quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

RUA DA PRATA [ IX ]

Rua da Prata - (2009) - (Foto de APS - ( O «MARTINHO DA ARCADA» visto da «PRAÇA DO COMÉRCIO») ARQUIVO/APS
Rua da Prata - (2009) - Foto de APS - ( «MARTINHO DA ARCADA» na esquina da «RUA DA PRATA» com a «PRAÇA DO COMÉRCIO» ARQUIVO/APS

Rua da Prata - (2009) - Foto de APS - O «MARTINHO DA ARCADA» virado para a «RUA DA PRATA» ARQUIVO/APS


Rua da Prata - ( 1988 ) - Foto de APS - (Poço de Neve em Santo António das Neves) Nota-As estruturas dos poços de gelo ainda hoje existentes na Serra da Lousã com aproximadamente 10 metros de profundidade, serviam para armazenar a neve que, ao ser lá depositada era calcada por enormes maços de madeira. Durante o Verão era cortada em grandes blocos e transportada em carros de bois, para a cidade de Lisboa, para ser servido em forma de gelo e gelados nos séculos XVIII e XIX. Possivelmente este seria um dos poços que pertenceu a «MARTINHO BARTOLOMEU RODRIGUES». ARQUIVO/APS
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(CONTINUAÇÃO)
RUA DA PRATA [ IX ]
«MARTINHO DA ARCADA»
O «CAFÉ-RESTAURANTE MARTINHO DA ARCADA» que existe desde 1778 sendo então conhecido por «CAFÉ DO GELO», foi instalado nas lojas dos primeiros edifícios construídos na «PRAÇA DO COMÉRCIO», esquina com a antiga «RUA BELA DA RAINHA», após o terramoto de 1755.
Além de bebidas várias vendiam também sorvetes, que tiveram grande fama nessa época, e por isso lhe chamavam o «CASA DA NEVE».
Por volta de 1782, também vendia bilhetes para as carreiras de «SEGES» entre a «PRAÇA DO COMÉRCIO» e «BELÉM». Em 1784 era conhecido por «CASA DO CAFÉ ITALIANO» pertencia então a um italiano chamado «DOMINGOS MIGNANI»; no ano de 1795 era já conhecido por o «CAFÉ DO COMÉRCIO». Por volta de 1809, era vulgarmente designado por «CAFÉ DOS JACOBINOS», pelo facto de ser frequentado por Jacobinos e Libertinos da época.
Em 1820, chamava-se «CASA DA NEVE», pertencia a um tal «SIMÃO FERNANDO» e recebia a sociedade elegante de Lisboa, que lá ia deliciar-se com os sorvetes, sempre muito apreciados. Em 1823, muda de nome e o seu proprietário é um tal «ANSELMO». No ano seguinte, já tem outro dono; «JOSÉ DE MELO».
Em 1829, novo proprietário, que deu o actual nome à casa «MARTINHO BARTOLOMEU RODRIGUES», o qual fez obras transformando-o num dos melhores cafés-restaurantes de LISBOA.
Aquele empresário foi abrir depois um outro café «O MARTINHO» no antigo «LARGO DE CAMÕES» hoje «PRAÇA DE DOM JOÃO DA CÂMARA».
A designação popular de «MARTINHO DA ARCADA» surge para distinguir este do outro café no «LARGO DE CAMÕES».
«MARTINHO BARTOLOMEU RODRIGUES», homem altamente operacional e bom negociante, arranjou também outra solução com vista a obter gelo em abundância para o fabrico dos seus sorvetes, chegando a manter cinco ou seis poços de gelo, na «SERRA DA LOUSû em «SANTO ANTÓNIO DAS NEVES».
Foi ele que deixou em testamento os dois cafés ao escrivão do tribunal do Comércio, «JULIÃO BARTOLOMEU RODRIGUES», que era o dono deles em final do século XIX (1899). No início do século XX, o dono já era outro «JOSÉ ISIDORO PEREIRA», que por escritura de 28.12.1925 trespassou a casa à firma «MOURÃO & SIMÕES, LDA.».
No ano de 1928 o «MARTINHO DA ARCADA» passou para a posse do sócio dessa firma, «ALFREDO DE ARAÚJO MOURÃO», e em 1960, por sua morte, tornou-se dona desta casa a sua filha, «D. ALBERTINA DE SÁ MOURÃO».
Em 1984 era classificado pelo «IIPC» como imóvel de interesse público. No ano de 1988 é aberto um concurso para a sua remodelação, sendo a obra atribuída ao Engº. «HESTNES FERREIRA».
Em 22 de Fevereiro de 1990, o «CAFÉ MARTINHO DA ARCADA» reabriu com nova gerência e uma luxuosa sala de jantar.
Por este «CAFÉ MARTINHO DA ARCADA» passaram vários nomes das nossas letras tais como: BOCAGE, CESÁRIO VERDE, ANTÓNIO BOTO, JOSÉ SARAMAGO e o célebre FERNANDO PESSOA que nele dizem, ter escrito os poemas da «MENSAGEM». Actualmente há um painel de azulejos representando o escritor.
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BIBLIOGRAFIA
- AS MURALHAS DA RIBEIRA DE LISBOA de A. Vieira da Silva - Volume I - Publicações Culturais da CML - 1987 - LISBOA.
- DISPERSOS de Augusto Vieira da Silva - Volume II - Biblioteca de Estudos Olisiponenses - 1985 - LISBOA.
- DICIONÁRIO DA HISTÓRIA DE LISBOA - Direcção de Francisco Santana e Eduardo Sucena - 1994 - LISBOA.
- DICIONÁRIO DA HISTÓRIA DE PORTUGAL de José Correia do Souto - Volume IV - 1985 - LISBOA.
- ITINERÁRIOS TEMÁTICOS DE LISBOA (Recantos e Lugares) de Gabriela Carvalho - Medialivros, SA e CML - 2003 - LISBOA.
- LISBOA ANTIGA E LISBOA MODERNA de Angelina Vidal - Colecção Memórias de Lisboa - LISBOA.
- O LIVRO DE LISBOA - Coordenação de Irisalva Moita - Livros Horizonte - 1994 - LISBOA.
- PEREGRINAÇÕES EM LISBOA de Norberto de Araújo - Livro XII - LISBOA.
(PRÓXIMO) - «RUA DE XABREGAS [ I ] - O SÍTIO DE XABREGAS»




