segunda-feira, 30 de julho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ XVIII ]

 Avenida D. Carlos I - (2009) Foto de Alves Gaspar - (Panorama da Fachada principal da "Assembleia da República Portuguesa" en LISBOA) in ALEM DO MINHO
 Avenida D. Carlos I - (2009) - Foto de autor não identificado (Fachada da actual "Assembleia da República") in AUTOCARAVANISMO
 Avenida D. Carlos I - (2012) - Foto de autor não identificado (Frontão que encima a varanda principal da "Assembleia da República") in ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA 
 Avenida D. Carlos I - (2007) Foto de Dias dos Reis (O "Palácio de S. Bento" actual "Assembleia da Republica") in DIAS DOS REIS
 Avenida D. Carlos I - (2002) - Foto de Andres Lejona ("Assembleia da República fachada principal) in AFML
Avenida D. Carlos I - (1959) - Foto de Armando Serôdio - ("Palácio de S. Bento" depois "Assembleia da República") in AFML

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I  [ XVIII ]

«DE "CORTES" A "ASSEMBLEIA DA REPUBLICA"»

O nome vai alterando, o edifício também, mas as funções são sensivelmente as mesmas desde que, em 4 de Setembro de 1833, «D. PEDRO IV» decretou que o "congresso da Nação" passasse a ter sede no "velho" Convento. Chama-se-lhe hoje de «ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA» e os monges que lá viveram talvez não reconhecessem na casa majestosa o seu «CONVENTO DE S. BENTO DA SAÚDE». 
O Arquitecto «POSSIDÓNIO DA SILVA» foi o encarregado em 1834, de transformar o Convento em «PALÁCIO DAS CORTES», com uma "Câmara dos Deputados" e outra para os "Pares do Reino". Apertado por prazos rígidos, pouco mais pode fazer do que adaptações. A "Câmara dos Deputados" (que ficaram em salas novas, propositadamente feita), a "Câmara dos Dignos Pares" (foram instalados na antiga "Sala do Capítulo"). Pode dizer-se que as obras nunca mais pararam. Sabe-se que os deputados não começaram a protestar logo de seguida, mas os pares cedo encontraram razões de queixa das instalações. 
As obras recomeçaram em 1863 e, se quiséssemos exagerar só um bocadinho, dir-se-ia que ainda não terminaram, tantas têm sido as alterações e ampliações sofridas nestes cento e cinquenta anos.
Em 1866 por acção do «MARQUÊS DE NISA»(1817-1873) novo impulso foi dado e foi construída a nova "Câmara dos Pares", na parte do edifício que dá para a «CALÇADA DA ESTRELA». Trabalhou-se a preceito: sala com auditório semicircular, tecto com clarabóia de vidro fosco, 22 colunas de mármore, trabalhos de madeira executados por «SANDRO BRAGA», um chão todo em carvalho e pau santo... O azar bateu à porta das «CORTES» em 1895 e a "Câmara dos Deputados" ficou largamente danificada por um violento incêndio. Assim, voltou quase tudo ao princípio e apareceu então «VENTURA TERRA» (muito jovem ainda), a ganhar o concurso para a reedificação quase total do edifício.
Os deputados reuniram-se provisoriamente na «ACADEMIA DAS CIÊNCIAS», instalada, obviamente, também num antigo Convento, neste caso o de «JESUS».
As novas obras foram o pretexto para tirar ao vetusto edifício beneditino o ar conventual e dar-lhe uma feição palaciana e adaptada às funções desempenhadas. 
Os Deputados só voltaram a casa em 1902, mas, como de costume em condições "provisórias".
Pode anotar-se, como curiosidade, que o escultor «ANATOLE CALMELS» (o mesmo que executou o conjunto escultórico, na parte superior do "ARCO" da "RUA AUGUSTA"), teve o seu "Atelieé" no próprio edifício da "ASSEMBLEIA", sendo autor, por exemplo, dos medalhões de bronze com os bustos do «DUQUE DE PALMELA» e do patriarca «D. GUILHERME»(que foi presidente da "Câmara dos Pares", incrustados na tribuna presidencial. Dizia-se que as obras nunca pararam e os factos e datas aí estão a demonstra-lo. Até 1926, foi renovada a fachada principal e avançado o corpo central depois, foram arrancados os portões de ferro do tempo Conventual. Já no tempo do "ESTADO NOVO", surgiu o corpo central com as seis colunas centrais, foi colocado o florão que hoje ali se admira: 
"Tímpano do frontão que remata o corpo central da fachada principal do palácio de S. Bento, executado em alto-relevo entre 1934 e 1938 pelo escultor "JOSÉ SIMÕES DE ALMEIDA (sobrinho), com base nas alterações feitas em 1928 à maqueta aprovada no concurso aberto em 1923, no qual foram preteridas as propostas de "FRANCISCO DOS SANTOS", "ANJOS TEIXEIRA" e "MOREIRA RATO". (in BOLETIM DO MUSEU DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA Nº 3 de MAIO de 2012 - instalado na Avenida D. Carlos I, Nºs. 128-132 - 4º piso - LISBOA).
A escadaria de honra, concebida por «LUÍS CRISTINO DA SILVA». Ficou, convenhamos, obra asseada. E ainda as instalações foram alargadas para o largo vizinho, para o sítio onde outrora existiu o "MERCADO DE S. BENTO".
O conjunto formou um palácio digno deste nome e os parlamentares não podem lamentar-se de falta de dignidade do edifício onde trabalham.
Outra curiosidade: por iniciativa do académico «JOAQUIM LEITÃO», chegou a ser organizado no edifício da «ASSEMBLEIA» um museu, no qual figuravam obras de pinturas, desenho, gravuras, manuscritos e peças de mobiliário que tinham sido deslocados em cada remodelação ou sobre os quais tinha caído a desactualização imposta por novas fases políticas (lembre-se, por exemplo, o retrato do rei que figurava em lugar de honra na sala maior e já não podia ter essa localização depois de proclamação da República).
Mas as necessidades de espaço dos deputados levaram a que o museu mudasse de local. Entretanto, como se sabe, as obras não param. Tirou-se das imediações o «MERCADO DE S. BENTO», levou-se o «ARCO» (que quase 60 anos depois, ressurgia na "PRAÇA DE ESPANHA", demoliram as casas anexas, instalou-se a «TORRE DO TOMBO» em edifício próprio, tudo para que os deputados possam dispor de gabinetes e de serviços próprios.
Quanto aos nomes: «CORTES», «CONGRESSO», «PARLAMENTO» «ASSEMBLEIA CONSTITUINTE», «ASSEMBLEIA NACIONAL», «ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA»... o nome terá a sua importância, mas não será por certo o essencial. Assim, pede-se a «S. BENTO» que proteja os nossos deputados para que cuidem bem dos interesses de quem, através do voto, para lá os mandou. [ FINAL].

