quarta-feira, 30 de junho de 2010

RUA DO POÇO DOS NEGROS [ IV ]

Rua do Poço dos Negros - (2009) Fotógrafo não identificado (O Condomínio Palácio da Flor da Murta na Rua do Poço dos Negros esquina com a Rua de S. Bento) in CONDOMíNIO PALÁCIO FLOR DA MURTA


Rua do Poço dos Negros - (2009) - Fotógrafo não identificado ( Condomínio do Palácio Flor da Murta na Rua do Poço dos Negros esquina para a Rua de S. Bento) in LISBOA-SOS




Rua do Poço dos Negros - (2009) - Fotógrafo não identificado (A Rua de S. Bento, o actual "Condomínio Palácio Flor da Murta" e esquina para a Rua do Poço dos Negros) in LISBOA-SOS



Rua do Poço dos Negros - (c. 1900) - Fotógrafo não identificado (Senhoras passeando junto ao Palácio Flor da Murta) in AFML
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(CONTINUAÇÃO)
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RUA DO POÇO DOS NEGROS [ IV]
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«PALÁCIO FLOR DA MURTA ( 2 )»
Na fachada Norte, virado para a «RUA FRESCA», tem duas portas, uma das quais servia a CAPELA. Nos andares baixos chegaram a funcionar cinco estabelecimentos comerciais e em parte do primeiro andar, viveu ainda nos anos 40 do século passado, o seu proprietário «D. ANTÓNIO DE MENESES».
Na outra parte do edifício esteve um serviço público e escritórios particulares e residiram vários inquilinos. Passando a entrada nobre tinha um átrio e escadaria de um só lanço e paredes com silhares de azulejos setecentistas de cenas palacianas e campestres emolduradas por pilastras e grinaldas.
Seguem-se vários corredores, também com silhares de azulejos. De entre as várias salas, de tectos apainelados e paredes revestidas a azulejos, alguns holandeses do século XVII, destacava-se a «SALA DOURADA», pequeno toucador de tecto pintado sobre tela (séc. XVIII) com dourados e grinaldas rodeando uma figura feminina com o «AMOR» ao colo, e tendo aos cantos emblemas com setas e cupido.
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Vem a propósito dizer que «FLOR DA MURTA» não era, como se tem escrito, alcunha galante de «D. JOÃO V» à sua amante, e bela «D. LUÍSA CLARA DE PORTUGAL, aia da rainha «D. MARIA ANA DA ÁUSTRIA».
«D. LUÍSA CLARA DE PORTUGAL» era casada e vivia na Corte em 1731 com seu marido, «D. JORGE DE MENESES», filho de «D. ANTÓNIO DE MENESES e de D. ANTÓNIA MARGARIDA», da «CASA DA FLOR DA MURTA».
Por pertencer a esta casa pelo casamento, é que chamavam «FLOR DA MURTA» a «D.LUÍSA», com quem «D. JOÃO V» teve uma filha bastarda, «D. MARIA RITA DE PORTUGAL» nascida em data que se ignora, foi monja do «CONVENTO DE SANTOS-O-VELHO».
«D.JOÃO V» veio a perder a amante a favor de seu sobrinho, o jovem «D. PEDRO HENRIQUE», «DUQUE DE LAFÕES», (neto de D. PEDRO II) que por essa traição ao REI esteve em vias de ficar eunuco, não fora a oportuna intervenção do valido real, «FREI GASPAR DA ENCARNAÇÃO» que convenceu o monarca a esquecer.
«D. JORGE DE MENESES» o marido traído, retirou-se, com os três filhos, para o «PALÁCIO DE TERRUGEM», de onde nunca mais saiu até ao seu falecimento.
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O «PALÁCIO FLOR DE MURTA» sofre alterações no ano de 1950 na compartimentação interna, tendo sido removidos painéis de azulejos (alguns deles terão passado a integrar o acervo do MUSEU DA CIDADE DE LISBOA).
Em 1973 sofreu outra intervenção com obras de demolição no interior do Palácio. Nos anos de 1993/1994 procede-se à reconstrução completa do interior do imóvel e registando-se o acréscimo de mais um piso.
Em 27 de Fevereiro de 2003 foram iniciadas neste Palácio as obras de construção de quatro pisos e duas caves, com a finalidade de ali ser implantado um Condomínio fechado, constituído por 74 apartamentos do tipo T0.
As fachadas exteriores do Palácio foram mantidas e reforçadas. Na parte de trás relacionado com o armazém e anexo, situado a Norte, irá ser implantada a zona de estacionamento, distribuído por duas caves, com entrada pela «RUA FRESCA».
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Tal como este Palácio, outro Palácio seiscentista, no início desta rua, no «LARGO DO DR. ANTÓNIO DE SOUSA MACEDO» entre as Travessas do «JUDEU» e do «ALCAIDE», teve o mesmo destino.
Trata-se do «PALÁCIO DOS CONDES DE MESQUITELA» onde nos anos 50 do século passado esteve instalada a «ESCOLA COMERCIAL D. MARIA I» de grandes recordações.
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(CONTINUA)-(PRÓXIMO)-«RUA DO POÇO DOS NEGROS - O NEGÓCIO E TRÁFEGO DE ESCRAVOS NA LISBOA QUINHENTISTA» (FINAL)



sábado, 26 de junho de 2010

RUA DO POÇO DOS NEGROS [ III ]

