quarta-feira, 31 de julho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XXV ]

 Rua do Açúcar - (anos 50 do século XX) Foto de autor não identificado (Palácio dos "Condes de Figueiró" depois "Vila Nova de Famalicão" e por último dos "Marqueses de Abrantes", virado para a "Rua de Marvila") in ANTIGA FREGUESIA DOS OLIVAIS
 Rua do Açúcar - (1992/3) Foto de Filipe Jorge (Vista panorâmica de Lisboa na zona Oriental. É visível a "Doca do Poço do Bispo", muito próxima da nossa "RUA DO AÇÚCAR" em toda a sua extensão, mais para o lado de cima a linha ferroviária do Norte e cintura de Lisboa, que na sua primeira curva podemos ver um conjunto de casas abarracadas na (Quinta dos Marqueses de Abrantes), feitas pelos trabalhadores que representavam  a mão-de-obra, dos tempos áureos da Industrialização da Zona Oriental de Lisboa) in LISBOA VISTA DO CÉU
 Rua do Açúcar - (2009) Foto de Jmsbastos (Portal de acesso ao pátio da "Quinta e Palácio dos Marqueses de Abrantes" na "Rua de Marvila") in FLICKR
Rua do Açúcar - (anterior a 2009) Foto de Barragon (Portal de acesso ao pátio do Palácio e Quinta dos "Marqueses de Abrantes", com o reclame da Sociedade Filarmónica 3 de Agosto de 1885) in SKYSCRAPERCITY

(CONTINUAÇÃO) RUA DO AÇÚCAR [ XXV ]

«A QUINTA E PALÁCIO DOS MARQUESES DE ABRANTES ( 2 )»

«D. HELENA DE NORONHA» empreendeu grandes obras de beneficiação na Quinta, constando nos inventários feitos por sua morte as avaliações. "(...) no estado em que estão abatidas as malfeitorias que se fizeram nos desmanchos das casas para melhoramento da dita propriedade em 14 000 cruzados, em que entram todas as benfeitorias das vinhas e pomares e tudo o mais que está feito de pedra e cal e madeira, na dita Quinta (...) ( 1 ).  No testamento declarava "(...) tenho nela feito muitas benfeitorias e vou fazendo (...) ( 2 )
«FRANCISCO DE VASCONCELOS», casado com a herdeira da "CASA DE FIGUEIRÓ", de cujo senhorio foi o 1º Conde, em 1637 entrou na posse da «QUINTA DE MARVILA» "com outras pequenas, e diversos foros que se pagam de várias propriedades junto à dita quinta que tudo é a ela anexo (...) ( 3 ). Sucedeu-lhe o sobrinho «D. PEDRO DE LENCASTRE» e seu filho, «D. JOSÉ LUÍS DE LENCASTRE», moradores em SANTOS, que tiveram grande litígio ( 4 ) com a condessa viúva de "FIGUEIRÓ", que instituíra herdeira a Condessa de "CASTELO MELHOR": "pois minha sobrinha é a parente mais chegada que tenho dos VASCONCELOS e é herdeira de minha casa de "FIGUEIRÓ", que tenho de juro e herdade e fora da "Lei Mental", ela entra na 2ª. vida e eu na 1ª., que tenho alvará de duas vidas - e no prazo e quinta de Marvila, onde vivia, com todas suas pertenças - com todos os foros, jardins, quintas e cercas e pomares e tudo o que pertença a este prazo. Da qual tomou posse, e onde viveu, cobrando os foros de 1644-47 e 1654-1660, cobrados nos restantes anos pela Represália
«D. PEDRO DE LENCASTRE», comendador-mor de AVIS, herdara se seu tio o título de «CONDE» e o "MORGADO DO ESPORÃO", no qual a quinta fora integrada. O sucessor "D. JOSÉ", que trocou o título de "CONDE DE FIGUEIRÓ" pelo de "VILA NOVA DE PORTIMÃO", herdado de sua avó materna; "engrossando em rendas a sua grande casa por recaírem nela duas tão ilustres, veio a ser uma das mais ricas do Reino ( 5 ). Não deixou descendência, pelo que se lhe seguiu na titularidade seu irmão, «D. LUÍS», que em 1688 tomou posse. "(...) da quinta de Marvila e suas anexas, como também das benfeitorias que na dita quinta estão feitas, (...) tomou também posse de tudo aquilo em que a senhora Condessa tinha retenção, assim em louça como em tudo (...) ( 6 ), bem como da propriedade situada em XABREGAS chamada o "JARDIM", então nas mãos da Condessa de «CASTELO MELHOR», já falecida.
Por esta altura ter-se-á sugerido a «QUINTA DE MARVILA» como uma das hipóteses para instalação da rainha de Inglaterra, «D. CATARINA DE BRAGANÇA», regressada a LISBOA em 1693.
No ano de 1704, «D. PEDRO DE LENCASTRE», 5º CONDE DE VILA NOVA, sucedeu na Casa, cuja opulência se viu sobremaneira acrescida pela fusão mais tardia com a «CASA DE ABRANTES», originada pelo seu casamento com «D. MARIA SOFIA DE LENCASTRE». Detentor do senhorio de inúmeras vilas, Morgados e Alcaidarias-mores. Porém no ano de 1745 hipoteca a "QUINTA" para pagamentos de várias dívidas.
Em 1752, pelo pai, seu administrador, "MANUEL RAFAEL DE TÁVORA", o CONDE DE VILA NOVA «D. JOSÉ MARIA DE LENCASTRE», então com 10 anos, neto de «D. PEDRO», tomou posse do seu Palácio e Quinta de Marvila e de todos os mais bens do dito MORGADO.
A partir de meados do século XVIII, a Quinta e o Palácio, passaram a estar geralmente arrendados, degradando-se progressivamente o seu estado de conservação.

