quarta-feira, 30 de setembro de 2015

RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA [ III ]

«O PRÉDIO GONZAGA RIBEIRO»
 Rua da Escola Politécnica - (2013) - (Pormenor do "PRÉDIO GONZAGA RIBEIRO", na RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA, vendo-se correctamente a alteração sofrida nas duas portas da direita) in GOOGLE EARTH
 Rua da Escola Politécnica - ( 2001 ) Foto de Pedro Soares - ("Prédio Gonzaga Ribeiro" na RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA, alteração das duas portas que lhe tirou a simetria. Esta imagem está em espelho, por isso apresenta a porta larga no lado esquerdo)  in  MONTE OLIVETE
 Rua da Escola Politécnica - (1993) Foto de FOTOVOO - ("PRÉDIO GONZAGA RIBEIRO" na Rua da Escola Politécnica. Sensivelmente como na planta original, entrada na C.M.L.  em 1882) in A SÉTIMA COLINA
Rua da Escola Politécnica - ( Século XIX) - (Planta da fachada principal do "PRÉDIO GONZAGA RIBEIRO" na RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA" no ano de 1882)  in  A SÉTIMA COLINA


(CONTINUAÇÃO) - RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA [ III ]

«O PRÉDIO GONZAGA RIBEIRO»

Na "RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA" do número 12 a 26 podemos ainda encontrar um prédio que pela qualidade do seu desenho de fachada, o edifício destaca-se de um conjunto de palacetes e prédios urbanos, construídos na segunda metade do século XIX, ao longo da RUA que da "PRAÇA LUÍS DE CAMÕES", passando por "SÃO ROQUE" sobe para o "RATO".
Entre o Palacete "ANJOS" e o palacete "CASTILHO" ergue-se  o    chamado       "PRÉDIO GONZAGA RIBEIRO".
A justificação do nome deste prédio ser «GONZAGA RIBEIRO», no dizer de um seu familiar que nos contactou, deve-se ao facto de ter sido mandado construir em 1882, pelo seu proprietário "LUÍS GONZAGA RIBEIRO" (CAPITÃO-TENENTE DA MARINHA PORTUGUESA), casado com MARIA LUÍSA DE MELLO BRYNER, onde morou com os seus oito irmãos, após terem vindo de MACAU, onde nasceram.
 Sabe-se que o projecto deu entrada nos serviços da     CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA em 1882 e, embora assinado pelo autor, todas as peças revelam  um rigoroso tratamento  e um excelente   domínio  do  traço,   sobretudo  se  comparada  com  outros    projectos  que nessa época foram submetidos aos serviços camarários para aprovação.
Pensou-se que seria uma obra do Arquitecto-Decorador, "G. CINATTI" (1879), mas a ideia foi posta de parte, pois o arquitecto tinha falecido três anos antes. No entanto o desenho de composição da fachada denota claramente uma inspiração italianizante que sugere a influência daquele Arquitecto, que terá marcado LISBOA com alguns dos mais interessantes prédios da época - caso do PALÁCIO ALMEDINA, na "AVENIDA DA LIBERDADE", dos VISCONDES DE BESSONE, ou o PALACETE DOS IGLÉSIAS, a S. FRANCISCO.
Utilizando uma composição tripartida da fachada, típica na época, o arquitecto reduz a largura da zona central, aplicando-lhe um desenho autónomo que imprime a toda a fachada uma forte acentuação rítmica. Sem se recorrer de ornatos e florões, o efeito estético global surge claramente arquitectónico, utilizando diferentes métricas de altura em cada piso e pequenas variações no tratamento dos vãos.
Na estrutura interna revela o mesmo domínio arquitectónico, com um núcleo de escadas de grande elegância fortemente iluminado por grandes janelas que recebem luz do saguão.
Em 1925 tendo recebido obras que se concentraram, sobretudo em beneficiações de infra-estruturas.
O prédio embora muito bem conservado (só com a infeliz alteração comercial, consentida, de uma loja, que destruiu, em parte, o desenho em arcada de volta perfeita dos quatro vãos, retirando-lhe a simetria que existia no rés-do-chão inicialmente).
Este prédio tem três andares de origem, com um corpo central de cantaria e frontão curvo no primeiro andar com monograma "G.R." (de Gonzaga Ribeiro), sacada corrida no 1.º e 3.º andar, grades recolhidas no 2.º, jogando, numa elegância de gosto italiano, entre cantaria branca e o reboco rosado das paredes.

No primeiro andar esquerdo deste prédio no número 20 estava instalada a "SOCIEDADE PORTUGUESA DE ESCRITORES", desde  a segunda metade dos anos cinquenta do século XX. Foram seus Corpos Gerentes: JOÃO DE BARROS (Assembleia Geral), AQUILINO RIBEIRO (Direcção) e ANTÓNIO SÉRGIO (Conselho Fiscal).
Foi extinta em 1965 a "S.P. de E." por imposição do Governo Fascista, na circunstância da atribuição de um prémio literário ao novelista "LUANDINO VIEIRA" com a obra "LUUANDA". Este escritor então preso político no TARRAFAL pelas autoridades portuguesas de então, não gostaram da acção da "S.P. de E.". Na noite do dia 21 de Maio de 1965 pelas 22 horas, a sede do SPE na RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA, foi assaltada e saqueada por bandos desconhecidos, apoiados por elementos da PIDE.  Em 1972 voltava após um lento processo de aprovação, com o nome de ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ESCRITORES.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA [ IV ]-O PALACETE CASTILHO»

sábado, 26 de setembro de 2015

RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA [ II ]

