Calçada da Cruz da Pedra - (s/d) - Fotógrafo não identificado (Rua da Madre de Deus ao cimo a Calçada da Cruz da Pedra) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
(CONTINUAÇÃO)
CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA
«O 6º CONDE DE SÃO VICENTE (1)»
Manuel Carlos da Cunha e Távora 6º Conde de São Vicente, nasceu a 29.01.1749 e faleceu a 08.12.1795.
Este fidalgo esteve envolvido num episódio que muito apaixonou a opinião pública da época e que o forçou a retirar-se a toda a pressa, para Espanha, para assim se furtar a mais graves consequências.
Vivia então com seus pais e uma irmã, perto das Salgadeiras, ao Bairro Alto, uma jovem actriz,
conhecida popularmente pela Francisquinha e que, por ser filha de um esteireiro, tinha a alcunha de «ESTEIREIRA». A sua beleza e a sua desenvoltura deliciavam as plateias dos teatros do Bairro Alto e da Rua dos Condes, trazendo incendiados os corações de muitos dos espectadores que, terminada a representação, a seguiam até à sua morada e por ali ficavam na esperança de, noite alta, lhe poder falar. Era toda a juventude peralta, fidalga e não fidalga, de Lisboa pombalina ainda mal refeita do terramoto.
Perto da casa da Francisquinha vivia um mestre-de-campo dos Auxiliares de Trás-os-Montes, José Leonardo Teixeira Homem, rapaz conhecido pela sua elegância e pela fama de várias aventuras amorosas, que logo passou notoriamente a fazer parte do grupo de galanteadores, ateando vastos ciumes entre os demais concorrentes, entre os quais se encontrava também o Conde de São Vicente.
Uma noite, em meados de Novembro de 1774, Teixeira Homem recolhia a casa já de madrugada, quando seis embuçados armados investiram com ele, acabando por matá-lo e abandonando o seu cadáver na rua até que de manhã foi encontrado, com grande emoção da população de todo o bairro e depois de toda a Lisboa.
Surgiram as insinuações de que o assassino só poderá ter sido cometido ou ordenado por algum dos admiradores da «ESTEIREIRA», por motivo de ciúmes, e logo as suspeitas caíam sobre o Conde de São Vicente que, por ser pessoa de alta estirpe, rodeado de lacaios obedientes, poderia com facilidade preparar a espera e mandar matar o rival.
A qualidade do morto e o romance do drama bastavam para atrair as atenções gerais e Lisboa inteira expandia-se em vociferações contra o fidalgo e em versos insultuosos, como aquele que uma manhã apareceu escrito num papel afixado no Pelourinho que há pouco havia sido erguido na Praça do Município.
Está belo e excelente
P'ra o CONDE de SÃO VICENTE (1).
(1) - NOBREZA DE PORTUGAL E DO BRASIL - Direcção e coordenação do Dr. Afonso Eduardo Martins Zuquete - Editorial Enciclopédia, Lda.- Lisboa e Rio de Janeiro Volume III - 1961 Página 358.
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