sábado, 29 de setembro de 2012

PRAÇA DO CHILE [ X ]

 Praça do Chile - (Século XIX) (Antigo "Colégio de Noviciados da Companhia de Jesus", depois "Convento Nª. Srª. da Conceição de Arroios", mais tarde "Hospital de Arroios" na "Rua Quirino da Fonseca" antiga "Estrada de Sacavém") in AFML
 Praça do Chile - (1948) Foto de Eduardo Portugal (Porta de Igreja brasonada no antigo "Colégio de Noviciados da Companhia de Jesus", mais tarde "Convento de Nª. Srª. da Conceição", virada para a antiga "Estrada de Sacavém", depois "Rua Alves Torgo" e em 1956 a "Rua Quirino da Fonseca") in AFML
 Praça do Chile - (2003) - (Antigo "Colégio de Noviciados da Companhia de Jesus" até 1758, depois "Convento" e mais tarde "Hospital de Arroios") in SKYSCRAPERCITY
Praça do Chile - (2003) - (Painel de azulejos que representa o "Santo Inácio de Loiola" no seu leito de morte ao receber a aparição de S. Pedro. Encontrava-se inicialmente no "Colégio dos Jesuítas" e por último no "Hospital de Arroios". O quinto painel que desapareceu, mas tendo ficado os contornos na parede, está encoberto possivelmente por este armário) in SKYSCRAPERCITY


(CONTINUAÇÃO) - PRAÇA DO CHILE [ X ]

«COLÉGIO DE NOVICIADOS DA COMPANHIA DE JESUS»

O «COLÉGIO DE NOVICIADOS DA COMPANHIA DE JESUS» teve o seu início no sítio onde há poucos anos funcionava o «HOSPITAL DE ARROIOS». Começou a ser construído por volta de 1705 e destinava-se inicialmente a ser um seminário para formação de missionários da «COMPANHIA DE JESUS». O projecto já vinha a ser pensado desde 1628 quando, durante a "CONGREGAÇÃO PROVINCIAL DA COMPANHIA DE JESUS", sentiu a necessidade de garantir o sustento e a formação de noviços destinados às missões na ÍNDIA. Contudo, só em 1690, por influência do padre "Francisco Sarmento", procurador das "Missões da Índia", foi pela primeira vez seriamente encarada a construção de um seminário destinado às "Índias Orientais".
Entretanto, o padre "João Serrão", que tinha sido vigário geral do "Arcebispado de Lisboa", faleceu em 1697, mas deixou expresso no seu testamento o desejo de que o seminário fosse fundado numa das suas quintas, junto a «FRIELAS». Não obstante terem sido obtidas as necessárias autorizações, foi decidido que o edifício ficaria localizado, não em FRIELAS, como inicialmente se tinha pensado, mas numa quinta próximo do "CHAFARIZ DE ARROIOS".
A construção teve o apoio de «D. CATARINA» (a do Paço da Bemposta), filha de «D.JOÃO IV» e a rainha de Inglaterra, que regressara a PORTUGAL em 1692 depois da morte de  seu marido o rei «D. CARLOS II». Foi por sua vontade que a "CASA DO NOVICIADO" tomou o nome de «SÃO FRANCISCO XAVIER» enquanto que à igreja foi consagrada a «NOSSA SENHORA DA NAZARÉ», numa invocação da imagem que era venerada numa ermida existente na referida quinta de FRIELAS.
Dentro da estética maneirista, o edifício obedecia ao estilo que caracterizava as construções das casas da "COMPANHIA DE JESUS". A Igreja que se pensa ter sido do projectada pelo arquitecto «JOÃO ANTUNES», tinha uma forma poligonal, e era ornamentada com nichos ocupados pelas estátuas em mármore de quatro santos jesuítas:«SANTO INÁCIO DE LOIOLA», «SANTO ESTANISLAU KOSTKA»,  «SÃO FRANCISCO XAVIER» e «SÃO LUÍS DE GONZAGA».
A fachada da Igreja excelente trabalho em pedra, encimada pela imagem de "NOSSA SENHORA DA NAZARÉ", exibe um escudo bipartido com as armas de PORTUGAL e da INGLATERRA, numa referência à rainha «DONA CATARINA» e a seu marido «D. CARLOS II».
O Terramoto de 1755 pouco ou nada afectou o "Noviciado". Mas por Decreto de Agosto de 1758, o «MARQUÊS DE POMBAL» expulsou de PORTUGAL a «COMPANHIA DE JESUS» e, nomeadamente todos os Jesuítas pelo que, em Dezembro desse ano, os "noviços" foram enviados para suas casas ficando o edifício devoluto.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «PRAÇA DO CHILE [ XI ] - OS AZULEJOS DO HOSPITAL DE ARROIOS ( 1 )».

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

PRAÇA DO CHILE [ IX ]

 Praça do Chile - (2012) - Foto de Sammy (Antiga entrada do "Hospital de Arroios" pela "Rua António Pereira Carrilho" in CAIS DO OLHAR
 Praça do Chile - (2000)- (O antigo "Hospital de Arroios" visto da "Praça do Chile" ao entardecer) in SKYSCRAPERCITY
 Praça do Chile - (2000) - ("Praça do Chile", estátua de "Fernão de Magalhães" em segundo plano o "Hospital de Arroios") in SKYSCRAPERCITY
 Praça do Chile - (1960) Foto de Armando Serôdio ("Santa Teresinha do menino Jesus", painel de azulejos fabricado na "Fábrica de Cerâmica de Constância" e pintado por "Leopoldo Battistini". "Aníbal de Castro" que dirigiu este serviço de 1925 a 1950, doou à clínica de Cardiologia o painel que lhe fora ofertado pelo artista. Estava colocado no claustro do antigo "Hospital de Arroios") in AFML 
Praça do Chile -(1961) Foto de Artur Goulart (Entrada do "Hospital de Arroios" pela "Rua António Pereira Carrilho) in AFML

