Rua de Xabregas - (1989) - Foto de APS ( Rua de Xabregas, ao fundo o Viaduto Ferroviário e parte do Palácio Marques de Nisa) ARQUIVO/APS
Rua de Xabregas - ( 1970 ?) Foto de João H. Goulart (O último edifício que se vê à direita, era a Cozinha Económica Nº 4) in AFML
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(CONTINUAÇÃO)
RUA DE XABREGAS [ IX ]
«A COZINHA ECONÓMICA Nº4 EM XABREGAS»
Na «RUA DE XABREGAS» frente ao antigo «CONVENTO DE S.FRANCISCO DE XABREGAS», existiu um edifício (hoje um pouco alterado) que a «SOCIEDADE PROTECTORA DAS COZINHAS ECONÓMICAS DE LISBOA», mandou construir, sendo inaugurada a 20 de Fevereiro de 1896 com o nome de: «COZINHA ECONÓMICA Nº4» de XABREGAS.
Deve-se a iniciativa desta prestigiosa acção de beneficência a «MARIA LUÍSA DE SOUSA HOLSTEIN» 3ª Duquesa de Palmela, neta do primeiro «DUQUE DE PALMELA».
Nasceu em Lisboa na freguesia dos «MÁRTIRES» a 4 de Agosto de 1841 e faleceu na sua Quinta de Sintra em 2 de Setembro de 1906.
Dama de grande cultura, tinha estudado em França e conhecia vários países, privava com embaixadores, falando-lhes normalmente na língua deles. Interessada por tudo o que a rodeava estava sempre bem informada. Dai, podermos afirmar que conhecia bem o que se passava no resto do mundo e a evolução que a Sociedade Portuguesa iria sofrer.
A 8 de Dezembro de 1893 foi inaugurada a primeira «COZINHA ECONÓMICA» na «TRAVESSA DO FORNO» aos «PRAZERES», zona de grande população de operários na altura.
Depois desta cozinha, outras se lhe seguiram: Em 1893 a Nº1 na «TRAVESSA DO FORNO-PRAZERES»; - 1894 a Nº2 nos «ANJOS»; - 1895 a Nº3 em «ALCÂNTARA»; - 1896 a Nº4 em «XABREGAS»; - 1897 a Nº5 na «RIBEIRA VELHA»; - 1898 a Nº6 na «RUA DE SÃO BENTO».
Nestes locais era garantido, um mínimo de alimentação a muitas famílias operárias, que viviam numa situação onde as condições de vida, trabalho e habitação eram cheias de dificuldades.
A partir do ano de 1918, estas instituições viriam a ser conhecidas pela «SOPA DO SIDÓNIO».
Os tempos da guerra (1914-1918) trouxeram a miséria a muitas famílias portuguesas e em particular na zona operária de Xabregas.
Conta-se que era o próprio «SIDÓNIO PAIS», (que foi Presidente da República Portuguesa entre 1917 e 1918 e morreu assassinado) e um seu filho que, de noite, iam fornecer as «COZINHAS ECONÓMICAS» para que, pelo menos, a sopa não faltasse aos mais pobres.
Estas cozinhas depois da República, passaram a ser geridas pela «SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA».
Presentemente funciona no número 49 da «RUA DE XABREGAS» um departamento da «CASA PIA DE LISBOA» com o nome de «LAR DE SANTO ANTÓNIO».
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DE XABREGAS [ X ] - FÁBRICA DE MOAGEM A VAPOR ALIANÇA».
Caro amigo,
ResponderEliminarMuito me apraz continuar a ler o seu trabalho, que merece edição em livro, ou publicação nos actuais 'e-books'!
É notável tanta qualidade e pormenor histórico.
Haverá possibilidade de conferir a veracidade de uma questão, com a qual me confrontaram e que reside no seguinte? Diz-se que Sidónio Pais se apropriou - por razões demagógicas - da acção social da "Sopa dos Pobres" que, afinal, terá sido iniciativa da Duquesa de Palmela e da Marquesa de Rio Maior!
Já não se sabe nada, tudo se põe em causa, como exemplo:
- a frase bombástica alegadamente de Pombal, 'enterrar os mortos... etc', diz-se que não foi ele, mas o Marquês de Alorna!
Após ter sido alvejado no Rossio, diz-se que a frase de Sidónio "Morro bem... cuidem da Pátria", foi invenção do célebre Repórter X - Reynaldo Ferreira -, que nem sequer esteve no local!
Meu amigo: uma coisa é certa!
Se foi o Sidónio, ou aquelas senhoras..., a sopa foi bemvinda!
Tal e qual como nos dias de hoje, por cá, e bastante por todo o mundo!
Um grande abraço
César Ramos
Caro César Ramos
ResponderEliminarFico muito feliz por merecer tão grande elogio que agradeço. Quanto à publicação em livro talvez um dia... quem sabe?
Na outra questão relacionada com as COZINHAS ECONÓMICAS, posso acrescentar que foi a própria Duquesa de Palmela quem do seu bolso mandou comprar todo o equipamento, desde as mesas aos talhares, passando pelas cadeiras, fogões, etc.. De França vieram algumas irmãs da Caridade de São Vicente de Paulo e, quando tudo estava organizado, inaugurou-se a primeira COZINHA ECONÓMICA, na Travessa do Forno aos Prazeres.
Diz-nos ainda «ROCHA MARTINS», que na COZINHA ECONÓMICA, instalada junto do Palácio, servia a Duquesa refeições a duzentas crianças, todos os dias.
Não podemos afirmar nem desmentir, do aproveitamento político de «SIDÓNIO PAIS», sabemos sim, que a «REPÚBLICA» deu-lhes continuidade e anos mais tarde eram administradas pela MISERICÓRDIA DE LISBOA.
Os aproveitamentos políticos existiram em todas as épocas da nossa História.
Conclusão: É meritória a acção da DUQUESA DE PALMELA por ter sido a idealista e criadora, de tão nobre causa. Continuada pelos seus seguidores, até aos dias de hoje, embora com outro nome.
Um abraço
APS
Caro Amigo,
ResponderEliminarNem tive tempo de respirar pela competente e fundamentada resposta!
Muito obrigado pela aula de História, com todos os condimentos, incluindo a sua elegância de não diminuir quem se aproveitou do trabalho e da iniciativa dos outros!
Não quero mal, nunca o quis, a Sidónio Pais!
Foi até uma figura de que o Povo se agradou, ao ponto de o emparelhar em Fé..., de quasi igual modo ao Dr. Sousa Martins, na crença do Espiritismo!
Se é superstição ou não, é lá com o Povo!
Mas o meu interesse histórico ficou cabalmente resolvido com o desenvolvimento do seu conhecimento.
É verdade o que disse! Aproveitamentos políticos sempre os houve!... Mas desde que fossem em benefício popular... que importância tinha?
Pena é, é a moda de cortarem os direitos e as regalias aos pobres, em nome das contas públicas nacionais!
Mas isto é para julgamento futuro, sob o olhar atento da «REPÚBLICA».
O meu grande abraço.
César Ramos
¨Aproveitamento político¨também reparei no modo gentil e educado do meu amigo.
ResponderEliminarSempre aprendo muito nas minhas visitas à este blog.
Obrigada pelos emails,são sempre arquivos muito interessantes.
Um abraço!!!