Rua do Poço dos Negros - (Depois de 1973) Fotógrafo não identificado (O Palácio Flor da Murta com mais um piso) in SENHORES DE ALCONCHEL
Rua dos Poço dos Negros - (1959) - (Armando Serôdio) (Pedra de armas colocada no cunhal do Palácio Flor da Murta, na Rua do Poço dos Negros esquina com a Rua de S. Bento) in AFML

Rua do Poço dos Negros - (1958) Foto de Armando Serôdio (Palácio Flor da Murta na Rua do Poço dos Negros esquina com a Rua de S. Bento) in AFML


Rua do Poço dos Negros - (194_) Foto de Horácio Novaes (Palácio Flor da Murta do século XVII) in AFML

Rua do Poço dos Negros - (entre 1898 e 1908) - Fotógrafo não identificado (Palácio Flor da Murta) in AFML
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(CONTINUAÇÃO)
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RUA DO POÇO DOS NEGROS [ III ]
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«PALÁCIO FLOR DA MURTA ( 1 )»
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O «PALÁCIO FLOR DA MURTA» situa-se na «RUA DO POÇO DOS NEGROS» fazendo esquina com a «RUA DE SÃO BENTO».
A origem deste nome poderá ter começado na casa nobre que no século XVI pertencia aos «PEREIRA FARIA», senhores de «ALCONCHEL». Pelo casamento «D. GUIOMAR DE FARIA» com «D. JORGE DE MENESES» estes passaram a representar a Casa Flor da Murta.
Noutra versão essa primitiva casa nobre terá sido integrada no século XVII no Morgado da Terrugem, instituído em 1681 por «PEDRO JACQUES DE MAGALHÃES», 1º Visconde da Fonte Arcada, que casou em segundas núpcias com «D. MARIA VICÊNCIA DE VILHENA» e dela teve «D. MADALENA DE VILHENA». Esta, casando por sua vez com «D. ANTÓNIO DE MENESES DE SOTTO MAYOR», Morgado de SOUSA, terá trazido para os «MENESES» (de Cantanhede) o Palácio que habitavam no século XVIII, época em que parece ter sido colocado no sólido cunhal do ângulo do edifício a pedra de armas dos «PEREIRA FARIA», de «ALCONCHEL», que ainda se lá existe.
No cunhal do Palácio a Sudoeste existe uma pedra de armas dos «PEREIRA FARIA» de «ALCONCHEL»: centrada pelo brasão dos «SOUSAS DO PRADO» (leões rampantes de CASTELA e quinas de PORTUGAL) esquartelado pelos brasões dos «PEREIRAS» (cruz de prata florenciada), CASTROS (6 arruelas de ouro), BARBOSAS (3 crescentes em orla entre 2 leões) e FARIAS (castelo de 5 flores-de-lis).
O edifício, reedificado no século XVI, sofreu restauros no século seguinte e foi pouco afectado pelo Terramoto de 1755.
Possuía jardins com uma fonte monumental de espaldar e nela uma carranca de BACO. Em 1890, tendo o Palácio sido tomado de arrendamento pela firma «STREET & Cª.», que lá permaneceu até 1920, esta construiu no espaço dos jardins, oficinas, depois substituídas por uma garagem.
Este Palácio possuía também uma capela de invocação a «NOSSA SENHORA DE MONSERRATE», forrada a azulejos setecentista, encerrada ao culto em 1914 e despojada dos seus pertences.
De um só andar, o Palácio tinha, na fachada poente voltada para a «RUA DE S. BENTO» (que nesse troço se chegou a chamar "RUA FLOR DA MURTA"), seis janelas de sacada com varões e o portal da extinta capela de cantaria com tímpano aberto.
Na fachada Sul do «PALÁCIO FLOR DA MURTA» voltada para a «RUA DO POÇO DOS NEGROS», que foi prolongada no início do século XIX para nascente, tinha 15 janelas de sacada e, no corpo central, mais elevado, a entrada nobre com moldura de cantaria e cinco janelas de peitoril.
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) «RUA DO POÇO DOS NEGROS [ IV ] - PALÁCIO FLOR DA MURTA ( 2 )».




