quarta-feira, 7 de maio de 2014

LARGO DO CARMO [ III ]

 Largo do Carmo - (finais do séc. XIII) Desenho de Alberto de Sousa (Panorama conjecturável da "PEDREIRA". Vê-se no primeiro plano, ao centro ( 1 ) "CONVENTO DO ESPÍRITO SANTO DA PEDREIRA" (antigos Armazéns do Chiado), a margem do declive para o vale, já povoado de casas;    ( 6) em frente, na direcção a poente a Estrada de Santos, depois "Rua Pública" (actual "RUA GARRETT"); ( 2 ) na margem esquerda o "CONVENTO DE SÃO FRANCISCO" e a antiga "IGREJA DOS MÁRTIRES"(mandada construir por D. Afonso Henriques); ( 5 ) mais longe, o PAÇO que foi dos Condes de Ourém; ( 3 ) à direita o "ESTUDO GERAL" (depois Liceu do Carmo), o CONVENTO E IGREJA DO CARMO; ( 4 )mais ao fundo em cima, o "CONVENTO DA TRINDADE".  in  O CHIADO PITORESCO E ELEGANTE
 Largo do Carmo - (Século XIV) Desenho de Jesuíno A. Ganhado (Planta Geral do Território do CARMO E DA TRINDADE, no final do século XIV, mostrando os vários domínios directos e indicando a sua proveniência da propriedade)  in  O CARMO E A TRINDADE
 Largo do Carmo - (século XV) (Desenho de Jesuíno A. Ganhado) (Planta do século XV do "Sítio da Pedreira" notando-se já uma ligeira diferença em relação ao século transacto)  in  O CARMO E A TRINDADE
Largo do Carmo - (2013)  (Panorama do "LARGO DO CARMO" e seu envolvente, no século XXI)  in  GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO - LARGO DO CARMO [ III ]

«O SÍTIO DA PEDREIRA»

