sábado, 30 de junho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ IX ]

 Avenida D. Carlos I - (Século XIX) Autor da fotografia não identificado ( Foto de "GUILHERME COSSOUL" na posição de Capitão-Chefe dos Bombeiros Voluntários) in BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE LISBOA
 Avenida D. Carlos I - (2007) Autor da fotografia não identificado (Placa que assinala a "SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO GUILHERME COSSOUL" na "Avenida D. Carlos I") in GUILHERME SUGGIA
 Avenida D. Carlos I - (195_) Foto de Eduardo Portugal (Reverso da "Cruz Manuelina do Cruzeiro da Esperança", Cristo Crucificado. Esteve até Janeiro de  1835 no "LARGO DA ESPERANÇA", encontra-se actualmente no "MUSEU DA CIDADE") in DISPERSOS - VOLUME I
Avenida D. Carlos I - (195_) Foto de Eduardo Portugal - (Imagem que representa o "CRUZEIRO DA ESPERANÇA" a "Senhora da Piedade" com o "SENHOR" morto nos braços) (Cruz Manuelina do Cruzeiro da Esperança, esteve no "Largo da Esperança" até Janeiro de 1835, encontra-se actualmente no "MUSEU DA CIDADE") in  AFML

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ IX ]

«A "GUILHERME COSSOUL" E O "CRUZEIRO DA ESPERANÇA"»

«GUILHERME COSSOUL»
O prédio pintado de amarelo-torrado, mesmo na esquina da «RUA DA ESPERANÇA» com a «AVENIDA D. CARLOS I», no seu número 61 primeiro andar, está instalada a «SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO GUILHERME COSSOUL», sendo uma das mais prestigiadas colectividades de Lisboa.
Fundada a 7 de Setembro de 1885 por 47 amadores de música e admiradores de «GUILHERME COSSOUL», compositor e prestigiado violoncelista português do século XIX.
Esta colectividade ao longo da sua existência foi sempre de forte dinamização cultural e cívica. Contemplou necessidades educativas, artísticas e desportivas dos seus associados e da cidade de LISBOA. Alfabetizou cidadãos, ensinou ofícios, formou campeões desportivos, músicos, actores, encenadores, dramaturgos, cenógrafos e técnicos de cena.
O seu contributo para o incremento no panorama do Teatro português, pode avaliar-se pelos nomes que por aqui passaram e se foram afirmando no sector do espectáculo. Sem querer ferir susceptibilidades de alguém, vou só indicar os nomes mais antigos e conhecidos do grande público, tendo alguns desempenhado não só o papel de actores como ainda se revelaram grandes encenadores. ALINA VAZ - ISABEL WOLMAR - ARTUR SEMEDO - CARLOS AVILEZ - HENRIQUE VIANA - HUMBERTO D'AVILA - JACINTO RAMOS - JOSÉ VIANA - RAUL SOLNADO - ROGÉRIO PAULO  e VARELA SILVA.
Ligada à prática musical e ao teatro, chegou a existir a «SOCIEDADE FILARMÓNICA ALUNOS DE GUILHERME COSSOUL» que mais tarde daria a «SOC. DE INSTRUÇÃO GUILHERME COSSOUL» que, pouco tempo da sua formação passariam a ocupar o excelente edifício pombalino na «AVENIDA D. CARLOS I». Foi uma Sociedade criada por músicos, que só poderia ter nascido vocacionada para a prática e o  ensino das artes dos sons, bem assim como para a representação, tendência que foi dominante até cerca de 1910.
Chegou mesmo esta «SOCIEDADE» a ser apelidada de «CONSERVATÓRIO DA ESPERANÇA».
«GUILHERME COSSOUL» além de bom violoncelista tinha também a qualidade de saber ensinar. Mas as suas faculdades não se esgotavam como grande humanitário que demonstrava, foi nomeado «CAPITÃO-CHEFE DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS» por «El-Rei D. LUÍS I» e empossado Comandante da Nova Companhia, sendo alugada uma casa na «TRAVESSA ANDRÉ VALENTE» para quartel e recolha da bomba braçal. Como curiosidade, o baptismo de fogo dos novos bombeiros deu-se na madrugada de 22 de Outubro de 1868, no incêndio das TERCENAS, na «TRAVESSA DA PRAIA DE SANTOS» já desaparecida.
Numa entrevista ao jornal «A CAPITAL» de 28.09.2000, «RAUL SOLNADO» (de alcunha "o Raul das vassouras", motivado pelo seu pai ter -na época- um negócio de vassouras), terá recordado o seu bairro da «MADRAGOA», ao dizer que nasceu e cresceu naquele bairro muito característico e típico de LISBOA: Era um bairro de gente do mar, vinham muitas pessoas de OVAR, "os OVARINOS", daí as varinas, as mulheres que vendiam o peixe". Tinha as melhores recordações daquele bairro de pessoas muito solidárias e amáveis. Diz também que não podia deixar de lembrar a «GUILHERME COSSOUL», Associação recreativa onde começou a representar, ele, o José Viana, Henrique Viana o Jacinto Ramos e muitos outros que tiveram uma carreira bem sucedida.