quarta-feira, 23 de junho de 2010

RUA DO POÇO DOS NEGROS [ II ]

Rua do Poço dos Negros - (1961) Foto de Artur Goulart ( Um troço da Rua do Poço dos Negros, no lado esquerdo fica-nos o Palácio Flor da Murta) in AFML
Rua do Poço dos Negros - (entre 1898 e 1908) Fotógrafo não identificado ( A Rua do Poço dos Negros, 2 a 8 e antigo Largo do Poço Novo) in AFML

Rua do Poço dos Negros - (entre 1898 e 1908) Fotógrafo não identificado ( A Rua do Poço dos Negros) in AFML


Rua do Poço dos Negros, 74 - (Entre 1898 e 1908) Fotógrafo não identificado (A Rua do Poço dos Negros) in AFML
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(CONTINUAÇÃO)
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RUA DO POÇO DOS NEGROS [ II ]
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«A RUA DO POÇO DOS NEGROS (2)»
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O olisipógrafo «GUSTAVO DE MATOS SEQUEIRA» na sua obra «DEPOIS DO TERRAMOTO», coloca ainda outra hipótese para a origem deste topónimo, associado à aproximação que existe do «CONVENTO DE SÃO BENTO» (actual Parlamento), e também conhecido no tempo, pelo «CONVENTO DE SÃO BENTO DOS FRADES NEGROS», devido à cor negra dos hábitos de seus frades e ainda da possível existência de um «POÇO» nas hortas dos respectivos frades.
«LUÍS PASTOR DE MACEDO» recolheu nos «LIVROS PAROQUIAIS» as seguintes denominações para esta artéria, nas datas que vão assinaladas: «RUA DIREITA QUE VAI DA ESPERANÇA para a "CALÇADA DO COMBRO" (1576); «RUA DO POÇO» (1578); «RUA DO POÇO DO CAMINHO» (1605); «RUA DA CRUZ DE SÃO BENTO» (1619); «RUA DIREITA DO POÇO DOS NEGROS» (1695).
Afirma-nos ainda «GUSTAVO DE MATOS SEQUEIRA» sobre a «RUA DO POÇO DOS NEGROS» que pela primeira vez viu este nome em (1681). E anteriormente conheceu as seguintes denominações: «RUA DIREITA QUE VAI DA ESPERANÇA para a "CALÇADA DO COMBRO" em (1576), substituindo a mais vetusta das estradas a «HORTA NAVIA» e «CAMINHO DAS PORTAS DE SANTA CATARINA» para SANTOS de (1515).
«RUA DA CRUZ DE SÃO BENTO» de (1599) a (1639). Esta cruz (de madeira) serviu de baliza à demarcação da freguesia das MERCÊS, e foi a causa da denominação da rua. Existiu uma cruz, durante muito tempo, no ponto de cruzamento das ruas do «POÇO DOS NEGROS» e a «RUA DA CRUZ DOS POIAIS».
O facto de só em (1681) se ter começado a chamar de «RUA DO POÇO DOS NEGROS», levou este olisipógrafo a admitir a possibilidade de o povo pretender fixar a localização da rua em referencia aos monges negros de São Bento.
A ajudar esta hipótese, aparece frequentemente, no século XVIII, a designação bairrista de «RUA DE SÃO BENTO DOS NEGROS».
Conta-nos ainda «JORGE MACAÍSTA MALHEIROS» na sua obra «À DESCOBERTA DOS NOVOS DESCOBRIMENTOS» que muitos dos escravos que mais tarde obtiveram alforria, acabaram por se concentrar nesta zona e na MADRAGOA. Tendo existido um bairro com o nome de «MOCAMBO» sendo o termo original "mu-kambu" que significa esconderijo em "KIMBUNDU" de ANGOLA.
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«RUA DO POÇO DOS NEGROS [ III ] - PALÁCIO FLOR DA MURTA (1)»



sábado, 19 de junho de 2010

RUA DO POÇO DOS NEGROS [ I ]

Rua do Poço dos Negros - (2008) Foto de Madama Musique (Placa toponímica da Rua do Poço dos Negros) in THE MOOD FOR FEEL
Rua do Poço dos Negros - (s/d) Fotógrafo não identificado (Um troço da Rua do Poço dos Negros) in MUSEU DA CIDADE

Rua do Poço dos Negros - (Entre 1898 e 1908) Fotógrafo não identificado (A Rua do Poço dos Negros na transição para o século XX) in AFML