( 1 ) - IAN/TT, ACA - Morgado do Esporão, Mç. 188, doc. 3843
( 2 ) - Idem   Mç. 194, doc. 4037                                  
( 3 ) -   "       Mç. 191, doc. 3930
( 4 ) -   "       Mç. 192, doc. 3935
( 5 ) - SOUSA, Antº Caetano de, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, LºXI cap. XXI, p, 191
( 6 ) -IAN/TT, ACA - Morgado do Esporão, Mç. 191, doc. 3931.
SIGLAS 
IAN/TT =Instituto de Arquivos Nacionais/Torre do Tombo 
ACA = Arquivo da Casa de Abrantes.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [XXVI]-A QUINTA E PALÁCIO DOS MARQUESES DE ABRANTES ( 3 )»

sábado, 27 de julho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XXIV ]

 Rua do Açúcar - (1992/3) - Foto de Filipe Jorge (Panorama da antiga "QUINTA DE MARVILA". Se alinharmos em linha recta de "X" a "X", vamos encontrar, sensivelmente, as grandes dimensões desta Quinta) in LISBOA VISTA DO CÉU
 Rua do Açúcar - ( 1998) Foto de António Sacchetti (Vista do conjunto do Palácio dos "MARQUESES DE ABRANTES". No lado esquerdo o edifício onde esteve instalado de 1862 a 1930 a "Escola Normal Primaria de Lisboa", para o ensino de professores. O grande portal central de acesso ao pátio é o elemento central enobrecedor do conjunto, sendo as duas janelas que o acompanham possivelmente mais tardias) in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (anos 50 do século XX) Foto de autor não identificado (No chamado pátio do Palácio, a sede de um clube recreativo, dominada por um pequeno campanário, da antiga Capela dos "Marqueses de Abrantes") in ANTIGA FREGUESIA DOS OLIVAIS 
Rua do Açúcar - (2011) (Pátio do antigo "PALÁCIO DOS MARQUESES DE ABRANTES", virado para a "Rua de Marvila") in MARCAS DAS CIÊNCIAS E DAS TÉCNICAS

(CONTINUAÇÃO) RUA DO AÇÚCAR [ XXIV]

«A QUINTA E PALÁCIO DOS MARQUESES DE ABRANTES ( 1 )»

"DOM AFONSO HENRIQUES" após a tomada de LISBOA, doou à "MITRA DE LISBOA" (1149) "três dezenas de casas e todas as rendas e terras de MARVILA que pertenciam às Mesquitas dos MOUROS ( 1 ). Por sua vez, o 1º Bispo lisboeta, «D. GILBERTO», ao organizar o CABIDO (1150) concedeu-lhe metade de Marvila.
A parte adstrita à Mesa Pontifical - a QUINTA DA MITRA - constituía um terreno vastíssimo indo do BEATO ao POÇO DO BISPO, e do rio até à estrada para o ALFUNDÃO. Veio a "QUINTA DE MARVILA" a cair na família dos "COSTAS", parente do cardeal ALPEDRINHA, "D. JORGE DA COSTA" com o domínio útil a título perpetuo. Integrada depois no «MORGADO DO ESPORÃO», transitou por herança para os "CONDES DE FIGUEIRÓ", depois de "VILA NOVA DE PORTIMÃO" e "MARQUESES DE ABRANTES".
A parcela maior da "HERDADE" - assim referida no século XVII - a chamada da "QUINTA GRANDE", reservaram os senhores para si, com vinhas, pomares, hortas e olivais, aí construindo casas nobres que, fruto de várias campanhas de obras, ganharam dimensões palacianas. Sabe-se que no século XV, entre os bens que pertenciam à sua "Mesa Pontifical", estava uma quinta " que se chama de MARVILA, que está além do Mosteiro de S. Bento". Em 30.04.1495 renovou o cardeal "ALPEDRINHA" o emprazamento em três vidas da (...) "Quinta de Marvila, além do Convento de S. João de Santo Elói, pelo foro de 3500 réis ( 2 ), a sua irmã, "D. CATARINA DE ALBUQUERQUE", terceira vida no prazo. Justificou-se a renovação, "por ela dita senhora ter feitas muitas benfeitorias e esperava ao diante mais fazer", na propriedade composta por casas, terras, vinhas e olivais. "D. CATARINA" nomeou na posse do prazo da quinta, em segunda vida, a sua sobrinha, "D. HELENA DA COSTA" ( 3 ), que o possuiu com isenção de foro na prelatura de "D.MARTINHO DA COSTA", seu tio.
Esta senhora, por sua vez, nomeou terceira vida, por testamento, ao irmão "JOÃO DA COSTA", senhor de "PANCAS", que em 1541 tomou posse (...) "da quinta de Marvila que está a par de S. Bento e das casas do Conde de Portalegre" ( 4 ).
Coube à mulher deste fidalgo, "D. INÊS DE NORONHA", a obtenção de novo plano de aforamento em (1573), e a duas de suas filhas um papel fundamental na história desta propriedade.
A primeira, "D. Jerónima de Noronha, sendo possuidora desta Quinta (...) suplicou à Sé Apostólica, lhe reduzisse este prazo que era em vidas, a enfatiota, em razão de haver feito nela grandes benfeitorias, e com efeito se lhe expediu BULA (...) ( 5 )
Concedido o pedido passou a «QUINTA DE MARVILA» a constituir um prazo perpétuo com o foro de 6000 réis anuais, por breve assinado pelo Cardeal "D. HENRIQUE" (1566), então ARCEBISPO DE LISBOA ( 6 ).
A segunda filha, herdeira da irmã, "D. HELENA DE NORONHA", senhora de "PANCAS", tomou posse da propriedade em 1575 ( 7 ),junto com seu primeiro marido "D. MANUEL DA CUNHA", Morgado de "TÁBUA".  "D. HELENA" casou em terceiras núpcias com "MANUEL DE VASCONCELOS", regedor da Justiça e Presidente da Câmara, Morgado "ESPORÃO", figura de relevo no período filipino, de quem não teve geração.
Sem herdeiros, foi obrigado a instituir por testamento (1602), aberto em Marvila  (1619), morgado de todos os seus bens livres, incluindo esta quinta.
Para primeiro administrador do vínculo, que anexou ao do "ESPORÃO", chamou o enteado "FRANCISCO DE VASCONCELOS" depois " 1º CONDE DE FIGUEIRÓ", primogénito do regedor.