«O CRUZEIRO DA ESPERANÇA»
Em frente ao «CHAFARIZ» entre o «CONVENTO DA ESPERANÇA» e as primeiras casas da rua que vai para «SANTOS» existiu o denominado «CRUZEIRO DA ESPERANÇA». Um "Monumento" de Piedade, senão muito artístico, pelo menos cheio de terno e doce pitoresco, sem rivalizar com a arte patenteada no seu homólogo de «ARROIOS».
Existe referência da existência do Cruzeiro por volta de 1578. Era formado de um telheiro colocado sobre pilares de ferro, com vidraças em volta, duas escadas circulares de cantaria um pouco vulgar; dentro encontrava-se de um lado a «IMAGEM DA SENHORA DA PIEDADE», com o "SENHOR" morto nos braços, e na parte oposta um «JESUS CRUCIFICADO». Pendia do alto uma luz, que ardia de noite, acesa pelos fiéis e sustentada pela  crença da gente bairrista, o povo varino das fainas do mar e do mourejo dos mercados e vias citadinas.
Quando no dia da festividade da «SANTA CRUZ», os moradores da freguesia de «SANTOS» contribuíam com algumas esmolas, empenhavam-se em solenizar e render homenagem àquele "Monumento", não só com grandes fogueiras com muito fogo na véspera, como também armado um coreto, onde se colocava uma banda de musica marcial.
O «LARGO DA ESPERANÇA» encontrava-se todo juncado de flores, buxo, espadana, e muita areia encarnada; o CRUZEIRO estava todo ornado de sedas e de flores com muitas velas de cera dentro, estando acesas de dia e de noite; a afluência do povo era numerosa. No dia da festividade celebrava-se "MISSA CANTADA", com "SACRAMENTO" exposto no «CONVENTO DAS RELIGIOSAS DA ESPERANÇA».
Eram distribuídas  esmolas aos pobres, era um dia de alegria e festivo para os moradores daquele sítio.
Este "Monumento" foi mandado demolir de noite por um partido da Câmara Municipal, sendo levados para a "CERCA DA ESPERANÇA"  alguns objectos. A imagem do "CRUZEIRO" com a  "SENHORA DA PIEDADE" foi levada para o Convento, onde  permaneceu uns tempos.
Em Janeiro de 1835 solicitou e obteve a CÂMARA a remoção da "Imagem Sagrada" que se venerava no cruzeiro; e logo depois, foi este demolido ( 1 ).
Um edital da mesma Câmara de 1 de Junho de 1854 proibia as festas de arraiais que era uso antigo celebrarem-se em algumas praças da capital ( 2 ).
Sabe-se  que os restos deste «CRUZEIRO DA ESPERANÇA» se encontram presentemente no «MUSEU DA CIDADE».
  