BIBLIOGRAFIA

- ARAÚJO, Norberto - Peregrinações em Lisboa - Livro VII - VEGA -2ª- Ed. 1993-LISBOA
- ARAÚJO, Norberto - Peregrinações em Lisboa - Livro XI - VEGA - 3ª Ed. 1993 - LISBOA
- ATLAS da CARTA TOPOGRÁFICA DE LISBOA - sob a Direcção de Filipe Folque:1856-1858-CML-2000 - LISBOA
- CAEIRO, Baltazar Matos -Os Conventos de Lisboa - Distri Editora- 1989 - Sacavém
- CARVALHO, José Silva - Madragoa Sons e Arquitectura - Livros Horizonte - 1997 - LISBOA
- CASTILHO, Júlio - A RIBEIRA DE LISBOA - CML- 3ª Ed. - 1964- Volume IV - LISBOA
- DIAS, Marina Tavares - Lisboa Desaparecida - Volume 4 - Quimera - 1994 - LISBOA
- GAMEIRO, Roque - Lisboa Velha - Vega - 2ª Ed. - 1992 - LISBOA
- GUIA URBANÍSTICO E ARQUITECTÓNICO DE LISBOA - Associação de Arquitectos de Portugal 1987 - LISBOA
- HISTÓRIA DOS MOSTEIROS, CONVENTOS E CASAS RELIGIOSAS DE LISBOA - Tomo II Imprensa Municipal de Lisboa - 1972 - LISBOA
- LISBOA -  REVISTA MUNICIPAL- Nº 18-4º Trimestre de 1986 - Edição da CML
- LISBOA - REVISTA MUNICIPAL - Nº 19 -1º Trimestre de 1987 - Edição da CML
- MARTINS, Rocha - LISBOA DE ONTEM E DE HOJE - ENP - 1945 - LISBOA
- MUSEU DA ASSEMBLEIA DA REPUBLICA - FRONTÃO - Nº 3- Março/2012-LISBOA
- OLHARES DE PEDRA - ESTÁTUAS PORTUGUESAS- Notícias Publicações - 1994 - LISBOA
- OLIVEIRA, Cristóvão Rodrigues - LISBOA em 1551 - SUMARIO - Liv. Horizonte- 1987-LISBOA
- SANTANA, Francisco e SUCENA, Eduardo (Dir.)- Dicionário da História de Lisboa- Carlos Quintas & Associados-Consultores, Lda. - 1994 - Sacavem

INTERNET
- ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
- ISEG et ses environs
- JUNTA DA FREGUESIA DA LAPA
- PORTUGAL DICIONÁRIO DE HISTÓRIA
- REAL ASSOCIAÇÃO HUMANITÁRIA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE LISBOA
- RESTOS DE COLECÇÃO
- REVELAR LX 
- REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFIA & CIÊNCIAS SOCIAIS
- SKYCRAPERCITY
- SOCIEDADE GUILHERME COSSOUL
- TOPONÍMIA DE LISBOA
- WIKIPEDIA

(PRÓXIMO) -«PRAÇA DOS RESTAURADORES [ I ] - A PRAÇA DOS RESTAURADORES»

sábado, 28 de julho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ XVII ]

 Avenida D. Carlos I - (ant. 1755) Maqueta do "CONVENTO DE S. BENTO DA SAÚDE" executada entre 1955 e 1959 por "TICIANO VIOLANTE". Este Convento ficava a norte do "Convento da Esperança" in MUSEU DA CIDADE

 Avenida D. Carlos I - (Meados do século XIX) Foto de 1947 dos Estúdios Mário Novais (Panorama do "CONVENTO DE S. BENTO DA SAÚDE", aguarelado realçada a guache) in AFML 

 Avenida D. Carlos I - (ant. 1895) Foto de Francisco Rocchini) (Fachada do "MOSTEIRO DE S. BENTO DA SAÚDE", depois "PALÁCIO DAS CORTES") in AFML
 Avenida D. Carlos I - (Século XIX) Foto de autor não identificado (Fachada do Convento de São Bento da Saúde) in AFML
 Avenida D. Carlos I - (ant. 1895) Foto de autor não identificado ("CONVENTO DE S. BENTO DA SAÚDE" depois "PALÁCIO DAS CORTES") in AFML
Avenida D. Carlos I - ( 1941 ) Foto de Eduardo Portugal ("CONVENTO DE Nª. Srª. da ESTRELA", depois conhecido também como "CONVENTO DE S. BENTO-O-VELHO" hoje o "HOSPITAL MILITAR DA ESTRELA") in AFML

(CONTINUAÇÃO - AVENIDA D. CARLOS I [ XVII ]

«O CONVENTO DE S. BENTO DA SAÚDE»

Curiosamente, numa terra em que um dos gostos é mudar (nomes, sítios, funções etc.) tem-se registado, através do tempo, uma razoável consonância em relação ao «CONVENTO DE S. BENTO DA SAÚDE» como sede do «PARLAMENTO».
Vamos recuar uns séculos de história para desvendar de onde vinha este «CONVENTO» transformado em «PALÁCIO» e que, após obras sempre sucessivas, alberga os eleitos pela Nação.