- ( 1 ) -Cunha, D. Rodrigo da, História Eclesiástica da Igreja de Lisboa. Lisboa, 1642,pp69 e seg.
- ( 2 ) -IAN/TT,ACA - Morgado do Esporão, Mç. 188, doc. 3841.
- ( 3 ) -IAN/TT,ACA - Morgado do Esporão, Mç. 190, doc. 3904
- ( 4 ) -IAN/TT,ACA - Morgado do Esporão, Mç. 191, doc. 3927
- ( 5 ) -IAN/TT,ACA - Morgado do Esporão, Mç. 188, doc. 3840
- ( 6 ) -Delgado, Ralph - "O LUGAR DE MARVILA E A QUINTA DA MITRA", in Olisipo, Lisboa 1963, nº 103.
- ( 7 ) -IAN/TT,ACA - Morgado do Esporão, Mç. 190, doc. 3903

SIGLAS
- IAN/TT =Instituto de Arquivos Nacionais/Torre do Tombo.
- ACA = Arquivo da Casa de Abrantes   

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XXV ]A QUINTA E PALÁCIO DOS MARQUESES DE ABRANTES ( 2 )»

quarta-feira, 24 de julho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XXIII ]

 Rua do Açúcar - (1969) Autor da fotografia não identificado (Frontaria do Convento de Nª. Senhora da Conceição de Marvila", depois "Asilo de Velhos de Marvila" in AFML 
 Rua do Açúcar - (1969) Foto de autor não identificado (Capela do antigo "Mosteiro de Marvila" vista da parte Norte) in AFML 
Rua do Açúcar - (1998) Foto de António Sacchetti (Interior da Igreja do "Mosteiro de Marvila", iniciada pelo "Fr. Pedro de Santo Agostinho", do "Convento de São Francisco de Xabregas" e só ficou concluída no ano de 1680) in CAMINHO DO ORIENTE 
 Rua do Açúcar - (Colocado em 1911) Foto de António Sacchetti (Busto de mármore branco, assinado por "G. DUPRE-F.1852, FIRENZE, de "MANUEL PINTO DA FONSECA", benemérito fundador do "ASILO D. LUÍS I" no "Convento de Marvila") in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1998) Foto de António Sacchetti (Um painel de azulejos revestindo uma parte do coro baixo, no interior da Igreja do Mosteiro de Marvila) in CAMINHO DO ORIENTE
Rua do Açúcar - (14 de Janeiro de 1961) (Programa das comemorações do 50º Aniversário do "ASILO DE VELHOS DE MARVILA", com a  realização de um espectáculo musical pela F.N.A.T., no salão de festas desta instituição) in ARQUIVO/APS

(CONTINUAÇÃO) RUA DO AÇÚCAR [ XXIII ]

«O CONVENTO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE MARVILA ( 2 )»

O conjunto é de planta muito simples. Um quadrado em torno do claustro, reunia as dependências conventuais.  Desse quadrilátero saíam dois corpos laterais, formando  um  "U", que envolvia o pátio. O corpo lateral poente albergava a Igreja. O templo, como era habitual nos Conventos de freiras, destinava o seu eixo principal ao altar-mor e ao coro, dividido este em dois andares. Abria lateralmente a sua porta principal, dando sobre o pátio de entrada.
O traçado do edifício é de extrema modéstia, formando um simples rectângulo a que se adossava um outro mais pequeno, destinado à capela-mor. No corpo da Igreja abriam-se um número variável de capelas, pouco profundas, albergando cada uma o seu altar. No topo  sul, abria-se o duplo coro das freiras, separado da Igreja por fortes grades.
Sobre esta austera receita sobrepunha-se a exuberância decorativa. Talhas douradas nos altares, azulejos historiados até meia altura e, depois grandes telas entalhadas, que lembravam a devoção própria da casa religiosa. Por vezes surgiam, por doação mais farta, os mármores embrechados, com desenho miúdo.
Nesta Igreja temos exemplos de tudo. Existem mármores coloridos na Capela-mor, na parte concluída pela referida "D. ISABEL HENRIQUES". São completados pelos degraus, também em mármore, de um forte tom rosa, sem dúvida de belo efeito.
Os altares são de boa talha, desenhados com colunas torsas, enleadas de parras e anjos, que se prolongam em arquivolta, ao jeito de reminiscência dos antigos portais românicos.
Os azulejos, atribuídos por "JOSÉ MECO" ao monogramista "P.M.P.", são de boa qualidade, compondo um conjunto que se impõe pelo colorido forte e o excelente estado de  conservação. No coro baixo, os painéis de azulejos são de grande beleza, tendo sido atribuídos por "SANTOS SIMÕES" a "ANTÓNIO DE OLIVEIRA BERNARDES", o mais notável pintor de azulejos deste período.
A pintura é, talvez, neste conjunto tão harmónico, o detalhe mais importante. É da autoria de "BENTO COELHO DA SILVEIRA", um dos pintores mais interessantes dessa época pictoricamente tão fraca.
É composta, entre outros, por uma série sobre a vida de "SANTO AGOSTINHO".
Quanto à parte conventual, só o claustro mantém a sua forma primitiva. É simples e de boa dimensões, com arcaria sustentada em pilares sólidos, despidos de qualquer enfeite. Ao centro, um pequeno tanque com chafariz põe nota bucólica na agradável austeridade desta simples quadra.
O «MOSTEIRO DE MARVILA» foi suprimido por decreto de 11 de Abril de 1872. Depois da carta de lei de 10 de Abril de 1874, o Governo ofereceu as instalações para o "ASILO D. LUÍS I", fundado em 1861, com um legado testado pelo comendador "MANUEL PINTO DA FONSECA".
Depois da implantação da República, logo em 1911, o nome do ASILO, foi substituído por "ASILO MANUEL PINTO DA FONSECA". E, em 1928, vagando esta casa, por o ASILO se ter transferido para o "PORTO BRANDÃO", nela foi instalado o "ASILO DOS VELHOS DE CAMPOLIDE", com secção para cegos de ambos os sexos. O edifício tem capacidade para albergar cerca de 500 internos. Actualmente, no portão do corpo central do pátio de entrada, vê-se a legenda de «ASILO DE VELHOS DE MARVILA».

