segunda-feira, 30 de março de 2009

CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA [VI]

Calçada da Cruz da Pedra - (s/d)- Fotógrafo não identificado (6º Conde de São Vicente D. Manuel Carlos da Cunha e Távora) in general.net
Calçada da Cruz da Pedra - (s/d) - Fotógrafo não identificado (Rua da Madre de Deus ao cimo a Calçada da Cruz da Pedra) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
(CONTINUAÇÃO)
CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA
«O 6º CONDE DE SÃO VICENTE (1)»
Manuel Carlos da Cunha e Távora 6º Conde de São Vicente, nasceu a 29.01.1749 e faleceu a 08.12.1795.
Este fidalgo esteve envolvido num episódio que muito apaixonou a opinião pública da época e que o forçou a retirar-se a toda a pressa, para Espanha, para assim se furtar a mais graves consequências.
Vivia então com seus pais e uma irmã, perto das Salgadeiras, ao Bairro Alto, uma jovem actriz,
conhecida popularmente pela Francisquinha e que, por ser filha de um esteireiro, tinha a alcunha de «ESTEIREIRA». A sua beleza e a sua desenvoltura deliciavam as plateias dos teatros do Bairro Alto e da Rua dos Condes, trazendo incendiados os corações de muitos dos espectadores que, terminada a representação, a seguiam até à sua morada e por ali ficavam na esperança de, noite alta, lhe poder falar. Era toda a juventude peralta, fidalga e não fidalga, de Lisboa pombalina ainda mal refeita do terramoto.
Perto da casa da Francisquinha vivia um mestre-de-campo dos Auxiliares de Trás-os-Montes, José Leonardo Teixeira Homem, rapaz conhecido pela sua elegância e pela fama de várias aventuras amorosas, que logo passou notoriamente a fazer parte do grupo de galanteadores, ateando vastos ciumes entre os demais concorrentes, entre os quais se encontrava também o Conde de São Vicente.
Uma noite, em meados de Novembro de 1774, Teixeira Homem recolhia a casa já de madrugada, quando seis embuçados armados investiram com ele, acabando por matá-lo e abandonando o seu cadáver na rua até que de manhã foi encontrado, com grande emoção da população de todo o bairro e depois de toda a Lisboa.
Surgiram as insinuações de que o assassino só poderá ter sido cometido ou ordenado por algum dos admiradores da «ESTEIREIRA», por motivo de ciúmes, e logo as suspeitas caíam sobre o Conde de São Vicente que, por ser pessoa de alta estirpe, rodeado de lacaios obedientes, poderia com facilidade preparar a espera e mandar matar o rival.
A qualidade do morto e o romance do drama bastavam para atrair as atenções gerais e Lisboa inteira expandia-se em vociferações contra o fidalgo e em versos insultuosos, como aquele que uma manhã apareceu escrito num papel afixado no Pelourinho que há pouco havia sido erguido na Praça do Município.
Está belo e excelente
P'ra o CONDE de SÃO VICENTE (1).
(1) - NOBREZA DE PORTUGAL E DO BRASIL - Direcção e coordenação do Dr. Afonso Eduardo Martins Zuquete - Editorial Enciclopédia, Lda.- Lisboa e Rio de Janeiro Volume III - 1961 Página 358.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA [VII] - O 6º CONDE DE SÃO VICENTE (2)»


sexta-feira, 27 de março de 2009

CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA [V]

Calçada da Cruz da Pedra - (c. 1940) - Foto de Eduardo Portugal (Palácio na Calçada da Cruz da Pedra que pertenceu ao Visconde de Manique ao fundo) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
Calçada da Cruz da Pedra - (194_) Foto de Eduardo Portugal ( Terrenos do Visconde de Manique na Cruz da Pedra) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