Rua Poço dos Negros - (2010) Desenho de APS (Artérias envolventes à RUA DO POÇO DOS NEGROS).
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RUA DO POÇO DOS NEGROS [ I ]
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«A RUA DO POÇO DOS NEGROS ( 1 )»
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A «RUA DO POÇO DOS NEGROS» pertence a duas freguesias. À freguesia de «SANTA CATARINA» pertencem os números 1 a 103 e todos os números pares. À freguesia de «SÃO PAULO» do número 105 em diante.
Começa no «LARGO DR. ANTÓNIO DE SOUSA DE MACEDO»( 1 ) (antigo "LARGO DO POÇO NOVO) e termina na «AVENIDA D. CARLOS I» (antiga Avenida Presidente Wilson e Avenida das Cortes).
São confinantes com esta rua no lado par, de Oriente para Ocidente as artérias seguintes: «TRAVESSA DOS POIAIS DE S. BENTO»; «TRAVESSA DO POÇO DOS NEGROS»; «TRAVESSA DO OLEIRO»; «RUA CAETANO PALHA» e «RUA DE S. BENTO». No lado ímpar igualmente de Oriente para Ocidente as artérias: «RUA JOÃO BRÁS»; «RUA DE MARCOS MARREIROS»; «BECO DO CARRASCO»; «RUA DAS GAIVOTAS»; «TRAVESSA DOS MASTROS»; «RUA DOS MASTROS»; «RUA DA SILVA » e «TRAVESSA DOS PESCADORES».
Esta toponímia local faz-nos lembrar muito o mar - GAIVOTAS - PESCADORES - MASTROS, são ainda os restos do labor que caracterizou o sítio.
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A «RUA DO POÇO DOS NEGROS» tem origem do seu topónimo possivelmente ligado à existência de uma carta régia de «D. MANUEL I», datada de 13 de Novembro de 1515, escrita em «ALMEIRIM» e dirigida à cidade de Lisboa, sobre a necessidade de se construir um poço para depositar os corpos dos escravos mortos, sobretudo aquando de surtos epidérmicos.
Diz a carta que os escravos eram mal sepultados e muitos seriam mesmo lançados (...)"na lixeira que está junto da «CRUZ DA PEDRA» a Santa Catarina (actual Rua Marechal Saldanha) que está no Caminho que vai da porta de Santa Catarina para Santos", ou para a praia onde ficavam à mercê da voracidade dos cães.
Para evitar as deletérias consequências de tantos cadáveres não sepultados, achava o Rei, "que o melhor remédio será fazer-se um poço, o mais fundo que pudesse ser, no lugar que fosse mais conveniente, no qual se lançassem os ditos escravos" e para ajudar a decomposição dos corpos, dizia ainda que se deitasse " alguma quantidade de cal virgem" de quando em quando.
Tal medida seria cumprida pela CÂMARA que o teria mandado fazer no referido caminho para «SANTOS» (descendo a actual "CALÇADA DO COMBRO" conhecido por "HORTA NAVIA"- nome de uma divindade indígena após a ocupação Romana).
A actual localização perdeu-se, mas a aproximação geográfica do antigo «LARGO DO POÇO NOVO» (actual Largo Dr. António de Sousa de Macedo) ao fundo da «CALÇADA DO COMBRO», nome que já nos aparece na segunda metade de Quinhentos em substituição da designação primeva, comodamente parece ajudar na sua localização.
O referido eixo partia da «PORTA DE SANTA CATARINA» até BELÉM, passando por SANTOS onde existia desde o início do século XVI um PAÇO REAL em ALCÂNTARA.
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-(1) - Foi publicado no dia 23 de Janeiro de 2008 (isto no caso do "LINK" não abrir).
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DO POÇO DOS NEGROS [ II ] - A RUA DO POÇO DOS NEGROS ( 2 )»

quarta-feira, 16 de junho de 2010

RUA LUÍSA TODI [ V ]

Rua Luísa Todi - (195_) Foto de Mário de Oliveira (Convento de S. Pedro de Alcântara, fachada principal na Rua de S. Pedro de Alcântara esquina com a Rua Luísa Todi) in AFML
Rua Luísa Todi - (Início do século XX ?) - Fotógrafo não identificado (Convento de S. Pedro de Alcântara esquina com a Rua Luísa Todi) in AFML