- ( 1 ) - Sinopse dos primeiros actos administrativos da CML, em 1835, pag. 5

- ( 2 ) - Annaes do Município de Lisboa, 1858, Nº 12, pág. 108.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«AVENIDA D. CARLOS I [ X ] - O CONVENTO DAS FRANCESINHAS( 1 )»

quarta-feira, 27 de junho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ VIII ]

 Avenida D. Carlos I - (Século XIX) (Desenho de Roque Gameiro) (Parte da Cerca e entrada da Igreja do "CONVENTO DA ESPERANÇA. No Largo, barracas de venda, ovarinas conversando e aguadeiros no seu ritual do século XIX) in LISBOA VELHA DE ROQUE GAMEIRO
 Avenida D. Carlos I - (Desenho de "António Ramalho", foto do de Eduardo Portugal) (Demolições no "Largo da Esperança" em "Monumentos de Lisboa") in AFML
 Avenida D. Carlos I - (2009) Foto de Lampião 2000 (Edifício na actual "Avenida D. Carlos I" local onde antigamente era conhecido como "Largo da Esperança") in  SKYSCRAPERCITY
Avenida D. Carlos I - (c. 1907) Foto de Joshua Benoliel (Edifício da "Avenida D. Carlos I" com os números 103 e 105) in AFML

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ VIII ]

«O CONVENTO DA ESPERANÇA ( 3 )»

A fidalga «D.ISABEL DE MENDANHO» que como dissemos foi a fundadora do «CONVENTO DA ESPERANÇA» embora a sua morte tivesse interrompido o desejo que tinha de ver o «MOSTEIRO» concluído. Porém, a casa terá sido acabada por outra senhora nobilíssima chamada «D. JOANA D'EÇA» (viúva de "PEDRO GONÇALVES DA CÂMARA", segundo capitão da Ilha da Madeira) e filha de «JOÃO FOGASSA) e de »D. MARIA DE EÇA».
«D. JOANA D'EÇA», considerou que este Mosteiro seria o lugar ideal onde se poderia recolher, atendendo que se esperavam para breve religiosas de grande notabilidade, entre as quais estavam duas filhas suas. Pediu a «EL-REI D. JOÃO III» e aos «PRELADOS» autorização para se recolher ao Mosteiro e nele esperar a vinda das suas filhas, com as quais ainda viveu em louvável recolhimento e exemplo de virtude. Alguns anos depois a «RAINHA D. CATARINA» chamou-a para sua camareira-mor, em cujo serviço se prolongou por alguns anos, recebendo da rainha largas mercês.
«El-REI D. JOÃO III» e a rainha terão contribuído bastante para o engrandecimento e alargamento das instalações religiosas.
«D. JOANA D'EÇA» enquanto viveu, foi uma boa benfeitora e protectora do Mosteiro, no qual fez a casa do Capítulo, com grande magnificência e perfeição, dando bonitos ornamentos para o serviço da Igreja.
No fim da sua vida foi sepultada no coro deste Mosteiro no ano de 1571. Deixou às religiosas a sua «terça», e cento e noventa mil réis de foros na «ILHA DA MADEIRA», e outras fazendas que foram vendidas para satisfazer algumas obrigações.
A Igreja tem uma nobre entrada porque antes de chegar ao adro existe uma praça larga capaz de acomodar muita carruagem da nobreza quando em ocasiões especiais utilizam os serviços da Igreja. Termina o adro da Igreja, de boa largura, com grades de ferro, e dentro delas ficam duas nobres cruzes de mármore vermelho.
Na porta que dá entrada para a Igreja existia duas colunas grossas e redondas uma de cada lado e sobre as quais assentava uma larga cimalha. Por cima da porta um frontispício com duas quartelas nas ilhargas.

O «MOSTEIRO» possuía em 1704 cerca  38 religiosas professas, uma noviça, 13 pupilas e 24 criadas para o serviço do Convento. Com o terramoto de 1755 o Convento ficou muito danificado.
No ano de 1834, posta em vigor a lei que acabou com as instalações religiosas, a «ESPERANÇA» iria mudar de feição. Mas dizia a norma que, nos Conventos femininos, o ESTADO só tomaria posse quando morresse  a última recolhida , (foi o caso de soror "CÂNDIDA DE JESUS") teve o ESTADO por isso, de esperar 54 anos.
Em 1888, estando o edifício já na posse do Município lisboeta, procedeu-se à demolição quase total. O espaço foi aproveitado para o quartel dos Bombeiros, então chamados Municipais. Estava-se em 1891-92 e os trabalhos foram dirigidos pelo arquitecto «JOSÉ LUÍS MONTEIRO». Muitos materiais foram aproveitados do velho Convento; arcos, guarnições, azulejos, colunas e uma parte das suas riquezas internas foram parar ao «MUSEU DE ARTE ANTIGA».
É tarefa espinhosa encontrar no quartel de hoje reminiscências do Mosteiro de ontem. Para mais, as instalações dos muito propriamente chamados de soldados da paz, tem sido submetido a obras periódicas.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «AVENIDA D. CARLOS I [ IX ] - A GUILHERME COSSOUL E O CRUZEIRO DA ESPERANÇA»      

sábado, 23 de junho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ VII ]