Toda aquela encosta, que é hoje a «CALÇADA DA ESTRELA» e imediações, estava, no século XVI, ocupada por duas grandes quintas: na parte de cima, encontrava-se a propriedade de «LUÍS ALTER ANDRADE» e, na de baixo, a de «ANTÃO MARTINES».
Entretanto, vieram os «BENEDITINOS» de «TIBÃES» para LISBOA, frades da  "Ordem de S. BENTO". Compraram uma parte da quinta de cima e lá edificaram  um pequeno Convento, o de «NOSSA SENHORA DA ESTRELA», (depois conhecido também como "Convento de S. Bento-o-Velho") no sítio onde actualmente se encontra o «HOSPITAL MILITAR DA ESTRELA».
Mas as instalações eram pequenas para as ideias dos beneditinos. Em 1596, era comprada a quinta do «ANTÃO MARTINES». O povo chamava ao sítio de «QUINTA  DA SAÚDE», pelo facto de ali se ter instalado, por volta de 1570, uma espécie de hospital para recolher os doentes atingidos pela peste. Assim, o novo Convento, que logo começou a ser erguido, passou a ser chamado de «S. BENTO DA SAÚDE».
As obras do grande edifício foram entregues ao arquitecto «BALTASAR ALVARES» (1560-1630) que já tinha trabalhado na reedificação de «SÃO VICENTE» e no «COLÉGIO DE SANTO ANTÃO-O-NOVO», que conhecemos como «HOSPITAL DE SÃO JOSÉ».
Embora ocupado desde 1598, o edifício só veio a ser dado como pronto em 1615.
(É bom recordar que por vários nomes foi chamado este Convento. Convento de S. Bento-o-Novo, para se diferenciar do "velho" na "Calçada da Estrela", Convento de S. Bento da Saúde, (em memória ao sítio da saúde) e ainda Convento de S. Bento dos Negros, em virtude da cor do hábito usado pelos religiosos).
Um século e tal depois, ocorreu o Terramoto grande. Os estragos não foram demasiados pesados, tanto no edifício como na "Igreja Conventual", que ficava a meio, virada ao largo, sensivelmente onde temos hoje o frontão da ASSEMBLEIA.
Começara entretanto a notar-se algum abandono das primitivas ideias largas dos Beneditinos: iam estes alienando pedaços das suas terras e permitindo a construção de casas que ou eles próprios exploravam ou cediam a foreiros.
Por outro lado, o edifício por ser demasiadamente vasto e em grande parte desocupado, teve a partir de então utilizações diversas; o «ARQUIVO NACIONAL» instalado na época na «TORRE DO TOMBO», no «CASTELO DE S. JORGE») tivesse de ser mudado. Foi ocupar a ala sudoeste do edifício e por lá permaneceu de 1756 a 1990, sendo no último ano transferido e instalado na CIDADE UNIVERSITÁRIA DE LISBOA, em edifício próprio. Diga-se que também habitaram em «S. BENTO», ainda que por períodos curtos, com a cedência da parte do edifício para a instalação da sede do «PATRIARCAL DE LISBOA» em 1755, e parte da ala sudoeste a fim de aí instalar-se a «ACADEMIA MILITAR» em 1757.
Um cronista não hesita em dizer que aquele espaço foi, além de Mosteiro, prisão, hospedaria, sepultura de estranhos, refúgio e armazém dos despojos militares franceses.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«AVENIDA D. CARLOS I [ XVIII ]- DAS CORTES À ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA»    

quarta-feira, 25 de julho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ XVI ]

 Avenida D. Carlos I - (2011) Foto de João Carvalho (Vista frontal do "CHAFARIZ DA ESPERANÇA" obra de "CARLOS MARDEL" edificada no século XVIII) in WIKIPÉDIA
Avenida D. Carlos I - (2011) - Foto de João Carvalho) (Vista do lado norte do "CHAFARIZ DA ESPERANÇA", no prédio amarelo que se vê ao fundo está instalada a "Guilherme Cossoul") in WIKIPÉDIA
 Avenida D. Carlos I - (2011) - Foto de João Carvalho (Vista lateral do "CHAFARIZ DA ESPERANÇA") in WIKIPÉDIA
 Avenida D. Carlos I - (194_) Foto de Fernando Martins Pozar (O "CHAFARIZ DA ESPERANÇA" uma obra de "Carlos Mardel" localizada no antigo "Largo da Esperança" hoje "Avenida D. Carlos I") in AFML
 Avenida D. Carlos I (1907) Foto de Joshua Benoliel (Nesta época era usual a afluência de aguadeiros no "Chafariz da Esperança") in AFML

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ XVI ]

«O CHAFARIZ DA ESPERANÇA»

O monumental «CHAFARIZ DA ESPERANÇA» é, sem dúvida, o "ex-libris" da freguesia de «SANTOS-O-VELHO».
Delineado no reinado de «D. JOÃO V» a sua construção integra-se na política de abastecimento público de água aos alfacinhas. Em 1731 o monarca assinou o decreto que autorizava a construção do «AQUEDUTO DAS ÁGUAS LIVRES». Este devia servir toda a cidade e visava colmatar os problemas relacionados com o fornecimento de água à capital.
No ano de 1747, já com «CARLOS MARDEL» como engenheiro principal da obra do aqueduto, começaram a ser executadas as galerias para o abastecimento das fontes principais da cidade, utilizando o mesmo sistema de galerias do aqueduto geral. No entanto, a dúvida sobre o local onde deveria ser construída a «MÃE DE ÁGUA», atrasou a edificação do chafariz. Só seriam aprovados no início da década seguinte, os primeiros projectos para os chafarizes.
No ano de 1750 era adquirido pelo Senado da Câmara de Lisboa uma porção de terreno pertencente ao «CONVENTO DA ESPERANÇA» para construir o grande chafariz, cuja galeria de abastecimento vinha directamente do reservatório das Amoreiras. O segundo ramal das «AMOREIRAS» que abastecia este chafariz era chamado «AQUEDUTO» ou «GALERIA DA ESPERANÇA» que partia do antigo «ARCO DE S. BENTO», na "RUA DE S. BENTO» (hoje erguido no centro da "PRAÇA DE ESPANHA") e terminava no «CHAFARIZ DA ESPERANÇA».
O «CHAFARIZ DA ESPERANÇA» uma jóia de pedra, edificada em 1752, segundo o risco de «CARLOS MARDEL», um húngaro de nascimento que muito se distinguiu nas obras do abastecimento de água a LISBOA e na própria reconstrução da cidade após terramoto.
O grande chafariz, aproveitava  um espaço já existente na malha urbana da cidade, mas a sua implantação marcou de forma definitiva a zona da «ESPERANÇA». Adossado a um edifício, o conjunto desenvolve-se numa estrutura de dois pisos servida por escadas laterais, de evidente carácter cénico, bem ao gosto do barroco.
Em cada um dos pisos foi edificado um tanque com espaldar. O tanque inferior que servia como bebedouro de animais, implanta-se ao nível do chão, com três bicas em forma de carrancas para saída de água. No piso superior, os tramos são marcados pela disposição de pilastras toscanas, e cada uma das carrancas verte água sobre um pequeno tanque. O conjunto é rematado por pórtico de gosto pombalino, muito semelhante aos remates das fachadas das igrejas construídas no período pós-terramoto, que imprime um cunho de verticalidade ao chafariz, uma vez que prolonga a sua altura muito para além do estritamente necessário.
Este chafariz está classificado como «MONUMENTO NACIONAL» desde 16 de Junho de 1910.
Esta grandiosa obra foi concluída no ano de 1768, por «MIGUEL BLASCO».
O grandioso «CHAFARIZ DA ESPERANÇA» que foi de grande utilidade, está hoje um pouco desprezado, secou nos anos 30 do século passado, aquando da demolição do «ARCO DE SÃO BENTO», interrompendo assim, a sua fonte de abastecimento.

