sábado, 29 de junho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XVI ]

 Rua do Açúcar - (2009) (Panorama da "freguesia de MARVILA" na zona Oriental da cidade de Lisboa, onde incluía a "QUINTA DOS MARQUESES DE MARIALVA" in   GOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar - (2013) Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Fachada da casa dos "Marialvas" na "Rua do Açúcar" com o seu andar nobre. Era chamada de "Quintinha" tendo esta propriedade muitos proprietários, veio para a posse dos "Marialvas" em 01.10.1707)  in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Fachada da casa dos "Marqueses de Marialva" situada junto da antiga cerca do "Convento de S. Bento de Xabregas", na "Rua do Açúcar") in   GOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar - (2013) (Um troço da "Rua de Marvila" onde começavam as terras e o Palácio dos "Marqueses de Marialva" para a nossa esquerda) in GOOGLE EARTH 
Rua do Açúcar - (2013) A "Rua de Marvila" no lado direito e até sensivelmente ao Pátio do Marialva" existiu o "Palácio dos Marialvas" do século XVII ao século XIX) in GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XVI ]

«A QUINTA DO MARQUÊS DE MARIALVA ( 1 )»

A enorme «QUINTA DOS MARQUESES DE MARIALVA» ocupava parte significativa da encosta de "MARVILA", resultou da união entre duas parcelas foreiras ao MORGADO DO ESPORÃO. Uma mais a norte, entrou na posse da família em data incerta, sendo no entanto frequentes os registos de baptizados e casamentos na freguesia dos OLIVAIS, a partir de 1663, podendo pois conjecturar-se que, pelo menos desde o célebre «1º MARQUÊS DE MARIALVA, "D. ANTÓNIO LUÍS DE MENESES», a quinta se encontra na posse da família. Outra, vizinha, dita a «QUINTINHA», adquirida em 1707 pelo "2º MARQUÊS DE MARIALVA o 4º Conde de Cantanhede, D. PEDRO ANTÓNIO DE MENESES"(1658-1711), com casas ainda existentes, sobre a "Estrada de São Bento para o Poço do Bispo".
Quanto à primeira e principal, tinha as suas casas nobres no topo sobre a "RUA DE MARVILA", onde ainda se podem ver alguns restos em deplorável estado de conservação.
Pela descrição junta, respeitante a 1747 podemos conjecturar as linhas mestras deste notável conjunto, transformado, como se percebe pela descrição mais tardia de «WILLIAM BECKFORD», em verdadeiro santuário de louvor  à figura do 1º MARQUÊS.
Nada resta da grande CAPELA, decorada com as bandeiras das Batalhas das "LINHAS DE ELVAS" e de "MONTES CLAROS", como afirma o citado inglês, parte da aura mítica dessa grande figura da história portuguesa. Aliás a vontade de exaltar a participação nesse momento histórico parece ter sido uma preocupação de alguns aristocratas, devendo citar-se a Capela de "D. GASTÃO COUTINHO", ao "GRILO", também decorada de  bandeiras, esta quinta dos Marialvas, em Marvila, é, com certeza, a célebre "Sala das Batalhas" na "Quinta de Benfica", dos "Marqueses de Fronteira", a única lembrança dessa gente aristocrata que permanece felizmente intacta.
Os "MARQUESES DE MARIALVA" encontraram-se frequentemente nesta quinta, pois são contínuos os registos de baptizados, casamentos e óbitos desde 1663.
O último assinalado é a morte do 3º Marquês, o estribeiro-mor, «D. DIOGO DE NORONHA», em 1761, já viúvo da Marquesa senhora da casa. Após o terramoto e com a doação de "D. JOSÉ" ao 4º MARQUÊS, «D. Pedro», da "Quinta da Praia", em Belém, esta torna-se a residência principal desta casa, substituindo o desaparecido "PALÁCIO DO LORETO" (hoje PRAÇA LUÍS DE CAMÕES).
Quanto à "Quinta de Marvila" entra em progressivo declínio, como a conheceu «BECKFORD», com a natural aura de abandono tão sugestiva para a sua sensibilidade romântica. Era sobretudo utilizada para passeios familiares, sem se detectar efectiva residência na grande propriedade, em parte alugada para exploração.
Pela descrição  junta, sabemos que, além das casas ainda existentes da "QUINTINHA", possuíam mais outras na parte de baixo da quinta, sobre a estrada, certamente um pavilhão de regalo com vistas sobre o RIO TEJO, no fim da propriedade.
Este grande conjunto dos «MARIALVAS» na parte poente, foram ocupados em parte pelas instalações industriais da «SOCIEDADE NACIONAL DE SABÕES», tendo sido o restante, após a abertura da linha do caminho-de-ferro, escavado a pique, encontrando-se nesse plano baixo traçadas hoje as artérias, "RUA JOSÉ DOMINGOS BARREIROS" e "RUA CAPITÃO LEITÃO", onde também estiveram instaladas duas grandes industrias (de que já fizemos referência). Na "Rua Capitão Leitão" e "Rua Afonso Annes Penedo" funcionaram também grandes Armazéns de Vinhos, Tanoarias, um conjunto de  oficinas e algumas habitações operarias.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XVII ]-A QUINTA DO MARQUÊS DE MARIALVA( 2 )» 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XV ]

