segunda-feira, 31 de março de 2008

PRAÇA DE SÃO PAULO [ IV ]

Praça de São Paulo - (2008) Foto de APS (Fachada dos "Banhos de São Paulo" na Travessa do Carvalho, 21)
Praça de São Paulo - (2008) Foto de APS (Pormenor da fachada dos "Banhos de São Paulo")

Praça de São Paulo - (2008) Foto de APS (Edifício dos "Banhos de São Paulo" na Travessa do Carvalho hoje Sede da Ordem dos Arquitectos)
Praça de São Paulo - (s.d.) (Titulo de Acção da Companhia das Águas Medicinais do Arsenal de Lisboa, em fundo o edifício dos Banhos de São Paulo-1907) in blogdaruanove.blogs.sapo

Praça de São Paulo - (195--) Foto Augusto de Jesus Fernandes (Sindicato Nac.dos Odontologistas Portugueses) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa


(CONTINUAÇÃO)
«BANHOS DE SÃO PAULO»
Os "BANHOS DE SÃO PAULO", situados na Travessa do Carvalho no número 21, é um amplo e bem concebido edifício, em estilo tardo-neoclássico. Apesar das suas linhas singelas, é uma construção elegante, de vasta fachada, centrada por um corpo saliente, rematado por um frontão triangular, percorrida por duas fiadas sobrepostas de treze janelas, três das quais, transformadas em portas, no andar inferior; correspondendo a estas, no andar superior, janelas de maiores dimensões.
Interiormente, dispõe-se em três andares e obedece a uma planta que se desenvolve à volta de um pátio central, rigorosamente adaptado às funções a que se destinava.
Cada camarim beneficia de entrada independente, com acesso através de galerias, sustentadas por colunas de ferro. Dispunha de cinquenta e nove tinas e estava equipado com a aparelhagem mais moderna para o tempo, sendo considerado um dos melhores da Europa.


Foi mandado construir pela Misericórdia de Lisboa, que iniciou a sua edificação em Março de 1854, sob projecto de J.P. Pézerat (1800-1872), engenheiro e arquitecto de origem francesa, radicado em Lisboa desde 1838, contratado pela Câmara Municipal de Lisboa, para o aproveitamento da fonte cloretada e sulfúrica (que a Companhia das Águas Medicinais do Arsenal de Lisboa viria a explorar), descobertas em 1829, à direita da entrada da Avenida da Ribeira das Naus. Estas águas foram classificadas pelo Instituto de Hidrologia de Lisboa, pertencendo ao mesmo grupo de águas das Caldas da Rainha e do Mouchão da Póvoa.


Durante mais de um século este balneário serviu a população da cidade que ali acorria em grande número, acabando por ser encerrado ao público em 1975, por determinação da Direcção-Geral de Minas que, em ofício datado de 11 de Março daquele ano, dirigido à Companhia das Águas Medicinais do Arsenal de Lisboa empresa concessionária das águas, impôs esta medida por motivo de poluição total da nascente abastecedora.
Para salvaguardar os seus postos de trabalho, os trabalhadores da empresa tentaram, na altura, a sua reconversão que, não tendo sido atendida pelo Estado, levou a Companhia liquidatária a colocar o imóvel à venda (DN, 20.09.1978).
Esta situação alarmou os sectores mais conscientes da opinião pública que, temendo a sua demolição, iniciaram uma campanha nos jornais tendente à sua salvaguarda, com destaque para os artigos do Dr. José Augusto França. Em resultado desta campanha, o imóvel foi classificado, ainda em 1978, tendo o Município iniciado, pela mesma altura, negociações com vista à sua aquisição. Esta porém, só veio a processar-se por escritura assinada em 28.08.1980.


Ao iniciar as negociações para a aquisição do imóvel aquela vereação pensava adaptá-lo a «Museu da Revolução de 5 de Outubro», por ter estado este edifício de algum a forma ligado àquele acontecimento, onde os chefes da revolução instalaram o seu quartel-general, depois de decidirem fazer sair a revolução, tomada em reunião que decorreu num terceiro andar na Rua da Esperança.


