sábado, 9 de abril de 2011

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ VIII ]

Calçada dos Barbadinhos - (1998) Foto de António Sachetti (Vista parcial do conjunto do Palácio VASCO LOURENÇO VELOSO, na Rua da Cruz de Santa Apolónia esquina com a Calçada dos Barbadinhos) in CAMINHO DO ORIENTE
Calçada dos Barbadinhos - (2009) - (Uma panorâmica da Calçada dos Barbadinhos e Rua da Cruz de Santa Apolónia. Podemos ver à esquerda o Palácio de Vasco Veloso-Fabrica do Tabaco-GNR, à direita as casas pequenas dos senhores de PANCAS e a Sul as novas instalações da C.P. no local do antigo CONVENTO DE SANTA APOLÓNIA. in GOOGLE Calçada dos Barbadinhos - (2004) Foto de autor não identificado (Vista em ORTOFOTO da Freguesia de Santa Engrácia in SKYSCRAPERCITY .

(CONTINUAÇÃO)

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ VIII ]

«PALÁCIO DE VASCO LOURENÇO VELOSO (3)»

«VASCO LOURENÇO VELOSO» em 25 de Agosto de 1732 já estava estabelecido junto a «SANTA APOLÓNIA» ( 1 ), na «RUA DA CRUZ DE SANTA APOLÓNIA» que durante várias épocas, conheceu diferentes designações: em (1741) era chamada de «RUA NOVA DA CRUZ»; (1753) de «RUA DA CRUZ A VALE DE CAVALINHOS»; em (1762) de «RUA DIREITA DA CRUZ DO VALE DE SANTO ANTÓNIO»; no ano de (1768) era chamada de «RUA DE VASCO LOURENÇO»( 2 ) e «RUA DIREITA DA CRUZ». Por Edital de 1 de Setembro de 1859 foi normalizada e reavaliada toda a toponímia da cidade, passando para o topónimo que ainda hoje ostenta «RUA DA CRUZ DE SANTA APOLÓNIA». «VASCO VELOSO» pessoa com bastantes contactos por toda a EUROPA e ULTRAMAR, era muito solicitado para procurador e fiador de inúmeros negociantes.

Em 1732 ( 3 ) torna-se sócio do contrato da entrada e saída da «ÍNDIA», ano em que enviou a nau «Nº.S.ª da AJUDA e EUROPA», para a primeira das três viagens a «SURRATE», costa de «COROMANDEL» e «BENGALA». Tinha recebido licença régia em 1731, para a viagem, de caixões de prata, barris de cochinilha, coral lavrado, chumbo e ferro em barras etc., com que a nau foi carregada, somaram mais de 86 contos ( 4 ), sendo também fiador de 12 000 cruzados sobre prata e géneros carregados à volta ( 5 ), pedindo também, em sociedade, 4 000 cruzados "sobre o casco e aparelhos da nau" ( 6 ).

Desta viagem dizia o rei, em 1740, que apenas tivera perda, ganhando somente experiência daquela navegação. Do «BRASIL» trazia açúcar e tabaco em 1746, foi "contratador dos Portos Secos Molhados e Vedados deste reino e ALGARVE ( 7 ).

De 1750 a 1757 foi administrador da «REAL FÁBRICA DAS SEDAS», "por ser necessário que fosse um homem bem poderoso em cabedais, para dar a devida amplitude à laboração de uma fábrica que a companhia não pode sustentar ( 8 ). «VASCO VELOSO» ao contrário de outros mercadores de LISBOA, não obteve facilidades para as dívidas resultantes dos prejuízos com o terramoto, pois como administrador, necessitava de autorização régia ( 9 ).

Em 1755 fundearam no «RIO DE JANEIRO» dois navios; "um com o ouro da negociação de «VASCO LOURENÇO» ( 10 ), que vinha da «COLÓNIA DO SACRAMENTO», e outro a nau de «MACAU», de que é caixa «VASCO LOURENÇO VELOSO», que transporta o Embaixador à CORTE DE PEQUIM; e se segura que a sua carga é uma das mais importantes que passou ainda à EUROPA ( 11 ).