(CONTINUAÇÃO)
CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA
«PALACETE DO MANIQUE (2)»
Numa parte do terreno onde existia o Palacete dos Manique, está hoje instalada a «ESCOLA DO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO Nº 15», com entrada principal pelo número 2 e 4 da Calçada das Lajes.
Construída de raiz, veio substituir a Escola Primária de ambos os sexos, que era ministrada na fachada lateral do Convento de Santos-o-Novo. Estas instalações são pertença da Câmara Municipal de Lisboa.
Os terrenos a nascente deste Palácio, até às antigas «PORTAS FISCAIS DA CRUZ DA PEDRA», que integravam na propriedade de «PINA MANIQUE», foram local de uma fábrica, cuja firma era designada por G. & H. Hall. Lda., que se dedicava à fabricação de águas gasosas «PIROLITOS»(1), fundada em 1893 pelo citado industrial inglês «GEORGE ALEXANDER HALL» na Rua de Santa Ana, passando em 1894 para os terrenos à Cruz de Santa Apolónia e Mirante, transitando para este sítio da «CRUZ DA PEDRA» definitivamente no ano de 1898.
Georg Hall dera sociedade a um seu irmão. Após os seus falecimentos, a fábrica fica na posse das viúvas e de três filhos do fundador; «VIOLET», «GEORGE» e «CECIL», estes dois últimos habitaram em casas próprias construídas na quinta dos Manique e dos São Vicente.
Falando mais um pouco das antigas «PORTAS FISCAIS DA CRUZ DA PEDRA» é Frei Nicolau de Oliveira no seu «LIVRO DAS GRANDEZAS DE LISBOA» na página número 577, no seu tratado quinto «DAS ENTRADAS E SAÍDAS DE LISBOA», que nos relata o seguinte: «Esta cidade tem melhores, mais alegres e aprazíveis entradas e saídas que nenhuma outra da Europa.
Se se entra pela parte de XABREGAS, vindo do Oriente, tem uma parte de riquíssimas hortas e quintas; e de outra o rio, que com suas águas vem quase banhar a entrada.
Se se entra pelo Vale de Chelas, é o mais fresco e ameno que se sabe daqui a muitas léguas».
(1) - Espécie de bebida gasosa, antigamente servida numa garrafa (muito especial) cujo gargalo continha um berlinde.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) «CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA [VI] - 6º CONDE DE SÃO VICENTE (1)»

segunda-feira, 23 de março de 2009

CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA [IV]

Calçada da Cruz da Pedra - (1956) -Foto de Armando Serôdio (Inicio da Calçada das Lajes frente para a Calçada da Cruz da Pedra, onde esteve instalado parte do Palácio dos Viscondes de Manique, hoje Escola do 1º Ciclo do Ensino Básico Nº 15, com entrada pela Calçada das Lajes) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
Calçada da Cruz da Pedra - (1942) - Foto de Eduardo Portugal (Baluarte de Santa Apolónia dentro da Quinta que pertenceu ao Visconde de Manique) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
(CONTINUAÇÃO)
CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA
«PALACETE DO MANIQUE (1)»
O Palacete ao fundo da Calçada das Lajes do lado direito de quem sobe, (era visível na verga do portal em letra de pedra - dos anos setecentos - o número dois antigo) com frente para a Calçada da Cruz da Pedra, pertencia em meados do século XIX ao 1º Visconde de Manique do Intendente, (Pedro António de Pina Manique Nogueira Matos de Andrade), nascido no ano de 1774 em Lisboa, faleceu nesta cidade a 05.11.1839.
Era filho do célebre Intendente da Polícia (Diogo Inácio de Pina Manique) 1ºsenhor da Vila da Manique.
Anos mais tarde foi este Palacete vendido pelos Maniques, ao Conde de São Vicente, que o possue em 1893 e que nele residiu poucos anos(1).
No tempo em que este Palacete era pertença dos Condes de S. Vicente, muitas histórias correram por Lisboa protagonizadas principalmente, pelo 6º Conde de S. Vicente D. Manuel Carlos da Cunha e Távora, que contarei mais à frente noutros episódios.
Os herdeiros do último Conde de S. Vicente que tinham habitado este palacete resolveram alienar o património.
Foi adquirido em haste-pública, o bloco urbano do Palacete, com seus amplos terrenos pelo industrial de bolachas senhor Eduardo da Conceição e Silva.
No último quartel do século XIX foi adquirida toda a propriedade por «GEORGE ALEXANDER HALL JÚNIOR», da qual mais tarde, vendeu parte restrita ao Palacete, ao pai de João da Fonseca Vinha.
Já no século XX o Palacete estava novamente para venda, apresentava alguns azulejos do século XVIII, e estes mesmo muito triviais.
(1) - A Ribeira de Lisboa de Júlio Castilho, Volume I, página 94 (1893)
(CONTINUA) - ( PRÓXIMO) - «CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA [V] - PALACETE DO MANIQUE (2)»