O edifício em questão constitui, no seu conjunto, tanto exterior como interior, um todo a preservar como um exemplar de arquitectura funcional bem representativo e muito cuidado. Pareceria uma boa oportunidade da Câmara Municipal de Lisboa, limitando-se a operar a reconversão do estabelecimento termal em balneário público, dotar a cidade e, especialmente, a freguesia de São Paulo, de um equipamento de que, certamente, estará carecida, podendo também adaptar algumas instalações que serviam de sala de atendimento e gabinete médico a sala de convívio e biblioteca. Depois, porém, de as vereações que se seguiram terem sugerido, para o edifício, as mais variadas utilizações.
Entre 1991 e 1994 foi submetido a um projecto de recuperação, restauro e reconstrução, da autoria dos Arquitectos Manuel Graça Dias e Egas José Vieira.
Actualmente no edifício está instalada a Sede da Ordem dos Arquitectos.

domingo, 30 de março de 2008

PRAÇA DE SÃO PAULO [ III ]

Praça de São Paulo - (2002) Foto Andres Lejona ( Chafariz e Igreja) in AFML
Praça de São Paulo - (1965) Foto Armando Serôdio in AFML
Praça de São Paulo - (194--) Foto Fernando Martinez Pozart (Chafariz de São Paulo) in AFML
Praça de São Paulo - (Início do século XX) Fotógrafo não identificado (O "Americano" circulando na Rua de S. Paulo) in AFML
Praça de São Paulo - (1907) Foto Joshua Benoliel (Chafariz de São Paulo) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa



O INICIO DA FREGUESIA DE SÃO PAULO
A Freguesia foi formada a partir da desanexação de parte da freguesia dos Mártires e de parte de Santos-o-Novo, a freguesia de São Paulo adquiria o seu estatuto entre 1566 e 1568 por carta régia do Cardeal D. Henrique.
O seu desenho apresenta mais homogeneidade e regularidade que a zona central de Lisboa desta época, e aqui se fixa uma população ligada às actividades marítimas; inicialmente pescadores e depois uma burguesia com interesses no comércio de longa distância.
O sítio de São Paulo é sempre referido, na literatura de viagens nos séculos XVII e XVIII, como morada preferida dos comerciantes estrangeiros estabelecidos em Lisboa.

Nas vizinhanças do Largo de São Paulo foi instalada, entre 1649 e 1720,a Junta da Companhia Geral do Comércio do Brasil, extinta, nesta última data, por D. João V (em 1670, D. Pedro II mandou edificar os novos estaleiros da Junta, no local que se estendia desde as cocheiras, que se encontravam em frente da Igreja de S. Paulo, até ao Baluarte da porta do Pó), assim como a nova Casa da Moeda que transitou da Calcetaria, vindo ocupar o local da Junta em 1720.


O CHAFARIZ
Desde 1774, que se previa neste local a colocação de um chafariz.
Os pedidos foram constantes na primeira metade do século XIX até que, em 1848, se resolveram definitivamente aí instalar um.
O projecto do novo chafariz é da autoria do Arquitecto Malaquias Ferreira Leal, que utilizou como base o de 1774, introduzindo-lhe algumas alterações, mas com o cuidado de construir um chafariz que se integrasse no conjunto da Praça, e conseguiu-o, deixando ali o pequeno monumento, resultando no final, quatro tanques rematados por um obelisco, por sua vez encimado por uma esfera armilar.
A água começou ali a correr em 27 de Outubro de 1849. No entanto (como foi dito) os planos já vinham desde o tempo do Marquês de Pombal, afeiçoado ao sítio por ali ter umas casas suas (a toponímia conserva ainda a Travessa do Carvalho e Rua Nova do Carvalho, por exemplo).
Só cerca de cem anos depois, o melhoramento surgiu.
A título de curiosidade, diga-se que a bica que se encontra do lado da frontaria da Igreja, estava reservada à gente do mar.

(CONTINUA) (Próximo «OS BANHOS DE SÃO PAULO»)

sábado, 29 de março de 2008

PRAÇA DE SÃO PAULO [ II ]

Praça de São Paulo - (2008) Foto de APS (Chafariz e Igreja a poente da Praça)
Praça de São Paulo - (1968) Foto Armando Serôdio (Lado nascente da Praça) in AFML

Praça de São Paulo - (1966) Foto Armando Serôdio in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
Praça de São Paulo - (Início do século XX) Foto Joshua Benoliel ( A Igreja junto da Rua de S. Paulo) in AFML
Praça de São Paulo - (2008) Foto de APS - (Placa Toponímica)




(CONTINUAÇÃO)
A PRAÇA DE SÃO PAULO ( e mais valeria chamar-lhe pracinha pelas proporções e pelo mimo que inspira) é o caso evidente da jóia escondida e desprezada.
Qualquer pessoa de bom gosto que por ali passe adivinha facilmente o encanto que dela parece ainda desprender-se, mas recuará e fugirá rapidamente, tal é a decadência que parece despender-se de cada pedra em redor.
Mas vamos também, ao lado positivo.


