Para o leitor ter uma pálida ideia de como era a vida na cidade de Lisboa do século dezasseis ao século dezoito, nomeadamente nas suas ruas (tema que se enquadra com o nosso trabalho) aproveitamos uns extractos de opinião que alguns estrangeiros escreveram aquando da sua passagem pela nossa capital do reino.
Relatos de Letrados, Aventureiros e Aristocratas que estiveram em Portugal - nomeadamente em Lisboa - nos séculos XVI a XVIII e deixaram escritas as suas impressões sobre a cidade de Lisboa e seus habitantes.
RETRATO
(...)
De todas as cidades, Lisboa, Évora e Coimbra (estas duas são no interior) e o Porto, que tem o rio Douro, são as melhores, existindo em Coimbra um estudo público com afamados lentes.
Falando porém de Lisboa que é a principal cidade do reino e muito povoada (...), tem um clima muito doce e temperado, embora não esteja mais distante do Equador do que 39º pelo que parece se deveriam sentir os raios do Sol.Contudo, por estar situada na margem de um tão grande rio que, com o crescer e o baixar das águas, traz sempre consigo uma brisa ligeira, tira daí sobretudo a causa dessa temperança.
O sítio é belo e irregular, nem todo plano, nem todo acidentado, ornado de muitos templos devotos e ricos, alguns deles de razoável beleza, onde se efectuam serviços divinos com grande solenidade. (...)
O Rei tem dois palácios em Lisboa, um melhor do que outro, mas nem um nem outro se podem dizer de belos ou cómodos. Todavia, é nesta cidade que costumam os Reis viver a maior parte do tempo, tanto porque nela se fazem as armadas para todas as conquistas e comércios, como porque têm mais perto bosques e locais aprazíveis, quer para verão, quer para inverno.
A cidade não é muito agradável, mas antes tristonha, porque as RUAS não são largas nem direitas nem limpas, e as casas geralmente de pouca aparência de arquitectura. Deve-se andar a cavalo porque, por costuma, se tem pouca conta de quem anda a pé.
Os homens são de mediana estatura, mais sobre o pequeno do que sobre o alto, mais sobre o moreno do que sobre o louro, de aspecto triste, ao que ajuda ainda o facto de - sendo por lei proibido vestirem panos de seda - envergarem trajes de baeta(1) e de outros tecidos semelhantes que não causam bom aspecto, tanto mais que usam sempre o chapéu com os borzeguins(2). (...)
(Continua)
(1) - Tecido grosso de algodão
(2) - Antiga espécie de bota, com atacadores
Fragmentos de textos sobre Lisboa do Século XVI
«RETRATO E REVERSO DO REINO DE PORTUGAL» - 1578-1580
(Extractos) in A.H. de Oliveira Marques, Portugal Quinhentista (ensaios)
Alguns textos e fotos de ruas da minha terra, coisas que vou investigando e transcrevendo, dando assim conhecimento para quem como eu goste de Lisboa.
segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
domingo, 30 de dezembro de 2007
REFLEXÃO
As cidades, organismos vivos, possuem uma linguagem própria, contêm caracteres específicos, definem espaços originais, albergam gentes das mais variadas providencias e de diferentes formas de pensar e são habitadas por seres que as personalizam.
Neste conjunto diversificado de elementos naturais, as ruas reflectem algo do sentir e da vivência dos habitantes e daqueles que as percorrem diariamente ou de vez em quando. As ruas, quer sejam sujas tortuosas, íngremes, quer sejam planas ou irregulares, especialmente as mais antigas, mostram sempre uma das facetas do retrato da urbe e oferecem uma sequência cronológica. As ruas são, também,as artérias e as veias dum enorme corpo da cidade. Esta, para se conhecer e entender, obriga o interessado a percorrer o seu tecido viário. Desta maneira, é bom distingui-las umas das outras, através de sinais, das formas,dos cheiros, dos negócios, pelos ofícios e pelos eventos que ali aconteceram e acontecem.
Os seus nomes perpetuam homens célebres (Reis, nobres, santos, cientistas, estadistas, artistas, intelectuais, jornalistas, poetas, etc.) registam factos da imaginação popular, marcam uma atitude de graça, assinalam um momento inesquecível, vulgarizam uma alcunha, sublinham valores naturais.
Os nomes das Ruas de Lisboa podem dizer muito sobre a história da cidade, sobre a época em que nasceu a artéria ou sobre aquilo que ao longo dos tempos foi mais importante para quem lá vivia.
Desde a idade Média até ao terramoto de 1755, os nomes não existiam oficialmente. Sabe-se que as pessoas tinham de designar os sítios de alguma forma e,assim, foram surgindo vários nomes usados pelo povo. Só em 1758, durante o reinado de D. José I, são atribuídos nomes por decreto, na Baixa Pombalina, que serviam sobretudo como propaganda ao rei.
Em 1802, por necessidade dos Correios e de forma a melhorar a distribuição da correspondência, a Administração Geral dos Correios mandou, pela primeira vez, pintar os nomes das ruas nas esquinas das vias públicas da capital.
Na época liberal a partir de 1820 os nomes das ruas foram usados como propaganda, atribuindo-lhes nomes políticos. Com a instauração da República em 1910 foi a época em que mais se alterou os nomes das ruas. O Estado Novo devolverá alguns nomes, mas com o 25 de Abril de 1974 são mudadas novamente algumas designações.