 Avenida D. Carlos I - (2012) (A "Avenida D. Carlos I" na parte norte, próximo da "Calçada da Estrela") in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (2007) - (Visto de Satélite o local onde existiu o "CONVENTO DE N. Sª. DA ESPERANÇA", hoje instalações do "R.S.B.") in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (195_) Foto de gravura por Eduardo Portugal (Gravura do "CONVENTO DA ESPERANÇA") in AFML
 Avenida D. Carlos I - (Século XVIII) - (Inventariado por João Miguel dos Santos Simões) (Antigo "CONVENTO DA ESPERANÇA" painel com cenas de música) in FUNDAÇÃO CALOUSTE  GULBENKIAN
Avenida D. Carlos I - (Século XVI - Desenho) (Foto de Eduardo Portugal de 195_) (Copiou o desenho A. Pedroso) (Desenho da "Igreja de Nossa Senhora da Piedade da Esperança", desenho de Luís Gonzaga Pereira) (Série Monumentos Sacros de Lisboa, 1833) in AFML

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ VII ]

«O CONVENTO DA ESPERANÇA ( 2 )»

A casa religiosa ficou sob a invocação de «NOSSA SENHORA DA PIEDADE» e fez moda em Lisboa. Consta por exemplo, que a rainha «D. CATARINA», viúva de «D. JOÃO III», gostava de passar longos tempos no «PAÇO DE SANTOS», acompanhada de seu neto «D. SEBASTIÃO», frequentando com assiduidade a casa religiosa da «ESPERANÇA».

Convém contudo, explicar que toda a gente praticamente conheceu sempre o «MOSTEIRO» pelo nome de «Nª. Srª. DA ESPERANÇA» ou simplesmente «DA ESPERANÇA», embora o nome oficial não fosse esse, como vimos. A razão é singela: como se verifica, este é um local situado à beira-rio, habitado desde cedo pela gente do mar. Ora a grande devoção destes fieis era prestada à «SENHORA DA ESPERANÇA», a quem recorriam sempre que o mar não ia de feição e sentiam necessidade de auxilio vindo do alto.  
Pescadores e marinheiros formavam assim uma confraria. Reunia-se esta na «IGREJA DO MOSTEIRO». E tanta fama veio a ter a «SENHORA DA ESPERANÇA» entre todos os frequentadores do templo, que não absorveu qualquer outra denominação. Quem quisesse tirar daqui explicações de carácter social, concluiria facilmente que a gente plebeia averbou aqui uma retumbante vitória à classe nobre.
Mas porque, segundo consta, no CÉU não há lugar de classes e também porque «NOSSA SENHORA DA PIEDADE» e «NOSSA SENHORA DA ESPERANÇA» são uma e a mesma. (Registe-se apenas a curiosidade).
Ficou escrito que este «MOSTEIRO DA ESPERANÇA» foi rico de interiores, correpondendo portanto, à qualidade das suas ocupantes.
Existiam preciosidades artísticas tanto na Igreja como nos aposentos, embora o exterior do edifício não desse aspecto de grandes luxos. (Uma parte das suas riquezas internas foi parar ao «MUSEU DE ARTE ANTIGA»).
O «MOSTEIRO DA ESPERANÇA» dominava todas as terras em redor. Faziam parte dos seus terrenos,  no lado norte a actual «AVENIDA D. CARLOS I» e toda a «RUA DOS INDUSTRIAIS», a   «RUA DAS FRANCESINHAS»,  até à «RUA DO POÇO DOS NEGROS» praticamente junto ao «PALÁCIO FLOR DA MURTA».
O «MOSTEIRO» ainda ficou célebre por factores que pouco tinham a ver com os bens materiais que possuía. Em primeiro lugar, porque ali se faziam uns "queijinhos" que deram brado e também uma especialidade que as senhoras ali internadas executavam como nenhum profissional da arte "doceira": o «BOLO PODRE», que, embora com esta designação, era geralmente conhecido como um dos requintes da doçaria portuguesa.
Outra causa de celebridade foi, sem dúvida, o facto de lá se ter recolhido, em 1667, a rainha «D. MARIA FRANCISCA ISABEL DE SABOIA», que foi mulher de dois irmãos (D. AFONSO VI e D. PEDRO II). No intervalo entre maridos, enquanto se resolvia juridicamente o seu problema de (anulação do casamento com o primeiro), esteve neste CONVENTO com duas aias,  o que fazia alterar substancialmente os hábitos das recolhidas, dado que tudo estava preparado para uma lotação de 50 senhoras.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «AVENIDA D. CARLOS I [ VIII ] - O CONVENTO DA ESPERANÇA ( 3 )».