MEDALHÃO A GAGO COUTINHO
Sensivelmente no mesmo local onde permaneceu o «CRUZEIRO DA ESPERANÇA», no antigo «LARGO DA ESPERANÇA» do modesto jardim, na esquina do lado direito para quem se dirige à «RUA DA ESPERANÇA», vindo da «AVENIDA D. CARLOS I», existe uma base em paralelepípedo de cimento armado, onde está colocado um medalhão em bronze com a efígie de «GAGO COUTINHO» e placa de mármore. O medalhão é da autoria do escultor «DOMINGOS SOARES BRANCO», inaugurado a 18 de Fevereiro de 1984.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «AVENIDA D. CARLOS I [ XVII ] - O CONVENTO DE SÃO BENTO DA SAÚDE»

sábado, 21 de julho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ XV ]

 Avenida D. Carlos I - (2012) - Novas instalações do "R.S.B." da 3ª Companhia virada para a "Avenida dos Lusíadas" próximo do "Centro Comercial Colombo") in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (2007) - (Vista de Satélite das novas instalações da 3ª Companhia do "R. S. B.", junto do "Centro Comercial Colombo" in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (Século XIX) - (Planta do andar térreo do edifício do "Mosteiro da Esperança" escala 1:750) (A planta a tinta vermelha mostra o traçado da "Avenida D. Carlos I" e a sobreposição dos edifícios do "Quartel de Bombeiros") (Redução de uma planta do Arquivo de Desenho da Câmara Municipal de Lisboa datado de 16 de Setembro de 1889) in DISPERSOS VOLUME I
 Avenida D. Carlos I - (195_) Foto de Eduardo Portugal (Painel de azulejos no quartel dos bombeiros, vindo do "Palácio Folgosa" da "Rua da Palma") in AFML
 Avenida D. Carlos I - (195_) Foto de Eduardo Portugal (Quartel do "Batalhão Sapadores Bombeiros", o painel de azulejos vindo do "Palácio Folgosa" da "Rua da Palma") in AFML
Avenida D. Carlos I - (1935) - Foto de Eduardo Portugal (Interior do quartel do "Batalhão de Sapadores Bombeiros", no antigo "Convento da Esperança" visto do lado da parada) in AFML

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ XV ]

«O R.S.B.-REGIMENTO DE SAPADORES BOMBEIROS ( 2 )»

Teve este quartel como primeiro comandante o capitão «GOMES FERREIRA» devendo-se a ele as alterações que o edifício municipal tomou, menosprezando a arqueologia existente no local.
Como a projectada padaria não desse sinais de vida, obviamente os bombeiros foram ocupando os espaços; nasceram assim, paulatinamente, um grande alojamento para pessoal e em 1896 uma estação de serviço. Chamavam então a "Caserna da Esperança" e desde pelo menos 1901, era ali que se encontrava o Comando e os serviços centrais da Corporação, cuja missão é acudir aos cidadãos comuns nas suas maiores aflições.
Nesse mesmo ano de 1901, dá-se a militarização do "CORPO DE BOMBEIROS", que passa da tutela do MUNICÍPIO para o ESTADO.
Em 1912 na parte norte do quartel foi construído uma muralha de suporte dos edifícios da «RUA DA ESPERANÇA» que ameaçavam desabar sobre a parada do Quartel.
No ano de 1925 o corpo, já novamente sob a tutela do MUNICÍPIO, passa a denominar-se «CORPO MUNICIPAL DE SALVAÇÃO PÚBLICA». Em 1930 passa o nome para «BATALHÃO SAPADORES BOMBEIROS» e em 1988 sobe de escalão para «REGIMENTO DE SAPADORES BOMBEIROS».
Diz-nos «NORBERTO DE ARAÚJO» nas suas «PEREGRINAÇÕES EM LISBOA» que: "na parada de entrada ao fundo, na face do muro que ampara a cerca superior - pedaço rústico - há uns azulejos ali colocados há meia dúzia de anos (depois de 1935), e que vieram do "PALÁCIO FOLGOSA " da "RUA DA PALMA", quando este foi encurtado para rectificação da rua, e passou para a "CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA".
No início do século XXI era divulgado que os SERVIÇOS CENTRAIS do «REGIMENTO DE SAPADORES BOMBEIROS», o seu quartel-general portanto, em breve iria sair (mudanças impostas pelos novos tempos), em direcção às novas e modernas instalações, situadas junto do edifício do «CENTRO COMERCIAL COLOMBO», exigências do progresso.
Creio que continuam  ainda alguns serviços, nomeadamente  a 1ª Companhia-Comando do "REGIMENTO DE SAPADORES BOMBEIROS" na «AVENIDA D. CARLOS I», mas do velho «CONVENTO DE Nª. Sª. DA PIEDADE OU DA ESPERANÇA» praticamente nada existe, uma vez que todo o conjunto foi renovado, alterado e adaptado às necessidades dos soldados da paz. Mas a palavra "PIEDADE" e "ESPERANÇA" ficaram sempre, simbolicamente pelo menos, naquelas paredes.
Acreditamos que possam elas ser transplantadas também para um novo local, ou para todos os locais onde exista gente disposta a acudir aos que se encontrem com necessidade de ajuda.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «AVENIDA D. CARLOS I [ XVI ] - O CHAFARIZ DA ESPERANÇA»

quarta-feira, 18 de julho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ XIV ]

 Avenida D. Carlos I - (2010) Foto de José Miragaia Tomás (Entrada para o "Regimento de Sapadores Bombeiros" na "Avenida D. Carlos I") in BOMBEIROS
 Avenida D. Carlos I - (2007) - (Vista de Satélite do RSB na "Avenida D. Carlos I" no local onde existiu o "CONVENTO DA ESPERANÇA") in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (1950) (Planta de 1950 do sítio do "Mosteiro da Esperança" - Escala 1:2000, extraída da Planta da Cidade de Lisboa de 1919/11) (O traçado a tinta vermelha mostra o terreno ocupado pelo Quartel do Corpo de Bombeiros) in DISPERSOS VOLUME I 
 Avenida D. Carlos I - (1950) Foto de Eduardo Portugal (Quartel do "Batalhão Sapadores Bombeiros" no antigo sítio do "Convento da Esperança" na "Avenida D. Carlos I") in AFML 
 Avenida D. Carlos I - (1950) Foto de Eduardo Portugal (Quartel do "Batalhão Sapadores Bombeiros" no sítio do antigo "Convento da Esperança") in AFML
Avenida D. Carlos I - (1946-10-25) Foto de Cunha Ferreira (Nas Festas de Lisboa, o Comandante do "Batalhão Sapadores Bombeiros", no sei discurso ao presidente da CML. Cerimónia realizada no quartel da "Avenida D. Carlos I") in AFML