«VASCO LOURENÇO VELOSO» é referido nos livros da DÉCIMA como "homem de negócios dos exceptuados, era servido por três criados (bolieiro, criado de servir e um grave) à data da sua morte, em 16.11.1770 ( 12 ), indo a sepultar na «IGREJA DOS BARBADINHOS». A complexidade da administração deste homem de negócios, notóriamente rico ( 13 ), foi um fardo demasiado pesado para seu filho, «TOMÁS REBELO VELOSO PALHARES», que permaneceu em «SANTA APOLÓNIA». Habilitado pelo «SANTO OFÍCIO» em 1750, casou com «D. ANA GERTRUDES BONABIE», de quem teve «JOÃO RAFAEL», «JOÃO GUALBERTO» e «JOÃO NABOR VELOSO REBELO PALHARES», todos desempenharam funções militares.

Num processo em 1777-79, depois da queda de «POMBAL», a mulher e o filho do «VELOSO» pediram uma moratória por seis anos. «TOMÁS» manteve o palácio com a mãe até 1783. Em 1793 residia na cidade de VIANA, vindo a ser preso após a morte de sua mulher e depois "mandado para fora da corte, por forjar documentos falsos ( 14 ).

Em 1783, «D. MARIA JOAQUINA PALHARES» "arrenda o Palácio ao «MARQUES DE PENALVA», por 600 000 réis ( 15 ). A casa do «VELOSO» tornava-se, assim, por mais de meio século , no «PALÁCIO DOS MARQUESES DE PENALVA», assistidos por 30 criados em média. A última personagem importante a habitar este palácio foi o «MARQUÊS DO ALEGRETE» que o deixa devoluto entre (1829-31) ( 16 ).

«JOSÉ EUGÉNIO DE ALMEIDA» ( 17 ), comprou a propriedade ao «VISCONDE DE FONTE BOA», que a adquirira por execução aos herdeiros do «VELOSO», levando de imediato à praça os prédios na «RUA DA CRUZ DE SANTA APOLÓNIA» e «CALÇADA DOS BARBADINHOS» nº 1 a 29.

Finalmente, estando a propriedade na posse do Estado, instalou-se no antigo «PALÁCIO DE VASCO LOURENÇO VELOSO» a «COMPANHIA PORTUGUESA DE TABACOS» que ali permaneceu até ao segundo quartel do século XX.


- 1 - IAN/TT, C-12B, Cx.50 L.º571, fls 9-10 - 2 - Idem, RP. Óbitos, Cx. 27 L.º6, fls. 48-v - 3 - Idem, C-12.B, Cx.49 L.º567, fls. 69-70 - 4 - Idem, Idem, Cx.50, L.º569, fls. 90-91 - 5 - Idem, idem, Cx.49, L.º568, fls. 50V-52v - 6 - Idem, idem, idem, idem, idem, 67-68 - 7 - Idem, C-9A, Cx.85, L.º500. fls, 25v-26 - 8 - NEVES, José Acúrcio das, - "Noções Históricas Económicas e Administrativas sobre a produção e Manufacturação das Sedas em Portugal (...) Lisboa, Imp. Régia, 1827, pp. 67-77 - 9 - SANTANA, Francisco, Documento do Cartório Junta do Comércio, CML, Vol.I,Fls 211/212 - 10 - AHU, Rio de Janeiro (Annaes da B.N.) Castro e Almeida, Vol. VIII nº 18 582 - 11 - Idem, Idem, Idem, nº 18 259 - 12 - IAN/TT,RP, Óbitos, Santa Engrácia, Cx.27, L.º6 - 13 - Idem, HSO, Mç. 5, nº 72 - 14 - Idem, DP, Estremadura. Mç. 2117, nº 53 - 15 - Idem, C-12B, Cx.91, L.º779, fls. 116-116-v - 16 - AHTC,DC, Santa Engrácia, Livros de Arruamentos, Mçs, 464-465 - 17 - NOGUEIRA, José António, Esparsos, Coimbra, Imprensa da Universidade,1934.pp.9-14