quarta-feira, 20 de junho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ VI ]

 Avenida D. Carlos I - (2012) (Um troço da "Avenida D. Carlos I" no sentido sul,  próximo do antigo "Largo da Esperança") in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (2004) -Foto de Gonçalo Lopes (Antigo "Convento de S. Bento da Saúde" actual "Assembleia da República", na parte norte da "Avenida D. Carlos I") in TREKEARTH
 Avenida D. Carlos I - (1969) Foto de António Duarte (Imagem de Nossa Senhora da Esperança) in AFML
 Avenida D. Carlos I - (Século XIX) (Planta do "Mosteiro da Esperança" em meados do século XIX - escala 1:2000, extraída da planta da cidade de Lisboa de 1856/58. O traçado a vermelho mostra a "Avenida D. Carlos I" e a "Rua dos Industriais", que se abriram através do terreno do Mosteiro. A indicação a tracejado da "Galeria da Esperança" era o abastecimento ao "Chafariz da Esperança") in  DISPERSOS VOLUME I
Avenida D. Carlos I - (Desenho do início do século XX) Foto de Eduardo Portugal em 195_) (Desenho do "Chafariz da Esperança" e do seu "Cruzeiro". À direita o "Convento da Esperança" à espera de ser demolido. Em primeiro plano a grande "Avenida" que vinha do "Aterro" para as "Cortes", ainda não existiam os grandes prédios na parte Oriental da artéria) in AFML

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ VI ]

«O CONVENTO DA ESPERANÇA ( 1 )»