 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (A Rua Central que constituía a antiga "Fábrica Seixas", na "Quinta da Mitra", mais tarde as instalações do "Asilo da Mitra") in  ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) - (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Edifício na "Quinta da Mitra" construído no tempo da "Fábrica da Cortiça" que mais tarde serviu para outras actividades, hoje propriedade da Segurança Social) in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedido por Ricardo Moreira) (Outro aspecto do edifício em "tijolo à vista" construído no tempo da "Fábrica Seixas", depois utilizado para vários fins) in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Os edifícios do lado direito da antiga "Fábrica Seixas", de duas águas, encimados por um óculo, construídos em tijolo e rebocados a cal) in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (ant. a 1998) (Foto de António Sacchetti) (Aspecto actual do edifício construído já na última etapa e confinado a Norte com os terrenos do Caminho-de-ferro, hoje propriedade da Segurança Social) in CAMINHO DO ORIENTE
Rua do Açúcar - (1987) (Planta aerofotogramétrica, escala 1:2000, Maio de 1963, actualizada em 1987, da "Fábrica de Cortiça na Quinta da Mitra") in CAMINHO DO ORIENTE 

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XV ]

«A FÁBRICA DE CORTIÇA DA QUINTA DA MITRA»

A «FÁBRICA DE CORTIÇA» estava localizada na «QUINTA DA MITRA», junto ao "PALÁCIO" com o mesmo nome, fundado por «D. THOMAZ DE ALMEIDA». Esta fábrica de cortiça, dos finais do século XIX, insere-se no universo das corticeiras de LISBOA ORIENTAL que caracterizavam o ambiente fabril e operário da zona do "POÇO DO BISPO" e "BRAÇO DE PRATA".

Das diversas fábricas que existiram na parte Oriental de Lisboa, subsistem as lembranças da «SOCIEDADE NACIONAL DE CORTIÇA» (Situada na "Quinta dos Quatro Olhos" junto à "Rua do Vale Formoso de Baixo") e os edifícios que descrevemos da empresa catalã «FUERTES Y COMANDITA». Entre as mais célebres corticeiras desta zona, podemos referir-nos a de «NARCISO VILLALLONGA», na  "RUA DO AÇÚCAR", 10-13; «ROMÃO DA SERRA LOPES» no BEATO e a de «ANTÓNIO BONNEVILLE» na "ESTRADA DE BRAÇA DE PRATA" aos OLIVAIS, todas referidas no "INQUÉRITO INDUSTRIAL" de 1890, algumas atestando a presença de fabricantes e capital catalão e espanhol neste sector industrial.
Com a venda da "Quinta da Mitra" para a construção da linha de Caminho-de-ferro,  "D. JOSÉ DE SALDANHA» «MARQUÊS DE SALAMANCA", poderoso banqueiro e empresário, adquire os terrenos agrícolas - ou pelo menos o que ainda deles restava - abandonados até 1888, altura da construção da unidade corticeira.

Localizada no antigo «ALBERGUE DA MITRA» junto do «PALÁCIO DA MITRA» existiu uma «FÁBRICA DE CORTIÇA» fundada em 1889, pertencia à firma "FUERTES Y COMANDITA" que, em 1917, passa para a empresa portuguesa «FÁBRICA SEIXAS», que a explorou até 1919. A dissolução só terá ocorrido em 1925 ( 1 ), que a partir dessa altura passou a  pertencer à Segurança Social.
Esta fábrica construída em alvenaria de tijolo aparente, reveste-se de algum interesse pela organização dos edifícios industriais e armazéns adjacentes uns aos outros.
A sua refuncionalização e adaptação, permitiu chegar até aos nossos dias a estrutura antiga da fábrica, cuja memória se esvaeceu no tempo, com a instalação de novas funções sociais.
Esta fábrica composta por uma alameda central ladeada de cinco edifícios de duas águas, encimados por um óculo , com portão e janelas laterais, de um lado e uma correnteza de dois pisos do outro, são os aspectos mais salientes do que subsistiu.
O referido arruamento confina com um grande edifício transversal de quatro pisos, mais recente, com largas janelas repetidas e uma platibanda a todo o comprimento.
As janelas e os portais do piso térreo revelam a mesma linguagem construtiva. Este último edifício encontra-se confinado a Norte com os terrenos do Caminho-de-ferro.
Um outro arruamento formado largo, à direita do término da rua central, define o espaço fabril, no qual se construiu um edifício centralizado que, provavelmente, se destinava à casa das máquinas.
Quase em todos os prédios notam-se obras de alguma qualidade de intervenção dos engenheiros industriais, que não quiseram deixar uma fábrica malfeita, mas sim uma obra de acordo com as modernas normas construtivas das fábricas de cortiça.
Este aspecto foi tido em consideração quando se reconverteu o espaço para «ALBERGUE». A qualidade pode detectar-se também no interior, embora aí exista a necessidade de destrinçar o que foi obra dos empresários da cortiça e o que resultou da adaptação para fins sociais.
Do ponto de vista arquitectónico estamos na presença de uma construção em tijolo suporto por vigas de ferro, mas rebocada a cal.
Num destes edifícios da antiga «FÁBRICA DE CORTIÇA» esteve durante anos depositado provisoriamente, muito material destinado ao «MUSEU DO BOMBEIRO».
No ano de 2004 todas as peças foram transferidas, para o novo "MUSEU DO BOMBEIRO" instalado num edifício de construção e arquitectura moderna em «CARNIDE», junto do "CENTRO COMERCIAL COLOMBO".

