Poço do Borratém - (1945) Foto de André Salgado (As bicas do Poço do Borratém nos anos quarenta do século XX) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa.
(CONTINUAÇÃO)
O POÇO DO BORRATÉM
«O POÇO » (2)
As portas do casarão lajeado e abobadado onde fica «O POÇO» eram fechados à noite pelo claviculário que era o capataz da Companhia. Pois agora (1935) - diz Júlio de Castilho - já se não fecha tal porta; e o público por mercê de um bico de gás aceso na loja, pode, também à noite, ir utilizar as águas salobras do Borratém.
Já lá dizia no "Pranto de Maria Parda" de Gil Vicente em 1522, «muita água há em Borratém e no poço do tinhoso». Maria Parda lamentava-se pela falta de vinho nas tabernas de Lisboa, evocando os tempos em que ele era abundante e barato. Depois, resolve pedir o vinho fiado a alguns taberneiros que lho negam. Por fim, decide morrer e pronuncia um extenso testamento que se refere obsessivamente ao vinho. Podemos acreditar que Maria Parda foi um símbolo, uma representação metafórica da realidade de Lisboa naquele tempo. Época de fome e miséria, acarretadas pela seca que assolou o país em 1521, devastando as vinhas e vitimando a população de fome ou deixando-a passar grande necessidade.
O nome do «Poço» deu origem a um período de trocadilhos, que vem registado no «ANATÓMICO JUCOSO»: (...) «arrumou-se o Poço do Borratém, e foi-se pôr a um canto: todos os que vão ter com "ELE", vão de balde, pois ele não concorda, mas só com comédias de Caldeirão se trata».
No «AQUILÉGIO MEDICINAL» e a «POLYANTHÊA» gabam a abundância e as virtudes da nascente, cada um com o seu ponto de vista.
Existem pessoas autorizadas, que dizem das propriedades medicinais da água do Borratém serem "salobras e detestáveis". O ilustrado Francisco Manuel de Mendonça (falecido BARÃO DE MENDONÇA) propôs, em 21 de Novembro de 1867, numa sessão da CML, que atendendo às "propriedades medicinais" da dita água, cessasse de funcionar naquele poço a companhia de aguadeiros, passando para o chafariz do Socorro, e que nomeassem dois veteranos para guardas desta «NÁIADE» histórica.
A proposta foi mandada para o conselho de saúde, mas não lhe sabemos o resultado(1).
(1) - ARCHIVO MUNICIPAL DE LISBOA, 1867, Nº 414 pág. 33/47 - Actualmente (1935) a água do Poço é aproveitada pelo proprietário do 1º andar do prédio, que nele tem instalado uma hospedaria (HOTEL PENINSULAR) e um estabelecimento de banhos; a água é elevada por uma bomba com motor eléctrico, montada na cobertura do poço. A câmara do poço, para serventia do público, tem três torneiras, mas alimentadas com água da Companhia das Águas de Lisboa - Nota do Engº A. Vieira da Silva.
(CONTINUA) - (Próximo) «O POÇO (3)»
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