a três freguesias.
À freguesia de «S. PAULO» do número 2 ao 48. À freguesia de «SANTOS-O-VELHO» do número 50 ao 118. À freguesia dos «PRAZERES» do número 120 em diante. Começa na «PRAÇA DUQUE DA TERCEIRA» no número4 e termina na «RUA DO CAIS DE ALCÂNTARA» e «RUA JOÃO DE OLIVEIRA MIGUEIS».
Em deliberação da Câmara de 09/09/1878 e edital de 13 do mesmo mês e ano, foi dada a denominação de «RUA 24 DE JULHO» à parte do aterro ocidental construído no prolongamento daquela rua, que começando na «PRAÇA D. LUÍS I» termina no caneiro de Alcântara.
Igualmente por deliberação Camarária foi atribuída em 18/10/1928 a alteração de «RUA» para «AVENIDA» a esta artéria.
A esta longa «AVENIDA» convergem: três AVENIDAS; um BECO; uma ESCADARIA; uma ESCADINHA; um LARGO; um PÁTIO; duas PRAÇAS; oito RUAS e três TRAVESSAS.
De nascente para poente: TRAVESSA DOS REMOLARES; PRAÇA DA RIBEIRA NOVA; RUA DO INSTITUTO D. AMÉLIA; PRAÇA D. LUÍS I; RUA BOQUEIRÃO DOS FERREIROS; RUA DO INSTITUTO INDUSTRIAL; RUA BOQUEIRÃO DO DURO; AVENIDA D. CARLOS I; LARGO DE SANTOS; ESCADINHAS DA PRAIA; BECO DA GALHETA; PÁTIO PINZALEIRO; TRAVESSA JOSÉ ANTÓNIO PEREIRA; ESCADARIA JOSÉ ANTÓNIO MARQUES; AVENIDA INFANTE SANTO; RUA TENENTE VALADIM; TRAVESSA DO BALUARTE; RUA VIEIRA DA SILVA e RUA JOÃO OLIVEIRA MIGUEIS. De poente para nascente no lado Sul - RUA DO CAIS DE ALCÂNTARA e AVENIDA DA ÍNDIA.
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A «AVENIDA 24 DE JULHO» uma das mais conhecidas AVENIDAS de LISBOA, que corre paralelamente à linha férrea de CASCAIS (Cais do Sodré a Alcântara) e igualmente ao RIO TEJO (ao qual foi retirado espaço para dar lugar ao aterro), estou em crer que nem toda a gente sabe a razão desta data. Até mesmo poucos saberão ao que ela se refere.
De facto, a data de «24 DE JULHO», marca um episódio transcendente na nossa história e foi um dos momentos bastantes dramáticos do nosso país. Refiro-me como podem calcular às «GUERRAS LIBERAIS» ou «GUERRA CIVIL DE 1828 a 1834», que opôs as tropas absolutistas de «D. MIGUEL» às forças liberais de seu irmão «D. PEDRO IV».
Assim, em «24 DE JULHO DE 1833» as tropas liberais comandadas pelo «DUQUE DA TERCEIRA», desembarcou no ALGARVE, atravessou o ALENTEJO e entrou em LISBOA.
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «AVENIDA 24 DE JULHO [ II ] - A AVENIDA 24 DE JULHO (2)»




sábado, 3 de julho de 2010

RUA DO POÇO DOS NEGROS [ V ]

Rua do Poço dos Negros - (2007 ?) - Fotógrafo não identificado - (A Rua do Poço dos Negros) in SKYSCRAPERCITY
Rua do Poço dos Negros - (1911) - Foto de Joshua Benoliel (Festa do primeiro aniversário da República, ornamentação junto do Palácio Flor da Murta, quando ainda estava alugada à firma STREET & CA.) in AFML



Rua do Poço dos Negros - (entre 1898 e 1908) Fotógrafo não identificado (A Rua do Poço dos Negros nos números 50 a 54) in AFML