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ XIV ]

«RSB-REGIMENTO DE SAPADORES BOMBEIROS ( 1 )»

O «REGIMENTO DE SAPADORES BOMBEIROS» tem origem no mais antigo corpo de bombeiros de Portugal organizado a 25 de Agosto de 1395, por Decreto de «D. JOÃO I» a pedido da Câmara Municipal de Lisboa.
Na verdade, o sítio onde ainda se situa (parte) do Quartel de Bombeiros tem alguma história. Virá talvez a propósito lembrar, ainda que sucintamente, algumas passagens no tempo. Para não irmos mais longe, propõe-se uma "viagem" de recuo até ao século XVI.
Reinava o nosso rei «D. JOÃO III». Uma senhora muito rica, de seu nome «ISABEL DE MENDANHA», era proprietária de uma vasta e fértil extensão de terreno, a «QUINTA  DA SIZANA», que decidiu mandar erguer em suas terras um Mosteiro em honra de «NOSSA SENHORA DA PIEDADE».
O «CONVENTO DE Nª. Sª. DA PIEDADE» veio a situar-se no sítio exacto onde temos hoje as instalações dos Bombeiros e os terrenos que o circundavam iam até à actual «RUA DO POÇO DOS NEGROS», abrangendo portanto parte da «AVENIDA D. CARLOS I».
A porta principal dava para Sul, isto é, para o «LARGO» que se forma junto ao começo da «RUA DA ESPERANÇA» e onde pontifica, desde o século dezoito o grande chafariz.
Em 1834, como é sabido, o regime liberal mandou encerrar as casas religiosas em Portugal, mantendo embora abertas aquelas onde houvesse freiras, até que a última morresse. Neste Convento tiveram que esperar 54 anos, pois só em 11 de Agosto de 1888 a irmã "JOAQUINA DE JESUS", derradeira sobrevivente, entregou a sua alma a Deus.
O ESTADO e a CÂMARA tomaram conta do espaço, enquanto os bens eram dispersos. Os sinos e alguns altares por exemplo, foram para Alpiarça. O órgão seguiu para a vizinha Igreja de «SANTOS-O-VELHO», que ficou como herdeira também do especial culto dos homens do mar à "SENHORA DA ESPERANÇA", (uma bela imagem da virgem desta invocação existe ainda na sacristia daquele templo). Os livros existentes foram entregues às Bibliotecas do Estado e alguns quadros, os objectos artísticos rumaram ao então «MUSEU NACIONAL DE BELAS-ARTES E ARQUEOLOGIA» hoje o «MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA».
Pensou a «CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA» fazer do espaço do antigo Convento uma padaria Municipal, com capacidade de produção que andasse pelos quarenta mil quilos de pão diário. E, ao mesmo tempo, começou a ser projectada uma Avenida que fosse desde o «CAIS DO TOJO» até ao antigo «CONVENTO DE SÃO BENTO DA SAÚDE» onde funcionavam as «CORTES». Ora a padaria nunca chegou a ser feita. A Avenida começou por ser um prolongamento da «RUA DUQUE DA TERCEIRA» e depois foi de facto por ali acima, rasgando a antiga cerca do Convento.
Em 1890, o "SERVIÇO DE INCÊNDIOS", pertencente à «CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA» mostrou grande interesse em instalar os seus serviços no local do velho convento. O que deste restava era entretanto demolido, alguns elementos soltos reutilizados no novo edifício, que substituiu o «CONVENTO», apenas restou parte da Igreja e do coro, transformados em oficinas, sobre a qual foi construído um piso que quase prejudicava o tecto da Igreja, em obras dirigidas pelo arquitecto «JOSÉ LUÍS MONTEIRO». Surgia assim, entre 1891-1892 o quartel número um dos «BOMBEIROS MUNICIPAIS», que incluía uma oficina de inspecção.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «AVENIDA D. CARLOS I [ XV ] - RSB-REGIMENTO DE SAPADORES BOMBEIROS ( 2 )»     

sábado, 14 de julho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ XIII ]

 Avenida D. Carlos I - (2012) ("Largo Vitorino Damásio" depois das obras de requalificação do local) in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (2012) - ("Largo Vitorino Damásio" com o seu parque subterrâneo) in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (2012) - ("Largo Vitorino Damásio" com entrada para o parque de estacionamento subterrâneo) in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (2012) - ( O "Largo Vitorino Damásio" no seu lado poente) in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (2012) - (A entrada para o Estacionamento Subterrâneo no "Largo Vitorino Damásio") in MARCAS DAS CIÊNCIAS E DAS TÉCNICAS
Avenida D. Carlos I - (2003) - (Planta geral do projecto de construção de estacionamento subterrâneo do "Largo Vitorino Damásio". Uma equipa de arqueólogos trabalharam de 9 de Abril a 30 de Julho de 2003 na obra do parque, tendo efectuado a identificação de uma estrutura portuária em madeira) in REVISTA PORTUGUESA DE ARQUEOLOGIA

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ XIII ]

«O LARGO VITORINO DAMÁSIO»