Rua Luísa Todi - (s/d) - Fotógrafo não identificado (Ao fundo à direita o Convento de S. Pedro de Alcântara, o burro e a moça encontram-se na Rua D. Pedro V) in AFML
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(CONTINUAÇÃO)
RUA LUÍSA TODI [ V ]
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«MOSTEIRO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA»
Quem entrar na «RUA LUÍSA TODI», estando de costas para a «RUA D. PEDRO V», no lado esquerdo da rua fica-nos o «RECOLHIMENTO DAS ORFÃS», dependência da Misericórdia de Lisboa, que em tempos idos, foi o «MOSTEIRO DE S. PEDRO DE ALCÂNTARA».
Fundado por «D.ANTÓNIO LUÍS DE MENESES», «CONDE DE CANTANHEDE» e «MARQUÊS DE MARIALVA», em 12 de Agosto de 1680, para dar cumprimento de votos feitos na batalha de «MONTES CLAROS», que aquele fidalgo militar ganhou aos espanhóis, na «GUERRA DA RESTAURAÇÃO».
Para este convento foram viver os «FRADES ARRÁBIDOS», da Ordem que já existia na «SERRA DA ARRÁBIDA». De inicio as instalações eram muito pequenas, após influência do «MARQUÊS DE MARIALVA», foi conseguido mais espaço e significados melhoramentos.
Na época de «D. JOÃO V» o MOSTEIRO recebeu benefícios e a Igreja melhorou substancialmente. A casa do Capitulo foi construída pelo célebre engenheiro «MANUEL DA MAIA».
Com o Terramoto de 1755, sofreram avultados estragos, tendo o seu restauro sido efectuado no ano de 1783, os seus frades viveram até essa altura, na sua casa arruinada.
Na fachada da antiga Igreja, onde se rasgam duas janelas, e coroada por uma cimalha com tímpano adornado com um nicho, é harmoniosa na sua modéstia. Na galilé vemos ao centro a porta de entrada da IGREJA, à esquerda a porta de ingresso ao Convento, e à direita, sobrepujado por um brasão, o pórtico que abria para a antiga Capela dos «LENCASTRES». No recolhimento propriamente dito, vários anexos ocupam hoje a área antiga da cerca. Fica todo o edifício contido, com frente para a «RUA DE S. PEDRO DE ALCÂNTARA», entre a «TRAVESSA DE S. PEDRO» e a «RUA LUÍSA TODI», com o muro posterior da cerca defendendo a «RUA DA ROSA».
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«SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA-PADROEIRO DO BRASIL»
No sítio desta rua de «S. PEDRO DE ALCÂNTARA» descobrimos que o primeiro padroeiro do «BRASIL» foi «SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA».
Embora este santo esteja hoje como co-padroeiro, paralelamente com a «NOSSA SENHORA APARECIDA», ainda é evocado para proteger e zelar pelo «BRASIL».
Só algumas linhas de história.
Após a Independência, D. Pedro I entendeu que o «BRASIL» precisava de um Santo como padroeiro oficialmente autorizado pelo Papa, embora «D.PEDRO», já tivesse feito a consagração do «BRASIL» a «N.Sª. APARECIDA», numa viagem de «S. PAULO» para o «RIO», logo após o 7 de Setembro. Assim, solicitou ao «PAPA PIO IX» que fizesse de «SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA», o padroeiro do «BRASIL» o que aconteceu em 1862.
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«QUEM FOI "S. PEDRO DE ALCÂNTARA?»
De seu nome verdadeiro «JUAN DE GARABITO Y VILELA DE SANABRIA», nasceu no seio de uma família nobre, estudou Direito na Universidade de SALAMANCA, mas abandonou os estudos e tomou uma vida religiosa em 1515 no «CONVENTO DE S. FRANCISCO DE LOS MAJARRETES», perto de «VALÊNCIA DE ALCÂNTARA», onde toma o nome de frade «PEDRO DE ALCÂNTARA». Viaja até PORTUGAL para reformar uma das províncias Franciscanas da altura. Estabeleceu-se na «SERRA DA ARRÁBIDA», no século XVI, sendo bastante apreciado pelo rei «D. JOÃO III». Fundou vários Mosteiros para os chamados «ARRÁBIDOS» ou «CAPUCHOS». Foi beatificado pelo «PAPA GREGÓRIO XV» em 1622 e canonizado por «CLEMENTE IX» em 1669.
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BIBLIOGRAFIA
(Fontes e Obras Consultadas)
- ARAÚJO, Norberto de - 1992 - PEREGRINAÇÃO EM LISBOA - Volume V- VEGA - Lisboa
- MACEDO, Luiz Pastor - 1985 - LISBOA DE LÉS A LÉS, Volume III 3ª ed. - Publicações Culturais da Câmara Municipal de Lisboa.
- MOREAU, Mário - 1981 - CANTORES DE ÓPERA PORTUGUESES-VOLUME I- LIVRARIA BERTRAND - LISBOA.
- OLHARES DE PEDRA - 2004 - ESTÁTUAS PORTUGUESAS - Uma edição de PROSAFEITA, LDA. para a GLOBAL NOTICIAS, PUBLICAÇÕES, S.A.
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BLOGUES E SITES
(PRÓXIMO) - «RUA DO POÇO DOS NEGROS [ I ] - A RUA DO POÇO DOS NEGROS ( 1 )»


sábado, 12 de junho de 2010

RUA LUÍSA TODI [ IV ]