sexta-feira, 20 de março de 2009

CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA [III]

Calçada da Cruz da Pedra - (c. 1940) Foto de Eduardo Portugal (Palácio do 9º Conde da Feira em primeiro plano, mais ao fundo o Palácio do Visconde de Manique) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
Calçada da Cruz da Pedra - (1967) Foto de Vasco Gouveia de Figueiredo (Palácio D.Miguel Pereira Forjaz e Escola com entrada pela Calçada das Lajes, 2 e 4) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

Calçada da Cruz da Pedra - (1968) Foto de Armando Madureira (Ao fundo a entrada para o Convento de Santos-o-Novo, casas de habitação e muro dos jardins do Palácio de D. Miguel Pereira Forjaz) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

(CONTINUAÇÃO)
CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA
«PALÁCIO DE D. MIGUEL PEREIRA FORJAZ»
Nesta Calçada da Cruz da Pedra para poente da Calçada das Lajes, encontramos no número 58 um Palacete que no século XVII pertenceu a D. Álvaro Pereira de Forjaz Coutinho.
No segundo quartel do século XVIII era propriedade de seu filho D. Miguel Pereira Forjaz, 9º Conde da Feira, sendo herdado mais tarde por um seu sobrinho o Visconde de Vila Nova do Souto de El-Rei, D. António José de Almada (1).
Diz-nos o mestre Luís Pastor de Macedo que em 1812 está ali instalado o «COLÉGIO DE NOSSA SENHORA DA LUZ» (2), cujo reitor, em Outubro do mesmo ano, convidou o público a assistir aos exames que lá se iam fazer «No dia 9 do corrente, no Colégio de Nossa Senhora da Luz à Cruz da Pedra, no Palácio do Excelentíssimo Senhor D. Miguel Pereira Forjaz, pelas duas horas e meia da tarde se hão-de fazer exames públicos para que se anuncia ao respeitável público, para todo o que quiser honrar aquele acto com a sua atenciosa presença, se dirigir ao mencionado lugar, ficando por isto o reitor do mencionado Colégio sumamente agradecido a todos os senhores que assim o fizerem»(3).
A 20 de Abril de 1816 voltava a «GAZETA DE LISBOA» a anunciar, que «nas casas que é proprietário o senhor D. Miguel Pereira Forjaz, junto ao Convento das Freiras de Santos, antes de chegar ao Arco da Cruz da Pedra», se vendiam no dia 22 daquele mês «boas camas, cadeiras, mesas, um órgão e um piano forte», etc..
D. Miguel Pereira Forjaz, foi-lhe atribuído o titulo de Conde da Feira por Decreto de 13 de Maio de 1820, foi membro do Concelho da Regência e Encarregado das pastas dos Negócios Estrangeiros e Guerra (quando El-Rei D. João VI foi para o Brasil), proprietário do Palácio da Cruz da Pedra até à data de seu falecimento, ocorrido a 6 de Novembro de 1827. Era este Conde irmão da senhora Viscondessa de Vila-Nova do Souto d'el-Rei, D. Maria Joana do Monte Forjaz da Câmara e Meneses, mãe do último Visconde do Souto, D. António José Almada Melo Velho Lencastre de Carvalho da Fonseca Castro e Camões, a quem o Palacete veio a pertencer.
No ano de 1872 é comprado por via judicial por José Joaquim de Oliveira e sua mulher, que passado um ano o venderam à Condessa da Foz, D. Mariana Palha de Faria e Lacerda, viúva, senhora da família Palha (na Rua de Santa Apolónia), que no ano de 1884 o vendeu a D. Gonçalo Pereira da Silva de Sousa e Meneses, 3º Conde de Bertiandos, casado com D. Ana da Bragança de Sousa e Ligne Portugal e Castro Álvares Pereira de Melo, da Casa de Lafões. O Palacete em 1939 continuava na posse desta família.
(1) - Livro XI de casamentos, fl. 247 - Santa Engrácia - Na nota Nº 1 do 1º Volume de A Ribeira de Lisboa, pág. 252 e seg. damos notícia dos Pereiras Forjaz, que segundo os assentos paroquiais, nasceram e faleceram nas Casas da Cruz da Pedra.
(2) - Gazeta de Lisboa, de 9 de Janeiro de 1812
(3) - Gazeta de Lisboa, de 15 de Outubro de 1812
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) «CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA [IV] - PALÁCIO DO MANIQUE (1)»