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XXIV ]A QUINTA E PALÁCIO DO MARQUÊS DE ABRANTES ( 1 )»

sábado, 20 de julho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XXII ]

 Rua do Açúcar - (2010) Foto de Barragon ("Igreja e Convento de Marvila", na "Rua Direita de Marvila" e antiga "Quinta de Marvila") in SKYSCRAPERCITY
 Rua do Açúcar - (1833) (Desenho de Gonzaga Pereira) (O "Convento de Marvila" desenho inserto in "Monumentos Sacros de Lisboa" em 1833. Podemos notar a arcada que inicialmente fechava o pátio de entrada, dando acesso directo ao claustro) in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1998) Foto de António Sacchetti (O Pórtico da Igreja do "Mosteiro de Marvila" datado de 1725 é atribuído a "João Vicente dos Santos", pai da Ordem religiosa) in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (depois de 1666) Foto de Antº Sacchetti (A Pedra de Armas do arcebispo "Fernão Cabral", um dos patronos do "Mosteiro de Marvila", colocada no exterior da porta lateral do Mosteiro ) in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1998) Foto de Antº Sacchetti (Aspecto do claustro do Convento de Marvila, construção dos últimos anos do século XVII e início do seguinte) in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1998) Foto de Antº. Sacchetti (Coroamento com frontão de um dos corpos simétricos que fecham o pátio do "Mosteiro de Marvila", com decoração de azulejos) in CAMINHO DO ORIENTE
Rua do Açúcar - (1998) Foto de Antº Sacchetti (Um pormenor da decoração em talha e painel de azulejo, na "Igreja do Mosteiro de Marvila", salientando o púlpito no corpo do templo) in CAMINHO DO ORIENTE

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XXII ]

«O CONVENTO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE MARVILA ( 1 )»

Este Convento foi erguido numa parcela do terreno foreiro ao Morgado do "ESPORÃO", correspondendo à extremidade nascente da grande «QUINTA DE MARVILA», dos CONDES de "FIGUEIRÓ", assim era designada no século XVI, por a "CABEÇA". Vendida por "PAULO DE TOVAR" ao cónego "MANUEL PIMENTEL" em 1611 ( 1 ), foi herdada por a família "TINOCO" em (1623). Foi adquirida mais tarde por "SANCHO DE FARIA E SILVA" a que deram o nome de "QUINTA DO SANCHO DE FARIA AO POÇO DO BISPO" ( 2 ).
Em 1648 comprava em haste-pública esta QUINTA, o Arcediago "FERNÃO CABRAL" que, por sua vez, a doou para a construção do CONVENTO.
Existe na zona de LISBOA dois antigos CONVENTOS DE FREIRAS, um na zona OCIDENTAL e outro nesta zona ORIENTAL, dedicados ao mesmo orago «NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO». O primeiro é o "CONVENTO DE Nª. SENHORA DA CONCEIÇÃO DOS CARDAIS" na "RUA DO SÉCULO" (ver mais aqui), o outro é este de MARVILA, das «FREIRAS DE SANTA BRÍGIDA" ou "BRÍGIDAS".
Esta Ordem tem história acidentada, que retrata as atribulações por que a EUROPA passou com os desentendimentos religiosos do século XVI.
"SANTA BRÍGIDA" era sueca e instituiu uma ordem nas friezas da sua pátria. 
"HENRIQUE V" de Inglaterra tomou de afecto as freiras escandinavas, fundando-lhes um Convento. Foi a "CASA DO MONTE SION".
Mais tarde, os distúrbios de "HENRIQUE VIII" levaram à expulsão das freiras, andando desde então as pobres em bolandas. Foram para a "FLANDRES", de onde fugiram à frente das tropas heréticas de "GUILHERME DE ORANGE". Seguiram para "ROUEN", onde as atingiram as fúrias dos huguenotes. Finalmente, em desespero de causa, meteram-se num barco com destino à Península Ibérica.
Reparem os termos como se descreve a viagem que as trouxe até LISBOA. Escreve o autor: "Como o seu desígnio se dirigia a ESPANHA, forcejou muito a sua embarcação por tomar nela algum porto: porém como DEUS NOSSO SENHOR as tinha destinado para PORTUGAL, a fúria dos temporais e o medo de outro qualquer encontro, as meteu como por força, na BARRA DE LISBOA"(...).
Estes acontecimentos passaram-se em 1594, sendo as errantes religiosas recebidas em LISBOA com júbilo de quem ganha uma batalha. Foi-lhes dada casa ao antigo MOCAMBO, onde fundaram o seu mosteiro em LISBOA conhecido por "CONVENTO DO QUELHAS", ou das "INGLESINHAS". Aí professou "D. LEONOR DE MENDANHA", rica herdeira, que se escondeu sob o nome de Madre BRÍGIDA DE SANTO ANTÓNIO. Em 1655, a reverenda MADRE conseguiu os seus intentos de fundar nova casa. Não o fez sem reticências de "D. JOÃO IV", que julgava que LISBOA já tinha CONVENTOS a mais. Mas a MADRE teimou na sua e, a meias com o arcediago "FERNÃO CABRAL", dono de uma Quinta em Marvila, que se prestou oferecer para os pios propósitos,  lá conseguiram arrancar ao rei a tão pretendida autorização, com o alto patrocínio da rainha "D. LUÍSA DE GUSMÃO".
Assim, nascia o «CONVENTO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE MARVILA», dedicado, certamente para agradar ao rei indeciso, à recentemente declarada "PADROEIRA DO REINO".
Não foi fácil de início a vida do Convento. O dinheiro era pouco e as obras arrastavam-se... O arcediago "FERNÃO CABRAL" ainda viu erguida a nova Igreja, completada com a dádiva de "D. ISABEL HENRIQUES", ainda lembrada em lápide na parede lateral da capela-mor.
É no período entre 1660 e 1690, do chamado barroco de sensibilidade portuguesa, que se ergue e decora este Mosteiro. Alguns pormenores são posteriores, como os azulejos, mas o essencial desta casa religiosa estava então construída. Este facto concede a esta igreja a indispensável importância de ser um exemplar completo de um gosto específico, perfeito de harmonia dos diversos elementos, seja arquitectónicos, seja decorativos.

( 1 ) - DELGADO, RALPH - O Mosteiro de Marvila, in Olisipo - Nº110, p.113-1965-LISBOA

( 2 ) - Instituto de Arquivos Nacionais/Torre do Tombo-Registos Paroquiais, Nª Srª. dos Olivais, Baptismos, Cx. I, Lº. 4, fl. 6.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XXIII ] O CONVENTO DE Nª. Srª. DA CONCEIÇÃO DE MARVILA ( 2 )»

quarta-feira, 17 de julho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XXI ]