Rua Luísa Todi - (2009) Foto de Maria Emília (Desenho de ABEL PASCOAL e escultura de LEOPOLDO DE ALMEIDA - inaugurado em 1933 em Setúbal) in OLHARES
Rua Luísa Todi - (s/d) Autor não identificado (Lápide de Luísa Todi na casa de Setúbal onde nasceu) in PÁGINA DOS CONCURSOS

Rua Luísa Todi - (s/d) Autor não identificado (Casa onde nasceu LUÍSA TODI na Rua da Brasileira em Setúbal, muito mal tratada nesta altura) in PÁGINA DOS CONCURSOS
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(CONTINUAÇÃO)
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RUA LUISA TODI [ IV ]
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«LUISA TODI ( 3 )»
Em 1793, sabe-se que «LUÍSA TODI» estava em LISBOA, já que colaborou nas comemorações do nascimento da princesa da BEIRA «D. MARIA TERESA», filha primogénita de «D. JOÃO VI» e de «D. CARLOTA JOAQUINA»; de facto, a princesinha, que não chegou a reinar, nasceu na «AJUDA» em 29 de Abril de 1793.
Há ainda notícia de ter a «LUÍSA TODI» cantado em casa de «ANSELMO JOSÉ DA CRUZ SOBRAL» no «PALÁCIO SOBRAL» situado no «CALHARIZ», onde hoje se encontra a «CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS». Ficou registado também um espectáculo dado em favor da então muito recente «CASA PIA DE LISBOA», que tinha ao tempo as suas instalações no «CASTELO DE S. JORGE».
A capacidade de «LUÍSA TODI» era invulgar, cantava com a maior perfeição e expressão em francês, inglês, italiano e alemão.
Em 1799 terminou a sua carreira em «NAPOLES». Regressou a PORTUGAL e cantou ainda em 1801 no PORTO, tendo enviuvado em 1803. Viveu naquela cidade, onde viria a perder as suas famosas jóias no trágico acidente da «PONTE DAS BARCAS», por ocasião da sua fuga das tropas de NAPOLEÃO em 29 de Março de 1809, na altura da segunda invasão francesa a PORTUGAL, comandada pelo Marechal «SOULT».
Quando «LUÍSA TODI» regressou definitivamente a LISBOA, em 1811, morou na «RUA DO TESOURO VELHO» actual «RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO»; daí se mudou para a «RUA DA BARROCA», na esquina com a «TRAVESSA DO POÇO DA CIDADE»; passou ainda pela «RUA DA ATALAIA» e pela baixa (frente à Igreja de S. NICOLAU), até se fixar na casa da antiga «TRAVESSA DA ESTRELA» hoje com o seu nome. Cega, aí viveu na companhia de uma filha. A «IGREJA DA ENCARNAÇÃO», no CHIADO, recebeu o seu corpo em Outubro de 1833.
Lisboa homenageou ainda esta filha adoptiva em 9 de Janeiro de 1957, data em que foi inaugurado no «CAMPO GRANDE» um busto de bronze da cantora, da autoria de «MARTINS CORREIA».
O canto lírico passou a ter monumento próprio nas ruas da capital, lembrando uma intérprete de nível europeu.
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA LUÍSA TODI [ V ] - MOSTEIRO DE S. PEDRO DE ALCÂNTARA» (FINAL).

quarta-feira, 9 de junho de 2010

RUA LUÍSA TODI [ III ]

Rua Luísa Todi - (1785) (Louisé Elisabeth Vigée-Lebrum) (Retrato a Óleo de Luísa Todi em Paris) in BIOCRAWLER
Rua Luísa Todi - (1944) (Eduardo Portugal) (Lápide de homenagem a "SILVA PORTO", colocada no prédio da Rua Luísa Todi no número 6, onde este pintor faleceu) in AFML

