quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

RUA DO CAPELÃO [ IV ]

«A SEVERA REPRESENTADA NO TEATRO, EM OPERETA E NO CINEMA»
 Rua do Capelão - (Entre 1825-1881)  -  ( A única imagem conhecida que pode, com alguma verosimilhança, ser considerada como retratando  "A SEVERA", é este esboço a tinta da china (17 X 11,8 cm) encontrado no espólio do artista e pintor FRANCISCO METRASS. Apresenta no verso a simples nota: "A SEVERA" in Guitarra de Portugal - Nº 366)   in   LIVRO HISTÓRIAS DO FADO 
 Rua do Capelão - (19--) Foto de Eduardo Portugal   - (A antiga "RUA DO CAPELÃO" hoje "LARGO DA SEVERA", povo da Mouraria num Domingo ameno, mostrando os seus trajes populares no início do século XX) (ABRE EM TAMANHO GRANDE)   in   AML 
 Rua do Capelão - (1971) - Foto de Armando Maia Serôdio  -  (A "RUA DO CAPELÃO", casa onde viveu a fadista MARIA SEVERA, no sítio da MOURARIA)  (ABRE EM TAMANHO GRANDE)  In  AML 
 Rua do Capelão - (2008)  -  ( Na "RUA DO CAPELÃO" junto ao "LARGO DA SEVERA" existe uma placa assinalando que ali morou "MARIA SEVERA ONOFRIANA", sublime do fado, faleceu em 30.11.1846 com 26 anos de idade. LISBOA - 3.6.1989)  in  LISBOA S.O.S.
 
Rua do Capelão - (10.10.2008)  -  (Cartaz do Filme de LEITÃO DE BARROS "A SEVERA" história da conhecida "cigarra"   criada pelo ilustre escritor "JÚLIO DANTAS")    (ABRE EM TAMANHO GRANDE)  in    LISBOA S.O.S.
Rua do Capelão - (10.10.2008)  -  (Peça  " A SEVERA" em 4 actos representada no Teatro "DONA AMÉLIA" - actual SÃO LUÍS - , adaptação do romance de "JÚLIO DANTAS" apresentado nesta foto)  (ABRE EM TAMANHO GRANDE)  in   LISBOA S.O.S. 

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO CAPELÃO [ IV ]

«A SEVERA REPRESENTADA NO TEATRO, EM OPERETA E NO CINEMA»

Até certa altura «SEVERA» era uma figura da tradição boémia com o seu anedotário, a sua auréola das esperas de toiros, e seu destino na cama desconfortável de um hospital da época. De compreensão fácil, inteligência e com algumas luzes de instrução, pois sabia ler, escrever e contar, ela tinha a noção do descalabro da sua vida, da impossibilidade de a refazer e da proximidade do seu fim. Não se iludia! Sofrendo com os períodos menstruais, passou também a sofrer da garganta e a partir de certa altura ficou com a voz velada, enrouquecida.
Acontecia-lhe por vezes perder os sentidos e expelir sangue pela boca, acidentes ao que ala chamava "VADAGAIOS". Mas não se poupava. O "CONDE DE VIMIOSO", que tentou contrariar-lhe os vícios do tabaco e da bebida, nada conseguiu. Por último, deu-lhe para beber café fortíssimo. Queria morrer e...  morreu.
Não está determinado o período em que a SEVERA manteve relações intimas com o "CONDE DE VIMIOSO", as quais, no entanto, não chegaram a durar dois anos (talvez entre 1843 e 1845). parecendo que foi ela quem, reconhecendo a inviabilidade dessa ligação, tomou a iniciativa de se afastar do titular, por quem se apaixonara. mas que, de facto, pela sua posição social, não era homem para si. Essa paixão contribuirá, aliás, para agravar as desventuras de MARIA SEVERA, que despertando do seu sonho dourado se sentiu ainda mais infeliz.

"TINOP" revela-nos também que SEVERA antes de encetar amores com o "CONDE DE VIMIOSO", tivera um namorado com um rapaz da "MOURARIA", o "CHICO DO 10" (alcunha por ter pertencido ao Regimento de Infantaria 10),  o qual, por ciúmes, assassinou na "RUA DO CAPELÃO" um rival à navalhada, pelo que foi expirar a culpa nas costas de "ÁFRICA", e por lá morreu.
"MARIA SEVERA" criada ao Deus-dará, vivendo desde criança em ambientes nada dignificantes, que mais se poderia esperar dela? Um amigo chegou a instalá-la numa casa da "RUA DA BEMPOSTA" e depois noutra de que era proprietário, na "RUA DA AMENDOEIRA", onde ela e a mãe viveram viveram algum tempo. Será, porém, naquela casa da "RUA DO CAPELÃO" (hoje com o número 36) que ainda teima em resistir e onde recebeu alguns dos mais ilustres fidalgos de então, assim como figuras gradas da tauromaquia, que a "SEVERA" havia de experimentar o gosto irrefutável da popularidade e também o travo amargo do mais profundo desalento.