«O PALACETE DOS ANJOS»
 Rua da Escola Politécnica - (1933 ) Foto de FOTOVOO - (O "PALACETE DOS ANJOS" pertenceu ao bem sucedido capitalista "POLICARPO FERREIRA DOS ANJOS", passou por ali a "LEGAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS", depois ESCOLA SUPERIOR COLONIAL e uma secção do BANCO DE PORTUGAL)  in  SÉTIMA COLINA
 Rua da Escola Politécnica - (2006) Foto de Inês Reis) ("PALACETE DOS ANJOS", fachada principal pormenor da entrada, na Praça do Príncipe Real junto da RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA) in  MONUMENTOS - SIPA
 Rua da Escola Politécnica - (2009) (O "Palacete dos Anjos"na Praça do Príncipe Real, muito próximo da Rua da Escola Politécnica, pertenceu ao capitalista POLICARPO FERREIRA DOS SANTOS)  in  GOOGLE EARTH
Rua da Escola Politécnica - (2005) Foto de Margarida Ramos - (PALACETE DOS ANJOS na Praça do Príncipe Real, 20 e 21, muito próximo da Rua da Escola Politécnica) in  MONUMENTOS-SIPA


(CONTINUAÇÃO) - RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA [ II ]

«O PALACETE DOS ANJOS»

Embora este "PALACETE DOS ANJOS" já aqui tivesse sido referenciado aquando da publicação em 8 de Maio de 2008, na "PRAÇA DO PRÍNCIPE REAL [ VI ], levámos a incluí-lo neste episódio pela proximidade à "RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA", e acrescentar mais uns elementos, que na altura ficou por dizer.
Este "PALACETE DOS ANJOS" terá sido a mais antiga residência nobre do antigo sítio da "PATRIARCAL", é um Palacete de aspecto sólido que se encontra já próximo da entrada da "RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA".
A actual imagem que transmite deverá datar dos anos setenta do século XIX, quando o edifício foi adquirido por um bem sucedido capitalista, "POLICARPO FERREIRA DOS ANJOS", dos "ANJOS & CIA.", de proveitosos negócios africanos, e banqueiro do CREDITO PREDIAL, cujo irmão e sócio "ANTÓNIO", construiu mais adiante no pequeno LARGO DE SÃO MAMEDE, e um sobrinho, outro considerável "POLICARPO" nos RESTAURADORES.
Da construção anterior não se conhece, apenas sabemos que desde há muito que esta casa-nobre é referida na documentação que teve moradores da aristocracia portuguesa.
Em 1762, já o primeiro livro da DÉCIMA afirma ser habitado por um tenente-General, "MANUEL GOMES DE CARVALHO E SILVA". Depois é um extenso rol de moradores da mansão, que devia ser de bons cómodos e largas dimensões, dada a qualidade desses inquilinos. Citem-se os senhores de ALCÁÇOVAS, em 1783, os CONDES DE SÃO VICENTE, em 1790, os CONDES DA LOUSÃ, por volta de 1818. Depois, ali também cruzados com os "CONDES DE CAVALEIROS", MENESES-MARIALVAS, a 4.ª MARQUESA DE LOURIÇAL, viúva, em 1846, e em 1848 os 4.ºs MARQUESES DE PENALVA, "D. FERNANDO TELES DA SILVA e D. EUGÉNIA DE AGUIAR.
A casa conheceu então uma certa aura no meio lisboeta. Ali decorriam amiúde umas "selectas" reuniões literárias; "às quais concorria a fina flor da aristocracia de sangue e do talento, para ouvir o trecho sentimental de alguns poetas ou para escutar, como certa noite sucedeu, da boca do divino GARRETT, algumas páginas inéditas do "ARCO DE SANTANA" ( 1 ).
As obras no PALACETE terão sido depois de 1875, dirigidas por "G. CINATTI", devendo datar dessa altura as balaustradas e outros seguintes sobrepostos a um edifício mais antigo. De acordo com a especialidade  deste arquitecto-decorador, a sua obra terá eventualmente incidido mais no interior do PALACETE. Depois da adaptação o PALACETE permanece como uma estrutura regular de nove vãos no primeiro andar e três portas centrais com inovadas cantarias de volta perfeita, a condizer com as grades forjadas das sacadas do andar nobre.
Os arranjos do interior não são hoje possível de admirar, uma vez que foram destruídos para adaptação em depósito do "BANCO DE PORTUGAL".
Quanto à fachada hoje existente, diz-nos MATOS SEQUEIRA que a casa-nobre setecentista tinha apenas "sete ou oito sacadas" e na actualidade apresenta-nos nove. Ainda na adaptação do espaço pelo BANCO DE PORTUGAL, foi construído acima das balaustradas do telhado, um andar recuado "amansardado" ou de  "Águas-Furtadas".

De 1912 a 1917 foi LEGAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS e em 1933 seria a sede da ESCOLA SUPERIOR COLONIAL (depois INSTITUTO) e finalmente as instalações do BANCO DE PORTUGAL.
O PALACETE DOS ANJOS foi lar de muitas pessoas antes de se tornar uma propriedade do BANCO DE PORTUGAL. Hoje pequenas empresas e comércio "proliferam", tomando conta do PALACETE, embora consiga manter suas principais características arquitectónicas.

- ( 1 ) - GUSTAVO MATOS SEQUEIRA (Olisipógrafo)

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA [ III ]-O PRÉDIO GONZAGA RIBEIRO»

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA [ I ]