(CONTINUAÇÃO) - PRAÇA DO CHILE [ IX ]

«O HOSPITAL DE ARROIOS ( 2 )»

Com a nomeação de «REYNALDO DOS SANTOS» para o cargo de Director do "Serviço de Cirurgia", em 1925, o «HOSPITAL DE ARROIOS» atingiu a sua época áurea, tendo ficado conhecido na história dos «HOSPITAIS CIVIS DE LISBOA» e dando origem à designação espontânea e carinhosa de "UNIVERSIDADE DE ARROIOS".
«REYNALDO DOS SANTOS», juntamente com «ANÍBAL DE CASTRO», ambos rodeados de excelentes colaboradores, organizaram ali uma "Unidade Médica-Cirúrgica" com estreita ligação ao "Laboratório" e à "Radiologia", que lhes permitiu realizar trabalho cientifico de alto nível, dos quais se destacam as primeiras «AORTOGRAFIAS» e «ARTERIOGRAFIAS» dos membros feitas em todo o mundo.
Posteriormente o «HOSPITAL DE ARROIOS» entrou em progressiva decadência à qual não foi estranha a degradação do edifício. Por fim possuía apenas uma enfermaria de "Medicina Interna" que funcionava sem apoio local de meios complementares de diagnóstico.
Depois de várias hesitações, o «HOSPITAL DE ARROIOS» foi encerrado em 1992, tendo os médicos e os doentes do "Serviço de Medicina" sido distribuídos por vários hospitais de LISBOA.
Em 1995 foi realizado um acordo entre a «SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA» e os «HOSPITAIS CIVIS DE LISBOA», com o objectivo de transformar o «HOSPITAL DE ARROIOS» em retaguarda dos outros hospitais, tendo sido posteriormente anulado.
"No início de 2004 o espaço foi adquirido por uma imobiliária do "Grupo FIBEIRA", que apresentou na CML um projecto de construção nova - para um "condomínio com habitação e comércio" - reprovado por não salvaguardar os valores patrimoniais. Em Novembro de 2004 o projecto era aprovado e previa a construção de 150 apartamentos e 17 lojas, em nove blocos de seis a oito pisos, e só a "IGREJA" e os "CLAUSTROS" se manteriam.
Em Fevereiro de 2005, a demolição foi aprovada, mas em 2008 o futuro era incerto"( 1 ).
Em 29 de Outubro de 2011 noticiava o "Jornal SOL" que: "Hospital vendido por 11 milhões e comprado por 21 milhões minutos depois".
Presentemente e apesar de algumas limpezas no exterior a nível do solo, o edifício ainda se encontra degradado e o seu espaço térreo serve de parque de estacionamento para carros.
E assim aquele que foi o antigo "Noviciado da Companhia de Jesus", mais tarde o "Convento das Freiras da  Imaculada Conceição" depois "Hospital Rainha D. Amélia", e finalmente "Hospital de Arroios", continua a aguardar que seja tomada uma decisão sobre o seu destino final.

- ( 1 ) - CIDADANIA LX

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «PRAÇA DO CHILE [ X ] -O COLÉGIO DO NOVICIADO DA COMPANHIA DE JESUS» 

sábado, 22 de setembro de 2012

PRAÇA DO CHILE [ VIII ]

 Praça do Chile - (2000) - (O claustro do antigo "Hospital de Arroios", pode-se ver ao fundo colocado o painel de "Santa Teresinha do Menino Jesus" oferta de "Aníbal de Castro") in SKYSCRAPERCITY
 Praça do Chile - (2004) Foto de Bic Laranja (A "Praça do Chile" junto do antigo "Hospital de Arroios" in BIC LARANJA
 Praça do Chile - (2011) - (Fachada sul do antigo "Hospital de Arroios" virada para a "Rua António Pereira Carrilho") in SKYSCRAPERCITY
Praça do Chile - (2011) - (Nesta altura o antigo "Hospital de Arroios" servia de parque de estacionamento automóvel à espera de melhores dias) in JORNAL SOL


(CONTINUAÇÃO) - PRAÇA DO CHILE [ VIII ]

«O HOSPITAL DE ARROIOS ( 1 )»