Não é fácil ao comum cidadão, habituado que está em toda a sua vida a calcorrear ruas alcatroadas, ter consciência de que naqueles mesmos locais cresceram árvores, e de que houve pomares ou hortas. Ainda que a toponímia, às vezes, nos ajude (se, por exemplo, um sítio se chama "dos Olivais" é porque forçosamente, lá existiu grandes conjuntos de oliveiras), não se imaginam com facilidade campos de trigo em Campo de Ourique, nem hortaliças a despontarem na Avenida da Liberdade. Mas não nos admiremos pois, que dentro da Cidade de Lisboa existissem pastos, hortas, figueiras e ferregiais. Na verdade, O "campo" foi cedendo lugar à "cidade" através das sucessivas urbanizações.
Em cada rua ou recanto, em cada movimento das coisas, permanece um lento e longo processo de constituição, testemunhando um passado de décadas e ou de séculos que nos leva à sua definição actual.
Neste conjunto diversificado de elementos naturais, as ruas reflectem algo do sentir e da vivência dos habitantes e daqueles que as percorrem diariamente ou de vez em quando. As ruas, quer sejam sujas tortuosas, íngremes, quer sejam planas ou irregulares, especialmente as mais antigas, mostram sempre uma das facetas do retrato da urbe e oferecem uma sequência cronológica. As ruas são, também,as artérias e as veias dum enorme corpo da cidade. Esta, para se conhecer e entender, obriga o interessado a percorrer o seu tecido viário. Desta maneira, é bom distingui-las umas das outras, através de sinais, das formas,dos cheiros, dos negócios, pelos ofícios e pelos eventos que ali aconteceram e acontecem.
Os seus nomes perpetuam homens célebres (Reis, nobres, santos, cientistas, estadistas, artistas, intelectuais, jornalistas, poetas, etc.) registam factos da imaginação popular, marcam uma atitude de graça, assinalam um momento inesquecível, vulgarizam uma alcunha, sublinham valores naturais.
Os nomes das Ruas de Lisboa podem dizer muito sobre a história da cidade, sobre a época em que nasceu a artéria ou sobre aquilo que ao longo dos tempos foi mais importante para quem lá vivia.
Desde a idade Média até ao terramoto de 1755, os nomes não existiam oficialmente. Sabe-se que as pessoas tinham de designar os sítios de alguma forma e,assim, foram surgindo vários nomes usados pelo povo. Só em 1758, durante o reinado de D. José I, são atribuídos nomes por decreto, na Baixa Pombalina, que serviam sobretudo como propaganda ao rei.
Em 1802, por necessidade dos Correios e de forma a melhorar a distribuição da correspondência, a Administração Geral dos Correios mandou, pela primeira vez, pintar os nomes das ruas nas esquinas das vias públicas da capital.
Na época liberal a partir de 1820 os nomes das ruas foram usados como propaganda, atribuindo-lhes nomes políticos. Com a instauração da República em 1910 foi a época em que mais se alterou os nomes das ruas. O Estado Novo devolverá alguns nomes, mas com o 25 de Abril de 1974 são mudadas novamente algumas designações.
Não é fácil ao comum cidadão, habituado que está em toda a sua vida a calcorrear ruas alcatroadas, ter consciência de que naqueles mesmos locais cresceram árvores, e de que houve pomares ou hortas. Ainda que a toponímia, às vezes, nos ajude (se, por exemplo, um sítio se chama "dos Olivais" é porque forçosamente, lá existiu grandes conjuntos de oliveiras), não se imaginam com facilidade campos de trigo em Campo de Ourique, nem hortaliças a despontarem na Avenida da Liberdade. Mas não nos admiremos pois, que dentro da Cidade de Lisboa existissem pastos, hortas, figueiras e ferregiais. Na verdade, O "campo" foi cedendo lugar à "cidade" através das sucessivas urbanizações.
Em cada rua ou recanto, em cada movimento das coisas, permanece um lento e longo processo de constituição, testemunhando um passado de décadas e ou de séculos que nos leva à sua definição actual.
sábado, 29 de dezembro de 2007
APRESENTAÇÃO
APRESENTAÇÃO
As Ruas de Lisboa, como de outras cidades, vilas, aldeias ou lugares, são as artérias, as veias capilares que estruturam a circulação do espaço por onde transitam as pessoas, os veículos, e no passado os animais. O domínio público é retalhado. Ele fractura o espaço habitacional e permite que o "sangue" flua nos vasos comunicantes que formam o corpo.
O presente trabalho compreende algumas das Ruas, Becos, Calçadas, Largos, Praças e Travessas da cidade de Lisboa que possuem alguma história.
É resultado de pesquisa, de interpretação e de articulação de elementos recolhidos e da visita «in loco», que fizemos aos espaços mencionados.
A sua publicação vai ao encontro dos interesses pela toponímia da cidade de Lisboa. O texto responde aos propósitos da divulgação da história da nossa cidade, uma história que passa, indubitavelmente, palas suas Ruas.
Reflecte um processo contínuo de afirmação das suas gentes e exalta os valores que a tornaram maior no contexto geral da sua ancestralidade.
Estamos convictos de que este trabalho contribuirá para o enriquecimento cultural dos habitantes e de que oferecerá também, os elementos e os estímulos suficientes para se alcançar uma obra complementar para a toponímia de Lisboa.
São também lembrados alguns textos que remontam a anos anteriores, registando portanto uma observação feita ao longo de anos. No entanto no que se refere aos dados históricos, estes não sofreram alteração.