( 1 ) - Norberto de Araújo, INVENTÁRIO DE LISBOA, fasc. V, p.16

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XVI ] - A QUINTA DO MARQUÊS DE MARIALVA ( 1 )».

sábado, 22 de junho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XIV ]

 Rua do Açúcar - (2010) foto de Barragon (Um troço da "Rua do Açúcar" onde vamos encontrar à nossa esquerda um edifício em estado degradado ver aqui, segue-se um prédio de rendimento, um espaço da "Rua José Domingos Barreiros", seguindo-se a antiga "Fábrica de Borracha Luso-Belga" e agarrado a este edifício as instalações da "Sociedade Nacional de Fósforos" até às imediações do "Palácio da Mitra") in  SKYSCRAPERCITY 
 Rua do Açúcar - (1955) (A "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS" anunciando duas novas marcas de fósforos "AVIADOR" e "GUARDA-CHUVA" para o mercado Nacional) in  RESTOS DE COLECÇÃO
 Rua do Açúcar - (1929) (Caixas de fósforos produzidos pela "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS" na "RUA DO AÇÚCAR", com a marca "PÁTRIA" alusiva às "QUINAS" da Bandeira Portuguesa) in   MUSEU DOS FÓSFOROS
 Rua do Açúcar - (Década de 30 do séc. XX - Foto de autor não identificado (Festa na Creche da "Sociedade Nacional de Fósforos" na "Rua do Açúcar") in    ARQUIVO NACIONAL TORRE DO TOMBO
 Rua do Açúcar - 32.12.1935 - Foto de autor não identificado (Momento durante a inauguração do Refeitório para o pessoal menor, da "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS") in    ARQUIVO NACIONAL TORRE DO TOMBO
Rua do Açúcar - (1922) - (Anúncio da "COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS" na "Exposição do Rio de Janeiro") in   CAMINHO DO ORIENTE 


(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XIV ]

«A COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS, DEPOIS SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS ( 3 )»

O interior desta "massame de betão" é composto por vários edifícios, uns localizando-se no interior do pátio e outros encostando-se ao muro da delimitação, muitos deles de dois pisos. A planta de 1920, revela-nos a localização interna das áreas funcionais de todos os restantes serviços de apoio. Das várias oficinas identificadas podemos destacar as estufas para fósforos e amorfos, a secção de massas químicas, de molha de fósforos, do enchido de fósforos e do empacotamento, entre outras. Este documento permite simultâneamente compreender a organização da unidade fabril, a identificação das várias secções existentes e o desenvolvimento tecnológico, num dos períodos mais significativos da história da empresa.
O projecto da casa das caldeiras, datado da mesma época, é um exemplo do crescimento da fábrica e de como a construção dos diversos sectores se realizou ma maioria das vezes, isoladamente.
A «COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS» produzia os fósforos suecos e os de cera. Em 1911, a "Fábrica do Beato" impressionava; "pela variedade de maquinismo que se encontram em numerosas e amplas oficinas, tendo em vista os mais delicados pormenores da divisão do trabalho. Em todas as instalações se nota o mais apurado método e uma excelente organização de serviços técnicos" ( 1 ).
A matéria-prima mineral era importada de França, sendo guardada em latas e colocadas em tanques cheios de água, para posteriormente ser aplicada nas cabeças dos palitos de cera (fósforo branco) ou na lixa das caixas dos fósforos suecos (fósforos vermelhos).
Para a fabricação dos fósforos eram necessários vários e numerosos operações, que podem resumir-se a quatro, no caso concreto das acendalhas vermelhas:
1) - Divisão da madeira eram pequenas hastes ou palitos;
2) - Preparação da pasta ou massa inflamável;
3) - A quimicagem;
4) - A excitação e embalagem.
Durante a década de trinta, a "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS", desenvolveu um forte plano de apoio social aos operários. Apesar de não ter construído casas para os empregados, a Sociedade criou um Serviço médico, um posto de socorros, um balneário, um refeitório, uma creche, uma cooperativa, um grupo desportivo, tudo no interior dos altos muros da "Fábrica do Beato". Por outro lado, desenvolveu uma política de subsídios, para o caso de doença ou invalidez.

( 1 ) - "Fábrica de Phosphoros", in Problemas e Manipulações Chimicas, Vol. III. LISBOA, 1911, pp 384-387.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XV ] - A FÁBRICA DE CORTIÇA NA QUINTA DA MITRA».

quarta-feira, 19 de junho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XIII ]

 Rua do Açúcar - (1998) Foto de António Sacchetti (Aspecto exterior da antiga fábrica da "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS" na "RUA DO AÇÚCAR" in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1911) (Anúncio da "COMPANHIA PORTUGUESA DE PHOSPHOROS" com a sua fábrica de laboração na "Rua do Açúcar" e escritórios na "Rua de S. Julião, 139) in RESTOS DE COLECÇÃO
 Rua do Açúcar - (1920) (Alçados e Planta da casa das Caldeiras da "Companhia Portuguesa de Fósforos" na "Rua do Açúcar", pertencente ao Arquivo de Obras da C.M.L. - Processo Nº 8517 - Fábrica dos Fósforos) in CAMINHO DO ORIENTE 
 Rua do Açúcar - (ant. 1925) - Caixas de fósforos "contra o vento", produzidas na "Companhia Portuguesa de Fósforos" na "Rua do Açúcar") in  MUSEU DOS FÓSFOROS
Rua do Açúcar - (1926) (Caixas de fósforos produzidas pela "Sociedade Nacional de Fósforos" na "Rua do Açúcar" - Lisboa - Alusiva ao "ADAMASTOR" in MUSEU DOS FÓSFOROS

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XIII ]

«A COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS, DEPOIS SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS ( 2 )»