 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (A "VILA PEREIRA" na "Rua do Açúcar" conhecida noutros tempos como: "Vila directamente ligada à produção", é constituída por 42 fogos) in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (A parte final da "Vila Pereira" na "Rua do Açúcar") in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2010) Foto de Barragon (A "Vila Pereira" na "Rua do Açúcar) in PANORAMIO
 Rua do Açúcar - (1887) (Planta do primeiro andar da "Vila Pereira" na "Rua do Açúcar", no Arquivo de Obras da C.M.L. - Processo de Obras nº 3339-Vila Pereira) in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar (2012) - (A "Vila Pereira" localizada na "Rua do Açúcar", o seu piso térreo era ocupado por oficinas de Tanoaria e armazéns de vinhos. As habitações ficavam no primeiro andar e águas-furtadas) in GOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar - (ant. 1998) Foto de António Sacchetti (Com uma ostentação arquitectónica a "Vila Pereira" na "Rua do Açúcar", destaca-se pelas suas enormes e inúmeras chaminés) in CAMINHO DO ORIENTE
Rua do Açúcar - (ant. 1998) (Foto de António Sacchetti) (Pormenor das chaminés da "Vila Pereira" na "Rua do Açúcar", números 24 a 50) in CAMINHO DO ORIENTE

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XXI ]

«A VILA PEREIRA»

A «VILA PEREIRA» fica na «RUA DO AÇÚCAR» dos números 24 a 50, com esquina para a «RUA PEREIRA HENRIQUES».
Esta vila apresenta uma tipologia muito especial no género das habitações lisboetas que, numa determinada época, eram classificadas por "Vila directamente ligada à produção".
Destaca-se por ser um edifício implantado ao longo da "RUA DO AÇÚCAR" e pelo facto das habitações se localizarem sobre os próprios armazéns de actividade. Neste caso concreto, o próprio local de trabalho agrega as habitações dos seus operários.
A par destas características, a «VILA PEREIRA» faz parte integrante da fisionomia da zona do "POÇO DO BISPO", sendo um edifício que se distingue pela distribuição ritmada das grandes portas no rés-do-chão, das janelas do primeiro andar e pelas suas imponentes chaminés, que marcam todo o comprimento habitacional, conferindo-lhe uma leitura cadenciada.
Foi mandado construir no ano de 1887 pela "SOCIEDADE SANTOS LIMA & Cª.", este edifício que reúne duas funções ( o trabalho e a habitação).
Num estudo que o arquitecto "TEOTÓNIO PEREIRA" em "PRÉDIOS E VILAS DE LISBOA" definiu este grupo  específico de "VILAS", no qual se insere a "VILA PEREIRA". Trata-se de uma modalidade associada a empresas de menor dimensão, em sectores específicos da actividade industrial, sendo as habitações integradas no próprio edifício das instalações fabris.
Aliás toda esta zona do "POÇO DO BISPO" era marcada pela abundância deste tipo de construção, como por exemplo o complexo armazém, escritórios e habitação para os empregados administrativos, mandado construir pela empresa de "JOSÉ DOMINGOS BARREIROS"
No que diz respeito à "VILA PEREIRA", a sua ostentação arquitectónica não é tão sumptuosa como no exemplo anterior, destacando-se antes pela conjugação de alguns dos seus elementos funcionais. Assim, a fachada principal deste prédio de dois pisos, organiza-se por módulos compostos: 1º.) no piso térreo, por três vãos com uma porta e duas janelas de arco de volta inteira, com bandeira preenchida por gradeamento de ferro fundido, onde se inseriram as siglas do proprietário (FSL) e datação do imóvel (conforme a época); 2º.) no primeiro andar, por quatro janelas, dispostas simetricamente.
O prédio compõe-se ainda por mansardas discretamente implantadas e disfarçadas pelas chaminés, distribuindo-se duas por cada modulo.
Este efeito repete-se integralmente cinco vezes e podia ser acrescentado até ao infinito, mantendo a mesma harmonia e equilibro.
No piso térreo necessitava de áreas muito amplas para o desenrolar das actividades da firma. Ali se instalaram oficinas de tanoaria ou espaços de armazenagem.
Entre o primeiro andar e o sótão desenvolviam-se as habitações, comportando um elevado índice populacional, para um espaço tão pequeno. As habitações distribuem-se ao longo de um corredor, para ambos os lados, (conforme figura quatro), criando um curioso sistema de relações de vizinhança, no seu próprio âmago. As dimensões e área de cada divisão são exíguas.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XXII ]-CONVENTO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE MARVILA ( 1 )»

sábado, 13 de julho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XX ]

Rua do Açúcar - (2013) (Fachada da propriedade na "Rua do Açúcar" da antiga "Quinta do Betencourt") in GOOGLE EARTH 
 Rua do Açúcar - (2013) (Fachada da Casa Nobre de Betencourt na "Rua do Açúcar" obtida do lado nascente (Poço do Bispo) in GOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar - (2007) - Panorâmica da "Quinta do Brtencourt", representa a primeira faixa de terreno entre a "Rua do Açúcar" e a "Rua Direita de Marvila" junto da passagem de nível. Segue para norte a "Quinta do Convento", fazendo parte as duas propriedades da antiga "Quinta de Marvila") in GOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Uma parcela do edifício nobre da velha "Quinta do Betencourt") in ARQUIVO/APS
Rua do Açúcar - (2010) (Foto de Barragon) (Início da "Rua do Açúcar" vendo-se depois do edifício de cor azul, a fachada da casa Nobre da "Quinta do Betencourt") in SKYSCRAPERCITY

(CONTINUAÇÃO) - «RUA DO AÇÚCAR [ XX ]

«A QUINTA DO BETENCOURT ( 2 )»

O foreiro mais antigo de que há informação é «LÁZARO LOPES DE ALMEIDA», que vinculou a propriedade a favor da família «ALMEIDA BETENCOURT», por certo seus familiares. É natural que inicialmente as casas se dispusessem no cimo da Quinta, sobre a "RUA DE MARVILA" então o eixo principal, levando a alteração da importância das vias públicas à escolha mais tardia da implantação da nova residência sobre a «ESTRADA DO POÇO DO BISPO». Não existe informação sobre a data exacta da construção desta interessante fachada, bom exemplar da casa nobre urbana lisboeta do século XVIII, virada para a actual "RUA DO AÇÚCAR".
É certamente, tendo em vista alguns elementos decorativos, desenho  do portal de acesso, com frontão triangular, vergas curvas nas aberturas e grades das sacadas, datadas do segundo quartel do século XVIII em diante, quando estes elementos arquitectónicos se vulgarizam entre nós.
Podemos assim pensar tratar-se de uma campanha de obra da iniciativa do último membro da família "BETENCOURT", «PEDRO DE ALMEIDA BETENCOURT», aqui residente nesse período pelo menos até 1763, data em que na casa residia já «CHRISTAN SMITH».
O facto de sobre o portal se encontrar ainda o suporte para a pedra de armas, entretanto desaparecida, parece confirmar a hipótese de o construtor ser o referido senhor, dado que nenhum dos posteriores locatários teriam direito a uso de brasão. O citado cidadão inglês instalou nesta propriedade uma «FÁBRICA DE AÇÚCAR», eventualmente a origem que veio a dar o nome à actual "RUA DO AÇÚCAR". 
Sabendo que dela faziam parte algumas outras casas anexas, é possível que a referida fábrica - por certo de pequenas dimensões - se localizasse nessa dependência e não na Casa Nobre, a qual sabemos, pelos LIVROS DA DÉCIMA, habitada por "CHRISTIAN SMITH" até 1782.