O «LARGO VITORINO DAMÁSIO» era o troço da antiga «RUA VASCO DA GAMA» que tinha os prédios com os número 1 a 51 e 24 a 66. Por edital camarário de 17 de Junho de 1947 passou a ter o presente topónimo. Este «LARGO» fica entre a «AVENIDA D. CARLOS I» e o «LARGO DE SANTOS».
No subsolo do «LARGO VITORINO DAMÁSIO» encontra-se um moderno «PARQUE DE ESTACIONAMENTO SUBTERRÂNEO» inaugurado a 7 de Dezembro de 2004, pelo presidente da autarquia «CARMONA RODRIGUES». O equipamento, cuja construção começou em Março de 2003, tem 3 pisos subterrâneos com capacidade para 315 lugares e representou um investimento de 5,5 milhões de euros, estando aberto 24 horas por dia. "As obras de requalificação do «LARGO VITORINO DAMÁSIO» aquando da reposição das condições à superfície após a edificação do parque de estacionamento, custaram trezentos e treze mil novecentos e trinta e quatro euros".
O parque de estacionamento subterrâneo não tem um valor de superfície conhecido, sendo paga uma renda anual que não foi revelada. Iniciada em Dezembro de 2004, a exploração terminará em Dezembro de 2054. (mais informação ver aqui).
Este lugar tinha más condições de salubridade, devido ao funcionamento de uma zona de industria e a aproximação do RIO. Sabe-se que terá existido no local uma estrutura portuária antiga em madeira, que terá sido posta a descoberto durante as obras de construção do "parque de estacionamento subterrâneo" no referido Largo.
Com o objectivo da divulgação dos resultados da escavação arqueológica de salvaguardar e do acompanhamento arqueológico dos trabalhos de construção do parque de estacionamento, realizada entre 9 de Abril a 30 de Julho de 2003. Os trabalhos efectuados permitiram a identificação de uma antiga estrutura portuária em madeira, contribuíram para o melhor conhecimento da história da zona RIBEIRINHA DE LISBOA e destacando a importância e a responsabilidade que assumem cada vez mais as intervenções arqueológicas preventivas no quadro do acompanhamento de obras de construção nesta área específica de LISBOA. (Para quem estiver interessado nesta matéria, pode ver um trabalho de 32 páginas em PDF, da arqueóloga «MARIA JOÃO SANTOS» com o título: "O Largo Vitorino Damásio" (Santos-o-Velho): contributo para a história da zona Ribeirinha de LISBOA.

Coube a árdua tarefa ao engenheiro «JOSÉ VITORINO DAMÁSIO» em 1858, de proceder ao aterro da margem desde o «BOQUEIRÃO DA MOEDA» até à praia de «SANTOS». Estava previsto cerca de 50 metros de avanço sobre o RIO, através da construção de um paredão armado. Nessa altura são expropriados os jardins do «PALÁCIO DOS MARQUESES DE ABRANTES» e dos terrenos da «CASA DE ASSECA» procedendo-se também à demolição das habitações entre a «PRAÇA D. LUÍS» e a «RUA DAS JANELAS VERDES», para a construção de um paredão que constituiu o primeiro acesso ao troço inicial do ATERRO e que viria mais tarde a receber o nome de «RUA 24 DE JULHO».
Pela sua participação efectiva no «ATERRO» o Engenheiro «JOSÉ VITORINO DAMÁSIO», terá sido esta a causa de a Câmara Municipal de Lisboa lhe ter atribuído um topónimo nesta zona.
«JOSÉ VITORINO DAMÁSIO» nasceu em «SANTA MARIA DA FEIRA» a 2 de Novembro de 1807 e faleceu em LISBOA em 19 de Outubro de 1875. Formado pela Universidade de Coimbra em Filosofia e Matemática(1837). Foi lente da Academia Politécnica do Porto e engenheiro-director de Obras Públicas do Distrito.
Fundou com «FARIA GUIMARÃES» a "Fundição do Bolhão", introduzindo a industria do fabrico de louça de ferro fundido esmaltado e estanhada a banho. Em Lisboa foi Reitor do «INSTITUTO INDUSTRIAL», antepassado do actual «INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA», director da «COMPANHIA DAS ÁGUAS», empresa que veio a dar origem à EPAL, e director-Geral dos Telégrafos, actual «CTT».
Em 1849, «VITORINO DAMÁSIO» encabeça um movimento à criação da «ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL PORTUENSE» (hoje "ASSOCIAÇÃO EMPRESARIAL DE PORTUGAL"), da qual foi mais tarde, o seu terceiro presidente. Esteve também ligado a valiosos estudos sobre o cálculo da resistência de Pontes Metálicas.

(CONTINUA) - (PRÓXIMA)-«AVENIDA D. CARLOS I [ XIV ] - O REGIMENTO DE SAPADORES BOMBEIROS (1)».

quarta-feira, 11 de julho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ XII ]

 Avenida D. Carlos I - (1935) (Foto Novaes-Benoliel) ("Festas da cidade de 1935", reconstituição de um trecho de "LISBOA ANTIGA" no local do antigo "Convento das Francesinhas") in OLISIPO
 Avenida D. Carlos I - (1935) - (Foto Novaes-Benoliel) (Reconstituição de um trecho de "LISBOA ANTIGA" no local do antigo "Convento das Francesinhas", por ocasião das Festas da Cidade de 1935) in OLISIPO
 Avenida D. Carlos I - (1935) Foto de autor não identificado (As construções do parque temático de "LISBOA ANTIGA" nos terrenos do antigo "Convento das Francesinhas") in LISBOA DESAPARECIDA
 Avenida D. Carlos I - (1935) -(Gustavo Matos Sequeira) - (Um aspecto da reconstituição de "LISBOA ANTIGA" no antigo local do "Convento das Francesinhas") in ARQUIVO NACIONAL TORRE DO TOMBO
Avenida D. Carlos I - (1934) - Foto de autor não identificado (Aspecto depois da demolição do "Conventos das Francesinhas") - in LISBOA DESAPARECIDA


(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ XII ]

«LISBOA ANTIGA»