A sede social ficou em LISBOA, na "RUA DE S. JULIÃO, número 139. A «COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS» teve um capital de 2 400 000$000 réis, através de acções e obrigações. A maioria dos accionistas eram portugueses, aos quais se associaram algumas casas estrangeiras, principalmente o "BANCO DE PARIS" e o dos "PAÍSES BAIXOS".
O capital social foi crescendo significativamente em 1922 atingia o valor de 9 000 000$00  e em 1978, de 25 000 000$00 escudos. A Administração da Sociedade foi confiada a um conselho composto por um número variável, entre cinco ou nove elementos, com preferência para a nacionalidade portuguesa, segundo os Estatutos de 1909. Alguns empresários que integravam a Administração, em 1895 eram, o "VISCONDE DE CARNAXIDE", "CARLOS REINCKE", "JORGE O´NEIL", "MANUEL DE CASTRO GUIMARÃES" e "J.W.H.BLECK".
A tendência caminhava para o aumento da produção e para um alargamento dos mercados às ILHAS e COLÓNIAS portuguesas. O certo, é que em 1922, publicita-se a filial de ÁFRICA, localizada em LUANDA e denominada por «SOCIEDADE COLONIAL DE FÓSFOROS, LDA.". Dois momentos importantes de crescimento desta industria relacionam-se com as guerras mundiais.
Num período de actividade de cerca de 90 anos, a FÁBRICA DO BEATO, que inicialmente empregava mil operários, tinha em 1978 setenta e nove empregados, composto por 50% de homens e mulheres. Os indicadores numéricos revelam o crescimento e a sua decadência. No entanto não se pode esquecer a remodelação tecnológica e a automatização de alguns sectores da produção foram tendo ao longo do período de actividade, diminuindo assim naturalmente a presença do operariado.
A actividade da fábrica da "RUA DO AÇÚCAR" foi, nos seus primeiros trinta anos, marcados pela fase de exclusividade de mercado, em virtude da acção protectora do ESTADO. Mas em 1925, finda a concessão estatal, a "MATCH and TABACCO TIMBER SUPPLY CO." adquiriu todo o activo e o passivo da "COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS", transferindo praticamente todo o capital para a "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS".
A actividade desta nova Empresa irá reger-se pela resposta constante à concorrência de outras grandes unidades, como a "COMPANHIA LUSITÂNIA DE FÓSFOROS" do PORTO e a "FOSFOREIRA PORTUGUESA" de ESPINHO.
À semelhança de outras industrias europeias, como a metalurgia "Grand Hornu" na BÉLGICA, os edifícios que integram o conjunto da unidade industrial organizam-se internamente, sendo pouco perceptível para o exterior da "RUA DO AÇÚCAR" os ambientes de laboração. De facto, a "COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS" é uma das poucas industrias da "ZONA ORIENTAL DE LISBOA" que desenvolveu esta filosofia organizacional, não mostrando para a via pública elementos identificativos ou de ostentação, mais parecendo uma fortaleza que encerra em si toda a produção.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XIV ]-A COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS, DEPOIS SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS ( 3 )».

sábado, 15 de junho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XII ]

 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Actual aspecto da fachada da "Sociedade Nacional de Fósforos" na "Rua do Açúcar") in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (Finais do séc. XIX) (Aspecto da fachada na "Rua do Açúcar" da "Fábrica de Fósforos" in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1998) (Planta Aerofotogramética 6/8 escala 1:2000, actualizada em 1987, das antigas instalações da "Sociedade Nacional de Fósforos" na "Rua do Açúcar", contornando para a "Rua Capitão Leitão" e traseira para a "Rua Afonso Anes Penedo") in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1920) - (Planta do Pavimento da "Companhia Portuguesa de Fósforos" sua fábrica do Beato, com frente para a "Rua do Açúcar", pertencente ao Arquivo de Obras da CML.)(Processo de obras nº 8517-Fábrica dos Fósforos) in  CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (depois de 1925) (Caixa de fósforos produzida na "Sociedade Nacional de Fósforos" na "Rua do Açúcar", alusiva a LISBOA) in  MUSEU DOS FÓSFOROS
Rua do Açúcar - (depois de 1926) (Desenho gráfico de Roberto) (Anúncio da "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS" incentivando, ricos, remediados e pobres a juntar 100 tampas de caixas para se habilitarem a um "Citroen") in RESTOS DE COLECÇÃO

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XII ]

«A COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS, DEPOIS SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS ( 1 )»

A extensão da «QUINTA DOS MARQUESES DE MARIALVA» era enorme, embora tivessem as suas casas nobres no topo com frente para a "ESTRADA DE MARVILA", adquirem em 1707 mais casas e terreno, ficaram também com frente para a antiga "ESTRADA DE SÃO BENTO PARA O POÇO DO BISPO" (hoje "RUA DO AÇÚCAR"). São nestes terrenos que vamos encontrar instalada entre 1895 e 1985 esta actividade de fósforos tão peculiar nesta zona Oriental da Cidade de LISBOA.
Nos finais do século XIX, o fabrico de fósforos ou acendalhas passou da fase oficial e manufactureiro para a industrial. Este processo tecnológico deve-se às significativas descobertas dos processos químicos para o aperfeiçoamento da acendalha, registados na primeira metade de oitocentos. Um dos avanços mais significativos ficou a dever-se a «E. KOPP» e a «SCHROTTER» que introduziram uma modificação alotrópica do fósforo ordinário, ou seja, a combustão deixou de ser tóxica ou inflamável.
Em 1855, industriais suecos começaram a aplicar estas propriedades ao fósforo ordinário, passando no futuro a ser denominado este produto por "fosforo vermelho", "fósforo sueco ou fósforo de segurança".
O "INQUÉRITO INDUSTRIAL de 1890" testemunha este facto, pois menciona, em Lisboa, diversas pequenas unidades fosforeiras, onde o carácter mecanizado da produção é diminuto.
O ESTADO pretendeu inverter esta situação, alargando à produção fosforeira as tendências de centralização e monopólio ou exclusivo, estratégia aplicada, na maior parte das vezes aos sectores dos "TABACOS" e dos "SABÕES".
Assim, a partir de 1891, lançou-se um concurso com o objectivo de desenvolver uma industria exclusiva de fósforos. Mas dificuldades diversas e a renda elevada da oferta da concessão, situada em 280.500$000 réis anuais, afastava os candidatos a empresários.
Em 1895 surge a "COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS" através de uma proposta do político "HINTZE RIBEIRO". O ESTADO viabilizou um contrato que acabou por ser assinado com os accionistas dos fósforos, em 25 de Abril desse ano. O objectivo consistia na exploração exclusiva do fabrico e venda de fósforos em Portugal.
Assim, a "COMPANHIA" liquidou todas as pequenas fábricas que existiam no país instalando as novas unidades fabris em LISBOA na "RUA DO AÇÚCAR" ao BEATO, e no PORTO em (Lordelo).
A exclusividade da produção prolongava-se por um período de trinta anos, durante o qual se procedia ao prolongamento da renda anual ao ESTADO, estabelecida em contrato.
Anterior a esta firma já tinha existido neste espaço, em regime livre, como hoje, a «FÁBRICA LISBONENSE»( 1 ).