A estrutura de construção é muito simples, embora denote algum cuidado, quer nos pormenores decorativos, quer na rigorosa obediência às regras da simetria. Sobre o piso térreo - inicialmente destinado a cavalariças e armazéns - corre o andar nobre de sacada que, para trás, é rés-do-chão, abrindo sobre um terraço lajeado.
A este andar se sobrepõe um mezanino ( 1 ), de  vão e abertura muito pequenas. Ao centro do piso térreo abre-se o portal - muito prejudicado nas suas proporções pela subida do nível da rua - que dá entrada para um vestíbulo agora compartimento, de onde nascia lateralmente a escada muito simples para o andar nobre.
Ao fundo desse vestíbulo abre-se um arco de acesso a um corredor largo que vencia em rampa o desnível da encosta, conduzindo ao referido terraço e deste por escada ao jardim e quinta (onde hoje funcionam os viveiros camarários) e na qual ainda se destaca o antigo poço com a sua nora.

( 1 ) - MEZANINO - Sobreloja; piso baixo entre dois mais altos, geralmente entre o rés-do-chão e o 1º andar.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) «RUA DO AÇÚCAR [ XXI ] A VILA PEREIRA»   

quarta-feira, 10 de julho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XIX ]

 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Um troço da "Rua do Açúcar" onde podemos observar o portal e o suporte onde deveria estar colocada a "Pedra de Armas" da "Quinta do Betencourt") in  ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Fachada da residência do proprietário da "Quinta do Betencourt", na "Rua do Açúcar") in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Um troço da "Rua do Açúcar" frente à residência da "Quinta do Betencourt") in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Pereira) (Sensivelmente neste sítio existia uma fábrica de Açúcar refinado do industrial "Christian Smith", que veio dar o nome a esta artéria) in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar (2013) (Pormenor do portal onde se encontrava a pedra de Armas de "Pedro de Almeida Betencourt", hoje desaparecida) in GOOGLE EARTH
Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Na "Rua do Açúcar" uma parte da casa nobre da "Quinta do Betencourt") in ARQUIVO/APS

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XIX ]

«A QUINTA DO BETENCOURT ( 1 )»

A propriedade integrou o vínculo instituído por "LÁZARO LOPES DE ALMEIDA" e sua mulher, "D. FRANCISCA DIAS" (1634), com Capela na antiga Igreja do "CONVENTO DE S. FRANCISCO DE XABREGAS", em cujo cruzeiro foram sepultados, segundo disposição testamental ( 1 ). Este casal, sem geração "morador no POÇO DO BISPO na sua quinta de Xabregas sita junto do Convento de S. Bento, aforada ao Conde de "Figueiró", em 24.03.1645 apadrinhou "JOSÉ" ( 2 ), filho de "PEDRO DE ALMEIDA BETENCOURT", cuja família ficaria ficaria com a administração do Morgado de "LÁZARO LOPES".
"PEDRO BETENCOURT", que pouco anos decorridos estava na posse da "QUINTA DE MARVILA" (1669) servira, como seu pai, a CASA DE BRAGANÇA em VILA VIÇOSA de onde passara a LISBOA na companhia de «D. JOÃO IV».
Guarda-roupa do "PAÇO" acumulou o cargo de escrivão da fazenda do "CONSELHO DA RAINHA", mantendo-se o cargo na família durante os reinados de "D. PEDRO V" e "D. JOÃO V".
«JOSÉ DE ALMEIDA BETENCOURT» e seu filho "PEDRO", ali baptizado em vida do avô (1676), mantiveram a sua residência na Quinta. Em 1763 a propriedade foi avaliada em 7 000 cruzados, sendo composta por quinta, casas nobres e mais sete moradias de casas pertencentes à dita quinta.
Era arrendatário, e morador, "CHRESTIANO ESMITE" ou "CHRISTIANO SMITH", "homem de negócios de grosso trato, que pagava 300 000 réis, mantendo-se até 1782". Depois de um período em que esteve devoluta, passou a conhecer a rotatividade entre os arrendatários: "JOÃO LISBOA" (1785) em parte das casas altas, estando o resto devoluto; "ANTÓNIO REBELO"(1786-89) e já no século XIX "ANA MAURÍCIA REBELO"(1814).
A adaptação a diferentes funções esquartejou por completo o seu interior. Transformado em vila operário ("o pátio Beirão") depois em Escola, mais tarde retomou a sua função primitiva, como habitação.
Assim, esta propriedade, parte integrante da grande "QUINTA DE MARVILA", a quem pagavam foro ( com o número 18 conforme se indica no mapa), era constituída por uma faixa rectangular de terreno entre a "RUA DIREITA DE MARVILA" e a "ESTRADA DO POÇO DO BISPO", com acesso inicial pelas duas vias, confrontando a Norte com o "CONVENTO DE MARVILA"  e a Sul com os terrenos que em 1752 constituíam uma courela ainda adstrita à "CASA DE VILA NOVA" (ABRANTES).