SIGLAS - AHTC-Arquivo Histórico do Tribunal de Contas - AHU-Arquivo Histórico Ultramarino - DC-Décima da Cidade - HSO-Habitações do Santo Ofício - IAN/TT-Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo - RP-Registos Paroquiais.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) «CALÇADA DOS BARBADINHOS [ IX ] - O CONVENTO DE SANTA APOLÓNIA( 1 )».

5 comentários:

Gracioso disse...

Caro APS

Portugal teve então grandes personagens na área da indústria e comércio quando estas actividades não eram tão desenvolvidas como hoje.
Grande homem esse Vasco Lourenço Veloso na vida económica de Lisboa e certamente de Portugal para ser dono palácio tão grande.
Em frente, na rua da Cruz, ficava o Colégio Parisiense pouco depois do gradeamento.
Já foi demolido.

A parte mais a Norte deveria de servir mais para actividades industriais.
A fábrica de tabacos, com entrada na Calçada dos Barbadinhos n° 25, quase em frente à entrada da igreja, terá funcionado até meados dos anos 50. Nessa altura estava já instalada a Guarda Fiscal mas só na parte contígua com a rua da Cruz. (dois pátios)
Não creio que houvesse uma ligação entre o CGGF e a fábrica em razão do desnível. É o mesmo caso entre a ex-fábrica e o ex-Grupo Desportivo dos Tabacos. É que a Calçada dos Barbadinhos é muito inclinada.

Um abraço
Gracioso

APS disse...

Caro Gracioso

Realmente a figura do titular do Palácio o tal «VASCO LOURENÇO VELOSO», foi um grande lutador e comerciante na sua época.

Só não aprovo o seu envolvimento com o comércio de escravos em 1723, onde ele pagava por cada cabeça doze mil réis ao Reino de Angola.

Por isso e muito mais, o seu final não foi feliz e muita gente nem o nome dele quer recordar.

Um abraço
APS

Anónimo disse...

Boa tarde, tem alguma informação sobre uma fábrica de refrescos na Rua da Cruz de santa Apolónia, 29, propriedade de um estrangeiro George ???, nos finais do Século XIX?
Obrigado.

APS disse...

Caro Anónimo
É com muito prazer que o informo da «FÁBRICA DOS PIROLITOS» de «GEORGE HALL». Deve seguir estes links.
http://aps-ruasdelisboacomhistria.blogspot.com/2009/03/calcada-da-cruz-da-pedra-iv.html
ou http://aps-ruasdelisboacomhistria.blogspot.com/2009/03/calcada-da-cruz-da-pedra-v.html
ou http://aps-ruasdelisboacomhistria.blogspot.com/2009/04/calcada-da-cruz-da-pedra-x.html
ou http://aps-ruasdelisboacomhistria.blogspot.com/2011/08/calcada-das-lajes-ix.html
Aconselho a visitar este blogue: BLOGGETROTTER - http://amaral-marques.blogspot.com/2011/05/o-pirolito.html
Também poderá no início deste blogue, no lado direito onde indica «PESQUISAR NESTE BLOGUE» escrever a palavra que pretende obter. Ex. Pirolito; George Hall ou Quinta do Manique etc.
Cumpts.
APS

Anónimo disse...

Muito obrigado pela informação. Estou a proceder a um levantamento de documentação da antiga Fábrica de Loiça de Sacavém e num dos documentos vem uma referência a esta fabrica de "refrescos", o apelido do proprietário é que não está muito legivél.
Mais uma vez muito obrigado.
Carlos Pereira