segunda-feira, 16 de março de 2009

CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA [II]

Calçada da Cruz da Pedra - (s/d) - (Desenho de J.P.Barros) (QUINTA DO MANIQUE -Fragmento da Planta de Lisboa que contém o sítio da Cruz da Pedra - Escala 1:1ooo - Sobreposta a vermelho, as plantas do Baluarte de Santa Apolónia e do desaparecido Forte da Cruz da Pedra e seu Arco) in Dispersos de Augusto Vieira da Silva Vol. I -página 162-A - Publicações Culturais da Câmara Municipal de Lisboa - 1968.
Calçada da Cruz da Pedra - (s/d) - Fotógrafo não identificado (Início da Cruz da Pedra) in AFML
(CONTINUAÇÃO)
CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA
«O SÍTIO DA CRUZ DA PEDRA (2)»
A mais antiga referência a esta rua que até agora encontrámos, foi o anúncio do falecimento de Diogo Lopes de Sequeira, sucedido em 28 de Janeiro de 1593 (século XVI), dizendo que ele era morador «á cruz de pedra da madre de Deus»(1), forma de designar que ao mesmo tempo nos indica o sítio aproximado onde a cruz se erguia.
Espaço desafogado a quem em tempos teriam chamado o Largo da Cruz da Pedra (2).
Diz-nos também Luís Pastor de Macedo no seu livro «LISBOA DE LÉS A LÉS» que ainda em 1647 se dizia, embora isoladamente, que fulano «morava em o caminho de Chelas por cima da Cruz de Pedra»(3), mas desde então e até aos nossos dias, a cruz deixou de ser «de pedra» e passou a ser «da pedra».
Nesta Calçada da Cruz da Pedra saia outra calçada que foi das mais concorridas serventias ligando o nordeste da cidade à Crua da Pedra, esta «CALÇADA DAS LAJES», muito antiga, e cuja denominação teve ressonância na Lisboa arrabaldina.
Em pleno século XVIII ainda por ali acima, a Norte, era tudo rústico, não havendo, aliás, até meados do século XIX mudado sensivelmente o cenário.
A Calçada da Lajes abre, nesta Cruz da Pedra (que Estrada foi), por dois palacetes - que falaremos mais adiante - solares antigos (4), um que ainda existe (o da esquerda quem sobe), o outro foi demolido (parcialmente) e, no seu lugar, foi construída a Escola do 1º Ciclo do Ensino Básico Nº 15, com entrada pela Calçada das Lajes.
(1) - Reg. da Freguesia da Sé, Vol.I, pág.69
(2) - Liv. IV de óbitos, fl. 79V - Santa Engrácia -ano 1764
(3) - Liv. A de óbitos, fl. 109 - Santa Engrácia
(4) - Solares antigos, situados na esquina dos ângulos exteriores nascentes e poente; eles constituíam a mancha solarenga arrabaldina, como que uma especié de porta flanqueada.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA [III] - (PALÁCIO DE D. MIGUEL PEREIRA FORJAZ)

quarta-feira, 11 de março de 2009

CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA [I]