A notícia da morte de "MARIA SEVERA" teve um certo eco doloroso entre todos os que tocavam e cantavam o (FADO); deixando funda impressão no ânimo do fidalgo que ela popularizou na " BANZA"( 1 )  com seus improvisos.  E dizia a SEVERA cantando...
                           Tenho vida amargurada,
                           Ai que destino infeliz!
                           Mas se sou tão desgraçada
                           Não fui eu que assim o quis.

                           Quando eu morrer, raparigas,
                           Não tenham pesar algum
                           E ao som das vossas cantigas
                           Lancem-me à vala comum.
Pese esta celebridade, é contudo indiscutível  que o maior contributo dado para a entrada definitiva da "RUA DO CAPELÃO" no imaginário fadista e lisboeta, acabaria por ser dado por alguém que com o meio nada tinha em comum: o mito circunspecto escritor e dramaturgo "JÚLIO DANTAS" (1876-1962) que em 1901 escreveu uma peça aproveitando o essencial da história da SEVERA, alterando contudo bastantes aspectos do que é possível considerar verdade histórica: o "CONDE DE VIMIOSO" é trocado por um "CONDE DE MARIALVA", a "SEVERA" é dada como de origem CIGANA etc.. O enredo dramático da peça de DANTAS é inteiramente baseado na "A DAMA DAS CAMÉLIAS" de ALEXANDRE DUMAS FILHO (1824-1895) que a escreve inicialmente como novela, publicando-a como peça Teatral em 1852.
Tal peça serviria igualmente de base ao libreto da Ópera "LA TRAVIATA" composta por "GUISEPPE VERDI" nesse mesmo ano.
Estreado em 25 de Janeiro de 1901 no TEATRO DONA AMÉLIA (hoje SÃO LUÍS) a peça de "DANTAS" contou com uma soberba criação de "ÂNGELA PINTO"(1869-1925) na protagonista e foi um êxito à sua adaptação a opereta, com o mesmo título em 1909. Para esse novo espectáculo, o autor contou com a colaboração preciosa de um dos mais populares e talentosos dos escritores teatrais da época, "ANDRÉ BRUN (1881-1926) com música do maestro e compositor FILIPE DUARTE (1855-1928). Em 1931 foi apresentado "A SEVERA" o primeiro filme português sonoro, realização de "LEITÃO DE BARROS".
Em 1957 "VASCO MORGADO" apresenta "AMÁLIA RODRIGUES" no TEATRO MONUMENTAL (sendo Amália, uma estreia no teatro declamado) ao lado de "ASSIS PACHECO" na obra prima do TEATRO português "A SEVERA" original do dramaturgo "JÚLIO DANTAS".

- ( 1 ) - BANZA - s.f. (pop.) viola, guitarra.

BIBLIOGRAFIA

- "ALFACINHAS" os lisboetas do passado e do presente - ALBERTO SOUSA - 1964 -LISBOA
- ARAÚJO, Norberto de - Peregrinações em LISBOA- Livro III-Vega - 1992-LISBOA.
- DICIONÁRIO DA HISTÓRIA DE LISBOA-Direc. de Francisco Santana e Eduardo Sucena - 1994-LISBOA.
- HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA - de A.J. SARAIVA e Óscar Lopes -Porto Editora-17.ª Ed. - 1996 - PORTO.
- HISTÓRIA DO FADO - de MARIA GUINOT-RUBEN DE CARVALHO e JOSÉ MANUEL OSÓRIO - EDICLUBE - 1999 - LISBOA
- HISTÓRIA DO TEATRO DE REVISTA EM PORTUGAL - de Luiz Francisco Rebello - Vol. I - PUB. DOM QUIXOTE - 1984 - LISBOA.
- LISBOA EM 1551.- SUMÁRIO  - CRISTÓVÃO RODRIGUES DE OLIVEIRA - Ed. LIVROS HORIZONTE - 1987 - LISBOA.
- LISBOA, O FADO E OS FADISTAS - de EDUARDO SUCENA - VEGA - 2002 - LISBOA.
- NOBREZA DE PORTUGAL E DO BRASIL - Coord. A.E.M. ZUQUETE - Editorial Enciclopédica, Lda. - 1961 - LISBOA. 

INTERNET

- JUNTA DE FREGUESIA DA MADRAGOA
- REVELAR LX
- TOPONÍMIA DE LISBOA
- UNIVERSIDADE DO MINHO

(PRÓXIMO) - «ÍNDICE DE: LARGO, PRAÇAS, RUAS e TRAVESSA - EM 2017 E FREGUESIAS».

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