O «HOSPITAL DE ARROIOS» nasceu praticamente em 1892 a partir do «COLÉGIO DE NOVICIADO" de Jesuítas da «COMPANHIA DE JESUS» em 1705, como templo de invocação de «NOSSA SENHORA DA NAZARÉ». No ano de 1758 os Jesuítas eram expulsos de Portugal, mudando-se para este local as «FREIRAS CONCEICIONISTAS", motivado o seu convento de "CARNIDE" ter sofrido danos irreparáveis com o Terramoto de 1755.
Instalaram-se neste antigo "NOVICIADO" com a designação de «CONVENTO DAS FREIRAS DA IMACULADA CONCEIÇÃO». Também, devido a uma cláusula de anexação do edifício pelo «HOSPITAL REAL DE SÃO JOSÉ», quando nessa altura era enfermeiro-mor o "Professor Dr. João Ferraz de Macedo".
Inicialmente, o «HOSPITAL DE ARROIOS» foi utilizado para receber doentes com peste, cólera morbus, varíola, lepra e tuberculose. Todas vítimas das epidemias que nessa época grassavam pela cidade de LISBOA.
No ano de 1898 a rainha «D. AMÉLIA», impressionada com a elevada mortalidade provocada pela tuberculose, passou esta unidade hospitalar a especializar-se no tratamento e prevenção desta doença, para evitar que os doentes internados noutros hospitais fossem contagiados.
Face à acção persistente e dedicada da rainha nesta área da saúde, o Governo decidiu que o Hospital passasse a chamar-se «RAINHA D. AMÉLIA». Conservaria este nome até à implantação da República, ganhando novamente o nome de «HOSPITAL DE ARROIOS» no ano de 1911.
Além do edifício central, reservado a tuberculosos, possuía ainda, na área adjacente, um pavilhão em madeira com duas enfermarias, destinado ao internamento de doentes com varíola. As epidemias de varíola eram nessa altura frequentes, tendo sido especialmente grave a de Outubro de 1902 e Agosto de 1903, que obrigou à transferência de alguns tuberculosos para o «HOSPITAL DE SÃO JOSÉ» a fim de aumentar a capacidade de internamento.
No ano de 1899, durante a peste pulmónica do "PORTO", o «HOSPITAL DE ARROIOS» esteve preparado para receber pestíferos, caso a epidemia alastrasse a "LISBOA". Foi lá que, num quarto do primeiro andar, esteve internado «CÂMARA PESTANA», que se tinha deslocado ao PORTO para fazer o estudo laboratorial da peste e que de lá regressou com os sintomas da doença. Colocado de quarentena com dois colegas que o tinham acompanhado, ali veio a falecer no dia 15 de Novembro desse ano.
Em 1906, com a inauguração do «HOSPITAL CURRY CABRAL», destinado a doenças infectocontagiosas, todos os tuberculosos foram para lá transferidos.
O «HOSPITAL DE ARROIOS» readquiriu então o perfil de hospital geral, passando a ter serviços de "Medicina Interna" e de "Cirurgia Geral".

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«PRAÇA DO CHILE [ IX ] - O HOSPITAL DE ARROIOS ( 2 )»

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

PRAÇA DO CHILE [ VII ]

 Praça do Chile - (1939) - Foto de Eduardo Portugal (Retiro da "Perna de Pau" na antiga "Estrada de Sacavém" junto ao apeadeiro do Areeiro. Neste ano já não é visível a inscrição de azulejo na fachada do edifício) in AFML 
 Praça do Chile - (Início do século XX) Foto de Alberto Carlos Lima (O retiro da "Perna de Pau" na antiga "Estrada de Sacavém", junto ao apeadeiro do "Areeiro". A afamada casa da "D. Gertrudes") in AFML  
 Praça do Chile - (1937) (Dois casais aproveitando um almoço domingueiro nas "hortas", nos arredores de Lisboa, não faltando o indispensável "tintinho" in ARQUIVO/APS
 Praça do Chile - (2006) Foto de Carlos Fontes (O retiro "Quebra Bilhas" de portas fechadas no "Campo Grande" in JORNAL DA PRACETA
Praça do Chile - (1959) - Foto de Judah Benoliel (O antigo "Quebra Bilhas" no "Campo Grande") in AFML

(CONTINUAÇÃO) - PRAÇA DO CHILE [ VII ]

«ARRABALDES DE LISBOA, RETIROS E HORTAS (2)»

As pescadinhas de rabo na boca, ornamentadas com raminhos de salsa e bem acompanhadas de salada de alface fresca, enchiam as travessas. E vinham famílias inteiras e grupos de parentes ou amigos, propositadamente para a reunião. Não faltavam fidalgos da melhor estirpe, artistas, toureiros e aficionados, gente generosa, alguns boémios incorrigíveis e folgazões para quem não havia Domingo nem dias Santos.
Verifica-se ainda que os "Retiros" proliferaram sobretudo ao longo de dois percursos; um, o da antiga "ESTRADA DE SACAVÉM", entre o «LARGO DE ARROIOS» e a «PORTELA» o do "Manuel dos Santos" (que desapareceu com a construção do Aeroporto de Lisboa), o outro, o que seguia os touros para as corridas da "Praça do Campo de Santana", desde o "Senhor Roubado", "Calçada de Carriche", "Rua Direita do Lumiar" e "Rua Oriental do Campo Grande".
O Retiro "PERNA DE PAU", situado na "Quinta de Santo António" ou  da "Frejoeira" (perto do apeadeiro do Areeiro), foi esse retiro vendido em 1860, e por a sua nova dona "D.GERTRUDES ROSA SOARES" ter sofrido a amputação de uma perna e a ter substituído por outra de pau,  ficou a casa conhecida por «PERNA DE PAU». Por morte daquela proprietária ocorrida em 1879, veio o retiro a pertencer à "TIA NARCISA", esta por sua vez falecida em 1912, tendo sido sob a direcção de ambas que ele desfrutou do maior prestígio e teve a melhor clientela, entre a qual se contou o grupo dos "Vencidos da Vida" e o pintor "José Malhoa". Depois de ter passado por mais dois ou três proprietários, um mandato judicial determinou o encerramento do "PERNA DE PAU" em 17 de Agosto de 1923.
Consta que um destes retiros, talvez o "PERNA DE PAU", figurava no cenário do 1º acto da «ROSA ENJEITADA», o drama tão popular (na época) e romântico do dramaturgo «D. JOÃO DA CÂMARA» no ano de 1901. No texto começava assim: "Uma horta nas proximidades de Lisboa. À esquerda, a casa e uma mesa. À direita, a parreira e uma mesa. Outra mesa, mais pequena, ao centro. Ao fundo, muro e porta para a rua. À direita, por detrás da parreira, há uma saída para  a horta".
O "QUEBRA BILHAS" do "Campo Grande", segundo averiguámos no Processo nº 5682,  do Arquivo Municipal do Alto da Eira, foi "JOÃO MARTINS" quem em 3 de Agosto de 1891 requereu licença para a construção de um barracão de madeira coberto a chapa de zinco, para guardar alfaias agrícolas (clandestinamente terá substituído por uma construção de pedra e cal), onde desde o início funcionou o  "QUEBRA BILHAS".
A pouco e pouco, porém, prejudicados pela constante evolução da vida citadina, as «HORTAS» e os «RETIROS» foram desaparecendo ou transferidos e aproximando-se em novas modalidades do centro da cidade.
Hoje, no respeito pelo passado, ainda existe (para homenagear a velha tradição), quem adopte os nomes próprios, históricos ou consagrados dos velhos retiros.
Apareceram depois das "Hortas" e dos "Retiros" os "Cafés", conhecidos mais pela população que os frequenta do que pela sua finalidade.
As "Hortas" foram, com efeito, durante largos anos, o regalo das famílias da capital, que naqueles dias (principalmente aos Domingos) debandavam rumo aos arrabaldes para, em ambiente rústico, comerem o seu almoço, fazendo esquecer as agruras da vida e desfrutarem as excelências do ar puro campesino.