Calçada da Cruz da Pedra - (2009) -(Foto de Satélite) LEGENDA DA FOTO - A)-Calçada da Cruz da Pedra - B)-Palácio D.Miguel Pereira Forjaz - C)-Palácio e terrenos do Visconde de Manique - D)-Forte da Cruz da Pedra - E)-Baluarte ou Forte de Santa Apolónia - F)-Passadiço ou Arco da Cruz da Pedra in Wikimapia
Calçada da Cruz da Pedra - (s/d) Fotógrafo não identificado (Guarda das Barreiras-Casa onde existia o posto fiscal) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA
«O SÍTIO DA CRUZ DA PEDRA (1)»
A CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA pertence à freguesia de «SÃO JOÃO». Tem início na convergência da Rua da Madre de Deus (antiga Rua Direita da Madre de Deus) com a actual Rua Nelson de Barros (antiga Estrada da Circunvalação) e finaliza na Rua de Santa Apolónia.
«CRUZ DA PEDRA» - ou melhor de devia dizer «CRUZ DE PEDRA» - é uma designação mais provável das hipóteses, tem a sua origem numa cruz feita de pedra que existia neste sítio, ao cimo da ladeira que ligava ao Convento da Madre de Deus.
A Cruz, encontra-se representada num painel de azulejos (antes de 1755) no Museu do Azulejo em Xabregas.
Nesta rua era feito o transito para se entrar em Lisboa; o traçado da linha primitiva dos Caminhos de Ferro limitou-se, afinal, a acompanhar esta artéria. A muralha deste caminho, sobre o rio, que foi construída entre 1769 e 1770, e quase toda a margem Sul desta rua até Xabregas é presentemente domínio da C.P.
A Estrada da Circunvalação decretada em 1852, tem início na Cruz da Pedra (mapa da Planta de Lisboa em 1874 de José Pires Barroso, cap.) (1).
No lado oposto ao Forte da Cruz da Pedra, mesmo no início da Calçada da Cruz da Pedra, foi construída em meados do século XIX, a casa da «GUARDA DAS BARREIRAS» da cidade, para execução do decreto de 11 de Setembro de 1852 que reformou o Município de Lisboa.
"Os Guardas-Barreiras eram os agentes que, postados em zonas estratégicas no limite da cidade, tinham por missão controlar a entrada de mercadorias, algumas das quais se sujeitavam ao pagamento de imposto" (2).
Estas barreiras foram suprimidas em 30 de Setembro de 1922, mantendo-se a casa que servia de posto fiscal daquela área, demolida no último quartel do século passado,para enquadrar aspectos de uma nova urbanização.
Estando esta rua muna zona onde se situavam várias quintas,o local só passou a integrar a zona urbana da cidade na segunda metade do século XIX, na sequência da construção da Estrada da Circunvalação (artéria que corresponde hoje a Rua Nelson de Barros e Avenida D. Afonso III).
(1) - Dispersos Volume I -1968 - Lisboa - Página 68
(2) - Furtado, Mário - Do Antigo Sítio de Xabregas - 1997 - Lisboa - Página 80
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - (O SÍTIO DA CRUZ DA PEDRA [2])

segunda-feira, 9 de março de 2009

RUAS - RELACIONADAS COM O BRASIL NA TOPONÍMIA DE LISBOA [V]