Foi no local do antigo "CONVENTO DE SANTO CRUCIFIXO" que o povo, bom padrinho, denominou das «FRANCESINHAS», onde se erguia um parque temático denominado «LISBOA ANTIGA».
«GUSTAVO DE MATOS SEQUEIRA», no ano de 1935, com a sua proficiência de arqueólogo e investigador notável, aliado ao culto da história, reconstituiu um parque temático que recreava a vida do lisboeta no século XVIII. Um trecho evocativo do passado, com que deliciou a vista e a alma dos visitantes.
Descrições saborosas da «LISBOA ANTIGA» publicada na "NOVA GAZETA DE LISBOA» em 04.06.1935 e, relatava nos termos seguintes:inaugura-se hoje um trecho da Lisboa do século XVIII". Dizia o programa das "FESTAS DE LISBOA" que a reconstituição de «LISBOA ANTIGA» pretende mostrar aos lisboetas de hoje como era a cidade que o Terramoto de 1755 destruiu em parte, com todo o seu carácter construtivo, um pouco dos seus costumes e alguma coisa da sua feição urbana.
Escolhido o terreno onde outrora assentou o «CONVENTO DAS FRANCESINHAS» e parte da sua cerca, preparado este trecho fisionómico da capital, utilizando-se ainda os restos arquitectónicos da velha casa religiosa, o bairro velho de LISBOA ergueu-se como documento vivo, mostrando os seus recantos e becos, as suas fachadas de ressalto indisciplinados, a sua tortuosa topografia.
Para que a sua reconstituição não resultasse estática, (apenas museu de arquitectura antiga), o comércio aparece com os estabelecimentos típicos. Um mercado, sombra do que foi o "ROSSIO", documenta aos olhos do lisboeta de hoje a mercadoria popular, existem vendedores ambulantes, jogos de rua, um «PÁTIO DAS COMÉDIAS» (onde actuavam vedetas, designadamente como "PALMIRA BASTOS" um outro «PÁTIO DA MADRE ALEIXO» (homenagem de Matos Sequeira, à prestigiosa figura), uma Estalagem, Adegas, Neveiros ( 1 ), Vinhateiros ( 2 ), Botequins ( 3 ) e jogos de todo o género, como existia na Lisboa de 1700.
As Ruas, Becos, Largos, Calçadas, Arcos e Travessas, são iluminadas como antigamente, por lampiões e lanternas de vidro e não faltaram as fontes e os chafarizes da velha LISBOA. O recinto era fechado existindo sete portas, três de  entrada, três de saída e uma de serviço, este trecho da cidade antiga, estava atalaiado pelos restos de uma muralha e por uma torre armada. Esta «LISBOA ANTIGA» ficava encravada entre as ruas "Miguel Lupi" em (1935) «JOÃO DAS REGRAS» (hoje Rua das Francesinhas), a «CALÇADA DA ESTRELA» e as instalações do «PARQUE SANITÁRIO», ocupando cerca de nove mil metros quadrados de terreno e, possivelmente, com mais de meia centena de construções.
Aquela «LISBOA ANTIGA» de «MATOS SEQUEIRA» como uma visão corporizada grata aos nossos sentidos. Pensamos que talvez não se devia ter desmanchado, mas fica a recordação e uma terna saudade.
Ainda nesta LISBOA reconstruída foram filmados os exteriores do filme «BOCAGE», que «LEITÃO DE BARROS» nos presenteou no ano de 1936.

( 1 ) - Indivíduo que vende ou fabrica neve ou sorvetes
( 2 ) - Fabricantes de Vinho
( 3 ) - Casa pública de bebidas; casa de pasto de categoria inferior.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO) - «AVENIDA D. CARLOS I [ XIII ] - O LARGO VITORINO DAMÁSIO»  

sábado, 7 de julho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ XI ]

 Avenida D. Carlos I - (1946) Foto de Eduardo Portugal  (Arranjos para o futuro Jardim, antigo espaço do "CONVENTO DAS FRANCESINHAS", o amontoado de pedras no lado esquerdo pertencem ao "ARCO DE S. BENTO", hoje erigido na "Praça de Espanha") in AFML
 Avenida D. Carlos I - (c. de 1959) Foto de António Passaporte ("A Família", grupo escultórico no "Jardim das Francesinhas", da autoria de "Leopoldo de Almeida") in AFML
 Avenida D. Carlos I - (1959) Foto de Fernando Manuel Jesus Matias - ("Esquadra da PSP" na "Rua das Francesinhas" antigo caminho novo, ocupava sensivelmente a zona da actual entrada do ISEG) in AFML
Avenida D. Carlos I - (depois de 1949) Foto de autor não identificado (Antigos edifícios da "Direcção Geral de Saúde" nos terrenos da cerca do "Convento das Francesinhas" ao fundo o Jardim e a "Assembleia da República") in JUNTA DE FREGUESIA DA LAPA

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ XI ]

«O CONVENTO DAS FRANCESINHAS ( 2 )»

Em 24 de Março de 1668 na sentença da anulação do matrimónio é lida a pronúncia a seu favor, assim no dia 27 do mesmo mês era celebrado um novo casamento, desta vez com o seu cunhado (D. PEDRO II), na «IGREJA DA ESPERANÇA» e, seu primeiro marido partia para o exílio na «ILHA TERCEIRA» AÇORES.
A rainha adoecera gravemente em 1683, morrendo três meses depois de «D. AFONSO VI».
Foi sepultada no convento que fundou, seguindo-lhe sua filha a princesa «D. ISABEL LUÍSA» que falecera solteira aos 21 anos de idade, no «PAÇO DA RIBEIRA» em 1690.
Depois da extinção das «ORDENS RELIGIOSAS» em 1834 e após a morte da última religiosa, madre «HENRIQUETA MARIA DA CONCEIÇÃO», foi o Convento extinto em 1890. Já bastante arruinado o «CONVENTO DAS FRANCESINHAS», serviu de ASILO para "COSTUREIRAS E CRIADAS DE SERVIR", que mereceram os cuidados da «VISCONDESSA DE CARVALHO», que morava ali bem perto na «RUA DOS INDUSTRIAIS».
Com a implantação da REPÚBLICA em 1910 as ocupantes do Convento foram desalojadas e saíram escoltadas por soldados e populares. O Convento, que já apresentava grande ruína, começou a cair aos bocados depois dessa data. Uma parte dos seus restos arquitectónicos foi parar ao «MUSEU ARQUEOLÓGICO DO CARMO». O recheio da Igreja foi distribuído por várias casas de oração, com excepção daquilo que foi furtado ou extraviado.
O terreno foi terraplanado com entulho, perante o olhar estarrecido dos transeuntes mais curiosos. Diz-se que quando os operários se demoravam a demolir as importantes e grossas paredes do CONVENTO , ficavam ao relento "Capelas de Talha", "Frescos" quase intactos. As sepulturas eram profanadas, os esqueletos estavam visíveis. Quem se aproximava do local podia ver homens a vasculhar entre as ossadas, na procura de alguma moeda de ouro. Este espectáculo ainda durou quase um ano, até a edilidade deixar tudo limpo, embora ao abandono. Nessa época o povo que passava pelo local tinha o costuma de se benzer, lembravam que o resultado daquela desgraça era motivada pela odiada «MARIA FRANCISCA ISABEL DE SABÓIA».
Em 1912 os restos mortais de «MARIA FRANCISCA» eram transladados para o «PANTEÃO DE S. VICENTE DE FORA».
Na cerca do Convento esteve instalado o «PARQUE SANITÁRIO» (antigo Posto de Desinfecção), junto de uma rua chamada «CAMINHO NOVO» (hoje RUA DAS FRANCESINHAS), foram também construídos prédios de rendimento e uma esquadra da "P.S.P.".  
Entregues os despojos do Convento o local das suas antigas  instalações ficou desaproveitado até ao início dos anos 30 do século XX.
Em 1935 era instalado no local a «LISBOA ANTIGA» de «GUSTAVO DE MATOS SEQUEIRA» de que no próximo capitulo iremos falar.
Só mais tarde se desenhou e  construiu o «JARDIM DAS FRANCESINHAS» ou «JARDIM LISBOA ANTIGA». Neste Jardim podemos apreciar a peça «A FAMÍLIA», grupo escultórico da autoria de «LEOPOLDO DE ALMEIDA», peça executada em mármore, o plinto foi construído em calcário lioz, tendo sido inaugurado no ano de 1949.
Os terrenos do antigo Convento e sua cerca foram ocupados (conforme já nos referimos); por um «JARDIM», serviços do «MINISTÉRIO DA SAÚDE» e uma esquadra de Polícia. A esquadra foi desactivada, a «Unidade de Saúde das Francesinhas» encerrou em 25 de Janeiro de 1993, ambas foram substituídas por dois  edifícios das novas instalações do «ISEG-INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO».