No reinado de D. José, estabeleceu-se no Largo a primeira fábrica existente em Portugal para a refinação do açúcar; pertencia ao estrangeiro Cristiano Henriques Smits e obteve licença régia em 14.07.1751.
Com o terramoto de 1755, a freguesia e o Largo sofreram uma destruição considerável, provocada não só pelo abalo sísmico, como pelo maremoto que se lhe seguiu (esta foi a zona mais atingida por este fenómeno) e, finalmente, pelo incêndio que destruiu praticamente toda a zona central da cidade.
São Paulo surge como uma das quarenta paróquias de Lisboa alvo dos trabalhos de reconstrução Pombalina. O Marquês de Pombal, com grandes interesses neste bairro e como primeiro dirigente honorário da Confraria responsável pela reconstrução da Igreja, adquiriu neste processo um importante protagonismo (também, mais tarde , Pina Manique aqui deterá várias propriedades).


A nova Praça estrutura-se de acordo com um ordenamento especial comum em Lisboa reedificada por Pombal: regular e enquadrada por edifícios de características idênticas, de desenho sóbrio e monótono, com a Igreja abrindo para a Praça, integrando-se perfeitamente nesta, surgindo nitidamente como um núcleo ordenador do espaço circundante.
Os edifícios Pombalinos erguem-se a Norte, onde corre também a Rua de São Paulo, a Sul e a Oriente, ficando a Igreja na face ocidental da Praça. Actualmente, a uniformidade do conjunto arquitectónico Pombalino foi cortado, em alguns pontos, pela construção de novos edifícios e alterações nas fachadas de outros, levadas a cabo nos séculos que se seguiram.
O primeiro edifício Pombalino era um extenso conjunto de quatro pisos, com telhado de águas duplas e mansardas, surgindo uma marcação de sacadas no segundo piso dos edifícios da face Sul e no segundo e terceiro pisos dos da face Oriental.


Em 13.04.1771, o Marquês de Pombal cria o novo mercado de São Paulo, chamado «RIBEIRA NOVA» que se organizava entre o Largo e a zona da praia.
O Largo foi utilizado, igualmente, como zona de mercado, sendo este proibido por edital de 03.07.1771.
Adquire o estatuto de Praça privativa de hortaliças em Lisboa no ano de 1809, para em Dezembro de 1935 aí ser proibido qualquer tipo de venda.
Com seu chafariz a meio e a frontaria da Igreja paroquial, as lojas de especial alfaiataria no lado Sul, os prédios Pombalinos a Norte, a Praça oferece uma visão convidativa, podendo adivinhar-se ali as tais festas e convívios que seriam desejáveis e normais nestes larguinhos alfacinhas.
Nas suas proximidades, são construídos os «BANHOS DE SÃO PAULO» (que nos propomos falar na IV Parte) em 1850-1868, da responsabilidade do Arquitecto Pedro Pézerat, é demolido o Forte de São Paulo e aberta a Praça D. Luís e, onde se irá erguer, em 1882, o novo Mercado do Peixe, de Ressano Garcia e, em 1930 o actual Marcado 24 de Julho, em substituição do anterior.
(CONTINUA) (No próximo iremos falar do início da freguesia e Chafariz de S. Paulo)

sexta-feira, 28 de março de 2008

PRAÇA DE SÃO PAULO [ I ]

Praça de S. Paulo - (2008) Foto de APS ( Fachada da Igreja de S. Paulo)
Praça de S. Paulo - (2008) Foto de APS
Praça de S. Paulo - (2000) Foto Luís Pavão (Quiosque da Praça) in AFML
Praça de S. Paulo - (194--) Fotógrafo não identificado (A Praça com seu chafariz no centro)

Praça de S. Paulo - (1963) Foto Armando Serôdio (Visto da Rua de São Paulo) in AFML
Praça de S. Paulo - (Ant. 1947) - Foto Paulo Guedes (Igreja de São Paulo e Praça) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa




A PRAÇA DE SÃO PAULO pertence à freguesia de SÃO PAULO e fica entre a Rua de S. Paulo, Rua Nova do Carvalho, Travessa de São Paulo e Travessa da Ribeira Nova.