«A RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA E SEU ENQUADRAMENTO»
 Rua da Escola Politécnica - ( 2015 ) - (Desenho adaptado do sítio da Cotovia - Sem Escala - APS - LEGENDA 1-A Rua da Escola Politécnica. 2-O Palacete dos Anjos. 3-O Prédio Gonzaga Ribeiro. 4-O Palacete Castilho. 5-A Escola Politécnica. 6-O Jardim Botânico. 7-O Museu Bocage. 8-A Casa das Onze Portas. 9-A Imprensa Nacional. 10-O Palácio Rebelo de Andrade-SEIA. 11-O Palácio Cruz Alagoa. 12-O Largo de S. Mamede. 13-O Palácio Palmela. 14-A Real Fábrica das Sedas. 15-A Praça do Príncipe Real)  in   ARQUIVO/APS
 Rua da Escola Politécnica - (2007) - (Vista Panorâmica da Rua da Escola Politécnica em Lisboa)  in GOOGLE EARTH
 Rua da Escola Politécnica - ( 1993 ) Foto de Filipe Jorge ( Uma panorâmica da RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA" vista do céu, destacando-se o grande edifício da "Escola Politécnica")  in LISBOA VISTA DO CÉU
 Rua da Escola Politécnica - (19--) Foto de Paulo Guedes  (Panorâmica da RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA, com o TEJO em fundo. Foto possivelmente captada na parte de cima do Reservatório da Mãe de Água nas Amoreiras) (Abre em tamanho grande)  in  AML
 Rua da Escola Politécnica - (1856-1858) Filipe Folque - (Na parte de cima à direita podemos ver parte do COLÉGIO DOS NOBRES a RUA que nesta ocasião se chamava RUA DA FÁBRICA DA SEDA e o edifício da IMPRENSA NACIONAL) in  ATLAS DA CARTA TOPOGRÁFICA DE LISBOA
 Rua da Escola Politécnica - (1856-1858) - Filipe Folque - ( Na parte superior esquerda podemos observar a "ESCOLA POLITÉCNICA" ou "COLÉGIO DOS NOBRES", a RUA DIREITA DO PATRIARCAL QUEIMADO e a PRAÇA DO PRÍNCIPE REAL, que na altura tinha outra designação) in  ATLAS DA CARTA TOPOGRÁFICA DE LISBOA
 Rua da Escola Politécnica - (1856-1858)- Filipe Folque - (Na parte inferior direita podemos observar a RUA DIREITA DA FÁBRICA DAS SEDAS em direcção ao LARGO DO RATO, o LARGO DE S. MAMEDE e os edifícios que ladeiam a rua) in ATLAS DA CARTA TOPOGRÁFICA DE LISBOA
Rua da Escola Politécnica - (1856-1858) Filipe Folque - ( Na parte esquerda inferior podemos observar o resto em planta da ESCOLA POLITÉCNICA o Picadeiro e a TRAVESSA DE S. MAMEDE, estes quatro mapas juntos dão-nos uma ideia da proporção da QUINTA DO NOVICIADO DA COMPANHIA DE JESUS)  in  ATLAS DA CARTA TOPOGRÁFICA DE LISBOA


RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA [ I ]

«A RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA E SEU ENVOLVENTE»

A «RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA» pertencia a duas antigas freguesias: MERCÊS e S. MAMEDE, com a REFORMA ADMINISTRATIVA DE LISBOA EM 2012, a freguesia das MERCÊS  passou a denominar-se freguesia da «MISERICÓRDIA», fazendo parte dela o número 1 de polícia. A antiga freguesia de S. MAMEDE passou a denominar-se freguesia de «SANTO ANTÓNIO» correspondendo do número 3 em diante e todos os números pares. A freguesia da «MISERICÓRDIA» engloba as antigas freguesias: MERCÊS; SANTA CATARINA; ENCARNAÇÃO e SÃO PAULO. A freguesia de «SANTO ANTÓNIO» engloba as antigas freguesias de: SÃO MAMEDE; SÃO JOSÉ e CORAÇÃO DE JESUS.
A RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA começa na PRAÇA DO PRÍNCIPE REAL no número 20 e finaliza no LARGO DO RATO junto do número 7.
Para a "RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA" convergem no seu lado direito: a "RUA NOVA DE SÃO MAMEDE" e o "LARGO DE S. MAMEDE". No seu lado esquerdo: a "CALÇADA ENGº. MIGUEL PAIS", "RUA DA IMPRENSA NACIONAL", "RUA DO ARCO a S. MAMEDE",  "RUA MAESTRO PEDRO DE FREITAS BRANCO", "BECO DO COLÉGIO DOS NOBRES", "RUA DO MONTE OLIVETE", "RUA DE S. MARÇAL" e "RUA CECILIO DE SOUSA".
Esta artéria aberta com grande serventia entre a "QUINTA DO NOVICIADO DA COMPANHIA DE JESUS" e a "QUINTA DE DOM RODRIGO", fazia ligação, através do "LARGO DO RATO", do SÍTIO DA COTOVIA com o sítio de "CAMPOLIDE" ou a "ESTRADA ENTRE MUROS DE CAMPO LIDE".
Antes do terramoto de 1755 esta RUA tinha duas designações para cada um dos seus troços: "RUA DIREITA DA FÁBRICA DAS SEDAS" até ao "PALÁCIO DOS SOARES" (depois IMPRENSA NACIONAL), o seu seguimento foi chamado de "RUA DO COLÉGIO DOS NOBRES", nomeadamente que sucedeu à "RUA DIREITA DA COTOVIA" e ainda no mapa de FILIPE FOLQUE em 1858 era chamada de "RUA DIREITA DA PATRIARCAL QUEIMADA".
Em Setembro de 1859 era normalizada toda a artéria, passando a chamar-se de "RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA".

Logo a seguir à "CASA DAS ONZE PORTAS", e até à "IMPRENSA NACIONAL", contam-se seis prédios de andares, uns mais interessantes que outros, pelo ritmo de seis sacadas em dois andares e pelo desenho do arco abatido das seis portas e montras, com painéis de azulejos, do antiquário "M. H. CARVALHO", virado para o "BECO DO COLÉGIO DOS NOBRES", por onde outrora houve porta de vacaria.  O último edifício, moderno  dos anos 50 do século passado, destoa na rua - como ainda mais destoam, do outro lado após a "POLITÉCNICA", dois imóveis de inquilinos do mesmo ano e pior qualidade. De um deles desapareceu, há pouco, a antiga "LIVRARIA ESCOLAR", do MANUEL DE BRITO, sítio de estudantes e professores, com livros proibidos vendidos sob o balcão. Quando as ameaças da pátria eram bem expressas pelo assalto, aqui lembrado, a propósito, à SOCIEDADE PORTUGUESA DE ESCRITORES", apoiado pelo PIDE, em MAIO de 1965, era ela bem perto daqui, então no prédio de "GONZAGA RIBEIRO"...
Termina melhor deste lado o quarteirão antes de SÃO MAMEDE, com um grande edifício passivo que vira para o LARGO, e foi habitado por um VISCONDE DE ALVES DE SÁ(1869), JUIZ DO SUPREMO e PAR DO REINO. Mas a "RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA" tem alguns antiquários, dois ou três bancos, um ou dois restaurantes e duas ou três pastelarias, como a "CISTER" e a "ALSACIANA", três farmácias, duas papelarias, lojas (recentes) de vestir e calçar, uma fina fachada a perfumaria em gosto dos anos 20 e 30 e ainda o Senhor JOAQUIM, leitaria e lugar de hortaliça, em práticas de antigamente no número 75; ou um sapateiro de vão de escada, do tempo em que os havia, por utilidade social.
"A CISTER", dos anos 40 do século passado, foi, tradicionalmente, local da famosa pastelaria "SERAFINA", de cem anos antes. Mais divertida ou sabiamente,  o GERVÁSIO LOBATO de "LISBOA EM CAMISA", SOUSA VITERBO (que tem um busto no JARDIM) e ANDRADE CORVO, professor da POLITÉCNICA, Ministro, Romancista e Dramaturgo, em seus tempos do romancismo, por ali moraram também.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA [ II ] O PALACETE DOA ANJOS».