( 1 ) - Norberto de Araújo - Peregrinações em Lisboa, livro XV - LISBOA pág. 74 - 1993

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XIII ]A COM. PORTUGUESA DE FÓSFOROS, DEPOIS "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS"( 2 )»

quarta-feira, 12 de junho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XI ]

 Rua do Açúcar - (2013) Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira (Fachada da antiga "FABRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA" na "Rua do Açúcar" freguesia de MARVILA) -Abre em tamanho grande- in ARQUIVO/APS 
 Rua do Açúcar - (2013) - (Um troço da "Rua do Açúcar" vendo-se à nossa esquerda a antiga "Fábrica de Borracha Luso-Belga") in GOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar - (2013) - (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira (Uma aspecto da "Rua do Açúcar", podendo-se observar o final da antiga "Fábrica de Borracha Luso-Belga" que ligava com a "Companhia Portuguesa de Fósforos") in  ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (1940) (Anúncio da "Fábrica de Borracha Luso-Belga" publicitando as botas de borracha "LUSBEL" para homem e senhora) in RESTOS DE COLECÇÃO 
 Rua do Açúcar - (1947) (A "Fábrica de Borracha Luso-Belga" de Victor C. Cordier, Lda.", anunciando os seus artigos) in RESTOS DE COLECÇÃO
Rua do Açúcar - (1950) - (No ano de 50 a "Fábrica de Borracha Luso-Belga" anunciava a transformação de pneus usados em pneus novos) in RESTOS DE COLECÇÃO


(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XI ]

«A FÁBRICA DE BORRACHA LUSO BELGA ( 2 )»

Em relação ao edifício modernista da década de quarenta - aquele que caracteriza a actual tipologia virada para a "RUA DO AÇÚCAR" -, desconhece-se o arquitecto que a projectou.
Aquando da fundação da Companhia, a matéria-prima mais importante consistia no "CAOUTCHOUC" em bruto, proveniente de ANGOLA, S. TOMÉ, BRASIL, PERU e MÉXICO. A matéria-prima chegava até à fábrica em embarcações e seguia para os depósitos, com a forma de torcidas ou de "pães" cor de tijolo escuro. Eram utilizados por ano cerca de sessenta mil quilos desta matéria.
Até à obtenção dos diversos produtos registavam-se uma série de operações: - O "CAOUTCHOUC" era submetido ao aquecimento em caldeiras com água quente para ser cortado de imediato;- Após o corte, seguia-se a lavagem em água fria de modo a perder as impurezas; - O "CAOUTCHOUC" passava por cilindros laminados;- A operação posterior intitulava-se "malaxage", tendo como objectivo a ligação dos diversos fragmentos, para obtenção de folha de borracha;- Após a secagem, as folhas sofriam uma operação de mistura com as diferentes substâncias que entravam na sua composição, antes do "CAOUTCHOUC" ser vulcanizado; - Por fim, as folhas sofriam uma acção compressora dos cilindros e de um forte laminador, a calandra. Da máquina saíam umas folhas com a consistência e espessura desejada para se utilizarem na obtenção dos diversos produtos.
De todas as operações a mais importante era a vulcanização porque permitia conservar as propriedades essenciais do "CAOUTCHOUC".
As primeiras fases de tratamento da matéria-prima dependiam de algumas máquinas-ferramentas importantes, como a calandra. Para a obtenção de alguns produtos, como a mangueira a máquina era também fundamental, mas noutras fases de acabamento a mão-de-obra tinha um papel determinante.
Em 1943, ainda aparece em planta a casa da caldeira e a máquina a vapor, indicando a força motriz utilizada na "FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA".
A fábrica era a concessionária em PORTUGAL e ILHAS adjacentes da patente internacional, "STANDARD SUPER-MOULDING CO. LTDA.", para a moldagem de pneus das marcas "MICHELIN", "ENGLEBERT" e "DUNLOP". Mas a gama de produtos fabricados era vastíssima, desde acessórios para bicicletas, motas, automóveis, mangueiras para diversas funções, sacos de água fria e quente etc.. Um sector muito importante da produção era o calçado, fabricando-se desde galochas a sapatos.
Em 1940, a fábrica imprime um catálogo de calçado para a época de Inverno com os respectivos preços, destacando nessa publicidade a marca registada "CRUZ DE CRISTO".
A 4 de Junho de 1974 a entidade patronal da "Fábrica de Borracha Luso-Belga" põe em marcha um processo de falência, vindo a encerrar as portas em 1975.