IGREJA DE SÃO PAULO
Situa-se actualmente, na freguesia do mesmo nome, entre a Rua de São Paulo e a Travessa do Carvalho.
A paróquia parece ter sido criada em 1412, data que surgia numa inscrição existente sobre o portal da primitiva Igreja. Um manuscrito referindo a constituição das freguesias de Lisboa antes de 1755, atesta o seu início, nessa época, numa ermida da antiga «Travessa do Carvão».
A representação mais antiga que se conhece da primitiva Igreja é a que se encontra na estampa de Lisboa, de Braunio, datada de 1572. Nessa gravura podemos facilmente reconhecer a antiga Igreja de São Paulo, apresentando a sua fachada virada para o Tejo e, nas traseiras, duas fileiras de edifícios que desenham a ligação com o sítio de "CATA-QUE-FARÁS" e Remolares, desenvolvendo um percurso depois estabelecido pela Rua Direita de São Paulo.


A NOVA IGREJA
Com o terramoto de 1755, a Igreja sofreu grandes danos tendo por isso necessidade de obras de grande monta. Assim, foi erigida novamente, mas desta vez com a frente virada para nascente como se pode ver na actualidade.
A nova Igreja teve projecto do Arquitecto Remígio Francisco Abreu, arquitecto do Senado Municipal e assistente de Eugénio dos Santos. É um edifício de uma só nave, com a fachada voltada a nascente, apresentando esta o corpo central limitado por pilastras dóricas e ladeado de torres; sobre ele ergue-se um frontão triangular.
São três os portais, sobre o axial pode ver-se um frontão em cujo tímpano se inscreve um medalhão representando a «CONVERSÃO DE SÃO PAULO». Enquadrando este frontão, dispõem-se dois nichos que abrigam as imagens de «SÃO PEDRO» e de «SÃO PAULO».
Todo o corpo central do frontispício apresenta nítidas ligações ao desenho e características do Convento de Mafra, segundo um gosto «à Romana» privilegiado no período Joanino. No interior, abrem-se oito capelas laterais, sendo toda a nave revestida de mármore policromo e apresentando um tecto pintado que se atribui a Jerónimo Aguiar.
A Capela-mor, de alçado de dois andares, mostra uma decoração de estuque da autoria de João Grossi e um retábulo de pedra, com colunas de capitéis compostos, coroados por um frontão contra curvado, sobre o qual se erguem figuras de anjos.
(CONTINUA) (Próximo "a Praça de São Paulo")

quinta-feira, 27 de março de 2008

BECO DOS APÓSTOLOS

Beco dos Apóstolos - (2008) Foto de APS (O Beco visto do lado esquerdo)
Beco dos Apóstolos - (2008) Foto de APS (Fachada de um edifício do Beco, com varandas ornadas de flores)
Beco dos Apóstolos - (2008) Foto de APS ( O Beco visto para a Rua das Flores)

Beco dos Apóstolos - (2008) Foto de APS ( O Beco visto do lado direito)

Beco dos Apóstolos - (2008) Foto de APS (Placa Toponímica)



O BECO DOS APÓSTOLOS fica situado na freguesia de SÃO PAULO, começa na Rua das Flores no número 20.


Sobre este Beco, alguma coisa há a dizer.
No Dicionário Coreográfico, de Américo Costa na página número 586 do volume II, refere-se-lhe do seguinte modo: «O Beco da Igreja de S. Paulo (Marquês de Pombal), fica defronte do número 20 da Rua das Flores».
No "Comércio do Porto" de 16 de Dezembro de 1887, o articulista, quando enumera as vias públicas da freguesia de S. Paulo diz: «(...) Um Largo que chamam Remolares, (...) uma Travessa que hoje se chama do Paciência (...) num Beco que chamam dos Apóstolos (...)».
E no dia 21 de Dezembro do mesmo ano, este periódico cita a corografia do Padre Carvalho: « (...) da parte esquerda se vai ter a um Beco que chamam de Apóstolos, do qual, descendo para baixo, vem dar à mesma Cruz de Cata-que-farás (...) vai-se continuando o itinerário, sempre ao lado da terra, até chegar ao Beco do ESFOLA BODES (Beco do Caldeira, no Largo do Conde Barão)(...)».


Segundo Gomes de Brito em RUAS DE LISBOA, «devem ter sido os Jesuítas que originaram o dístico a este Beco» pois que, quando estes apareceram em Portugal, em 1540, alguns alojaram-se no Hospital de Todos-os-Santos, empregando-se nos serviços de enfermagem. Dali saírem para a Capela de São Roque, no sítio onde posteriormente se construiu a CASA PROFESSA, e aí faziam as suas pregações, exercícios e práticas religiosas.
Os seus admiradores aumentaram e começaram a chamar-lhes «APÓSTOLOS».
Ainda segundo Gomes de Brito, talvez ali, naquele Beco, que a remodelação da nova Lisboa, respeitou, deixando-lhe o seu antigo dístico ou houvesse primitivamente algum hospício, como o da Rua de Nossa Senhora da Conceição à Praça das Flores, onde é tradição «haver-se aposentado o grande pregador e grande clássico, Padre António Vieira» (p.39).