( 1 ) - IAN/TT, RGT, Lº. 11 fls. 34v-36v
( 2 ) - INA/TT, RP Nª. Senhora dos Olivais, Baptismos cx. 1, Lº. 4

SIGLAS
INA-Instituto de Arquivos Nacionais/Torre do Tombo
RGT - Registo Geral de Testamentos
RP - Registos Paroquiais

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XX ] -A QUINTA DO BETENCOURT ( 2 )»

sábado, 6 de julho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XVIII ]

 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Em terrenos que anteriormente foram da "Quinta de Marvila" dos "Marqueses de Marialva", ergue-se agora este belo edifício moderno, que supostamente pertence à "SOC. GERAL", e dedica-se a arrendar espaços para escritórios, situado na "Rua do Açúcar", 86) in  ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar -  (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Fachada do Moderno edifício, nos terrenos da antiga "Quinta de Marvila" que pertenceram aos "Marialvas") in ARQUIVO/APS 
 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Um troço da "Rua do Açúcar" onde podemos observar o estado degradado do "observatório" para o rio, da chamada "Quintinha" que fazia parte da "Quinta de Marvila") in ARQUIVO/APS
Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Este edifício que possivelmente serviu de fábrica ou armazém, foi construído no espaço que pertenceu à "Quinta de Marvila" virada para a "Rua do Açúcar") in  ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Um troço da "Rua do Açúcar" sentido para Norte, no lado esquerdo a "Rua dos Amigos de Lisboa" in GOOGLE EARTH
Rua do Açúcar - (2013) (Uma panorâmica tirada da "Rua da Cintura do Porto" para a "Rua do Açúcar" no sítio da grande "Quinta de Marvila") in GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XVIII ]

«A QUINTA DO MARQUÊS DE MARIALVA ( 3 )»

A «QUINTINHA» pertenceu ao conjunto da propriedade que o «MARQUÊS DE MARIALVA" tinha nesta área, cujo palácio se situava próximo do actual "PÁTIO DO MARIALVA", e os seus terrenos desciam até ao Tejo.
Como se sabe o palácio ainda visitado por "BECKFORD" em finais do século XVIII, foi descrito pelo nobre inglês como bastante arruinado, e dele hoje pouco resta. A quinta ou pavilhão que agora de desvenda, teve maior fortuna, podendo ser reconhecido como peça da arquitectura civil do século XVII ainda com decoração azulejar coeva e campanhas de obras no século XVIII.
A decoração cuidada dos interiores permite pensar que se trataria de um pavilhão de apoio a um antigo "CAIS MARIALVA", destruído para se ganhar terreno ao TEJO, como aliás o cais da "QUINTA DA MITRA", situado e escassos metros mais à frente.
As salas com abertura a nascente, davam acesso a um grande terraço, sobre o TEJO, de onde se desfrutava ainda no início do século XX de um panorama deslumbrante.
O "Pátio da Quintinha", uma das ilhas de habitação operária de Lisboa Oriental, protegido pelos antigos muros, edifícios para armazéns e fachadas de edifícios da quinta, a ilha franqueia-nos a entrada por um portão desmantelado.
Entramos num antigo pátio de calçada em basalto que se prolonga por baixo de um arco, passadiço da antiga Casa Nobre para outras dependências onde ainda se vêm restos de um muro de varanda ou terraço. No Pátio, restos de uma fonte ou poço, são também memória muito destruída da antiga casa.
A construção de habitações precárias foi tomando conta de todos os possíveis espaços, utilizando muros, armazéns, terraço como elemento de suporte. Os sucessivos habitantes foram criando uma nova realidade de pátio de habitação operária, num ambiente que ainda tem qualquer coisa de rural.
No século XIX a "QUINTA DE MARVILA" dos "MARQUESES DE MARIALVA" chegou a ter uma frente na via que dava para o rio, ou seja a actual "RUA DO AÇÚCAR" juntamente com o início da "RUA DO BEATO", que representa hoje desde a "RUA CAPITÃO LEITÃO" até ao final da entrada para o "PÁTIO DA QUINTINHA".
Nesta propriedade dos "Marqueses de Marialva" junto à actual "RUA DO AÇÚCAR" (na sua parte mais a sul), tem vindo a aparecer novas construções, substituindo os prédios que se vão degradando. Estamos a recordar-nos de um grande edifício pegado à "QUINTINHA" no sentido norte, uma nova construção de cor alaranjado escuro, tendo aspecto de ter sido uma fábrica, com armazéns e escritórios no primeiro piso. Segue-se um outro edifício de grandes proporções com jardins circundantes, linhas modernas que possivelmente serve uma empresa que arrenda espaços para escritórios, com ligação à "SOC. GERAL DE PROJECTOS IMOBILIÁRIOS E SERVIÇOS -SGPS", com entrada pela "Rua do Açúcar" e "Rua Amigos de Lisboa". Neste edifício existe uma representação da "antiga" "SACOR MARÍTIMA", fazendo hoje parte (possivelmente) da "PETRÓLEOS DE PORTUGAL - PETROGAL".

DESCRIÇÃO DA «QUINTA DOS MARQUESES DE MARIALVA» EM «MARVILA», CONSTANTE DE UNS AUTOS DE 1747.
"QUINTA DE MARVILA" - "Uma quinta no lugar de Marvila, (...) a qual fica no caminho que vai do Grilo para os Olivais e começa no mesmo caminho para onde tem as casas e serventia principal e vai acabar no outro caminho junto ao mar que vai de "SÃO BENTO DOS LÓIOS para o POÇO DO BISPO", e constam de casas nobres que são muitas com galerias e mais oficinas, casa de oratório e ermida grande com tribuna e sacristia, retábulo entalhado e dourado com, serventia para o caminho dos OLIVAIS e na entrada ficam dois recebimentos em forma de alegretes com dois tanques, um maior que outro, que se comunicam com a horta, e tabuleiro com seus passeios e um jardim grande; destas casas se acham seis azulejadas e ladrilhadas, e tem em si vinhas e várias árvores de fruto e recreio, e no fim dela junto à estrada duas casas de campo com janelas para a estrada que vai para o POÇO DO BISPO, e tem dentro mais uma horta, casa de água e uma nora e umas cozinhas térreas com seu pátio, e atendendo a ser (...) a quinta de regalo a ser maior o que nela se despende do que o rendimento que dela se pode considerar (...).
Uma quinta chamada de COTRIM e parte com a quinta principal acima (...) e consta de casas nobres com vista para o mar e entrada que vai do GRILO para o POÇO DO BISPO de onde tem serventia, com estrebaria, palheiro, pátio, poço de nora, tanque, horta, vinha e árvores de fruto e terra de pão grande chamada a PEDREIRA, e da banda do mar.
Declaro mais que no dito sítio de MARVILA defronte da quinta principal há vários prazos em vida que (...) passaram (...) na forma de testamento da Excelentíssima Marquesa a seu filho o Excelentíssimo CONDE DE CANTANHEDE".