sábado, 19 de setembro de 2015

VILA FLAMIANO [ V ]

«O DIÁRIO DE NOTÍCIAS DE 23.10.1888 ( 2 )»
 Vila Flamiano - ( 2005 ) Foto de APS - (A "VILA FLAMIANO" no seu lado direito visto de Norte para Sul na "RUA DO MEIO") in  ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - (2005) Foto de APS - ( Um aspecto da "RUA DO MEIO" e em especial o Nº. 21-1º onde morei vinte anos) in ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - (2011) - Foto de APS - (Um pormenor da "VILA FLAMIANO" na chamada "RUA DO MEIO")  in  ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - (1939) Foto de Eduardo Portugal - (Conjunto de "Chafariz e Lavadouro público" no antigo "LARGO DE XABREGAS" onde até aos finais da década de cinquenta, os moradores da VILA FLAMIANO se  abasteciam de água e alguns lavavam a sua roupa)  in  AML
 Vila Flamiano - (anterior a 2009) -  (Parcialmente demolida a antiga "FÁBRICA ÂNCORA" no lado esquerdo,  aspecto degradante o prédio da antiga "PADARIA", com a entrada em ARCO para a VILA FLAMIANO) in  GOOGLE EARTH
Vila Flamiano - (2011) Foto de APS - (Aspecto depois da demolição da "PADARIA" e do ARCO que dava acesso à VILA FLAMIANO)  in   ARQUIVO/APS


(CONTINUAÇÃO) - VILA FLAMIANO [ V ]

«O DIÁRIO DE NOTÍCIAS DE 23.10.1888 (2)»

Quando o articulista do D.N. dá realce que: "O ar do sítio é bom e beneficia-o a vizinhança do TEJO, dando-lhe calor e animação a  proximidade do Caminho de Ferro". Devia pensar estar a ver passar o comboio num campo aberto em pleno Alentejo. Coisa que não acontecia nesta VILA. As locomotivas eram movidas a Vapor (cuja matéria prima era o carvão ou a madeira) deixavam um rasto de fumo, além das fagulhas que eram expelidas pela máquina ( que provocava alguns incêndios em fábricas vizinhas) e o enorme barulho que produziam, além de fazer abanar as casas. Nem tudo era bom, como nos fazia acreditar o jornalista. A luz eléctrica não existia, só em finais dos anos 30 meu pai comprou um ramal, puxando-o para o seu andar, depois de estar ali instalado, várias pessoas foram beneficiadas com esta maravilha. Água também não existia na VILA. Só em finais dos anos cinquenta, essa preciosidade aparece na VILA primeiro com um chafariz, depois canalizada para todos os moradores. Minha mãe tinha uma senhora a "TIA ROSA" a quem pedia para lhe levar uma bilha de água (isto antes da instalação do chafariz na vila), que ela religiosamente despejava na "Talha" ornamentada com uma bonita torneira de latão. Quando juvenil, acartei muita água do "LARGO DE XABREGAS" ou da "TRAVESSA DA AMOROSA", pontos onde existiam chafarizes. O tanque onde se lavava a roupa (quem não tinha coragem de ir para o "Lavadouro Municipal", junto ao chafariz no "LARGO DE XABREGAS"), estava junto da porta de entrada de suas casas, o estendal era colocado na "RUA DO MEIO" agarrado a cada extremidade da parede e levantado no meio com um pau e assim se secava a roupa.
O "LARGO" no interior da "VILA" tinha um espaço grande, de quando em vez éramos animados, inicialmente por "SALTIMBANCOS" depois, já com aspecto melhorado os "CIRCOS COBERTOS".  A intervalar apareciam nas épocas de verão, os "CARROCEIS" com os seus animais de madeira a andar à roda, subindo e descendo. Nessa altura sim, a VILA ficava animada pelas músicas emitidas  em som elevadíssimo, convidando as pessoas a aderir ao divertimento. Mas tudo acabou de um momento para o outro. A administração da "VILA" resolveu alugar o logradouro do "CONDOMÍNIO FECHADO" a uma oficina de reparações de automóveis, que lhe renderia mais que os sazonais "CARROCEIS", sendo o  espaço foi absorvido quase na sua totalidade.