Em 1755, este Beco tinha 54 varas e 3/10 de comprimento, medindo 5 varas, 1 p. e 8/10 de largura, na boca da calçada de Cata-que-farás, e no fundo 2 varas, 4 p. e 9/10.
A Companhia de Jesus possuía uma propriedade muito perto deste Beco, cuja arquitectura leva-nos a pensar que estas habitações, foram construídas para funcionarem como hospedarias de grandes dimensões, adaptadas, posteriormente a casas de habitação.


quarta-feira, 26 de março de 2008

RUA DA ESPERANÇA [ III ]

Rua da Esperança - (200-) Fotógrafo não identificado (Rua da Esperança à esquerda em frente a Calçada Marquês de Abrantes)( O mesmo sitio onde cem anos antes se pedia para as almas) in pedromoraiscardoso.wordpress.com
Rua da Esperança - (1969) Foto António Duarte (Imagem de Nª. Senhora da Esperança in AFML
Rua da Esperança, 10 - (1911) Foto Joshua Benoliel (Casa de Inocêncio Camacho, onde se reuniu o último comité revolucionário, fotografado por ocasião das festas das constituintes) in Ilustração Portuguesa 26-07-1911 pág. 814
Rua da Esperança - (1900) Fotógrafo não identificado (Pedido para Almas. Destaca-se ao centro a casa onde viveu o Almirante Gago Coutinho) in AFML

Rua da Esperança - (s.d.) Fotógrafo não identificado in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa


(CONTINUAÇÃO)
Uma inesperada aliada dos Barbadinhos foi a nossa conhecida D. Maria Francisca Isabel de Sabóia. Enquanto Rainha ( e foi-o, por duas vezes), tomou-os como seus protegidos e nunca tiveram, nesses anos, dificuldade em enviar frades para Pernambuco. Morta a Rainha, tudo voltou ao princípio e, em 1701, os Barbadinhos deixaram mesmo o Brasil.
Os frades foram obrigados a procurar nova morada, e desta vez, para os sítios de Santa Engrácia. Mais tarde, vieram algumas dezenas de Barbadinhos fugidos da Revolução Francesa e lá se acolheram.
Com a extinção das casas religiosas, em 1834, para lá foi um dos Asilos da Infância. Mas um incêndio não deixou restos de nada e, já no século XX, foram ali feitos balneários (que ainda subsistem parcialmente), tentando de alguma forma suprir as casas de banho que faltavam no bairro.
Entre a singeleza da Rua e da sua tradição, mistura-se alguma história. Se percorrer o resto da rua, do lado par, vê-se aporta do célebre «Endireita da Esperança». Passada a entrada da travessa das Isabéis, ficava uma casa que fez época e jaz na imobilidade há demasiados anos: os "Caracóis da Esperança", tasca pioneira no amanho dos saborosos gastrópodes. Mais para cima, do lado ímpar, fica a Assistência Paroquial de Santos, criada nos anos 30 e, portanto, uma das mais antigas instituições do género em Lisboa.
Depois, na esquina com a Calçada do Castelo Picão, ergue-se outro dos emblemas do sítio. O recentemente arranjado Convento das Bernardas, que conhecemos como simples colmeia de arrendamentos sem condições e que hoje já alberga, nomeadamente, além de casas de morada, um Museu, um restaurante e a Sede de uma Colectividade local, o Esperança Atlético Club, organizador há muitos anos da marcha da Madragoa. E finalizamos com o prédio onde viveu longos anos o sábio privativo da Esperança, o Almirante Gago Coutinho.

terça-feira, 25 de março de 2008

RUA DA ESPERANÇA [ II ]

Rua da Esperança, 144 e 146 - (1969) Foto João H. Goulart (Convento Nª. Sª. da Nazaré - Bernardas) in AFML
Rua da Esperança - (actual) Fotógrafo não identificado (Chafariz da Esperança)

Rua da Esperança - (s.d.) Fotografo não identificado (Chafariz da Esperança-Placa) in cidadanialx.blogspot.com

Rua da Esperança - (194--) Foto Fernando Martinez Pozal (Chafariz da Esperança) in AFML
Rua da Esperança - (Início do século XX) Foto Joshua Benoliel in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa





(CONTINUAÇÃO)
Cá fora, no meio do larguinho e em frente do chafariz, existiu, até 1835, um cruzeiro, simples monumento ingénuo e popular, sem a arte patenteada no seu homólogo de Arroios. Foi apeado pela Câmara de então e está hoje no Museu da Cidade.


