quarta-feira, 15 de outubro de 2014

TERREIRO DO PAÇO [ XI ]

A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 5 )
 Terreiro do Paço - (Anos 50 do século XX) (Edições Gótica-Porto) (Vista aérea da "PRAÇA DO COMÉRCIO" quando ela ainda era um parque de estacionamento de carros-Postal Ilustrado Impresso em Trieste-Itália)  in  ARQUIVO/APS
 Terreiro do Paço - (1756) (Projecto de Eugénio dos Santos)  (A "Baixa Pombalina" planta antes do Terramoto de 1755 e o projecto dos novos arruamentos)  in  HISTÓRIA DA ARTE -USZA
 Terreiro do Paço - (ant. a 1939) Autor não identificado (A PRAÇA DO COMÉRCIO, aspecto do Cais das Colunas, onde sobressaem as colunas anteriores às que aí foram colocadas aquando da segunda viagem do Presidente Carmona ao Ultramar) in ARQUIVO MUNICIPAL DE LISBOA-CML-AML
 Terreiro do Paço - (1907) Foto de Joshua Benoliel (A chegada de individualidades Japonesas ao Cais das Colunas na PRAÇA DO COMÉRCIO) in  ARQUIVO MUNICIPAL DE LISBOA-CML-AML
Terreiro do Paço - (Finais do século XIX) (A PRAÇA DO COMÉRCIO, à nossa direita podemos ver que a Estação Sul e Sueste ainda não estava construída no local que hoje conhecemos, a antiga encontrava-se frente ao Torreão Poente da Praça) in  ARQUIVO/APS

(CONTINUAÇÃO - TERREIRO DO PAÇO [ XI ]

«A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 5 )»

Na "ARCADA DA JUSTIÇA", onde existiam os engraxadores de calçado, símbolo em todas estas paragens burocráticas.
A JUNTA DO CRÉDITO PÚBLICO dá também uma feição sua à população que ali "formiga" em certos dias do ano, em nome das inscrições de assentamento: viúvas, procuradores, proprietários etc..
Continuando, vemos ali a estação da GUARDA PRINCIPAL, que mistura com elemento civil e militar, e traz às 11 horas da manhã, quando se rende a guarda, uns minutos de música marcial.
Segue-se a ARCADA chamada "DO MARTINHO DA NEVE", ou mais correctamente, «do ANSELMO». Tendo por singularidade de ter sido, nesta PRAÇA, toda ela ornada de EDIFÍCIOS DO ESTADO, a única propriedade particular. É ponto de muito pitoresca observação, pela afluência, quase exclusiva, de RIBATEJANOS naquele café, chegados nos comboios de SANTA APOLÓNIA, e que ali vão almoçar. Toda a manhã na Arcada estacionam saloios, arrumados ao longo das paredes laranjeiras e limoeiros para venda, com as raízes embrulhadas.
Depois pelas 3 horas da tarde, passam os negociantes para a sua "Praça" e no Verão ali descansam a tomar uma "carapinhada"( 1 ), ou uma pirâmide de sorvete de morango e leite. Mais à tarde e à noite era sítio deserto.
Apesar da boa fama da "NEVE" do MARTINHO, assegura CASTILHO que não foi ele o primeiro a usar este método na Capital conforme muitos têm essa ideia. Assim a neve usava-se no passado regime, para preparo de muitos produtos culinários, como hoje se usa neste clima que tanto precisa, às vezes de correctivos aos excessos.
Quando no Verão de 1619 aqui veio D. FILIPE DE CASTELA, o SECRETÁRIO DE ESTADO e CRISTOVÃO SOARES, recomendando à CÂMARA os preparos com que devia celebrar em LISBOA tão fausto acontecimento, lembra-lhe que "se faça algum assento sobre a neve, por conta da cidade". Obrigou-se pois um PAULO DOMINGUES, "NEVEIRO", morador às FRANJAS DAS FARINHAS, a trazer a LISBOA quatro cargas diárias de neve; e obrigou-se a CÂMARA a prestar uma casa no TERREIRO DO PAÇO, e outra às portas de  SANTA CATARINA, para a venda do produto a 40 réis o "arrátel" ( 2 ). Portanto, os nossos tetra-avós foram tomar neve ao "TERREIRO DO PAÇO", como ainda hoje vamos.
Este Palácio da Arcada foi construído depois do terramoto por ANSELMO JOSÉ DA CRUZ, senhor do SOBRAL, e FISCAL DAS OBRAS PÚBLICAS. Morava ali em 1791, e seu filho SEBASTIÃO ANTÓNIO DA CRUZ SOBRAL, DESEMBARGADOR extravagante da CASA DA SUPLICAÇÃO. Passou o prédio ao genro de ANSELMO, o ilustre GERALDO WENCESLAU BRAAMCAMP DE ALMEIDA CASTELO BRANCO, 1º BARÃO DE SOBRAL, que ali morava em 1820. Em 3 de Janeiro de 1830 houve um terrível incêndio nesse PALÁCIO, incêndio que provocou vítimas, por exemplo, LUIZ FERREIRA DA SILVA, confeiteiro estabelecido na RUA NOVA D'EL-REI (Capelistas) no número 124.  Passou o prédio ao filho segundo do BARÃO, que se chamava ANSELMO JOSÉ BRAAMCAMP, e deste à sua filha D.LUISA MARIA JOANA BRAAMCAMP, BARONEZA de ALMEIRIM pelo seu casamento. Ficou em partilhas ao segundogénito dos senhores BARÕES DE ALMEIRIM, e Sr. ANSELMO B. FREIRE, que em Junho de 1889, o vendeu ao sr. ERNESTO GEORGE, Alemão, gerente da COMPANHIA DOS VAPORES TRANSATLÂNTICOS.

( 1 ) - CARAPINHADO - s.f. (de carapinha). Bebida nevada coalhada no gelo, como limonadas, etc.; sorvete crespo no gelo.
( 2 ) - ARRÁTEL - (do Ár. arrati), s. m. antigo peso de dezasseis onças ou 459 gramas.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ XII ]-A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 6 )»

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