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «AVENIDA D. CARLOS I [ XII ] - A "LISBOA ANTIGA"»  


quarta-feira, 4 de julho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ X ]

 Avenida D. Carlos I - (Finais do século XIX) (Desenho de Roque Gameiro) (O lado sul do "CONVENTO DAS FRANCESINHAS" um desenho do mestre "Roque Gameiro" publicado no livro "LISBOA VELHA" estampa número 50) in LISBOA VELHA
 Avenida D. Carlos I - (1910) Foto de Joshua Benoliel (O "Convento das Francesinhas" esquina com a "Calçada da Estrela" e o "Caminho Novo", actual "Rua das Francesinhas") in AFML
 Avenida D. Carlos I - (Depois de 1667) (Desenho do "Convento das Francesinhas" no início da "Calçada da Estrela" e perto da cerca do "Convento da Esperança" in DICIONÁRIO DA HISTÓRIA DE LISBOA
 Avenida D. Carlos I - (ant. a 27 de Dezembro de 1683) (Pintura de autor não identificado) (Quadro de "D. Maria Francisca de Sabóia" rainha de Portugal, primeira esposa de D. Pedro II e fundadora do "Convento das Francesinhas") in RETRATOS REAIS PORTUGUESES
Avenida D. Carlos I - (2011) - (O livro de "MARIA FRANCISCA DE SABÓIA" escrito por "Diana de Cadaval" editado pela "Esfera dos Livros" recentemente, conta-nos mais em pormenor todo o percurso desta rainha em Portugal) in DIANA DE CADAVAL

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ X ]

«O CONVENTO DAS FRANCESINHAS ( 1 )»

O Convento de invocação do «SANTO CRUCIFIXO» das Religiosas Capuchinhas Francesas da Regra Primeira de «SANTA CLARA», mais conhecido pelo «CONVENTO DAS FRANCESINHAS»,   situado no início da «CALÇADA DA ESTRELA» frente ao «CONVENTO DE S. BENTO DA SAÚDE» , na parte noroeste da cerca e hortas do também já desaparecido «CONVENTO DA ESPERANÇA».
O «CONVENTO DAS FRANCESINHAS» foi fundado em 1667 pela rainha «D. MARIA FRANCISCA ISABEL DE SABÓIA». Entre as religiosas que acompanharam o séquito da rainha vindas de França, estava uma muito especial: soror «MARIA SANTO ALEIXO». Embarcaram a bordo duma esquadra francesa composta de 10 navios no dia 4 de Julho de 1666 com destino a Lisboa. A razão deste aparato naval prende-se com a protecção dada à Rainha, visto Portugal ainda  se encontrar em guerra com Espanha.
A nove de Agosto a Rainha chegou ao sítio da "JUNQUEIRA" indo recebe-la a bordo o «CONDE DE CASTELO MELHOR» (D. LUÍS DE VASCONCELOS E SOUSA) com sua mãe, (que mais tarde seria nomeada camareira-mor da Rainha), dirigindo-se para o «PAÇO DE ALCÂNTARA» onde a aguardavam o rei «D. AFONSO VI», seu irmão «D. PEDRO», (mais tarde seria  "D. PEDRO II") e toda a corte.
Na Igreja do «CONVENTO DAS FLAMENGAS» foi ratificado o casamento, sendo celebrado pelo Bispo de «TARA» e pelo capelão-mor da Casa-Real.

A primeira pedra do edifício da Igreja do «CONVENTO DO SANTO CRUCIFIXO» foi lançada a 3 de Maio de 1667 e o Mosteiro construído para 33 religiosas, em honra dos anos de Cristo.
As «CAPUCHINHAS FRANCESAS» que acompanhavam a Rainha, terão ficado inicialmente no «CONVENTO DAS FLAMENGAS» passando depois para o «CONVENTO DA ESPERANÇA» até se concluir o hospício onde deveriam habitar.
«D. MARIA FRANCISCA ISABEL DE SABÓIA», era casada com o rei «D. AFONSO VI». Dizia o povo que o Rei era fraco de espírito, com anomalias no corpo e de estranhos hábitos.
Mais tarde existiria uma atmosfera tensa dando a entender uma rivalidade entre o rei e seu irmão, «D. PEDRO» que pretendia o trono de Portugal. «D. MARIA FRANCISCA ISABEL DE SABÓIA» vê-se envolvida em intrigas palacianas, sendo obrigada a reconhecer que o marido era um libertino e seu cunhado muito mais sensato para gerir os destinos da Nação.
Pelos meios normais propõe a sua separação matrimonial e enquanto decorre o processo de divórcio aloja-se provisoriamente (em 1667) no «CONVENTO DA ESPERANÇA», dado que o seu ainda não estava finalizado.
Desta aproximação política entre «D. PEDRO» e «D. FRANCISCA DE SABÓIA» resultou um amor adúltero, que segundo consta teve início em Santarém durante algumas caçadas. A Rainha mais tarde empregou diligências para os juízes e Conselheiros de Estado, afirmando que o seu intento era declarar a todos que o seu casamento estava nulo por impossibilidade de seu marido.
A 13 de Fevereiro de 1668 «D. PEDRO» consegue um tratado de Paz com a Espanha, existindo um grande contentamento na nação, pois estava esgotada com uma guerra que durara 27 anos.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «AVENIDA D. CARLOS I [ XI ] - O CONVENTO DAS FRANCESINHAS ( 2 )»