Rua Luísa Todi - (Entre 1898 e 1908) Fotógrafo não identificado ( Antiga Travessa da Estrela, hoje Rua Luísa Todi) in AFML
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(CONTINUAÇÃO)
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RUA LUISA TODI [ III ]
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«LUÍSA TODI (2)»
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Não é nosso propósito elaborar aqui uma exaustiva biografia de «LUÍSA TODI», queremos apenas realçar algumas passagens da sua brilhante vida. Interessará aqui especialmente focar as ligações da artista com LISBOA, terra onde como se disse, começou a sua carreira. Foi também em LISBOA onde muitas vezes se acolheu e onde acabou por falecer.
A traços muito largos e a título de curiosidade, lembre-se apenas que a vida da cantora não a impedia de dar muitos filhos ao mundo: sabe-se que foi mãe no «PORTO» em 1772 e 1773; em 1775, deu à luz outra criança numa localidade perto de «GUIMARÃES»; outra filha nasceu em «ARANJUEZ», ainda outra em «PARIS»; o filho que vingou, «LEOPOLDO RODRIGO», era natural de «TURIM» (viveu em LISBOA, foi dono de uma fábrica de massas alimentícias e teve casa na «RUA DO BARÃO» na freguesia da «».
A cantora despontou no «TEATRO DO BAIRRO ALTO», que juntamente com o «PÁTIO DA ÓPERA», existiu na actual «TRAVESSA DO CONDE DE SOURE», no «BAIRRO ALTO», junto à «RUA DE S. BOAVENTURA». A casa de espectáculos já era famosa, nomeadamente desde que ali tinham sido representadas as peças de «ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA-O JUDEU».
O esplendor da ópera teve lugar exactamente na época em que «LUÍSA TODI» ali fez a sua estreia como cantora, o que sucedeu em 1770 com «IL VIAGGIATORE RIDICOLO», do compositor italiano «JOSÉ SCOLARI», que viveu em «LISBOA» e dirigiu o espectáculo.
Após o casamento andou a artista pelo estrangeiro. Voltou, porém, a LISBOA em 1773 (com apenas 20 anos), sendo então contratada pelo «TEATRO DA RUA DOS CONDES», na época em que ali cantavam também as célebres «SESTINI» e «ZAMPERINI». Esta última mais conhecida ainda pelos escândalos a que deu azo do que pela própria voz, tendo sido afastada após um tórrido romance com um filho do «MARQUÊS DE POMBAL».
«LUÍSA TODI» correspondeu à sua grande projecção na EUROPA, ao tempo em que a convidaram para cantar em «PÁDUA» na «FEIRA DEL SANTO» e, pelos 15 dias de permanência, lhe pagaram 600 SEQUINS de ouro e a instalaram em casa mobilada, com mesa posta para seis pessoas durante a estadia, carruagem às ordens, liteira para as deslocações particulares e camarote privado no teatro.
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA LUÍSA TODI [ IV ] - LUÍSA TODI (3)»


sábado, 5 de junho de 2010

RUA LUÍSA TODI [ II ]

Rua Luísa Todi - (s/d) Autor não identificado (Retrato de Luísa Todi) in BATGUANO
Rua Luísa Todi - (1966) - Foto de Armando Serôdio (Convento de S. Pedro de Alcântara actual Recolhimento de Orfãs, esquina com a Rua Luísa Todi) in AFML

Rua Luísa Todi - (Entre 1898 e 1908) Fotógrafo não identificado (Um troço da Rua Luísa Todi ) in AFML


Rua Luísa Todi - (Entre 1898 e 1908) Fotógrafo não identificado (A Travessa da Estrela, hoje Rua Luísa Todi) in AFML
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(CONTINUAÇÃO)
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RUA LUÍSA TODI [ II ]
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«LUÍSA TODI ( 1 )»
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Foi assinalado no ano de 2o03 em Lisboa os 250 anos do nascimento da cantora «LUÍSA TODI» (LUÍSA ROSA DE AGUIAR), nasceu em SETÚBAL na «RUA DA BRASILEIRA» no dia nove de Janeiro de 1753. A sua terra natal não esqueceu a efeméride e, de um modo geral, várias iniciativas a assinalaram com relevo para a edição de um livro sobre a artista, obra do musicólogo «MÁRIO MOREAU».
Luísa, ainda com muito pouca idade, acompanhou seu pai, um professor de música, na vinda para Lisboa, juntamente com suas irmãs. Cedo entrou no mundo musical. Foi, porém, o seu casamento com o italiano «FRANCESCO TODI», rabequista da Real Câmara e do «TEATRO DO BAIRRO ALTO» que, conhecendo bem os seus recursos vocais e talento dramático, a entusiasmou para o teatro lírico, trazendo-lhe depois a internacionalização e a consagração.
Estudando música e canto primeiro com seu marido, depois com o compositor «DAVID PERES», veio a obter grandes triunfos no estrangeiro.
Se «LONDRES» não se lhe rendeu totalmente, outro tanto não sucedeu com «MADRID», «PARIS», «TURIM», «VIENA», BERLIM», «S.PETERSBURGO», a EUROPA em geral.
A Imperatriz «CATARINA II», verdadeira Mecenas de artistas, convidou-a para um contrato em exclusivo na Corte Russa. A tal respeito, não faltaram mais tarde os inevitáveis mexericos provocados pela inveja, dizendo alguns que a cantora portuguesa tinha tal influência na Czarina que só era beneficiado quem ela indicasse. O habitual, em toda a parte e em todos os tempos...
Curiosamente, porém, contava o Conde «WALAWESKI», no seu «ROMANCE DE UMA IMPERATRIZ» que «CATARINA» tinha uma audição defeituosa e nem sequer apreciava especialmente a música, embora não o confessasse geralmente. Quanto às relações entre a Imperatriz e a Cantora, diz o mesmo autor que a primeira contava que por vezes encontrava «MADAME TODI» em passeio. "Ela beija-me as mãos e eu beijo-a na face; os nossos cães farejam-se, ela toma o seu debaixo do braço, eu chamo os meus e seguimos os nossos caminhos".
Apesar desta aparente indiferença, o certo é que a Czarina não dava a qualquer pessoa a importância de a "Beijar na face". E, além disso, acrescentava que "quando canta, ouço-a, aplaudo-a e sentimo-nos bem a conversar as duas".
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quarta-feira, 2 de junho de 2010