Não fica, por aí os pergaminhos que preenchiam o começo da vetusta RUA DA ESPERANÇA. O Monumento que é "ex-libris" da freguesia de Santos fica ali: O Chafariz uma jóia de pedra, edificada em 1752, segundo o risco de Carlos Mardel, um húngaro de nascimento que muito se distinguiu nas obras de abastecimento de águas a Lisboa e na própria reconstrução da cidade após o terramoto. Grandioso, o chafariz já teve a sua grande utilidade e hoje está um tanto desprezado.


Do outro lado da rua, no quarteirão onde fica a padaria e a Sociedade Guilherme Cossoul, erguiam-se as casas dos Duques de Aveiro, conjunto que constava de residência e Quinta. O Terramoto primeiro e um grande incêndio mais tarde, não deixaram restos da moradia senhorial. Uma inscrição singela assinala o local. Iniciando a subida da rua, poderá ver-se quase à entrada do lado do chafariz, num terceiro andar, uma lápide que reza terem ali reunido, pela última vez antes da proclamação do novo regime, os revolucionários republicanos, em 3 de Outubro de 1910.
(Muito embora o seu quartel-general estivesse instalado no edifício dos "Banhos de São Paulo" na Rua Nova do Carvalho).


Quase logo a seguir abre-se a Travessa do Pasteleiro, um pequeno mundo do tipicismo e de miscigenação, ligado à memória do poeta Domingos Reis Quita. Na Rua da Esperança à esquerda de quem sobe, no número 49, fica actualmente a Junta de Freguesia de Santos-o-Velho, espaço ocupado outrora pelo Convento de Nossa Senhora da Porciúncula, pertencente aos frades Barbadinhos franceses, cujo nome ainda perdura nas escadinhas (chamada de travessa) que liga a rua da Esperança à Calçada Marquês de Abrantes.
Vieram estes religiosos para Lisboa no tempo de D. João IV, mais exactamente em 1647 e fixaram-se naquele local por cedência de terrenos por parte do Duque de Aveiro - então D. Raimundo - que era proprietário de toda a zona que hoje abrange parte da Calçada Marquês de Abrantes até à actual Avenida de D. Carlos.
Tiveram vida um tanto agitada em Lisboa. De facto, os Barbadinhos (assim chamados porque todos usavam barba comprida) tinham já casa no Brasil, em Pernambuco, e sempre quiseram acumular as duas residências. Mas, por razões políticas, esse desejo não era visto com bons olhos. A facilidade oferecida em Lisboa parece ter tido como objectivo a retirada destes religiosos do Brasil.
(CONTINUA)

segunda-feira, 24 de março de 2008

RUA DA ESPERANÇA [I]

Rua da Esperança - (200-) Fotógrafo não identificado in oasis.halfmoon.jp

Rua da Esperança - (1968) Foto Armando Serôdio (Convento de Nª. Senhora da Nazaré-Bernardas) in AFML

Rua da Esperança - (195-) Foto Eduardo Portugal (Gravura da Igreja de Nossa Senhora da Piedade da Esperança) in AFML

Rua da Esperança - (Início do século XX) Foto Joshua Benoliel (Balneário da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa) in AFML

Rua da Esperança - (s.d.) - Foto Eduardo Portugal in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa




A RUA DA ESPERANÇA pertence à freguesia de SANTOS -O-VELHO, começa no número 67 da Avenida de D. Carlos I e finaliza na Rua das Trinas no número 2.



Esta rua alfacinha tem designação cuja origem é longínqua. Tomada como caminho para ocidente, servia de passagem a quantos, vindos das Portas de Santa Catarina, demandavam Alcântara e atravessavam depois a respectiva ribeira, a caminho de Belém. No século XVI, já a Esperança era via conhecida e trilhada.



Damião de Góis, cujo quarto centenário de nascimento foi comemorado recentemente, faz alusão ao sítio, nomeadamente ao Convento «das freiras da invocação de Nossa Senhora da Esperança». Este Convento foi fundado por volta de 1530, por iniciativa de uma fidalga com ascendência Castelhana, D. Isabel de Mendanha primitivamente destinado a senhoras aristocratas. A Igreja conventual foi, no entanto, desde cedo frequentada pela gente trabalhadora do rio e do mar.