10 comentários:

  1. Alguém sabe como era feito esse transporte do gelo? Como é que conseguiam chegar a Lisboa ainda com gelo?

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  2. Caro Ricardo Moreira

    Numa breve investigação que fiz, deparei com seguinte:
    Não foram só os portugueses que usaram este processo, já os Romanos transportavam NEVE dos Alpes para ROMA.

    Outra referencia:
    Onde não existia estradas romanas, eram estradas e veredas de terra batida, por onde se transportavam, às costas das pessoas, no dorso dos animais e nos carros de juntas de bois, os produtos da terra e das industrias até aos barcos, rios abaixo, até onde os cursos de água eram navegáveis, ou até aos Caminhos-de-ferro mais próximos, quando surgiram.

    Era o que sucedia com o gelo destinado à corte, transportada da Serra da Lousã, onde para o efeito foram construídos sete neveiros no Cabeço do Pereiro a 1100 metros de altitude, onde se fazia o armazenamento da neve que, prensada, formava o gelo no Inverno e era depois encaixotada e transportada em juntas de bois, nos meses de Verão com destino à Capital do reino.

    Uma das primeiras casas a comercializar o gelo serrano em Lisboa foi o célebre «MARTINHO DA ARCADA».

    Conclusão:
    O gelo depois de devidamente encaixotado com palha e serradura ou em barris, era transportado da LOUSÃ até ao Rio Tejo em carros de bois, depois o transporte seguinte seria por barco rio abaixo, até LISBOA.

    Gostei muito da sua observação!
    Um abraço
    APS

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  3. E eu gostei muito dos ensinamentos que aqui acabo de colher.