RETIROS
Se forem retiros das hortas, trata-se de restaurantes e casas de pasto, com esplanada e áreas de espectáculo, para onde os lisboetas de deslocavam ao fim-de-semana. Para manter a clientela, não se limitavam a servir comidas e bebidas, como os fadistas e cantadores a tornarem-se atracções especialmente concorridas. Se forem apenas "retiros", significa outra designação para casa de fados, na acepção moderna da palavra.

HORTAS
Por este nome se definiam os perímetros rurais da cidade de LISBOA, para onde aos fins-de-semana os citadinos, iam retemperar os pulmões e passar alguns momentos aprazíveis com as famílias e amigos.( 1 )
- ( 1 ) - BIOGRAFIAS

Do Blogue «GASTROSSEXUAL» de Pedro Cruz Gomes, retirámos esta interessante receita:
Sopa à Tia "GERTRUDES" da «PERNA DE PAU»
 - 250 gramas de carne de vaca cortada em pedacinhos; 1dl. de azeite; meio litro de água; 100 gramas de macarrão; sal, pimenta p.b..
Frita-se a carne no azeite. Retira-se o máximo da gordura para uma panela, onde se ferverá o macarrão. A carne será acrescentada quando a massa estiver cozida.
Fácil, despachado, nutritivo. Devia ficar muito bem a fazer cama para um "tintinho".

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«PRAÇA DO CHILE [ VIII ] -O HOSPITAL DE ARROIOS (1)»

sábado, 15 de setembro de 2012

PRAÇA DO CHILE [ VI ]

 Praça do Chile - (1949) - (Era uma tradição preferida dos lisboetas, ir comer pataniscas ou pasteis de bacalhau, acompanhados de arroz de tomate e salada de alface, levando seus familiares e amigos aos Domingos, para as "Hortas" nos arredores de Lisboa) in ARQUIVO/APS
 Praça do Chile - (1950) - (Famílias numerosas alfacinhas com amigos, comendo e divertindo-se nas "Hortas" arredores de Lisboa, num Domingo de muito Sol) in ARQUIVO/APS
 Praça do Chile - (início do século XX) Foto de Paulo Guedes  - (Retiro da "Perna de Pau" junto ao apeadeiro do areeiro, na antiga "Estrada de Sacavém") in AFML
 Praça do Chile - (Início do século XX) Foto de Joshua Benoliel (O "Retiro do Manuel dos Passarinhos" na "Calçada do Poço dos Mouros" no caminho para o cemitério do "Alto de S. João", com a célebre frase escrita na lateral do estabelecimento "Não se esqueça de voltar"...) in  AFML
 Praça do Chile - (1941) - Foto de Judah Benoliel  (O antigo retiro do "QUEBRA BILHAS", NO "Campo Grande") in  AFML 
Praça do Chile - (2006) Foto de Carlos Fontes (O "Retiro do Quebra Bilhas" já de portas fechadas, uma referencia no "Campo Grande" em finais do século XIX) in  JORNAL DA PRACETA

(CONTINUAÇÃO) - PRAÇA DO CHILE [ VI ]

«ARRABALDES DE LISBOA, RETIROS E HORTAS ( 1 )»

Achamos que começa por ser difícil definir o que se deve chamar de "arrabalde de Lisboa". Podemos talvez considerar, por via de regra, o campo onde surgem, aqui e ali, algumas casas com seus quintais, ou aldeolas pitorescas, pequeno aglomerado que o citadino visitava de vez  em quando.
Assim era no século XIX e ainda no primeiro quartel do século XX. Foram considerados naquele tempo "arrabaldes de Lisboa" os sítios de «BELÉM», «ALCÂNTARA», «ARROIOS»(o sítio hoje tratado), «CAMPO PEQUENO», «CAMPO GRANDE», «XABREGAS», «POÇO DO BISPO» e «CAMPOLIDE».