Dotada de umas instalações, exemplares de arquitectura Industrial oitocentista, formava uma unidade, ocupando um quarteirão amplo com um conjunto de edifícios distribuídos por várias zonas: uma mais moderna, actualmente ocupada por escritórios com frente para a "Rua do Açúcar", zonas de produção que integram um edifício mais antigo, datado do século XIX, com telhados em "SHED", e a zona das caldeiras onde se erguia uma ampla chaminé em tijolo.

No "ARQUIVO DE HISTÓRIA SOCIAL do ICS-INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA, encontra-se arquivado o processo de insolvência da "FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA". Cota: FG 3843-CS0319 data 06/05/1974 - LISBOA - TÍTULO - Nota informativa do Delegado dos "SERVIÇOS DE ACÇÃO SOCIAL DO MINISTÉRIO DO TRABALHO".
Informação sobre a fábrica de artigos de borracha - Fábrica Luso-Belga de (Victor C. Cordier): encerramento da fábrica; falência; apoio para concessão de empréstimo no (Banco do Fomento); (...) ocupação de instalações pelos trabalhadores. 13 fl. ms. papel (cópia). NOTAS - Documentos reunidos num dossier sob a epigrafe «REIVINDICAÇÕES».

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XII ]-A COMP. PORTUGUESA DE FÓSFOROS, DEPOIS SOC. NAC. DE FÓSFOROS»

sábado, 8 de junho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ X ]

 Rua do Açúcar - (1998) Foto de António Sacchetii (Fachada principal da antiga "FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA" virada para a "Rua do Açúcar") in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1929) Foto de Mário Novais (A Fábrica neste ano tomou a designação de "Fábrica de Borracha Luso-Belga", mantendo durante muitos anos no topo da sua fachada este nome, virado para a "Rua do Açúcar" in RESTOS DE COLECÇÃO
 Rua do Açúcar - (2013) (Panorama da antiga "Fábrica de Borracha Luso-Belga" com frente para a "Rua do Açúcar" com lateral para a "Rua José Domingos Barreiro". Podemos ainda ver os telhados típicos em "SHED" muito usados nas fábricas para aproveitamento de luz solar) in GOOGLE EARTH 
 Rua do Açúcar - (1922) - (Anúncio da Companhia de Borracha, na Exposição do Rio de Janeiro na década de vinte) in  CAMINHO DO ORIENTE
Rua do Açúcar - (1923) - (Anúncio da "Fábrica Nacional de Borracha de Victor C. Cordier, Lda", penúltima designação da "Fábrica de Borracha Luso-Belga", na "Rua do Açúcar") in RESTOS DE COLECÇÃO

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ X ]

«A FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA ( 1 )»

Apesar do seu nome ser mais conhecido por «FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA de "VICTOR CORDIER",Lda.» não pode ficar dissociada da primeira industria de borracha instalada no mesmo espaço.
«JULES DAVID" em Setembro de 1895, pede autorização à Câmara para instalar e sua industria de "CAOUTCHOUC". O processo de obras junto da CML dá-nos a conhecer sobre o pedido do empresário de origem belga, representante da "Companhia da Borracha Monopólio de Portugal", desejando construir uma fábrica para laboração de borracha e uma casa de habitação,  no BEATO.
Data de 7 de Janeiro de 1899 o início da laboração, ficando sujeita à produção de cinquenta toneladas ano.
O edifício da "COMPANHIA DA BORRACHA" tinha frente para a "RUA DIREITA DO AÇÚCAR" nessa época. E de acordo com os alçados de finais do século XIX, a fábrica era composta de um único piso, terminando em platibanda, onde se inscrevia o nome de «COMPAGNIE DU CAOUTCHOUC, MONOPOLE DE PORTUGAL».
Este edifício era interrompido pelo portão de entrada e encontrava-se associado ao prédio de habitação do proprietário.
A área coberta, como podemos constatar no anúncio publicado no ano de 1922 (aqui inserido), é presumivelmente a mesma da fábrica do período de "Victor Cordier", encontrando-se já instalados os edifícios de telhado em "SHED" e a zona da casa das caldeiras e das máquinas, junto à chaminé e com ligação para a "RUA JOSÉ DOMINGOS BARREIRO" e "RUA AFONSO ANNES PENEDO".
Para a época, o estabelecimento da "Companhia Nacional de Borracha" era inovador, tratando-se de uma industria pouco desenvolvida em Portugal. A sua instalação deve-se essencialmente a capitais estrangeiros de origem belga.
Esta industria não possuía nenhum proteccionismo por parte do Estado, embora fosse autorizado um monopólio ao empresário "JULES DAVID".

A passagem da COMPANHIA para as mãos do industrial "VICTOR CORDIER" não é muito clara. A última data com referência à COMPANHIA é a de 1922 e o primeiro elemento informativo do novo proprietário é de 1926, sob a denominação de "VICTOR C. CORDIER, LDA.". Os capitais continuaram a ser maioritariamente belgas, mas a presença de accionistas portugueses não tardou, originando em 1929 a denominação de «FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA», nome que foi mantido durante muitos anos escrito na fachada principal.
Com esta nova situação, alterações sucessivas vão sendo realizadas nos edifícios construídos. No processo de obras registam-se pedidos de alteração de telheiros, para a instalação de novas áreas de apoio aos trabalhadores, como o vestiário, o refeitório e balneários. 
Na década de quarenta, além do grande espaço de fabrico, existiam as secções de aquecimento (para a vulcanização), do pó de sapato e ainda o armazém de confecções, o depósito de matérias-primas, a serralharia, um posto médico e uma garagem. 