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«A RUA DO AÇÚCAR [ XIX ] A QUINTA DO BETENCOURT(1 )»

quarta-feira, 3 de julho de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ XVII ]

 Rua do Açúcar - (2013) Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira (A antiga Casa Nobre da "QUINTINHA" na "Rua do Açúcar",  que no século XIX pertencia à "Quinta de Marvila" dos  "Marqueses de Marialva", que nessa altura tinha  frente para o RIO) in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Varandim anexo ao primeiro piso da Casa Nobre dos "Marialvas" na "Rua do Açúcar") in  GOOGLE EARTH 
 Rua do Açúcar - (2013) (Um troço da "Rua da Açúcar" no lado direito as casas da "QUINTINHA", que foram propriedade dos "Marqueses de Marialva") in  GOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar - (2013) - (Aspecto da casa e seu varandim corrido, que no século XIX era utilizado para contemplar o bom panorama sobre o RIO que dali se desfrutava) in GOOGLE EARTH
Rua do Açúcar - (2013) (Entrada para o "Pátio da Quintinha" era uma das propriedades que faziam parte da grande "Quinta de Marvila" dos "Marqueses de Marialva" in GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XVII ]

«A QUINTA DO MARQUÊS DE MARIALVA ( 2 )»

A «QUINTA DE MARVILA» dos «MARQUESES DE MARIALVA» até ao final do segundo quartel do século XIX. Em linha recta da "Rua do Açúcar" até à "Rua de Marvila" seguindo perpendicular à "Rua Capitão Leitão", atravessando a via-férrea, tudo na parte Norte. Nesta "Rua de Marvila" os "Marialvas" tinham o seu Palácio (que acabaram por abandonar). Seguindo para Sul, depois de passar a "Azinhaga dos Alfinetes", vamos ali encontrar o "Pátio do Marialva". Descendo obliquamente para Sul em direcção à "Rua do Açúcar" finaliza na propriedade chamada "Quintinha", de que lhes vamos falar.
A «QUINTINHA» era uma das várias propriedades foreiras da «GRANDE QUINTA DE MARVILA», integrada no Morgado do "ESPORÃO", ao qual pagava 3200 réis e sete galinhas de foro, segundo a escritura que fez "DONA INÁCIA DE NORONHA", viúva de "JOÃO DA COSTA", a "FRANCISCO DE TÁVORA", em 1584 ( 1 ). A propriedade esteve na maior parte do século XVII na posse da família COTRIM, sendo seu proprietário, em 1633 ( 2 ), escrivão - como seu pai "JORGE COTRIM" - dos Armazéns da Ribeira das Naus (1641) ( 3 ) de que foi capitão de infantaria dos carpinteiros (1645) ( 4 ). Sucedeu-lhe "JORGE COTRIM DE MELO", embarcado nas armadas da costa a partir de 1681. Anos depois (1687), o rei permitiu-lhe renunciar ao ofício de escrivão que herdara de seus maiores (...) "para se desempenhar das dívidas que tem" ( 5 ). Foi devido aos grandes empenhos com que se debatia que lhe foi penhorada a propriedade, pela acção movida por «JOÃO REBELO DE CAMPOS», seu credor em 2 806 944 réis, a quem foi passada carta de arrematação em 03.03.1707. "JOÃO REBELO", Corretor da Fazenda, vendeu-a em (01.10.1707) ao 2º. Marquês de Marialva, «D. PEDRO DE MENESES" que ali junto possuía a sua quinta. Pagou este 2 400 000 réis, com licença do Marquês de "FONTES", tutor do "CONDE DE VILA NOVA DE PORTIMÃO", a quem teve de pagar laudémio( A ) de quarentena. Situada junto da cerca do "Convento de S. Bento de Xabregas", é então descrita como: "(...) casas nobres, estrebarias, vários palheiros, pátio e seu poço de nora, tanque, vinha e árvores de fruto e outras pertenças que partem da banda do mar com casas do Conde de Vila Nova e da banda de terra outrossim com casas do mesmo conde e do poente com casas e quinta que foi de D. Helena de Távora e do norte com caminho que vai de onde chamam o GRILO para o Poço do Bispo e do sul com estrada que vai de Xabregas para o mesmo Poço do Bispo ( 6 ). 
Tratou o Marquês de fazer obras na quinta, celebrando um contrato com um carpinteiro em (05.07.1709).
Arrendada de quando em vez, a quinta e suas casas, à imagem de toda a grande propriedade do Marquês, não evitou a progressiva degradação, a partir da segunda metade do século XVIII. No ano de 1762 - situada entre a "QUINTA DAS MURTAS" e uma propriedade do CONDE DE VILA NOVA, antes da "QUINTA DA MITRA" - foi arrendada em 120 000 réis, constituída por: "(...) casas nobres, com lojas e primeiro andar com todos os mais cómodos precisos, árvores de fruta de caroço, parreiras e horta ( 7 ). Outras vezes apenas o casco da quinta era arrendado. 
Com a morte do último "MARQUÊS DE MARIALVA"(1823) passou a propriedade para a posse da "CASA DE LAFÕES". Nos anos de 1838 e 1839, sendo seu proprietário "JOÃO CÂNCIO DE MATOS", era conhecida por «QUINTINHA» ( 8 ), designação que perdura ainda no "PÁTIO DA QUINTINHA", ilha, popular ali instalada. As antigas casas nobres, apesar de transformadas nos seus interiores, mantêm grande parte da sua estrutura, devendo citar-se os revestimentos de azulejos de desenho típico dos séculos XVII e XVIII.

( 1 ) e ( 6 ) -IAN/TT,CN, C-9A, Cx. 61, Lº. 338, fls. 9v-12
( 2 ) -IAN/TT,ACA, Morgado do Esporão, mç. 194, doc. 4003.
( 3 ) -IAN/TT, Chancelaria de D. João IV, Lº. 13. fl. 33
( 4 ) -IAN/TT, Chancelaria de D. João IV, Lº. 19, fls. 43-44
( 5 ) -IAN/TT, Chancelaria de D. Pedro II, Lº. 64, fl. 210v
( 7 ) -AHTC, DC, Olivais, Livro de Arruamentos, mç. 852
( 8 ) -AHTC, Tesouro Público, mç. 124
SIGLAS
IAN/TT-Instituto de Arquivos nacionais / Torre do Tombo
CN - Cartórios Notariais
ACA - Arquivo da Casa de Abrantes
AHTC - Arquivo Histórico do Tribunal de Contas
DC - Décima da Cidade
( A ) -Laudémio - Pensão que o foreiro paga ao senhorio directo, quando há alienação do        respectivo prédio por parte do enfiteuta.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XVIII ] A QUINTA DO MARQUÊS DE MARIALVA ( 3 )».