sábado, 16 de agosto de 2014

RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ XVI ]

RUA JOSÉ VIANA ( 2 )
 Rua José Viana - (2014) - (A entrada Sul da "RUA JOSÉ VIANA" no lado esquerdo o início da Rua Arnaldo Assis Pacheco, outro actor de grande valor artístico)  in  GOOGLE EARTH
 Rua José Viana - (2014) - (Mais um troço da "RUA JOSÉ VIANA" no sentido Norte na freguesia de SANTA CLARA) in GOOGLE EARTH
 Rua José Viana - (2014) - ( A parte Norte da "RUA JOSÉ VIANA", na nova freguesia de SANTA CLARA) in GOOGLE EARTH
 Rua José Viana - (1965) Foto de Miguel Villa  ("JOSÉ VIANA" e "FLORBELA QUEIROZ" na revista "O PECADO MORA AO LADO" representado no TEATRO AVENIDA, Companhia de "VASCO MORGADO") in  FOTOLOG
 Rua José Viana - (1974) (Capa do disco de "JOSÉ VIANA" na rábula "A NOTA" na revista "Ó PÁ PEGA NA VASSOURA" que subiu à cena em 1974 no VARIEDADES. Do elenco faziam parte: DORA LEAL, CARLOS COELHO, LEONIAL MENDES e outros.)  in  FOTOLOG
Rua José Viana - (1974) - (Capa de mais um disco de "JOSÉ VIANA" na rábula "O PASTOR DA SERRA" na revista "Ó PÁ PEGA NA VASSOURA") in DESENVOLTURAS & DESACATOS

(CONTINUAÇÃO) - RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ XVI ]

«RUA JOSÉ VIANA ( 2 )»