Em finais dos anos 40 início de 50 os «SANTOS POPULARES» eram festejados pela juventude com fogueiras algumas fogosas rodas e lançamento de balões dentro da VILA. Recordo ainda que em noites muito quentes de verão, alguns vizinhos vinham repousar e apanhar o fresco da noite, junto das suas portas ou de um vizinho amigo, antes de se recolher.
Em bairros com estas características, normalmente os seus familiares estavam ou viviam quase sempre muito próximo. A minha avó materna já vivia nesta Vila há bastantes anos, antes de eu ter nascido, meus pais inicialmente viveram no "PÁTIO DO BLACK" onde minha irmã nasceu, acabando por vir morar para a VILA FLAMIANO no ano de 1936.
Existiam tios, tias, primos e primas a morar na "VILA DIAS" também ela uma vila operária com entrada pelo "BECO DOS TOUCINHEIROS".
Junto à "RUA GUALDIM PAIS" no pátio "JOSÉ INGLÊS" (já desactivado) viveu um tio. Na "CALÇADA DAS LAJES" (próximo do cemitério do Judeus) viviam os meus avós (paternos) e uma tia na "QUINTA DO COXO". Outro tio morava no "BAIRRO LOPES" e ainda outro tio (paterno) morava na "CALÇADA DOS BARBADINHOS". Uma prima em 3º grau morava no "LARGO MARQUÊS DE NISA" no prédio que demoliram para alargar a "RUA GUALDIM PAIS". Portanto, tudo muito próximo. O certo é que a vida se vai modificando, os prédios vão envelhecendo tal como as pessoas, hoje ninguém habita muito perto (salvo algumas excepções), a tradição já não se mantém, que numa cidade tão cosmopolita como LISBOA está tudo longe, por vezes até emigrado, a muitas horas de voo para nos podermos abraçar.

Deixei a "VILA FLAMIANO" quando casei em (1957), no entanto ainda a recordo com saudade, embora desde (1992) os meus laços mais chegados tivessem deixado definitivamente esse espaço e nada mais me ligar fisicamente.
Fico contente que a "VILA FLAMIANO" ainda resista estoicamente de pé, apesar de em seu redor já existirem algumas demolições. [ FINAL ].

BIBLIOGRAFIA

A FREGUESIA DO BEATO NA HISTÓRIA - Edição da Junta de Freguesia do BEATO - 1995 - LISBOA.
ATLAS DA CARTA TOPOGRÁFICA DE LISBOA -de Filipe Folque-1856-1858-CML-2000-LISBOA.
CAMINHO DO ORIENTE - Guia do Olhar-Dulce Fernandes - Livros Horizonte-1998-Lisboa.
CAMINHO DO ORIENTE -Guia do Património Industrial - Deolinda Folgado e Jorge Custódio - Livros Horizonte - 1999 - Lisboa.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS de 23 de Outubro de 1888.
PELAS FREGUESIAS DE LISBOA - Lisboa Oriental- Carlos Consiglieri - CML-1993-Lisboa.

(PRÓXIMO)«RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA [ I ] A RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA E SEU ENQUADRAMENTO»

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

VILA FLAMIANO [ IV ]

«O DIÁRIO DE NOTÍCIAS DE 23.10.1888 - (1 )»
 Vila Flamiano - (2011) Foto de APS - ( Uma perspectiva da chamada "RUA DO SOL" na VILA FLAMIANO, vista de Norte para Sul)  in ARQUIVO/APS 
 Vila Flamiano ( 2011) Foto de APS - (A "VILA FLAMIANO" no lado da RUA GUALDIM PAIS, a chamada "RUA DO SOL" no seu prolongamento para Norte, ao nosso lado esquerdo junto da mesa, as traseiras do "Ferro Velho" "Aguinaldo & Higíno") in  ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - (anterior a 2009) - Edifício onde estava inserida a Padaria do senhor RIBEIRO já entaipado para demolição. Mais à frente o arco que dava acesso à VILA FLAMIANO)  in GOOGLE EARTH
 Vila Flamiano - (2005) Foto de APS - (A VILA FLAMIANO junto ao seu ex-"Largo", hoje ocupado pela oficina de carros. No topo de cada bloco de casas estava inscrito "VILA FLAMIANO" que, com o tempo, foi caindo) in ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - (Final dos anos noventa  do século XX) - ( ARCO que servia de passadiço entre o  "Condomínio fechado da VILA FLAMIANO" - nesta altura já muito danificado - e o "LARGO MARQUÊS DE NISA". Foi demolido na primeira década do século XXI) in ARQUIVO/APS
Vila Flamiano - ( 1967 ) Foto de João H. Goulart - (A "VILA FLAMIANO" vista da "RUA GUALDIM PAIS" nos anos sessenta do século XX)  in   AML 

(CONTINUAÇÃO) - VILA FLAMIANO  [ IV ]

«O DIÁRIO DE NOTÍCIAS DE 23.10.1888 - ( 1 )»

No dia 23 de Outubro de 1888 era publicada a notícia; um bairro operário construído no recinto da «FABRICA DE ALGODÕES DE XABREGAS».


Reunidos os convidados que os directores receberam com extrema delicadeza, comparecendo o "PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA" "FERNANDO PEREIRA PALHA DE OSÓRIO CABRAL (1850-1897)", vereador do pelouro de higiene, o administrador do bairro, membros do Conselho fiscal, alguns accionistas e diversos jornalistas, foram todos examinar as edificações do novo BAIRRO OPERÁRIO.
Consta este de dois extensos paralelogramos,  divididos por uma RUA CENTRAL de 14 metros de largura e ocupando uma área total de 4 040 metros quadrados, sendo 1 080 em construção e 2 960 em logradouro e ruas. Quando se entra no novo bairro a que a direcção deu o nome de «VILA FLAMIANO», como homenagem póstuma à memória de um director benemérito, encontra-se uma praça modesta, onde se está construindo o lavadouro para os moradores e daí se prolongam no sentido Leste-Oeste, os dois quarteirões de casas simples e alegres, inundadas de luz e que hão-de receber mais tarde o eflúvio salutar do arvoredo que a vai cercar.
O ar do sítio é bom e beneficia a vizinhança do TEJO, dando-lhe calor e animação a aproximação do Caminho de ferro.
Um dos agrupamentos tem habitação para 32 inquilinos e o outro tem-no para 40. São caiadas externamente e estucadas no seu interior.
Cada quarto tem medidas iguais com 3,70 metros de comprimento, 2,50 metros de largura e 2,50 metros de altura. Todas as casas tem luz directa recebida por 1 ou 2 janelas. 
A divisão é feita de modo que cada família operária pode ocupar os quartos que quiser, pois se comunicam em agrupamentos de 4 e mais, sendo o preço de cada quarto,  os do rés-do-chão 600 réis mensais e do andar superior 750 réis. Aos inquilinos também é fornecida água gratuitamente. O senhor Dr. SILVA AMADO, que representava a higiene municipal, disse num pequeno discurso proferido na ocasião do "beberete" com que a direcção quis obsequiar os seus convidados, que as casas estavam nas melhores condições higiénicas, o que sobrelevava os méritos do altíssimo serviço que a Companhia prestava aos seus operários. [DIÁRIO DE NOTÍCIAS DE 23.10.1888].