MOSTEIRO DA ESPERANÇA

A construção começou em 1527 e três anos depois já estava habitável. A casa religiosa ficou sob a invocação de Nossa Senhora da Piedade. E fez moda em Lisboa consta por exemplo, que a Rainha D. Catarina, viúva de D. João III, gostava de passar longos períodos no Paço de Santos, acompanhada de seu neto D. Sebastião, frequentando com assiduidade a casa religiosa da Esperança.
Convém, contudo, explicar que toda a gente conheceu, praticamente sempre, o Mosteiro pelo nome de Nossa Senhora da Esperança ou, simplesmente, "da Esperança", embora o nome oficial não fosse esse, como vimos. A razão é singela: como se verifica, este é um local situado à beira-rio, habitado desde cedo pela gente do mar. Ora a grande devoção destes fiéis era prestada à Senhora da Esperança, a quem recorriam sempre que o mar não ia de feição e sentiam necessidade de auxilio vindo do Alto.
Pescadores e marinheiros formavam assim uma confraria. Reunia-se esta na Igreja do Mosteiro. E tanta fama veio a ter a Senhora da Esperança entre todos os frequentadores do templo, que absorveu qualquer outra denominação. Quem quisesse tirar daqui explicações de caráter Social, concluiria facilmente que a gente plebeia averbou aqui uma rotunda vitória sobre a classe nobre. Mas porque, segundo consta, no Céu não há lugar de classes e também porque Nossa Senhora da Piedade e Nossa Senhora da Esperança são uma e a mesma - regista-se apenas a curiosidade.
Ficou escrito que este Mosteiro da Esperança foi rico de interiores, correspondendo portanto, à qualidade das suas ocupantes. Haveria preciosidades artísticas, na igreja como nos aposentos, embora o exterior do edifício não desse ar de grandes luxos. Uma parte das suas riquezas internas foi parar ao Museu de Arte Antiga.
No lugar onde existiu esta antiga casa religiosa, está hoje instalado o quartel de Sapadores Bombeiros.
(CONTINUA)




domingo, 23 de março de 2008

RUA DOS FANQUEIROS [ III ]

Rua dos Fanqueiros - (s.d.) (CESÁRIO VERDE - (1855-1886) in www.vidaslusofonas.pt
Rua dos Fanqueiros, 280 a 284 - (1957) Foto Armando Serôdio in AFML
Rua dos Fanqueiros - (1955) Foto Horácio Novais (Edifício em cujo r/c esteve instalada a loja de ferragens de José Anastácio Verde, pai de CESÁRIO VERDE) in AFML
Rua dos Fanqueiros - (194--) Foto Ferreira Cunha ( Armazéns Azevedo) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa




(CONTINUAÇÃO)
No quarteirão do lado par, logo ao inicio da Rua e fazendo esquina para a Rua de Alfândega, aí esteve instalada durante umas dezenas de anos, a loja de Ferragens de José Anastácio Verde.
Foi um comerciante muito bem sucedido e dono de uma quinta em Linda-a-Pastora (a uns quinze quilómetros da capital). Em 1852 casa com Maria da Piedade dos Santos, o casal vai morar num andar de um prédio na Rua da Padaria, próximo da Sé de Lisboa.
No dia 23 de Fevereiro de 1855 nascia nesse prédio da Rua da Padaria na baixa Pombalina o filho do comerciante da Rua dos Fanqueiros, de seu nome José Joaquim CESÁRIO VERDE.
Em 1857 com apenas dois anos de idade ele e sua família são forçados a refugiarem-se na sua quinta de Linda-a-Pastora por motivo da Peste em Lisboa. No ano 1865 toda a família passa a morar na Rua do Salitre e Cesário conclui a instrução primária e começa os seus estudos de inglês e francês.
Com 18 anos Cesário matriculou-se no curso Superior de Letras, mas não o conclui.
Do poeta restam-nos poucos manuscritos. «O LIVRO DE CESÁRIO VERDE» seria organizado postumamente por um jornalista e crítico literário Silva Pinto, que o conheceu na universidade. No entanto, pela geração modernista, foi considerado o grande mestre. Numa perspectiva estética, Cesário Verde levou a poesia as metodologias associadas ao romance naturalista e realista.
Tendo chegado a dirigir a loja de ferragens de seu pai, faleceu aos trinta e um anos de idade de tuberculose.
Também chegou a trabalhar nesta loja Eduardo Coelho (Fundador do Diário de Notícias) antes de se dedicar exclusivamente às letras e ao jornalismo.
Mais tarde neste local surgiu depois o Banco Burnay, fundado pelo Conde de Burnay e por Ernesto Empis.