É também em meados da década de 60 que JOSÉ VIANA atinge o auge da sua carreira na EMPRESA DE GUISEPP BASTOS e VASCO MORGADO, então no TEATRO MARIA VITÓRIA, onde participou em variadíssimas rábulas, além de fazer algumas parcerias nos textos das revistas. Na revista "ZERO-ZERO-ZÉ-ORDEM PARA PAGAR"(1966) de P. da Fonseca, César de Oliveira, M. Santos Carvalho, Ribeirinho e Nelson de Barros, com música de Fernando de Carvalho, Frederico Valério e Carlos Dias, com a estreia no TEATRO VARIEDADES, JOSÉ VIANA interpretou o célebre «ZÉ CACILHEIRO», que marca definitivamente o estilo próprio do artista.
Outras rábulas merecem destaque em "ESPERTEZA SALOIA"(1969) de Aníbal Nazaré, Eugénio Salvador, e JOSÉ VIANA. Musica de J. Nobre e C. Dias, estreou-se no TEATRO MARIA VITÓRIA, em que JOSÉ VIANA além de participar no texto da revista, figurava numa rábula do "SINALEIRO DA LIBERDADE". Ainda no mesmo ano temos "MÃOS-À-OBRA"(1969) de igual elenco. 
A abertura "MARCELISTAS" foi aproveitada pelos actores de revista para restituírem a esta  a sua vocação crítica muito condicionada pela censura. No quadro "CLÍNICA GERAL" é exemplo desta fase da revista; o actor JOSÉ VIANA um dos autores do texto, personificou em "ZÉ POVINHO" acompanhado por "MARIANO FRANCO" no médico, que o vai consultar na esperança de uma receita que lhe restitua a liberdade de movimentos.
Em "PIMENTA NA LÍNGUA"(1970) de Aníbal Nazaré e JOSÉ VIANA, utilizando o mesmo processo no dueto "O POETA E A CANTADEIRA", em que os cortes da censura transformavam, por exemplo a quadra. «RESTAURANTES HÁ ALGUNS/ QUE ATÉ SÃO BONS, QUE DIACHO!/ BONS COZINHEIROS NÃO LARGAM/ O FORNO, A PANELA E O TACHO» (as reticencias representam os cortes da Censura, ficando assim a canção) ("...há alguns/ ...que diacho!/ ... não largam/ ...o tacho"). Este sistema já tinha sido usado em "ALTO LÁ COM O CHARUTO(1945), com VASCO SANTANA a ironizar o que sobrou das quadras (Censuradas).
Bastou que a Censura se tornasse menos rigorosa para que a imaginação dos autores se desprendesse e a revista voltasse a encontrar a sua vida natural. E não foi, decerto, por acaso que nesse "reencontro" com "GIL VICENTE" não ficou esquecido; em o "PRATO DO DIA"(1970) e "CALA-TE, BOCA"(1971) com textos de Aníbal Nazaré e JOSÉ VIANA, apresentaram versões actualizadas do "AUTO DA BARCA DO INFERNO", em que a sátira social atinge uma contundência de que o público se tinha desabituado. Assim, no batel infernal embarcam sucessivamente uma espectadora dos mercados, um mixordeiro, uma rapariga dos cabarés, uma cronista, enquanto o político vai para o purgatório, e só o "ZÉ POVINHO" tem acesso à barca celestial.
JOSÉ VIANA representou na cidade do PORTO em 1974 a peça "SIMPLESMENTE REVISTA" de que era autor juntamente com CÉSAR DE OLIVEIRA e ROGÉRIO BRACINHA, que em Dezembro de 1973 se tinha estreado no CAPITÓLIO, entre os números proibidos pela Censura e reiterados no corpo da revista, figurava um soneto de BOCAGE alusivo à LIBERDADE.
Foi estreado no TEATRO VARIEDADES a 20 de Dezembro de 1994 a revista "Ó PÁ, PEGA NA VASSOURA" de JOSÉ VIANA com a colaboração de dois jornalistas, Mário Castrim e Rolo Duarte(pai), João Vasconcelos, Nuno Nazaré Fernandes, e Artur Rebocho na parte musical. Era sem dúvida, a mais partidarizada das revistas do ano da REVOLUÇÃO DOS CRAVOS, evocada e exaltada em vários momentos ( uma linda canção de Castrim e Nuno Nazaré), lembrava que "ERAM CRAVOS CRAVOS CRAVOS/ ERAM CRAVOS MAIS DE MIL/ ERAM PUNHOS LEVANTADOS/ DO POVO NO MÊS DE ABRIL", o que lhe valeu a animosidade da imprensa reacionária (na época), que já começava a manifestar-se. Havia nela momentos altos, como o "NOVO AUTO DA BARCA" (que JOSÉ VIANA já havia glosado em "O PRATO DO DIA" 1970, em que o Diabo Vicentino obriga a entrar no batel infernal o ex-Almirante Américo Tomás, "por alcunha o Presidente da República", um banqueiro e um jornalista corrupto, por fim uns agentes da ex-PIDE, e duas magnificas rábulas de JOSÉ VIANA a "D.MARIA II" das notas de cor azulado de mil escudos (da época) e o "PASTOR DA SERRA", cujo "refrão" sobre musicalidade de JOÃO VASCONCELOS, que o povo de LISBOA cantou nas ruas: SOLDADO AMIGO,/ O POVO ESTÁ CONTIGO...  Além das revistas já referidas, JOSÉ VIANA participou em:  MULHERES À VISTA (1959), ELAS SÃO O ESPECTÁCULO(1963), DÁ-LHE AGORA!(1965), PÃO, PÃO, QUEIJO, QUEIJO(1967), GRANDE POETA É O ZÉ(1969), ORA BOLAS P'RÓ PAGODE(1973) e ATIRA O BARRETE AO AR(1977). 
O actor e sua mulher deixaram de ser acarinhados como outrora por colocarem o teatro ao serviço de uma ideologia, JOSÉ VIANA e DORA LEAL sentem a delicadeza desta situação e quando regressam ao PARQUE MAYER, em 1987, com FESTA NO PARQUE, o público reserva-lhes uma recepção fria e distante.

Noticiava o "CORREIO DA MANHÃ" do dia 8 de Janeiro de 2003, que faleceu na madrugada de ontem no HOSPITAL S. FRANCISCO XAVIER em LISBOA, o actor e pintor JOSÉ VIANA de 80 anos, na sequência de um acidente de viação, ocorrido no passado Domingo à noite na auto-estrada de CASCAIS (A5).
"JOSÉ VIANA", que deixou no início de 2003 o "palco da vida", pelas suas excepcionais características, só podia ser alfacinha. Despontando numa Colectividade como a "GUILHERME COSSOUL", frequentador do PARQUE MAYER (antes de fazer parte dele), parceiro de conversa fácil e larachas de lojistas, de empregados de cafés, de motoristas de táxis e de condutores de eléctricos, da malta curtida e sofrida de dito rápido a sair na ponta da língua, de crítica e humor à pressão... Actor e autor, cenógrafo, pintor  e até como desenhador de capas e "cartoons", a grande escola que frequentou tem o nome de LISBOA. Toda esta cidade que é ao mesmo tempo activa e madraça, chorosa e pronta a rir, pobrezinha e armada em cosmopolita.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [XVII]-RUA ACTOR VASCO SANTANA»

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