Algumas considerações ao artigo do DN após 127 anos.
O Lavadouro e o chafariz não foram construídos dentro do perímetro da "VILA", mas sim no chamado "LARGO DE XABREGAS" (uma distância aproximada de cem metros), o que levava as pessoas a ter de acartar a águas para as sua residências ou pagar para esse efeito.  Devo acrescentar que a luz eléctrica ( 1 ) só chegou em finais da década de 30 do século XX, assim como a água na década de 50. O benefício do Tejo e sua "praia" é hoje um aterro e presentemente um cais de contentores de Xabregas.  A animação dos comboios servia nos anos 40 para fazer tremer a VILA, além da sujidade que saia da chaminé dos comboios.

Do arvoredo inicialmente plantado no século XIX, nos anos 40 do século passado restavam 2 árvores na parte mais larga da "RUA DO MEIO" que, passado anos acabariam por secar. Só em finais dos anos 90, existiu uma reabilitação da "VILA " com replantação de árvores, pontuando com bancos de jardim, os passeios foram normalizados e as "RUAS" asfaltadas, um serviço meritório da Câmara Municipal de Lisboa e    Junta de Freguesia do BEATO.

( 1 ) - Existiu a necessidade de pagar um ramal da via pública, para  levar a electricidade à VILA. Depois do primeiro, quase todos se ligaram.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«A VILA FLAMIANO [ V ]-O DIÁRIO DE NOTÍCIAS de 23.10.1888 ( 2 )»

sábado, 12 de setembro de 2015

VILA FLAMIANO [ III ]

«HABITAÇÕES OPERÁRIAS ( 3 )»
 Vila Flamiano - ( 2005 ) Foto de APS - (A "VILA FLAMIANO" a chamada "RUA DO MEIO" a mais larga (14 metros de Largura), no seu aspecto sereno. Em tempos idos existia mais movimento de pessoas e menos carros) in ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - ( 2011) - Foto de APS - ( A chamada "RUA DO MEIO" da "VILA FLAMIANO", parte de direita vista de Norte para Sul)  in  ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - ( 2005 ) Foto de APS - (Antiga "FABRICA SAMARITANA" de 1857, ou "COMPANHIA DO FABRICO DE ALGODÃO DE XABREGAS", que nos seus terrenos  mandou construir a "VILA FLAMIANO", para dar uma residência mais condigna aos seus empregados) in ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - (1998) Foto de António Sachetti - (Aspecto da "VILA FLAMIANO" após uma intervenção nos arruamentos e ordenação de estacionamento) in  CAMINHO DO ORIENTE
 Vila Flamiano - (1954) - Foto de Fernando Martinez Pozal - (O "CHAFARIZ DO LARGO DE XABREGAS" que abastecia principalmente os moradores da "VILA FLAMIANO" até finais dos anos 50 do século XX) in  AML 
 Vila Flamiano - (anos 60 do séc. XX) - (Um aspecto tipicamente característico das nossas Vilas Operárias nesta época. Os estendais embandeiram de cor a chamada "RUA DO MEIO" da "VILA FLAMIANO". Creio que nesta ocasião já existia o chafariz no interior Norte da Vila) In   PELAS FREGUESIAS DE LISBOA - CML 
Vila Flamiano - (anos 60 do séc. XX) (Um aspecto da "VILA FLAMIANO" a "RUA DO MEIO" do lado esquerdo para Norte. Podemos ainda ver a quantidade de tanques para lavar a roupa que existiam na Vila) in   JUNTA DE FREGUESIA DO BEATO


(CONTINUAÇÃO) - VILA FLAMIANO [ III ]

«HABITAÇÕES OPERÁRIAS DA "COMPANHIA DO FABRICO DE ALGODÃO DE XABREGAS ( 3 )»

Ainda dos discursos: dizia um dos convidados, jornalista do DIÁRIO DE NOTÍCIAS, a certa altura: Enche-nos de alvoroço e de satisfação o convite que acabamos de receber dos nossos amigos e senhores "JOAQUIM MOREIRA MARQUES" e "C. A. MUNRO", directores da importante "FÁBRICA DE ALGODÕES DE XABREGAS", estabelecimento fabril sempre em continuado progresso e que, de certo modo, não descura alguns dos assuntos que podem interessar ao bem estar dos seus operários.
A "COMPANHIA" acaba de construir no vasto recinto das suas instalações, habitações singelas e limpas para morada cómoda e económica dos seus operários e vai inaugurá-las hoje, 22, pelas 13 horas. Inauguração de todo o ponto simpática e para a qual nos fez a honra de convidar esta redacção.  Tencionamos assistir e contar aos nossos leitores. A importância cultural e económica do facto de se construir junto das fábricas casas para habitação dos operários é de larguíssimo alcance, que pode ser indicado em grande número de considerações positivas.
Já a "FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS LISBONENSE" fez construir em tempos, uma série de casas singelas e de renda relativamente económica que muito facilitava o viver da família dos operários honestos e morigerados. Não distante dela há outra importante fábrica, e porventura muitas outras existirão, que obedece a iguais impulsos de bom critério, benevolência para com os que trabalham e de conveniência das próprias instituições fabris e manufactoras, pois todas essas criações tendem a moralizar o operário, incentivar nela o amor da solidariedade com os interesses legítimos das industrias, modificando em certo grau a indiferença e egoísmo dos patrões pela sorte dos seus operários cooperadores.
Que esta benéfica corrente prossiga e que o nobre exemplo da "COMPANHIA DA FÁBRICA DO FABRICO DE ALGODÃO DE XABREGAS" seja seguido por outras empresas fabris manufactoras, que  não podem nem devem conservar-se indiferentes à melhor sorte dos seus operários - eis o nosso voto. São estes e muitos outros os modos práticos, inteligentes e de bom critério com que se podem modificar um pouco os rigores de que se queixam as colectividades operárias e os partidos denominados socialistas.
No dia em que se possa proporcionar aos operários uma casa asseada, cómoda, económica, com bom ar, boa luz, e a limpeza que a boa higiene  não dispensa, ter-se-à aberto para ele com mais atractivo e menos consumições o lar da família em que ele possa estar naturalmente satisfeito nas poucas horas de ócio que lhe restam dos trabalhos da fábrica ou oficina, com a sua família sem ter diante de si o quadro repelente da miséria, da imundice e das exalações de um ambiente menos viciado sem ar e sem luz e cheio de elementos repelentes ou antipáticos que o façam buscar distracções nocivas na taberna, no bordel e nas más companhias.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«VILA FLAMIANO [ IV ]-DIÁRIO DE NOTÍCIAS DE 22.10.1888»