Rua Padre António Vieira - (195-?) Foto de Arnaldo Madureira (Rua Padre António Vieira) in AFML.
Rua Padre António Vieira - (195_?) - Foto de Arnaldo Madureira ( Rua Artilharia 1, esquina com a Rua Padre António Vieira) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa.
(CONTINUAÇÃO)
«RUAS (5)»
RUA PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1909) - (Missionário, Pregador, Diplomata e Escritor)
Pertence à freguesia de «SÃO SEBASTIÃO DA PEDREIRA», começa na Rua Castilho no número 209 e finda na Rua Artilharia 1 no número 102.
Tinha como antiga designação a Rua «D» entre a Rua José da Silva Carvalho e a Rua Castilho.
Por deliberação Camarária de 21.10.1909 este topónimo que homenageia o «PADRE ANTÓNIO VIEIRA» (Lisboa/1608-1697) que se distinguiu como missionário, pregador, diplomata, político e escritor.
Aos sete anos partiu com a família para a Baía (BRASIL), onde o pai foi secretário da Governação. Estudou no Colégio Jesuíta da Baía e ingressou na Companhia de Jesus, recebendo ordens em 1635 e iniciando nessa altura o seu trabalho como pregador. Em 1941 regressa a Lisboa com o governador, para apresentar ao Rei D. João IV a adesão à causa da Restauração. O Rei encarregou-o de várias missões diplomáticas na Holanda e em Roma, mas não sendo bem sucedido neste cargo, regressou novamente ao Brasil e dedicou-se à missionação junto dos índios. Após a morte de D. João IV, a Inquisição acusou-o de professar opiniões heréticas (1662-1667), mas acabou absolvido com a subida ao trono de D. Pedro II. Depois de novo e intenso período de trabalho como diplomata em Roma e como pregador, regressa definitivamente à Baía, onde morre com quase 90 anos de idade. Além dos «SERMÕES» (conjunto de 13 tomos publicados entre 1679 e 1699), escreveu «ESPERANÇA DE PORTUGAL» e «HISTÓRIA DO FUTURO»(1).
Ao terminarmos esta enumeração de Avenidas, Praças e Ruas lisboetas relacionadas com o Brasil, queremos deixar bem explicito que não existiu em nós nenhum sectarismo. Ficaram, com toda a certeza, muitas artérias por descrever, mas temos de terminar (por agora) este capítulo e continuar a aspirar e acreditar que Lisboa nos traga para a a sua Toponímia, mais motivos de ligação com o BRASIL.
(1) - Divisão de Alvarás, Escrivania e Toponímia da CML.

(PRÓXIMO) - «CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA»

sábado, 7 de março de 2009

RUAS - RELACIONADAS COM O BRASIL, NA TOPONÍMIA DE LISBOA [IV]

Rua Rui Barbosa - (195_?) - Foto de Artur Goulart (A Rua Rui Barbosa na freguesia de Santa Engrácia) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
Rua Rui Barbosa - (s/d) (Autor não identificado) (Busto de Rui Barbosa) in http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/rui-barbosa
Rua Rui Barbosa - (s/d) - (Fotógrafo não identificado) (Fotografia de Rui Barbosa) in http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/rui-barbosa/imagem
(CONTINUAÇÃO)
«RUAS (4)»
RUA RUI BARBOSA (1924) - (Jurista, Político, Diplomata e Jornalista)
Pertence à freguesia de «SANTA ENGRÁCIA», começa na Rua Washington no número 49-A e finaliza na Rua do Mato Grosso no número 51.
Com deliberação Camarária de 25.11.1918 e Edital de 17.10.1924, teve como designação anterior o nome de «RUA 3 DO BAIRRO AMÉRICA».
Assim, neste arruamento do Bairro América está consagrado o Político e orador brasileiro «RUI BARBOSA DE OLIVEIRA SALVADOR» (05.11.1849-01.03.1923).
Jornalista fogoso e orador torrencial teve um importante papel na luta contra a ditadura e na defesa do principio da igualdade das nações (1).
«SANTA ENGRÁCIA» não é autarquia muito exigente, mas o que tem é de primeira. Por isso lá fica o «PANTEÃO NACIONAL» e, quanto ao Brasil, apanhou nos anos vinte, esta RUA dedicada ao homem que foi JURISCONSULTO, ESCRITOR e JORNALISTA, e que não contente com isso arranjou ainda espaço para homenagear todo o «MATO GROSSO» não cuidando de saber se é do Norte ou do Sul. Estranhas artes terá tido este estado brasileiro para se fazer representar em Lisboa, em detrimento de outras que, aparentemente, seriam mais conhecidos. Mas lá está com todo o direito.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - (RUAS-RELACIONADAS COM O BRASIL NA TOPONÍMIA DE LISBOA [V] - RUA PADRE ANTÓNIO VIEIRA)