Mais acima, do outro lado, fica ainda hoje a Casa dos Panos, da família do mestre olisipógrafo Luís Pastor de Macedo. Anteriormente, em meados do século XIX, a loja terá pertencido aos Pinheiros, antepassados do famoso actor Chaby Pinheiro e de comerciantes que se mantiveram pela Baixa com lojas concorridas.



Houve nesta rua um pouco de tudo: hotéis ( o CORREIA, o MADRID, o SUÍÇO), um célebre Salão de Baile (de APOLO se chamava), da Academia Recreio Artístico e, sobretudo, lojas, muitas lojas, vendendo quanto é preciso para que um sujeito se apresente bem vestido e devidamente agasalhado e composto.
E, no entanto, apesar desta porfia secular de ganhar dinheiro honradamente, sempre os humoristas e gente de tendências mais ou menos "snobes" troçaram da RUA. Gervásio Lobato (escritor humorista), não hesitou em pôr lá a morar o seu Justino Antunes e o seu Conselheiro Torres. Outros troçam de quem «anda vestido como um manequim da Rua dos Fanqueiros». Pois sim, riam-se... A Rua mais pombalina da Baixa lá vai resistindo.

sábado, 22 de março de 2008

RUA DOS FANQUEIROS [ II ]

Rua dos Fanqueiros - (1968) Foto Armando Serôdio (Convento CORPUS CRISTI) in AFML
Rua dos Fanqueiros - (194-) Foto Eduardo Portugal (Convento CORPUS CRISTI na parte de baixo está instalado uma loja de Abel Pereira da Fonseca com venda de Azeite) in AFML

Rua dos Fanqueiros - (1963) Foto Armando Serôdio in AFML
Rua dos Fanqueiros - (1945) Foto Eduardo Portugal (Companhia do Papel Prado, depois edifício da Pollux) in AFML

Rua dos Fanqueiros - (194--) Foto Eduardo Portugal (Convento CORPUS CRISTI no antigo Largo dos Torneiros) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa




(CONTINUAÇÃO)
Entretanto, no século XVII, surgiu a meio da Rua dos Fanqueiros o Convento do CORPUS CRISTI, construído em 1684 a expensas da Rainha D. Luísa de Gusmão, em acção de graças pelo facto de seu marido, El-Rei D. João IV, ter escapado a um atentado que contra ele se preparava quando ali passasse pegando uma das varas do pálio na procissão do Corpo de Deus.
Para lá foram religiosas Carmelitas de Santo Alberto. Mas o povo não lhes chamava assim: como ao lado ficava uma antiga Rua dos Torneiros ou da Tornearia, os bons frades passaram a ser «Frades Torneiros».
O Convento acabou em 1834, com a extinção das Ordens Religiosas. Mas ainda é visível, no prédio que esquina com a Rua de São Nicolau e dá para a Rua dos Douradores: a pequena cúpula, as janelas, as portas, os corredores, tudo aquilo tem um ar conventual.



Voltamos ao sítio da Igreja de Santa Justa, para dizer que, saído daí o culto para São Domingos, foi lá instalar-se um Batalhão da Guarda Nacional. Por pouco tempo, em 1849, era ali inaugurado o Teatro de D. Fernando. Fechado este, abriu a seguir o Hotel Pelicano e depois uma fábrica de Tabacos. Finalmente, uma empresa de papel do Concelho de Tomar, a Companhia de Papel do Prado, comprou o prédio em 1922 e por lá ficou muitos anos. Diga-se num parêntese que esta Companhia chegou a integrar as fábricas do Prado e da Mariana, em Tomar, e ainda as do Penedo, na Lousã, e de Vale Maior, em Albergaria-a-Velha.
Curiosamente, a rua parece ter exercido algum fascínio sobre as firmas da cidade de Tomar, já que no prédio com o número 150 estiveram as instalações em Lisboa da Companhia da Fábrica de Fiação e Tecidos de Tomar, a primeira do País a dedicar-se à fiação de algodão.
Lembra Pastor de Macedo que aquela empresa já integrava na sua acção industrial a Real Fábrica dos Chapéus de Tomar, fundada em 1771 e dirigida por dois franceses, Sauvage e Fournol.
Para além destas, muitas firmas têm passado por esta rua essencialmente comercial. Na impossibilidade de as mencionar, lembramos aquelas que ficaram ligadas a algum acontecimento relevante.
«Os Armazéns Azevedos» um prédio de três andares e águas furtadas, dedicava-se a tudo que dissesse respeito a fazendas, tanto em peça como na confecção. Existindo no último andar a secção de acabamentos de costura. O prédio fica em frente à Rua da Assunção.