A iniciar no sítio de «ARROIOS» pela antiga "Estrada de Sacavém", passando pelo "Campo Grande", Carriche, e Benfica, muitos retiros e hortas no século XIX até bem perto dos anos 30 do século XX, abriram suas portas, que para o efeito, entrava gente de todas as categorias: o pequeno modesto, a pé e de merenda aviada, e os abastados de tipóia, caleche ( 1 ), carteira bem recheada, que não havia dinheiro que pagasse uma boa patuscada nos retiros arrabaldinos. Extensa seria a lista que os englobasse a todos, e por, isso referiremos apenas aqueles que, por sua nomeada e fama, chegaram até nós: «A PERNA DE PAU», «JOSÉ DOS PACATOS», rivais do «TEOTÓNIO» da "Calçada do Carriche", «O QUEBRA BILHAS» do Campo Grande, «MANUEL DOS PASSARINHOS» na "Calçada Poço dos Mouros" (este imortalizado pelo convite que dirigia aos que acompanhavam amigos ou parentes à última morada e que por ali passavam - "NÃO SE ESQUEÇAM NA VOLTA", queria dizer, não se esqueçam do nosso estabelecimento para afogar as mágoas).
E em todos, a topografia e a utensilagem eram quase comuns; uma nora de água fresca e clara que, levada pelos alcatruzes ( 2 ), cantava sussurrante nas regadeiras, caramanchões de trepadeiras com fartas ramadas de videiras a proteger toscas e improvisadas mesas onde os canjirões e as canecas disputavam lugar e primazia aos pasteis de bacalhau, aos ovos cozidos e às azeitonas novas ou curtidas para fazer boca aos copos de vinho que, assim, melhor estalava na língua.
Também sempre e indispensável, havia uma pista ou corredoura para o JOGO DA MALHA,  mais vulgarmente conhecido pelo chinquilho, e um terreiro ou tabuado onde novos e velhos de espírito moço rodopiavam polcas, mazurcas ou valsas, às vezes ao som de rabecas de cegos pedintes que, por interesse, se juntavam à alegria dos foliões.
E havia cantigas por devoção ou ao gosto de cada um, e consoante o que sabia ou lhe pediam, muitas vezes como repetição de já conhecida e louvada exibição familiar.
E apareceu o fado, não o de hoje, negociado, tornado modo de vida, mas aquele executado por amadores e improvisado .
A par de tudo, chiavam as frigideiras e os tachos atulhados de peixe frito, prato favorito e jamais suplantado do bom alfacinha.
- ( 1 ) -CALECHE - Carruagem de quatro rodas e dois assentos, aberta à frente
- ( 2 ) -ALCATRUZ - Cada um dos vasos com que se tira a água da nora

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)-«PRAÇA DO CHILE [ VII ]- ARRABALDES DE LISBOA, RETIROS E HORTAS ( 2 )»

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

PRAÇA DO CHILE [ V ]

 Praça do Chile - (2009) Foto de Dias dos Reis (O antigo "Cruzeiro de Arroios" que se encontrava no "Largo de Arroios" está hoje no alpendre da moderna "Igreja Paroquial de S. Jorge de Arroios") in DIAS DOS REIS
 Praça do Chile - (depois de 1970) Foto de autor não identificado (O "Cruzeiro de Arroios" no alpendre da "Igreja Paroquial de S. Jorge de Arroios") in IGESPAR
 Praça do Chile - ((depois de 1970) Foto de autor não identificado (Pormenor do "Cruzeiro de Arroios" face principal que se encontra no "Igreja Paroquial de S. Jorge de Arroios") in IGESPAR 
 Praça do Chile - (1940/1949) - Foto de Eduardo Portugal (O "Cruzeiro de Arroios" dentro da antiga "Igreja de Arroios" mostrando a face de "Nossa Srª. da Piedade") in AFML
Praça do Chile - (1940/1949) - Foto de Eduardo Portugal ( O "Cruzeiro de Arroios" dentro da antiga "Igreja de Arroios", com a face de "Cristo na Cruz" virada para o altar) in AFML


(CONTINUAÇÃO) - PRAÇA DO CHILE [ V ]

«O CRUZEIRO DA ARROIOS»

Este cruzeiro encontrava-se inicialmente no «LARGO DE ARROIOS», como vem representado nao quadro de «DOMINGOS ANTÓNIO DE SEQUEIRA»(1768-1837), conhecida por a «SOPA DOS POBRES»; actualmente encontra-se sob o alpendre da moderna «IGREJA PAROQUIAL DE S. JORGE DE ARROIOS».
Peça de estilo Manuelino foi mandada erguer no início do reinado de «D. JOÃO III» para comemorar a beatificação da «RAINHA SANTA ISABEL» em 1517. (Medianeira no "Campo de Alvalade" nas pazes entre pai e filho; D. Dinis e D. Afonso IV).
Trata-se de uma obra em pedra lioz, bastante trabalhada, assentando num soco hexagonal de base cilíndrica, com nó de encordoamento, e com fuste torso, decorado com gramática vegetalista, integrando a representação escultórica de «SÃO VICENTE» mártir, segurando uma folha de palma e a nau com os corvos, símbolo iconográfico da «CIDADE DE LISBOA». Sobe o capitel, decorado com mascaras e boleados, ergue-se duas cenas relevadas, na face principal «CRISTO NA CRUZ» e na face posterior «NOSSA SENHORA DA PIEDADE». As figuras deste cruzeiro denotam já influência do gosto da "Renascença", pelo acentuado naturalismo escultórico imprimido pelo artista, provavelmente de oficina lisboeta.
Dentro de uma vidrada edícula esteve durante muitos anos, esta monumento religioso, e possivelmente iluminado com sua lâmpada votiva, sendo alvo da piedade dos fiéis.
O «CRUZEIRO DE ARROIOS» ficava muito perto do chafariz, em cujo tanque se matava a sede aos machos dos almocreves, às bestas de tiro, aos cavalos de sela e a outro género de gado que por ali passavam em direcção aos campos ou lá vinham para a capital.
Os edifícios, que enquadravam outrora magnificamente o «CRUZEIRO», seriam modificados ou desapareciam, transformando o «LARGO» de forma que dificilmente se reconhece o seu passado.
No «CRUZEIRO DE ARROIOS» não se conhecia a existência de qualquer legenda descritiva, mas os viajantes saudavam sempre a memória sem lhe conhecerem o significado. Bastava para isso, estarem ali as imagens com iluminação. E quanto mais tempo decorria menos se devia saber a que acontecimento aludia o mármore e a pedra lioz daquele "Monumento". Nos degraus que conduziam ao pavilhão onde se resguardava o «CRUZEIRO DE ARROIOS», deviam ter ajoelhado milhares de pessoas de almas arrependidas, simples mendigos e grandes senhores, talvez muita gente, quando os males da Terra mais faziam voltar os olhos para o céu.
Dizem que por este «LARGO» junto ao «CRUZEIRO» terá por ali passado o cavalo negro de «JUNOT» ao entrar em LISBOA, querendo apossar-se da família real, que nessa altura já tinha partido para o Brasil, abordo da sua armada. Os soldados estropiados, enfraquecidos, de cabeças amarradas e os pés ensanguentados, caíam exaustos nos degraus das casas pobres do «LARGO», recebendo a caridade portuguesa, o pão o caldo e o vinho. Franceses invasores, seguindo no rasto do general alucinado, deveriam ter sido mortos no local, mas a alma atribulada, medrosa, ou a piedade do povo, socorrera-os.
Este «CRUZEIRO» foi removido do «LARGO» (para regularização do espaço urbano local), e levado para a sacristia da «IGREJA DE SÃO JORGE DE ARROIOS» que lhe ficava próxima. Mais tarde e depois das obras da construção do novo templo em 1970, este «CRUZEIRO» foi colocado no alpendre  da nova Igreja, onde ainda se encontra. 