quarta-feira, 4 de março de 2009

RUAS - RELACIONADAS COM O BRASIL NA TOPONÍMIA DE LISBOA [III]

Rua Luís Fernandes - (2006) - Foto de Pedro Rodrigues (Palacete onde está instalado o British Council na Rua Luís Fernandes-antiga travessa de São Marçal) in http://pedrito1974.blogspot.pt/126941.html
Rua Pedro Calmon, 2 a 18 - (1968) - Foto de Arnaldo Madureira (Antiga Rua Avelar Brotero) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

Rua Pedro Calmon - (1945) - Fotógrafo não identificado (Imagem de Pedro Calmon) in www.academia.org.br/
(CONTINUA)
«RUAS (3)»
RUA LUÍS FERNANDES (Capitalista e Coleccionador) - RUA PEDRO CALMON (Escritor e Advogado)
RUA LUÍS FERNANDES (1923)
Pertence à freguesia de «SÃO MAMEDE», com início na Rua de São Marçal e finaliza na Rua do Monte Olivete, 16.
Esta Rua teve como designações anteriores, Travessa de São Marçal e Travessa de São Francisco de Borja.
Luís Fernandes Capitalista e Coleccionador brasileiro (Baía/30.11.1850 - 06.02.1922/Paris), conhecido como «Menino de Ouro» que era o dono do Palacete onde hoje se encontra o Instituto Britânico e que dá nome a esta rua.
Coleccionador de objectos de arte e presidente do grupo dos Amigos do Museu de Arte Antiga, retirou-se para Paris em 1886 e legou as suas colecções ao Museu Nacional de Arte Antiga que as tem agrupadas numa sala com o seu nome, bem como à Academia de Belas-Artes do Rio de Janeiro e aos Instituto Geográfico e Histórico da Baía. Foi o organizador e principal doador da Secção Portuguesa do Museu e Biblioteca da Grande Guerra de Paris.
A ele se deve, em grande parte, a elaboração do 1º curso de Hotelaria em Portugal (1908) que funcionava na Casa Pia (1).
RUA PEDRO CALMON (1987)
Pertence à freguesia de «ALCÂNTARA», tem início na Rua dos Lusíadas e termina na Calçada da Tapada.
Teve como designação anterior «RUA AVELAR BROTERO».
Com edital de 07.09.1987 foi homenageado com o nome de rua, por sugestão da Academia Portuguesa de História.
PEDRO CALMON MONIZ DE BETTENCOURT nasceu em «MARAGASA» em 23.12.1902 e faleceu no Rio de Janeiro em 18.06.1985. Historiador brasileiro que se celebrizou com a sua «HISTÓRIA DO BRASIL», em 7 volumes.
Licenciado em Direito, desde 1924, foi professor Catedrático e escritor bem como sócio de mérito da Academia Portuguesa de História, reitor honorário da Universidade Federal, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil e uma das maiores figuras intelectuais do Brasil contemporâneo (1).
Nada mais justo do que a atribuição do topónimo. Talvez, no entanto, o ilustre advogado e escritor, não ficasse muito contente ao ser-lhe atribuída a rua, se tivesse sabido que, para que o seu nome figurasse ao pé do jardinzinho do Alto de Santo Amaro, foi sacrificado o topónimo de «BROTERO», há muito consagrado naquele bairro. Diga-se na verdade que o nosso botânico não ficou lesado porque tem outra Rua com o seu nome na Ajuda - e tudo acabou, aparentemente, em bem - mas ninguém gosta de ser glorificado à custa alheia.
(1) - Divisão de Alvarás, Escrivania e Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa - http://toponimia.cm-lisboa.pt/
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - (RUAS - RELACIONADAS COM O BRASIL NA TOPONÍMIA DE LISBOA [IV] - RUA RUI BARBOSA).