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

VILA FLAMIANO [ II ]

«HABITAÇÕES OPERÁRIAS ( 2 )»
 
Vila Flamiano - ( 2011) Foto de APS - (A chamada RUA DO MEIO da "VILA FLAMIANO" já com as árvores num tamanho maior e carros em cima do empedrado)  in  ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - (2009) - (Na "VILA FLAMIANO" a chamada "Rua do Sol" vista da "RUA GALDIM PAIS. No local onde está a sair um triciclo motorizado é uma das entradas da Vila parte Norte, existia um formoso portão em ferro forjado, no lado direito ao fundo o Viaduto de Xabregas) - in GOOGLE EARTH 
 Vila Flamiano - ( 2005 ) - Foto de APS - (A "VILA FLAMIANO" no primeiro andar "pintadinho de branco" habitou com seus pais, o meu amigo "HÉLIO N. VIEIRA" e por baixo na casa com anexo, viveu os pais da "Cibele") in ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - (1997) Foto de António Sachetti - (Planta AEROFOTOGRAMÉTRICA 4/7 Escala: 1:2000. Maio de 1963,  actualizada em 1987. A área cor rosa representa o espaço onde está inserida a  VILA FLAMIANO)  in CAMINHO DO ORIENTE - GUIA INDUSTRIAL
 Vila Flamiano - (anterior a 1984) Foto de APS ( Numa das minhas visitas à "VILA FLAMIANO" tirei uma foto a minha mãe, apanhando a roupa no novo estendal, junto das janelas) in ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - (1967) Foto de João H. Goulart - (O prédio da "Padaria" do senhor "RIBEIRO" e a entrada em arco abatido para a "VILA FLAMIANO" - Já desaparecido - no "LARGO MARQUÊS DE NISA. No primeiro andar do prédio, nos anos 60 do século passado, era habitado por familiares do Farmacêutico "PINTO")  in  AML 
VILA FLAMIANO - (1887-88) Foto de António Sachetti - (Planta alçado e corte da "Vila Flamiano" no Arquivo de Obras da C.M.L.. Podemos ainda observar na planta que a "RUA GUALDIM PAIS" não existia , estava só projectada e a demolição do prédio que vai rasgar o "LARGO MARQUÊS DE NISA", para dar continuação à Rua. A entrada do "BECO DA HORTA DAS CANAS" fazia-se junto do "ASILO MARIA PIA") in  CAMINHO DO ORIENTE - PATRIMÓNIO INDUSTRIAL

(CONTINUAÇÃO) - VILA FLAMIANO [ II ]

«HABITAÇÕES OPERÁRIAS DA COMP. DO FABRICO DE ALGODÃO DE XABREGAS ( 2 )»

Exteriormente as soluções encontradas para a uniformização das diferentes assoalhadas prendem-se com a utilização repetida de elementos funcionais como as janelas e as portas.
O edifício TIPO Nº.1, no rés-do-chão, alterna uma janela com uma porta e o TIPO Nº 2, duas janelas com uma porta.
Em relação ao piso superior a fenestração marca o ritmo da construção. A solução encontrada poderá ser multiplicada infinitamente sem muitos custos, visto que a repetição é feita através de elementos funcionais e não pelas aplicações de motivos decorativos, como o tijolo, o ferro forjado ou apontamentos azulejados. 
Os materiais da VILA limitaram-se à cal, à areia, ao cimento, aos tubos de grés, à madeira de Casquinha e à telha tipo de MARSELHA.
Esta VILA reúne duas características da habitação operária que, na maioria das vezes, se encontram individualizadas.
Por um lado, organiza-se fora da circulação viária (como era uso na época).
Por outro lado, a organização interna das habitações desenvolvia um sistema de pátio e de comunicação que permitia à vizinhança a coabitação social, características inerentes a alguns dos bairros para operários. 

Quando em 1931, a VILA era já propriedade da "SOCIEDADE TÊXTIL DO SUL" reconstruiu-se o muro da delimitação do BAIRRO de acordo com as seguintes características: "a parte da "VILA FLAMIANO" com uma cortina de pouca altura e gradeamento de ferro, ficando nesta um portão de ferro em pilares de tijolo, para serventia da VILA, mais amplo do que o existente".
Esta intervenção de delimitar a «VILA FLAMIANO» a poente, prende-se com a abertura da "RUA GUALDIM PAIS" em terrenos da "QUINTA DA AMOROSA" e pelo Edital de 19 de Junho de 1993, que se constituirá a entrada natural ( ou saída) para o "VALE DE CHELAS".

A inauguração do conjunto habitacional ocorreu no dia 22 de Outubro de 1888, e o seu nome deveu-se a um dos fundadores da Companhia. No discurso inaugural, desta VILA de cariz particular, refere-se um dos seus dirigentes: "o modesto bairro operário (...) foi construído não só com o fim de satisfazer a uma necessidade da Companhia que administramos, como também, e talvez muito particularmente, para satisfazer a não menos imperiosa necessidade de fornecer  habitação barata, confortável e higiénica aos que tem por única fortuna o produto do seu trabalho quotidiano" (Catálogo da Exposição... 1889).