(CONTINUA) - (PRÓXIMA)-«PRAÇA DO CHILE [ VI ] - ARRABALDES DE LISBOA, RETIROS E HORTAS (1)» 

sábado, 8 de setembro de 2012

PRAÇA DO CHILE [ IV ]

 Praça do Chile - (1887) - (O antigo "Chafariz de Arroios" já localizado na "Rua Carlos José Barreiros", anos antes do seu desmantelamento) in LISBOA ESQUECIDA
 Praça do Chile - (Século XIX) - Desenho de A. Taborda (O antigo "Chafariz de Arroios" numa reprodução de postais dos CTT nos anos 50 do século passado) in  LNEG
 Praça do Chile - (Século XVII) - (Pedra lioz, representando um baixo relevo do "Brasão da Cidade", demolido do "Chafariz de Arroios", publicado no livro "Brasão da Cidade de Lisboa" pelo Dr. Jaime Lopes Dias em 1968) in BRASÃO DA CIDADE DE LISBOA
Praça do Chile - (Século XVII) - ("Brasão de Armas" preveniente do "Chafariz de Arroios", um baixo relevo com as dimensões de 0,695x0,550x0,125) in MUSEU DA CIDADE

(CONTINUAÇÃO) - PRAÇA DO CHILE [ IV ]

«O CHAFARIZ DE ARROIOS»

O «CHAFARIZ DE ARROIOS» foi construído no ano de 1624 no lugar que lhe deu o nome. No ano de 1884 era transferido para a velha «ESTRADA DAS AMOREIRAS», hoje «RUA CARLOS JOSÉ BARREIROS», colocado mesmo defronte da parte lateral da «IGREJA DE S. JORGE DE ARROIOS» e ficava-lhe nas traseiras o «PALÁCIO DO CONDE DA GUARDA». Em 1935 levaram-no definitivamente e no local foram construídos os modernos edifícios que têm os números 3 e 5.
O «CHAFARIZ DE ARROIOS» possuía duas torneiras onde o povo e os aguadeiros se abasteciam tendo na parte de baixo, uma bica que corria continuamente para um tanque, que servia de bebedouro para os animais.
Neste chafariz estavam esculpidas as armas da cidade com seu navio, e as do Reino, com os castelos e quinas. Existia também uma legenda que nos assegurava ser a obra de (1624) e mandada fazer pela Cidade, à custa do real de água.
Ainda no Chafariz, na parte de cima da verga da porta de entrada para a mina, estavam duas inscrições. Uma de letra gótica outra em tipo corrente de inscrição, mas afirmando ambas que: "na era de 1398 teve princípio esta fonte, no campo de "LOURENÇO AFONSO COSTA".

Devemos elucidar que este sítio era muito fértil em água e já  vem do período «TERCIÁRIO MARÍTIMO-LACUSTRE», em que esta parte da cidade de LISBOA tinha o privilégio de possuir as águas sulfatadas calcárias e, em especial esta da «RIBEIRA DE ARROIOS» que se estendia para um longo vale, supostamente um antigo afluente do estuário do TEJO, que descia do sítio de «ARROIOS», seguia pelo "REGUEIRÃO DOS ANJOS", passava na «RUA DA PALMA» indo ligar à parte norte do «ROSSIO».
No «CHAFARIZ DE ARROIOS» estava colocado um "BRASÃO DE ARMAS" em pedra lioz, com dimensões de 695x500x125 milímetros, representando um baixo relevo proveniente do demolido Chafariz, constituído por lápide de formato rectangular, apresentando à esquerda as armas nacionais, compostas por uma orla em forma de escudo peninsular com 13 castelos e contendo 5 escudetes no seu interior, estando os dois laterais apontados para o centro. Do lado direito o «BRASÃO DA CIDADE DE LISBOA», constituído por uma barca ancorada e dois corvos que remetem para a lenda de «SÃO VICENTE», padroeiro da Cidade desde o século XII.
Apresenta ainda a particularidade de representar, no fundo do mar, alguns elementos da faina marítima.
É a partir do século XII que a divisa da cidade se estabiliza, passando a ser representada de uma embarcação e dois corvos.
Este «BRASÃO DE ARMAS» retirado do extinto «CHAFARIZ DE ARROIOS» encontra-se hoje no «MUSEU DA CIDADE».
Nos anos 50 do século passado a Administração Geral dos CTT editaram uma colecção de postais, baseados na reprodução de uma gravura de «A. TABORDA», onde podemos ver representado o «CHAFARIZ DE ARROIOS».


