sábado, 3 de julho de 2010

RUA DO POÇO DOS NEGROS [ V ]

Rua do Poço dos Negros - (2007 ?) - Fotógrafo não identificado - (A Rua do Poço dos Negros) in SKYSCRAPERCITY
Rua do Poço dos Negros - (1911) - Foto de Joshua Benoliel (Festa do primeiro aniversário da República, ornamentação junto do Palácio Flor da Murta, quando ainda estava alugada à firma STREET & CA.) in AFML



Rua do Poço dos Negros - (entre 1898 e 1908) Fotógrafo não identificado (A Rua do Poço dos Negros nos números 50 a 54) in AFML


Rua do Poço dos Negros - (1865) - Fotografia postal de Christiano Júnior- (Imagem de criados negros, possivelmente no século XIX) in ELLENISMOS
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(CONTINUAÇÃO)
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RUA DO POÇO DOS NEGROS [ V ]
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«O NEGÓCIO E TRÁFEGO DE ESCRAVOS NA LISBOA QUINHENTISTA»
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O topónimo «POÇO DOS NEGROS» tem origem no século XVI quando o rei «D. MANUEL I» mandou abrir um poço para onde eram lançados os escravos negros, que morriam em LISBOA.
Conta-nos «JOSÉ RAMOS TINHORÃO» na sua obra «OS NEGROS EM PORTUGAL-UMA PRESENÇA SILENCIOSA», que os cadáveres dos escravos inicialmente eram atirados no monturo das «PORTAS DE SANTA CATARINA» ou para as herdades dos arredores.
Para acabar e evitar as epidemias, toma o rei «D. MANUEL I» a decisão de mandar abrir um POÇO (ou VALA) naquele local ao fundo da «CALÇADA DO COMBRO», para funcionar como cemitério dos negros, já que quando morriam não tinham direito a serem enterrados nos adros das Igrejas.
A decisão surge precisamente porque a presença dos negros em LISBOA tornava-se cada vez mais numerosa. É em pleno século XV que chegam a LISBOA os primeiros cativos negros, com as CARAVELAS regressadas das primeiras descobertas na «COSTA DE ÁFRICA».
Desde então, as embarcações portuguesas trouxeram sucessivamente escravos, cuja mão-de-obra passou a ser reclamada para assegurar os trabalhos domésticos e as tarefas mais árduas.
Vinham nas embarcações, com o ouro, o ébano e o marfim, em número sempre crescente, "empilhados na coberta dos navios, mal alimentados, amarrados uns aos outros, costas com costas", contava «FILIPE SASSETTI», comissário florentino que viveu em LISBOA entre 1573 e 1578.
O negócio do tráfego de escravos provocou na metrópole um surgimento significativo de africanos, alterando o quotidiano na cidade de LISBOA.
Por toda a cidade, a presença dos negros passou a ser visível, sobretudo no que respeita aos ofícios servis: criados, domésticos, lavadeiras, estivadores ou calhandreiras (1).
Diz ainda o autor de «OS NEGROS EM PORTUGAL» recorrendo às descrições do humanista italiano «CLENARDO» para ilustrar a realidade da metrópole no fim do século XVI: "Estou a crer que em LISBOA os escravos são mais que os portugueses livres de condição. Dificilmente se encontrará uma casa onde não haja pelo menos uma escrava (...). É ela que vai comprar as coisas necessárias, que lava a roupa, varre a casa, acarreta a água, faz os despejos à hora conveniente numa palavra, é uma escrava não se distinguindo de uma besta de carga se não pela figura".
Os africanos dos séculos passados foram progressivamente integrando uma população carismática, mantendo a ligação com as actividades fluviais, mas os ex-escravos africanos e o topónimo «MOCAMBO» desapareceram em 1833.
No final da década de setenta do século passado, a «RUA DO POÇO DOS NEGROS» e a «TRAVESSA DO POÇO DOS NEGROS», bem como a zona de «S. BENTO» foram redescobertas pela primeira vaga de imigrantes de «CABO VERDE».
O certo é que quinhentos anos depois não existe nenhum vestígio do POÇO mandado construir por «D. MANUEL I».
-( 1 ) - Mulher que despeja calhandros - calhandro - vaso cilíndrico alto para urinar ou defecar. Bacio alto em forma de cilindro.
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BIBLIOGRAFIA
(Fontes e obras consultadas)
- ARAÚJO, Norberto - 1993 - PEREGRINAÇÕES EM LISBOA - Volumes XI e XIII - LISBOA - VEGA.
- Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais - Palácio Flor da Murta - INTERNET - 2006.
- SANTANA, Francisco e SUCENA, Eduardo - Dicionário de História de Lisboa - 1994.
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(PRÓXIMO) - «AVENIDA 24 DE JULHO [ I ]-A AVENIDA 24 DE JULHO(1)»

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