RUA LUÍSA TODI [ I ]

Rua Luísa Todi - (1965) Foto de Armando Serôdio (Convento de S. Pedro de Alcântara no lado direito a Rua Luísa Todi) in AFML
Rua Luísa Todi - (2007) (Autor não identificado) (Rua Luísa Todi esquina com a Rua da Rosa) in MARCAS DAS CIÊNCIAS

Rua Luísa Todi (2009) - (Foto da Rua Luísa Todi tirada da Google) in GOOGLE


Rua Luísa Todi, 34-38 ( entre 1898 e 1908) - Fotógrafo não identificado ( A antiga Travessa da Estrela depois Rua Luísa Todi) in AFML
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RUA LUÍSA TODI [ I ]
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«A RUA LUÍSA TODI»
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Começa na «RUA DE S. PEDRO DE ALCÂNTARA» e termina na «RUA DA ROSA» no número 228.
Ostentava esta artéria o nome de «TRAVESSA DA ESTRELA» pelo menos, desde o século XVIII(1782), (1) até que em 12 de Junho de 1917, pelo Edital emanado da Câmara de Lisboa, foi o nome mudado para «LUÍSA TODI».
Era assim prestada homenagem municipal à mulher que fora a mais ilustre moradora da rua e ali veio a falecer (na casa com o antigo número 2), no já distante dia 1 de Outubro de 1833.
Foi aquela uma artéria de certa importância, aberta junto ao «BAIRRO ALTO» e ao «MOINHO DE VENTO», sítio que viria a dar a actual «RUA D. PEDRO V » (ver mais aqui).
De facto, antes de lá ter residido a notável cantora que lhe dá o nome, ali tinha tido lugar um hospício dito de «NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO», onde pontificavam religiosos franciscanos. E, segundo as preciosas investigações do mestre «PASTOR DE MACEDO», na então «TRAVESSA DA ESTRELA» moravam por exemplo «CAETANO TOMÁS DE SOUSA» (também ele com rua em Lisboa, no sítio de Marvila); um poeta hoje já praticamente esquecido, «JOSÉ TOMÁS DA SILVA QUINTANILHA», o desembargador «JOSÉ PEDRO FERRAZ GRAMOSO», que foi autor dos «Sucessos de Portugal», onde historiou em pormenor a segunda metade do século XVIII. E, segundo reza, no número 6 está colocada uma lápide de homenagem ao pintor «SILVA PORTO», no prédio onde faleceu.
Temos pois que a «RUA LUÍSA TODI» é uma das raras artérias lisboetas em que o nome corresponde a alguém que tem directamente a ver com o local.
Dizia-nos ainda «NORBERTO DE ARAÚJO» (...) "Já agora observem esse alto prédio moderno de gaveto da «RUA LUÍSA TODI», propriedade de «MANUEL MADEIRA», começado a construir sobre o terreno de um velho barracão em fins de 1935.
O barracão, a que várias vezes se tentou imprimir um certo aspecto decente, passando de madeira para tijolo, mas sempre acanhado e desprovido de comodidade, foi animatógrafo popular durante três anos, e depois serralharia, armazém de sucata, havendo servido também de atelier de pintura.
Era uma relíquia teimosa da artéria nova, e que custou a entregar-se ao fatal destino da demolição.
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- (1) - Cerogr. Port., Padre Carvalho da Costa, vol. III, pag. 351 - Nos livros paroquiais da Encarnação a primeira vez que a «TRAVESSA DA ESTRELA» é apontada em 1782 - Liv., VI de Óbitos, fl. 91.
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