(CONTINUA) - (PRÓXIMO)-«PRAÇA DO CHILE [ V ] - O CRUZEIRO DE ARROIOS»  

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

PRAÇA DO CHILE [ III ]

 Praça do Chile - (1813) Gravura em buril e água forte de "Gregório Fernandes de Queiroz" desenho de  "DOMINGOS ANTÓNIO DE SEQUEIRA"1768-1837 -  (A "SOPA DE ARROIOS" no "LARGO DE ARROIOS" por altura de 1810) in BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL
 Praça do Chile - (Século XIX) (O "Largo de Arroios" em 1810, estudo do desenho de "Domingos António de Sequeira" intitulado "A SOPA DE ARROIOS) in DISPERSOS
 Praça do Chile - (1937) Foto de Eduardo Portugal (Planta, entre o "LARGO DE SANTA BÁRBARA" e o "LARGO DE ARROIOS" in AFML
 Praça do Chile - (1962) Foto de Artur Goulart (Local do antigo "Palácio dos Senhores de Pancas" - Palácio de Arroios na "Rua de Arroios") in AFML
 Praça do Chile - (2012) - ("LARGO DE ARROIOS" visto da parte Sul, a Igreja ao fundo na direita) in  GOOGLE EARTH
Praça do Chile - (2012) - (O "LARGO DE ARROIOS" no final da "Rua de Arroios" no lado direito ficava o "Palácio dos Senhores de Pancas") in GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - PRAÇA DO CHILE [ III ]

«O LARGO DE ARROIOS»

Por altura de 1810 novamente o «LARGO DE ARROIOS» seria palco de tragédia, mas desta vez,  era o êxodo das populações que abandonavam as suas terras a caminho de LISBOA, fugindo à invasão comandada pelo general "MASSENA". 
Foi numa casa velha, talvez uma "estrebaria", ou um palheiro, que se instalou o que se chamou a «SOPA DE ARROIOS», o caldo distribuído aos povos famintos que vinham de longe à frente do exército «ANGLO-LUSO» deixando um rasto de devastação para que o inimigo não encontre abrigo.
O «LARGO DE ARROIOS» transformou-se num acampamento obstruído de bagagens, no meio dos quais se aninhavam as famílias desoladas.
Este espectáculo foi presenciado pelo grande pintor «DOMINGOS ANTÓNIO SEQUEIRA», que ao tempo morava em «SANTA BARBARA» e com o seu habilissimo lápis procurou desenhar e imortalizar este "quadro" e o drama popular, no momento em que se distribuía aos míseros fugitivos, por ordem do governo, a sopa diária. Terá depois sido legendado como sendo: "a distribuição do alimento que se repartia no CRUZEIRO DE ARROIOS aos infelizes emigrados que debandaram as suas terras assoladas pelo exército francês, na invasão de Outubro de 1810 e foram acolhidos e sustentados pelos moradores de Lisboa, com o mais louvável patriotismo e humanidade".
Deste desenho de «DOMINGOS SEQUEIRA» foi executada uma grande e excelente gravura de «GREGÓRIO FERNANDES DE QUEIROZ», discípulo do celebre «BARTOLOZZI».
Diz-nos o mestre «NORBERTO DE ARAÚJO» nas suas «PEREGRINAÇÕES EM LISBOA» que: "o Palácio dos senhores de Pancas - Pertenceu na primeira metade do século XVII ao Desembargador André Valente (o que deu o nome à Travessa que sai da Calçada do Combro e em cotovelo acaba na Rua do Século). Depois passou por compra aos Manueis de Vilhena, Condes de Vila Flor, ainda no século XVII, e em 1810 (o tempo da "SOPA DE ARROIOS") era de uma filha de "D. Cristóvão Manuel Vilhena" que casara com o 1º e único "Conde de Alpedrinha", neto do "Marquês de Pombal". Como os Vilhenas eram senhores de "Pancas", o Palácio passou a ser conhecido por aquele título. Em 1863-1864 recebeu grandes transformações urbanas, mas a linha geral de sacadas ficou sensivelmente a mesma. Já então a quinta havia sido aforada para construções de moradores".
Deste «LARGO DE ARROIOS» saia a velha «CALÇADA DE ARROIOS" (antigo caminho para o "ARCO DO CEGO" e "CAMPO PEQUENO"), a nova «RUA CARLOS JOSÉ BARREIROS» (antiga "Estrada da Charneca" ou das "Amoreiras") que ligava ao «LARGO DO LEÃO». A «RUA ALVES TORGO» (antiga "Estrada de Sacavém") e para sul apresenta-se a «RUA DE ARROIOS».
O «LARGO DE ARROIOS» terá sido de novo transformado por volta do ano 1898, apresentando um aspecto mais moderno; no largo edificaram-se prédios, alguns com fachadas em azulejos; outros no estilo destacante das casas portuguesas, com balcões salientes, lembrando amuradas de barcos; ao fundo eleva-se o viaduto e no sítio onde deviam ter estado as cavalariças pertencentes aos senhores de LINHARES, e aos nobres «SOUSAS COUTINHOS», levantaram-se prédios até próximo da «RUA PASCOAL DE MELO».
O «LARGO DE ARROIOS» tem presentemente um aspecto diferente do velho campo arrabaldino; os Palácios tiveram destinos diferentes dos que tinham na época de oitocentos. O do "LINHARES", onde talvez o principal "SOUSA", então membro da "REGÊNCIA", tivesse assistido à distribuição da «SOPA DE ARROIOS», foi depois um refúgio dos "Mutilados da Guerra"; o dos "Condes de S. Miguel" foi a estação dos carros do "LARMANJAT"; outras transformaram-se em oficinas de tecidos e também existiu no sítio a famosa "Fábrica de Cerveja LEÃO".
O «LARGO DE ARROIOS» agora mais modernizado com um pequeno jardim, "vê" de longe o "CRUZEIRO" que tão dignamente ficou resguardado na entrada da "IGREJA DE S. JORGE DE ARROIOS" de estilo moderno e bela aparência interior.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «PRAÇA DO CHILE [ IV ] - O CHAFARIZ DE ARROIOS»

sábado, 1 de setembro de 2012

PRAÇA DO CHILE [ II ]