Na inauguração da "VILA FLAMIANO" outro convidado, um jornalista do "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" discursava e enaltecia o facto de tão meritório empreendimento.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«VILA FLAMIANO [ III ] -HABITAÇÕES OPERÁRIAS ( 3 )»

sábado, 5 de setembro de 2015

VILA FLAMIANO [ I ]

«HABITAÇÕES OPERÁRIAS-( 1 )»
 Vila Flamiano (1856-1858) Filipe Folque (Planta Nº. 23 do Atlas da Carta Topográfica de LISBOA, podemos observar que nesta altura ainda não existia a "VILA FLAMIANO", mas já existia o "LARGO MARQUÊS DE NISA" por onde se faria a sua entrada para a VILA)  in ATLAS DA CARTA TOPOGRÁFICA DE LISBOA
 Vila Flamiano - (2006) - (Panorama de XABREGAS com incidência na "VILA FLAMIANO", podemos ver que tinham demolido recentemente a "Fábrica ÂNCORA" e ainda não tinha acontecido o incêndio no armazém da "RUA BISPO DE COCHIM D. JOSEPH KUREETHARA"  in  GOOGLE EARTH
 Vila Flamiano - (2007)  -  (Panorama do sítio de XABREGAS onde podemos ver inserida a "VILA FLAMIANO" e uma zona Industrial envolvente) in  GOOGLE EARTH
 Vila Flamiano - (1986) Foto de APS - (Um pormenor da "VILA FLAMIANO" a casa onde cresci, meu pai estava viúvo há dois anos. Esta foi uma das minhas visitas à VILA)  in  ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - (1986) - Foto de APS - ( Aspecto da "VILA FLAMIANO" edificada entre 1887 e 1888 para a "Companhia do Fabrico de Algodões de Xabregas" destinada aos seus trabalhadores mais classificados: Mestres e Contra mestres)  in  ARQUIVO/APS
 Vila Flamiano - (1997) Foto de Dulce Fernandes (A VILA FLAMIANO depois da intervenção nos arruamentos e arborização das Ruas)  in CAMINHO DO ORIENTE- GUIA DO OLHAR
Vila Flamiano - (2005) Foto de APS - (A "VILA FLAMIANO" com seu aspecto de organização, nesta altura ainda se mantinha a corrente para não permitir a entrada de carros para estacionar)  in  ARQUIVO/APS

VILA FLAMIANO [ I ]

«HABITAÇÕES OPERÁRIAS DA "COMPANHIA DO FABRICO DE ALGODÃO DE XABREGAS" ( 1 )»

A «VILA FLAMIANO» pertence à freguesia do «BEATO», fica no sítio de XABREGAS, na "ZONA ORIENTAL DE LISBOA".

A «COMPANHIA DO FABRICO DE ALGODÃO DE XABREGAS» foi uma das primeiras empresas portuguesas a construir casas para os seus operários, numa época em que era inexistente uma política governamental de habitação social.
A «VILA FLAMIANO» constitui um dos exemplos da habitação operária mais conhecido de LISBOA e é automaticamente associado à empresa fundadora. No entanto, esta construção de 1887-1988 pertence a um último período das edificações para operários, fomentada pela "FÁBRICA DA SAMARITANA".
O "INQUÉRITO INDUSTRIAL" de 1881, referencia a existência de três prédios para habitação dos operários com cinquenta e um quartos, sendo o último prédio mandado construir expressamente para esse fim. Na tradição oral persistiu a toponímia do "PÁTIO DO BLACK", tratando-se também de um conjunto de habitações para trabalhadores da mesma fábrica, mais concretamente para os fiscais. O nome atribuído a este pátio relaciona-se com um dos engenheiros fundadores da Empresa, o inglês "ALEXANDRE BLACK".

Data de 1887, o projecto da «VILA FLAMIANO» entregue à CÂMARA MUNICIPAL de LISBOA, a pedido da "COMPANHIA DO FABRICO DE ALGODÃO DE XABREGAS". Este plano foi inovador para a época devido aos cuidados apresentados com as infra-estruturas de saneamento, aspecto geralmente descurado em outras VILAS e BAIRROS. Assim, um requerimento de 27 de Outubro, submetido ao "CONSELHO DE SAÚDE E HIGIENE PÚBLICA", pede para "construir dois tipos de propriedades nos terrenos anexos à fábrica situada na freguesia do BEATO com a condição de que as pias e latrinas sejam colocadas pelo lado externo das propriedades, que no solo sobre o qual se levantará  a construção se torne impermeável pelo asfalto ou betão e que sob o pavimento do andar se faça uma caixa de ar".
A nova área residencial da unidade industrial têxtil ocupava um total de  4 040 metros quadrados, sendo 1 080 m2 para as construções e 2 960 m2 para os logradouros e RUAS.
O espaço central entre as duas correntezas apresentará 14 metros de largura, estando prevista implantação de árvores.

O projecto do bairro é da autoria do "ENGENHEIRO ANTÓNIO TEIXEIRA JÚDICE", tendo a empreitada sido adjudicada ao construtor "ANTÓNIO MACHADO DE FARIA E MAIA".
A área de instalação das novas habitações situava-se nos terrenos da fábrica e próximo desta.
O novo "BAIRRO OPERÁRIO" compunha-se de dois conjuntos de prédios. com dois pisos, identificados na planta por Tipo Nº. 1 e Tipo Nº. 2. As diferenças entre esta tipologia residem no seu interior, compondo-se o Tipo Nº. 2 de um maior número de assoalhadas, variando de acordo com o agregado familiar. O número de quartos oscilava entre dois, três e quatro.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«VILA FLAMIANO [ II ] HABITAÇÕES OPERÁRIAS DA COMPANHIA DO FABRICO DE ALGODÃO DE XABREGAS-(2)»