quarta-feira, 24 de setembro de 2014

TERREIRO DO PAÇO [ V ]

O PAÇO DA RIBEIRA ( 5 )
 Terreiro do Paço - (1707) - Desenho de autor não identificado (O Terreiro do Paço e o seu Palácio do Paço no século XVIII)  in  AS MURALHAS DA RIBEIRA DE LISBOA
 Terreiro do Paço - (século XVIII- Banda Desenhada) (A vista da cidade de  LISBOA, acrescentado o pormenor das suas localizações serem assinaladas numericamente. Esta obra, feita por dois artistas Belgas para a BD e retirada do Facebook de JOSÉ VALENTE)  in  FACEBOOK - JOSÉ VALENTE 
 Terreiro do Paço - (Século XVI) Gravura em cobre (Vista geral de Lisboa. A cidade de LISBOA já então se alastrava consideravelmente e mirava o Tejo do alto das suas colinas) in  LISBOA - LELLO & IRMÃOS - ENCYCLOPÉDIA PELA IMAGEM
Terreiro do Paço - (1682) (Gravura de autor não identificado) (Uma execução no Terreiro do Paço pela Inquisição Portuguesa. Eram condenados em cerimónias chamadas de auto-de-fé, a morrer na fogueira)  in  LISBOA DO SAPO 

(CONTINUAÇÃO - TERREIRO DO PAÇO [ V ]

«O PAÇO DA RIBEIRA ( 5 )

Essa varanda comunicava com "outro quarto, não menos majestoso, com suas galerias, eirados e torreões"; ali assistiam habitualmente os infantes, irmãos ou filhos dos Reis, e em 1754, quando o autor escrevia, servia este quarto de residência à Rainha-mãe, a senhora D. MARIA ANA DE ÁUSTRIA. Existiam ali "grandes e preciosas antecâmaras, com tapeçarias e móveis inestimáveis, e pinturas dos mais notáveis autores", observa o nosso cronista.
Residia El-Rei D. JOSÉ I, como alguns dos seus antecessores, no torreão filipino chamado "DO FORTE"; era este torreão a melhor habitação de todo o Palácio. "as sua antecâmaras, salas e gabinetes, encerram - diz o autor - o mais precioso que pode a terra dar, porque as tapeçarias de oiro, prata, veludo, damasco e outras sedas, quadros de admiráveis pinturas, e toda a mobília, dão a conhecer a soberania da Majestade que o ocupa". Que pena não ter querido descer a mais pormenores topográficos.
"A casa dos Embaixadores é a melhor da Europa" (ficava no segundo andar do Torreão).  Diz ainda que existia neste palácio uma notável BIBLIOTECA que constava de muitos livros e manuscritos raros ou únicos, que para o seu enriquecimento muito contribuiu o senhor Rei D. JOÃO V.
Continuemos a relatar este bom informador: 
"Para o lado do RIO  - prossegue ele, em 1754 - tem este Palácio um belo jardim com grande eirado, com viveiro abundante de todo o género de aves raras, tendo as suas vistas sobre o mar".
"O Senhor Rei D. João V acrescentou outro quarto a este Palácio: é o que fica no largo da Patriarcal, e corre até ao Teatro da Ópera. Consta estes augustos edifícios de vários corpos e muitas galerias, todas de apuradíssima arte, obra do famoso Arquitecto FREDERICO LUDOVICE, em que os mármores colocados teriam duração eterna".
"Dois lanços deste quarto abrem para o largo do Patriarcal, e em meia de cada um avulta um pórtico grandioso, levantado em grossas colunas marmóreas, com capitéis coríntios excelentemente folheados".
"Todo o restante deste primoroso edifício é feito de polidissimas cantarias, com formosos lavores e remates, com óculos romanos na cimalha, que lhe dão graça e beleza. O saguão que vai do Largo da Patriarcal e atravessa este quarto para a campainha, é a melhor peça de arte desta cidade, porque as quatro colunas de jaspe que tem na frente de duas escadas laterais, são perfeitíssimas no trabalho de lavores". (CAMILO CASTELO BRANCO - NOITE DE INSÓNIAS, Nº 8, AGOSTO 1874).

O Terramoto de 1755 deixou feito um montão de destroços o vasto PAÇO DA RIBEIRA, e o incêndio subsequente acabou de destruir preciosidades sem conta.
Aquele edifício, que El-Rei D. MANUEL I tinha erguido sobre os opulentos armazéns da CASA DA MINA, e acrescentado com tanto gosto; aquele PAÇO marinho, onde ele habitou com as suas três rainhas e seus filhos, aquela casa de família tão considerada por El-Rei D.JOÃO III, e habitada por ele, pela Rainha D. CATARINA, e pelos REIS D. SEBASTIÃO e D.FILIPE I em 1581, D. FILIPE II em 1619, essa importante casa, a melhor do REINO, em que moravam GOVERNADORES, o CARDEAL ARQUIDUQUE e a DUQUESA DE MÂNTUA; esse Palácio, tão melhorado pelo senhor D. JOÃO IV, e por seus filhos D. AFONSO e D. AFONSO e D. PEDRO; esse ninho que o mágico D. JOÃO V transformou numa espécie de "QUELUZ À BEIRA TEJO", e que El-REI D.JOSÉ dotou com um Teatro riquíssimo; esse museu de primores, de opulências, e de obras de arte nacionais e estrangeiras, que era o espanto da Península... Tudo isso... Bastou meia hora para ser destruído.

Considerando globalmente tudo que nestes derradeiros capítulos ficou tão laboriosamente armazenado, e fazendo um apanhado geral da pitoresca e variada crónica do PAÇO DA RIBEIRA, sobram motivos de lamentar a nossa incúria!
Contra os Terramotos, não há que dizer; e o de 1755 foi uma calamidade sem par, a que não se pode resistir.


(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ VI ]-O TERREIRO DO PAÇO»

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