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XI ]-A FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA ( 2 )».

quarta-feira, 5 de junho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ IX ]

 Rua do Açúcar - (2010) Foto de Barragon ("Palácio da Mitra" visto pelo lado sul, com fachada a nascente virada para a "Rua do Açúcar") in  SKYSCRAPERCITY
 Rua do Açúcar - (2010) Foto de Luís Boléo (A fachada do "Palácio da Mitra" sobre o pátio) in  PANORAMIO
 Rua do Açúcar - ( ant. 1998) Foto de António Sacchetti (Fachada superior sobre o jardim do "Palácio da Mitra") in  LISBOA UM PASSEIO A ORIENTE
 Rua do Açúcar - (Finais da década de 70 do século XVIII (Painel de azulejos com as armas do 2º Patriarca de Lisboa, "D. FERNANDO DE SOUSA E SILVA" no jardim superior do "Palácio da Mitra". A composição de azulejos mais tardia do palácio encontra-se aplicada no muro que delimita o jardim superior, no lado oposto ao Palácio. Trata-se de um dilatado painel heráldico ladeado por duas pilastras e terminando por um arco contracurvado, que inicialmente servia de espaldar a um banco de pedra, sobre um friso de azulejos de "figuras avulsa" joanino, com cantos de "estrelinhas". Tanto o banco como os azulejos da figura avulsa desapareceram numa discutível obra de "embelezamento" realizada nos anos 60, deixando o painel desguarnecido inferiormente. Esta vasta composição não é do "começo do séc. XVIII", representa as armas de "D. Fernando de Sousa e Silva", Patriarca de Lisboa entre 1776 e 1786, o que permite datar o painel) [ J. M. ]  in   AFML 
 Rua do Açúcar - (1908) Foto de José Artur Leitão Bárcia (Interior da CAPELA edificada por "D. TOMÁS DE ALMEIDA" no "Palácio da Mitra", destruída em 1936) in  AFML
Rua do Açúcar - (ant. 1936) (Fragmento da planta do piso inferior e da escadaria do "Palácio da Mitra", com a CAPELA adjacente. Reproduzida da "Planta da Fábrica Seixas no Palácio e Quinta da Mitra") in  LISBOA REVISTA MUNICIPAL

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ IX ]

«O PALÁCIO DA MITRA ( 4 ) »

Em 15 de Abril de 1930 a «CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA» compra à Sociedade "SEIXAS" o Palácio com seus terrenos e anexos, tudo por quatro mil contos, para aqui instalar um Matadouro, projecto do qual depois a Câmara abandonou, por ter encontrado nos OLIVAIS no sítio de BEIROLAS (Quinta de São Bento da Letrada e do Salto) chão mais apropriado ( 1 ).
Nos terrenos da extinta "FÁBRICA SEIXAS" acomodou-se então, a "Estação de Limpeza Oriental" e, em parte dos seus anexos foi criado o «ASILO DA MITRA», inaugurado a 4 de Maio de 1933.
No Palácio que fora dos "PRELADOS DE LISBOA", esteve instalada no rés-do-chão a «BIBLIOTECA DO POÇO DO BISPO», inaugurada em 17 de Outubro de 1934. (Sabe-se que neste período foi desmantelada a primitiva cozinha do Palácio, juntamente com a CAPELA, edificada por "D. TOMÁS DE ALMEIDA", mutilação mais irreparável do conjunto, cometida antes de 1936).
Contribuiu ainda mais para a descaracterização dos espaços envolventes do Palácio, o alargamento da «RUA DO AÇÚCAR» e o aterro fronteiro, onde foram construídos armazéns no início dos anos 50 do século passado.
Em 1941, depois de várias obras de adaptação foi instalado neste Palácio o «MUSEU DA CIDADE» ( vindo do "Palácio das Galveias"), foi inaugurado no dia 24 de Abril de 1942 ( 2 ) o qual se manteve no edifício até 1973, ano em que começou a ser transferido para o "PALÁCIO PIMENTA", no "CAMPO GRANDE".
Depois de efectuada esta mudança, o andar inferior do "PALÁCIO DA MITRA" foi cedido ao «GRUPO AMIGOS DE LISBOA». Numa síntese do percurso dos «AMIGOS DE LISBOA» instituição composta de grandes olisipógrafos como: NORBERTO DE ARAÚJO, LUÍS PASTOR DE MACEDO, GUSTAVO MATOS SEQUEIRA e outros. Em 18 de Abril de 1936 realizou-se a primeira Assembleia Geral para aprovar os respectivos Estatutos. O seu primeiro Presidente da Junta Directiva foi o "Engº. AUGUSTO VIEIRA DA SILVA e o cargo de Secretário-Geral foi atribuído a "LUÍS PASTOR DE MACEDO". "ALMADA NEGREIROS" desenhou o emblema do Grupo que ainda se mantém.
O «GRUPO AMIGOS DE LISBOA» tiveram a sua primeira sede na "RUA GARRETT" no número 66-2º (Palácio Marquês de Nisa"), em Junho de 1953 passava para o "Largo Trindade Coelho", Nº 9-1º e a 15 de Julho de 1975 rumavam para o "PALÁCIO DA MITRA", deixando em Abril de 2003 para se instalarem na "RUA PORTUGAL DURÃO" Nº 58 onde ainda funciona. Em 1980 o Governo da altura considerou esta instituição de "Utilidade Pública".
Com a saída do "MUSEU DA CIDADE" do "PALÁCIO DA MITRA" o andar nobre tinha ficado reservado para cerimónias oficiais dos serviços de protocolo da CML.