Rua do Poço dos Negros - (1865) - Fotografia postal de Christiano Júnior- (Imagem de criados negros, possivelmente no século XIX) in ELLENISMOS
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(CONTINUAÇÃO)
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RUA DO POÇO DOS NEGROS [ V ]
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«O NEGÓCIO E TRÁFEGO DE ESCRAVOS NA LISBOA QUINHENTISTA»
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O topónimo «POÇO DOS NEGROS» tem origem no século XVI quando o rei «D. MANUEL I» mandou abrir um poço para onde eram lançados os escravos negros, que morriam em LISBOA.
Conta-nos «JOSÉ RAMOS TINHORÃO» na sua obra «OS NEGROS EM PORTUGAL-UMA PRESENÇA SILENCIOSA», que os cadáveres dos escravos inicialmente eram atirados no monturo das «PORTAS DE SANTA CATARINA» ou para as herdades dos arredores.
Para acabar e evitar as epidemias, toma o rei «D. MANUEL I» a decisão de mandar abrir um POÇO (ou VALA) naquele local ao fundo da «CALÇADA DO COMBRO», para funcionar como cemitério dos negros, já que quando morriam não tinham direito a serem enterrados nos adros das Igrejas.
A decisão surge precisamente porque a presença dos negros em LISBOA tornava-se cada vez mais numerosa. É em pleno século XV que chegam a LISBOA os primeiros cativos negros, com as CARAVELAS regressadas das primeiras descobertas na «COSTA DE ÁFRICA».
Desde então, as embarcações portuguesas trouxeram sucessivamente escravos, cuja mão-de-obra passou a ser reclamada para assegurar os trabalhos domésticos e as tarefas mais árduas.
Vinham nas embarcações, com o ouro, o ébano e o marfim, em número sempre crescente, "empilhados na coberta dos navios, mal alimentados, amarrados uns aos outros, costas com costas", contava «FILIPE SASSETTI», comissário florentino que viveu em LISBOA entre 1573 e 1578.
O negócio do tráfego de escravos provocou na metrópole um surgimento significativo de africanos, alterando o quotidiano na cidade de LISBOA.
Por toda a cidade, a presença dos negros passou a ser visível, sobretudo no que respeita aos ofícios servis: criados, domésticos, lavadeiras, estivadores ou calhandreiras (1).
Diz ainda o autor de «OS NEGROS EM PORTUGAL» recorrendo às descrições do humanista italiano «CLENARDO» para ilustrar a realidade da metrópole no fim do século XVI: "Estou a crer que em LISBOA os escravos são mais que os portugueses livres de condição. Dificilmente se encontrará uma casa onde não haja pelo menos uma escrava (...). É ela que vai comprar as coisas necessárias, que lava a roupa, varre a casa, acarreta a água, faz os despejos à hora conveniente numa palavra, é uma escrava não se distinguindo de uma besta de carga se não pela figura".
Os africanos dos séculos passados foram progressivamente integrando uma população carismática, mantendo a ligação com as actividades fluviais, mas os ex-escravos africanos e o topónimo «MOCAMBO» desapareceram em 1833.
No final da década de setenta do século passado, a «RUA DO POÇO DOS NEGROS» e a «TRAVESSA DO POÇO DOS NEGROS», bem como a zona de «S. BENTO» foram redescobertas pela primeira vaga de imigrantes de «CABO VERDE».
O certo é que quinhentos anos depois não existe nenhum vestígio do POÇO mandado construir por «D. MANUEL I».
-( 1 ) - Mulher que despeja calhandros - calhandro - vaso cilíndrico alto para urinar ou defecar. Bacio alto em forma de cilindro.
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BIBLIOGRAFIA
(Fontes e obras consultadas)
- ARAÚJO, Norberto - 1993 - PEREGRINAÇÕES EM LISBOA - Volumes XI e XIII - LISBOA - VEGA.
- Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais - Palácio Flor da Murta - INTERNET - 2006.
- SANTANA, Francisco e SUCENA, Eduardo - Dicionário de História de Lisboa - 1994.
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(PRÓXIMO) - «AVENIDA 24 DE JULHO [ I ]-A AVENIDA 24 DE JULHO(1)»