    Bom trabalho, APS! Sempre!
    Muitos belas, as suas fotos.

    Um abraço e muita inspiração!

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  4. Olá meu amigo,que trabalho carregar todo esse gelo,fomos beneficiados com o progresso e a técnologia.

    Com o calor que estamos passando aqui,precisamos de muito gelo.

    RSRSRS...

    Um abraço, bom fim de semana!!!

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  5. Há imensos anos que não entro no Martinho!
    O caldo verde era muito bom e os pasteis de bacalhau também.
    Um italiano, não me lembro o nome, escreveu que depois de uns copos de vinho verde era possível ver Pessoa! Eu nunca o vi, talvez por falta dos ditos copos de verde....
    Mas gosto muito de o ver na foto em que ele é retratado de pé junto ao balcão, de casaco aberto a deixar ver a camisa, com a mão no bolso das calças, e, com o seus inconfundíveís óculos.
    Nessa foto gosto especialmente da posição do chapéu, bem levantado e posto para trás para lhe permitir beber gostosa e descontraidamente o café.
    Depois do Carnaval vou fazer uma visita ao FP e tomar um café no Martinho.

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  6. Cara "CORUJA"

    É um prazer te-la como observadora deste blogue.

    O trabalho é muito! A inspiração vai-se arranjando.

    Bom fim de semana
    Um abraço,
    APS

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  7. Cara Marcia Faria

    É pena ainda não terem inventado uma tecnologia via "e-mail", para lhe enviar um pouco de frio, que por aqui grassa, para suavizar o calor que vos assola no Brasil.

    Bom fim de semana para si também.
    Um abraço,
    APS

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  8. Cara LUÍSA

    Eu, igualmente, há anos que não entro no «ARCADA».

    Achei muito boa a sua descrição da figura do PESSOA.

    Li no "Boletim do Grupo Amigos de Lisboa" «OLISIPO»,(ano 2000) um artigo de J. Ramos Baptista que dizia: [...] "existe uma «CAPELA DE S.ROQUE DOS CARPINTEIROS DE MACHADO» esta no «Largo Trindade Coelho» e outro templo igualmente belo, consagrado ao mesmo santo. Trata-se da «CAPELA DE S. ROQUE», no edifício da Marinha na «RUA DO ARSENAL»", que conhecemos.
    Eu pensava que a primeira era Igreja e não Capela.

    Um bom fim de semana!
    Um abraço,
    APS

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  9. Olá APS!
    Ainda não fui ao Martinho da Arcada visitar o FP, mas li o seu comentário em resposta ao meu.

    Quanto ao assunto da Capela de S. Roque, poissssss....ainda há quem faça confusões dessas.

    Claro que o meu amigo sabe, tão bem quanto eu, que no Largo Trindade Coelho é a IGREJA DE SÃO ROQUE e que dentro dela ainda existe um altar (pode-se dizer uma capela) em honra de S. Roque.

    Na Ribeira das Naus, dentro do edificio da Marinha, é a CAPELA DE SÃO ROQUE DOS CARPINTEIROS DE MACHADO. É a única capela que tem esse nome e essa invocação. Pertenceu à Irmandade dos Carpinteiros de Machado que tiveram capela na Ermida de S.Roque em 1506, depois na Igreja de S. Roque e também dentro do Convento do Carmo desde 1570 até à data do Terramoto de 1755.
    A Irmandade dos Carpinteiros de Machado construiu e fixou a sua Capela na Ribeira da Naus desde que o rei D. José lhes deu esse local para eles a edificarem, tendo o culto sido autorizado desde 1761 por provisão do Cardeal Patriarca D. Francisco de Saldanha da Gama.
    Portanto, a Capela de S. Roque dos Carpinteiros de Machado é só uma! A da Ribeira das Naus!

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  10. Cara Luísa

    Belíssimo esclarecimento...e ponto final!
    Espero não existir mais dúvidas.

    Obrigado pela sua atenção.

    Abraço
    APS

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