A azulejaria que este edifício encerra, reveste-se do elemento mais importante da decoração do Palácio. Merecia uma leitura detalhada e pormenorizada, infelizmente não é possível de momento, com imensa pena nossa.

Em 2008 a "CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA" deliberou, em reunião de 2 de Abril a proposta Nº 166/2008, respeitante à realização do contrato de constituição do direito de superfície a favor da "ANAFRE-ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE FREGUESIAS", previsto desde 2005, tendo arrendado o r/c e cave do emblemático e histórico «PALÁCIO DA MITRA» pela quantia de Trezentos e cinquenta Euros mensais ( 3 ).

( 1 ) - NORBERTO DE ARAÚJO, INVENTÁRIO DE LISBOA, fasc. V. p. 16
( 2 ) - GUIA DO MUSEU DA CIDADE, CML, LISBOA - 1942

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ X ] A FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA ( 1 )»

sábado, 1 de junho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ VIII ]

 Rua do Açúcar - (2008) (A majestosa escadaria principal do "Palácio da Mitra" vista do patamar central, de onde parte o último lance que dá acesso ao salão nobre através da elegante porta do patamar superior)(Abre em tamanho grande) in CIDADANIA LX
 Rua do Açúcar - ( 2013) - Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira (Fachada principal do "PALÁCIO DA MITRA" virado para a a "Rua do Açúcar" antiga "Estrada para o Beato")(Abre em tamanho grande) in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (Anterior a 1998) Foto de António Sacchetti (Fachada do "PALÁCIO DA MITRA" virada para a "Rua do Açúcar") in LISBOA UM PASSEIO A ORIENTE
 Rua do Açúcar - (Século XVIII) (No patamar superior da escadaria do "Palácio da Mitra", no lado esquerdo, encontram-se pilastras almofadadas, sem ornatos e pintadas a azul, que servem de base a quatro figuras alegóricas recortadas, também realizadas a azul, representando os quatro elementos:TERRA, AR, ÁGUA e FOGO, com os respectivos atributos. Estas figuras características do estilo de "Bartolomeu Antunes", quanto à composição e à pintura) [JM] in LISBOA REVISTA MUNICIPAL 
 Rua do Açúcar - (1949) Estúdios Mário Novais (Planta do rés-do-chão e primeiro andar do "Palácio da Mitra" na "Rua do Açúcar", 46) in  AFML
Rua do Açúcar - (ant. 1911) Foto de José Artur Leitão Bárcia ("D. Carolina Coronado" (1823-1911), poetisa espanhola, foi uma das proprietárias do "Palácio da Mitra" que terá mandado fazer algumas alterações nas salas do primeiro andar)(Abre em tamanho grande)  in  AFML

(CONTINUAÇÃO)- RUA DO AÇÚCAR [ VIII ]

«O PALÁCIO DA MITRA ( 3 )»


Terão sido por esta altura as remodelações internas nas salas do andar nobre e as transformações de um oratório elíptico, interno, numa sala, com a abertura de portas laterais. Ambas as obras implicaram a mutilação lamentável de vários painéis de azulejos.
A 22 de Fevereiro de 1891 o diplomata americano «HORATIO JUSTUS PERRY» faleceu na Quinta do "BESSONE" ou do "Relógio", em "PAÇO DE ARCOS" (da qual também era proprietário), passando a viúva a residir no "PALÁCIO DA MITRA", conservando na CAPELA o corpo embalsamado do marido até 1911, ano em que faleceu.
A propriedade que já se encontrava hipotecada, foi vendida por «D. CAROLINA CORONADO» em 31 de Outubro de 1902, ao banqueiro lisboeta «DR. ANTÓNIO CENTENO» (que possuía os direitos sobre a hipoteca) permitindo uma clausula na escritura de venda, que «D. CAROLINA CORONADO» continuasse a residir no palácio até ao fim da sua vida.
O imóvel foi depois adquirido a "CENTENO" por uma Sociedade formada pelos senhores: "FRANCISCO DE MOURA E SÁ» e «FUERTES PERES». Em 1913 o primeiro saiu, e o segundo ligou-se então a um industrial "ERNESTO HENRIQUES SEIXAS".
E assim nasceu nos terrenos outrora episcopais, a «FÁBRICA SEIXAS» de Metalurgia, Fundição, Caixotaria e Tanoaria - de tudo um pouco se fazia na dita fábrica  -  instalada no local das antigas cocheiras do Palácio e cujos escritórios da firma estiveram instalados nos salões nobres do «PALÁCIO DA MITRA» ( 1 ).
Os Pavilhões e os Armazéns da «FÁBRICA SEIXAS», depois do desaparecimento desta em 1925, vieram, mais tarde a ser aproveitados pelo "ASILO DA MITRA" (como era designado pelo povo), tendo ocupado também grande parte dos terrenos da antiga Quinta. Este ASILO teve a iniciativa do coronel «LOPES MATEUS» e inaugurado em 4 de Maio de 1933.

O «PALÁCIO DA MITRA» ainda terá alojado uma «FÁBRICA DE LICORES», cujo escritório ficava situado na antiga «RUA DO ARCO DO BANDEIRA» (actual RUA DOS SAPATEIROS).

( 1 ) - NORBERTO DE ARAÚJO - INVENTÁRIO DE LISBOA,  p. 16


(CONTINUA) - (PRÓXIMA)«RUA DO AÇÚCAR [ IX ] O PALÁCIO DA MITRA ( 4 )»