 Praça do Chile - (1856-1858) (Coordenação de Filipe Folque) (Uma "Carta Topográfica de Lisboa" onde nos mostra o sítio de "ARROIOS" no século XIX) - LEGENDA - 1)HOSPITAL DE ARROIOS - 2)COLÉGIO DE NOVICIADO DA COMPANHIA DE JESUS, depois CONVENTO DA IMACULADA CONCEIÇÃO - 3)ESTRADA DE SACAVÉM - 4)LOCAL ONDE MAIS TARDE SERIA A "PRAÇA DO CHILE" - 5)IGREJA S. JORGE DE ARROIOS - 6)PALÁCIO DOS SENHORES DE PANCAS - 7)LARGO E CRUZEIRO DE ARROIOS.
 Praça do Chile - (1961) Foto de Arnaldo Madureira (O "Convento de Nª. Senhora da Conceição de Arroios" depois "Hospital de Arroios". Em primeiro plano  a estátua de "Fernão de Magalhães", oferecida pelo Governo do Chile,  da autoria do escultor Chileno "Guilherme Cordoba" que viria a ser inaugurada nesta praça em 17 de Outubro de 1950) in AFML
Praça do Chile - (2007) - (Panorâmica do "Largo de Arroios" onde se pode observar a "Igreja de S. Jorge de Arroios" entre a "Rua Alves Torgo" e a "Rua Carlos José Barreiros") in GOOGLE EARTH
Praça do Chile - (2009) - (Vista Panorâmica do "Sítio de Arroios". Podemos identificar o "Mercado do Arroios" ou "Mercado do Chile", "Avenida Almirante Reis", "Igreja de São Jorge de Arroios", o antigo "Hospital de Arroios" e ainda o velho "Cinema Império" virado para a "Alameda" etc.) in SKYSCRAPERCITY

(CONTINUAÇÃO) - PRAÇA DO CHILE [ II ]

«O SÍTIO DE ARROIOS»

A «GRANDE PESTE DE 1569» também conhecida por «PESTE NEGRA» terá começado do outro lado da fronteira e passado a PORTUGAL, tendo deixado muitas sequelas em LISBOA. O clima de instabilidade do País e a fuga à doença e à fome pôs muitos homens, sobretudo os mais pobres, em fuga para as grandes cidades, onde aguardavam melhor amparo e mais possibilidade de esmola. Morria-se de fome e de peste, e quem podia, abandonava a cidade. Porém, esta rapidamente se "repovoava" de pedintes, que vagueavam pelas ruas. Com a duração da peste e a chegada de mais famintos e doentes a LISBOA, a situação agravava-se.
Assim, o «SÍTIO DE ARROIOS», que na época era um arrabalde da cidade de LISBOA, serviu de cemitério comum às vítimas da peste.
O «LARGO DE ARROIOS» no século XVIII ainda era considerado como um arrabalde, plantado de hortas verdejantes, salpicado de casas e alguns palácios seiscentistas. «ARROIOS», por cuja estrada se fazia a saída de LISBOA para SACAVÉM (chegou a ser denominada de "ESTRADA DE SACAVÉM", que tinha início no "LARGO DE ARROIOS"), tendo um pedaço de história a ilustrá-la; (quem nos explica mais detalhadamente é o autor do blogue "BIC LARANJA", grande olisipógrafo e acérrimo defensor da genuína língua portuguesa).
Ainda no século XIX a «RUA DE ARROIOS» pelo seu desnível, provocava muitas cheias aliado à falta de esgotos ocasionando autênticos focos de infecções. O «LARGO DE ARROIOS», como o nome  indica, foi sempre um terreno alagadiço. Em finais desse século LISBOA terminava nesse "Largo" quando  a «AVENIDA DONA AMÉLIA» (actual Almirante Reis) ainda não existia.

Afirmam alguns autores que o vale que nasce no AREEIRO e termina perto do ROSSIO, será uma estrada quase natural, que condicionou todo o desenvolvimento das zonas circundantes. Terras fartas de água, o que nos é confirmado pela sua própria toponímia; «ARROIOS», «FONTAINHAS», «CHARCA» e «REGUEIRÃO», rodeadas de um grande centro consumidor e para ele dispondo de fáceis acessos, estavam, naturalmente, destinadas à prática de uma vantajosa agricultura intensiva e tinham assim condições para um aumento populacional, que mais tarde se veio a verificar.
A zona de «ARROIOS» pertenceu até à segunda metade do século XVI à paróquia de «SANTA JUSTA» e a partir dessa altura à paróquia dos «ANJOS». No ano de 1770 autonomiza-se como «SANTO ANDRÉ» e finalmente em 1780 passa a constituir a freguesia de «SÃO JORGE DE ARROIOS».
Começava-se a notar um certo crescimento, apesar de algumas destruições verificadas pelo terramoto de 1755. Quem nos relembra é «BAPTISTA DE CASTRO» no seu (Mappa de Portugal Antigo e Moderno, Vol. III, p.227) que: "desde as portas do "Paço da Rainha", ou Bemposta até Arroios (...) se fizeram de novo vários abarracamentos fabricados uns em madeira e tabique, outros de pedra e cal, para habitação de muita gente, que para ali veio fugindo do incêndio, e destroços do interior da cidade".

(CONTINUA) - (PRÓXIMA) -«PRAÇA DO CHILE [ III ] - O LARGO DE ARROIOS»