domingo, 1 de março de 2009

RUAS - RELACIONADAS COM O BRASIL NA TOPONÍMIA DE LISBOA [ II ]

Rua José Lins do Rego - (2006)- Fotógrafo não identificado (Rua que mais parece uma Praceta num dia de neve) in jornalpraceta.no.sapo.pt/neve.htm
Rua José Lins do Rego - (195_) Foto de Artur Goulart in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

Rua Dinah Silveira de Queiroz - (s/d) - Foto de autor não identificado (Dinah Silveira) in www.academia.org.br/sys/start.htm?sid=131
(CONTINUAÇÃO)
«RUAS (2)»
RUA DINAH SILVEIRA DE QUEIROZ (Escritora) - RUA JOSÉ LINS DO REGO (Escritor)
RUA DINAH SILVEIRA DE QUEIROZ ( 1984)
A Rua Dinah Silveira de Queiroz, pertence à freguesia de «MARVILA», começa na Azinhaga da Salgada e finda na Azinhaga do Ferrão. Hoje início no prolongamento da Rua J13 e acaba na Avenida João Paulo VI.
A sua anterior designação era chamada pela Rua L1 da Zona «L» de Chelas.
Por Edital de 28.02.1984 passou a designar-se Rua Dinah Silveira de Queiroz, nascida em São Paulo a 09.11.1911 e faleceu no dia 27.11.1982. Escritora e esposa do Embaixador do Brasil em Lisboa (Dario de Castro Alves).
Descendente de uma antiga família de São Paulo, constituída por escritores e outras personalidades, sentiu o incentivo de escrever ainda na adolescência. Casou-se em 1929 com o desembargador Narcélio de Queiroz. Voltou à Europa com o seu 2º marido, o diplomata Dario de Castro Alves, cuja cadeira ocupava na Academia Brasileira de Letras.
Escreveu vários livros sendo o seu último livro de literatura infantil «O LIVRO DOS TRANSPORTES» (1969). Era sócia da Academia de Ciências de Lisboa (1).
Esta doce escritora de «FLORADAS NA SERRA» tem por vizinhas as velhas azinhagas lisboetas, mas, certamente não se acha em mau sítio. Cabe-lhe assistir ao renascimento de uma parte da cidade que se chegou a temer ficar ao abandono.
RUA JOSÉ LINS DO REGO (1960)
Pertence à freguesia do «CAMPO GRANDE», começa na Rua Afonso Lopes Vieira no número 52-A.
A sua designação era o arruamento ou Praceta projectada entre a Avenida do Brasil e as Ruas António Pusich e Afonso Lopes Vieira (Proc. 22829/60).
José Lins do Rego Cavalcanti (Pernambuco/03.06.1910 - 12.10.1957/Rio de Janeiro) licenciou-se em Direito e tornou-se Magistrado em 1925.
Mas a sua figura impôs-se sobretudo como escritor, nomeadamente como grande impulsionador da literatura regionalista do Nordeste do Brasil e com o seu 1º livro: «Menino de Engenho» (1923), integrou o neo-realismo pós-modernismo brasileiro (1).
Quando este romancista brasileiro em 1951, visitou Portugal acompanhando os jogadores do Flamengo, Torga numa recepção em Coimbra dirigiu-lhe as seguintes palavras: "na adulta consciência de um dos seus maiores escritores e na destreza lúdica da sua mocidade, visita-nos a descomunal grandeza do Brasil". A Rua de Lisboa foi um acto de justiça em relação a quem nos deu como ninguém a epopeia do nordestino brasileiro.
(1) - Divisão de Alvarás, Escrivania e Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa - http://toponimia.cm-lisboa.pt/

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