Muito cedo começaram estes sítios a ser povoados em tempo já cristão, que é como quem diz posteriores a 1147, ano da tomada de LISBOA aos MOUROS.
Bem perto, para lá do que é hoje o CHIADO ergueu-se um templo, por vontade do  nosso primeiro "REI DE PORTUGAL", a ermida dos MÁRTIRES. Antecessora da actual Igreja na "RUA GARRETT", estava situada noutro local, mais para os lados do actual "LARGO DA ACADEMIA DE BELAS ARTES".
A Igreja foi edificada após a conquista de LISBOA, sendo lançada a primeira pedra no dia 21 de Novembro de 1147. Nesse mesmo dia era também fundada a IGREJA DE S. VICENTE, no sítio onde existia um cemitério dos CRUZADOS INGLESES que ajudaram D. AFONSO HENRIQUES, ficando a ERMIDA DOS MÁRTIRES a perpetuar a memória de todos os bravos que se bateram no Cerco à Cidade.
Toda a zona, incluindo a CALÇADA DO SACRAMENTO e demais ruas íngremes que nos nossos dias conduzem ao LARGO DO CARMO e suas imediações, era conhecido pelo "SÍTIO DA PEDREIRA". Ficava a Ocidente do VALE DA BAIXA onde corria um esteiro vindo do ROSSIO em direcção ao TEJO.
Embora nessa época com tal nome, só existia esta pedreira no sítio de LISBOA. Muitas outras PEDREIRAS terão eventualmente aparecido na cidade, como em SÃO TOMÉ, (São Tomé do Penedo), na ALFUNGERA, ao Norte do ROSSIO, nos contrafortes do MONTE DE SANTANA, existiram, mas só em épocas menos remotas.
Durante o século XIV e até XVI, a PEDREIRA, o campo ou lugar que chamavam de PEDREIRA, como se diz em vários documentos da época, começou a povoar-se.
Os Reis doavam aforavam ou emprazavam as casas ou chãos do seu herdamento. As DONAS DE S. TIAGO, também senhorias directas, e a CONFRARIA DOS CLÉRIGOS RICOS, faziam o mesmo.
Para melhor conhecimento, procurámos transcrever um resumo de algumas escrituras de venda, permutas, doação ou emprazamento (aforamento) nas Chancelarias, nos Cartórios Conventuais e noutros corpos de documentos:
1 - Doação de CLARA ANES, de uma casas à PEDREIRA, às DONAS DE S. TIAGO, em 20 de Outubro de 1301.( 1 ).
2 - Venda feita, às mesmas DONAS, de umas casas à PEDREIRA, por CATARINA PASCOAL, criada do Mosteiro, em 11 de Maio de 1307. ( 2 ).
3 - Aforamento feito por D. DINIS, ao seu Escrivão DOMINGOS FERNANDES, em 25 de Janeiro de 1307, "de duas cassarias, no meu herdamento que ey en LIXBOA no lugar que chamã pedreyra". ( 3 ).
4 - Posse de umas casas no canal, à PEDREIRA tomada por SANCHA MARTINS, em 2 de Maio de 1318. ( 4 ).
5 - Doação feita pelo Rei, em 9 de Setembro de 1318 a ESTÊVÃO DIAS, seu vassalo, de casas que foram de PERO FERNANDES DA PEDREIRA, escrivão de LISBOA, das quais os sótãos estavam ocupados por VASCO DOMINGUES. ( 5 ).
E por ai em diante. Sabe-se que o desenvolvimento urbano do arrabalde da PEDREIRA é evidente. Os senhorios directos dos chãos deste território iam promovendo a sua urbanização. Tanto as DONAS DE S. TIAGO DO MOSTEIRO DE SANTOS-o-NOVO, mercê de doações dos devotos, acrescentavam ainda os seus domínios, situados no extremo Nascente do Outeiro contra o SANTO ESPÍRITO do lado Sul da via pública que, em meados do século, se chamava já RUA DA PEDREIRA, ou RUA DIREITA. Foi este o primeiro térreo que se "semeou" de casas. Ia desde a CORDOARIA VELHA ao SANTO ESPÍRITO e a RUA DIREITA limitava-o pelo Norte. Foi aqui que a velha designação de PEDREIRA se agarrou, depois que a fustigou do Norte o incipiente BAIRRO DO ALMIRANTE.
D. NUNO ÁLVARES PEREIRA, uma das grandes personagens portuguesas, é agora, uma figura retabular. A sua grandeza impõe-se, por si mesma e pela simbolização que lhe deu e que a acrescentou. O SANTO CONDESTÁVEL ou CONDESTABRE (como se dizia em meados do século XV), foi o mentor e fundador do MOSTEIRO DE SANTA MARIA ou SANTA MARIA DO CARMO, ou NOSSA SENHORA DO VENCIMENTO ou ainda NOSSA SENHORA DO MONTE DO CARMO, como se foi chamando sucessivamente pelos anos fora.

( 1 ) - Cartório do Mosteiro de Santos-o-Novo, Maço 2, Doc. 4.
( 2 ) -  Idem   Maço 2, Doc. 2.
( 3 ) - Chancelaria de D. Dinis, Lº. 2, fl. 12-vº.
( 4 ) - Cartório de Santos-o-Novo, Maço 2, Doc. 5.
( 5 ) - Chancelaria de D. Dinis, Lº. 3º., fl. 120-vº.

(CONTINUA)-(PRÓXIMA)«LARGO DO CARMO [ IV ] O CHAFARIZ DO CARMO» 

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa tarde, sou uma estudante de arquitectura e estou a fazer um trabalho sobre o largo do Carmo até ao século XV. Por isso gostaria de saber como arranjou estas imagens, se viu os desenhos originais, em livros ou se foi pela Internet. E se viu os originais pode-me dizer onde os posso consultar?

APS disse...

Cara Anónima
Como estudante de Arquitectura aconselho-a a criar um mail, era melhor para eu responder.
Estas imagens (desenhos) de mapas estão todos nos 3 livros com o título "O CARMO E A TRINDADE" de Gustavo de Matos Sequeira -Volume I, II e III. -1939(1ª Ed.) (2ª Ed.1967)- São Publicações Culturais da Câmara Municipal de Lisboa, que poderá eventualmente encontrar na Livraria da CML, ou consultar numa Biblioteca.
Se tivesse feito um "clic" no link da legenda , neste caso O CARMO E A TRINDADE ia logo direitinha aos livros. O primeiro "post" (desenho) é do livro "O CHIADO PITORESCO E ALEGRE" de Mário Costa-1987 2ªED. da Associação dos Arqueólogos Portugueses. Este livro talvez não exista para venda só em Bibliotecas.
Espero ter ajudado alguma coisa, despeço-me com amizade,
cumprimentos
APS