O chamado vulgarmente «CONVENTO DA ESPERANÇA» teve inicialmente o nome de «CONVENTO DE Nª Srª. DA PIEDADE DA BOAVISTA», por ficar próximo do sítio assim designado, na parte ocidental de LISBOA junto do outeiro da BOAVISTA, numa Quinta chamada de "SICANA" ou "SIZANA" local de magnifico panorama sobre o rio TEJO.
Esta Quinta que se estende de norte e nordeste, pertencia na época ao senhorio do Prior e Beneficiados da «IGREJA DE SANTA JUSTA», bem assim como toda a parte oeste-sudeste com o seu olival. A sul e sudeste com caminhos públicos que vinham  das «PORTAS DE SANTA CATARINA» com destino a «ALCÂNTARA» ou «BELÉM».
Deve-se a fundação deste Convento a «D. ISABEL DE MENDANHA» filha de «PEDRO DE ABENDANO» que passou a este reino, vindo da «BISCAIA», onde a família era nobre e ilustre, muito acreditada nessa província de «CASTELA».
«PEDRO ABENDANO» terá combatido os «REIS CATÓLICOS» ao lado do nosso rei «D. AFONSO V», beneficiando mais tarde de privilégios de «El-Rei D. JOÃO II».
«D. ISABEL DE MENDANHA» (esposa de "D. JOÃO DE MENESES") fidalga com ascendência "Castelhana", foi efectivamente a fundadora deste Convento que primitivamente se destinava a senhoras aristocratas. Embora a Igreja Conventual tivesse, no entanto, desde cedo, sido frequentada pela gente trabalhadora do rio e do mar.
O pedido de «D. ISABEL» para autorização do funcionamento do dito Convento, foi formulado ao «PAPA CLEMENTE VII»  e à sede da ORDEM à qual pretendia recolher-se; a "ORDEM SERÁFICA, CONGREGAÇÃO DOS RELIGIOSOS FRANCISCANOS". Em 1524 tinha sido autorizada para efectivar o seu CONVENTO.
As obras de construção foram iniciadas em 1527 e três anos depois já estava habitável.
A área do «CONVENTO» dotado de grande cerca, com hortas, pomares e vinha ocupava o espaço de construção onde se encontra actualmente o «REGIMENTO DE SAPADORES BOMBEIROS», abrangendo também a cerca perto da «RUA DA ESPERANÇA, chegando perto do «CONVENTO DE S. BENTO DA SAÚDE», estendendo-se até à antiga «RUA FLOR DE MURTA» (Actual "RUA DE SÃO BENTO") junto à «RUA DO POÇO DOS NEGROS», ficando a fachada principal do Convento virada a sul para a antigo «LARGO DA ESPERANÇA».
O edifício ocupava uma vasta área dentro dos limites da cerca. Tinha corpos distintos, alguns de dois pisos e outros de pavimento térreo. A Igreja com  a respectiva Capela-mor, era de nave única, "abobada de lançaria lavrada e dourada", as paredes eram revestidas de bons azulejos.
No livro "LISBOA EM 1551 - SUMÁRIO" de «CRISTÓVÃO RODRIGUES DE OLIVEIRA», refere que nesta data o "MOSTEIRO DE Nª. SRª. DA ESPERANÇA" existiam nele 37 freiras e vinte e oito servidores. Tem uma capela de Administrador com um capelão que diz missa quotidiana. Há na Igreja duas confrarias: uma de «NOSSA SENHORA DA ESPERANÇA» governada por leigos homens do mar, vale em esmolas 180 cruzados; a outra confraria de «NOSSA SENHORA DA PIEDADE», vale de esmolas 80 cruzados. Vale a renda deste Mosteiro 500 cruzados.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«AVENIDA D. CARLOS I [ VII ] - O CONVENTO DA ESPERANÇA ( 2 )».    

sábado, 16 de junho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ V ]

 Avenida D. Carlos I - (2007) - (Vista panorâmica do sítio da ESPERANÇA, podemos observar a "Avenida D. Carlos I" em direcção à "Avenida 24 de Julho") in GOOGLE EARTH 
 Avenida D. Carlos I - (2012) - (Um troço da "AVENIDA D. CARLOS I" no sentido sul, junto do antigo "Largo da Esperança") in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (2010) - Foto de autor não identificado ("JARDIM NUNO ÁLVARES" conhecido por "JARDIM DE SANTOS" com estátua de "RAMALHO ORTIGÃO") in CIÊNCIAS E MARCAS
Avenida D. Carlos I - (entre 1898 e 1908) Foto de autor não identificado ("Academia de Bilhar da Esperança" na época) in AFML

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ V ]

«O SÍTIO DA ESPERANÇA E SANTOS ( 3 )»

Esta via de ligação, assim como a «AVENIDA 24 DE JULHO» e o grande quarteirão alongado a sul da «CALÇADA MARQUÊS DE ABRANTES» ( 1 )  (desde a Igreja de Santos à "Avenida D. Carlos I"), isolaram definitivamente a "MADRAGOA" do RIO. Quebraram ainda a antiga e importante via de «BELÉM» através da «RUA DA ESPERANÇA», que chegava às zonas centrais da cidade.
Era a interiorização que igualmente atingia outros sítios ribeirinhos que, tal como este, viviam essencialmente de actividades decorrentes da sua ligação directa e fácil ao RIO.
A abertura desta nova e grande artéria de ligação às «CORTES», foi facilitada por uma catástrofe de algumas décadas antes, em 1837, atingiu o Palácio, casas e quintas dos «DUQUES DE AVEIRO», cujos restos foram consumidos pelo incêndio, que devorou também o que subsistia do «CONVENTO DOS BARBADINHOS FRANCESES».
Os «BARBADINHOS FRANCESES» existiam com o seu «CONVENTO» no local onde hoje se encontra a «JUNTA DE FREGUESIA DE SANTOS-O-VELHO»,  que nos anos 30 do século passado existia um balneário e nessa altura ainda havia instalações destes frades. Vieram para LISBOA no tempo de «D. JOÃO IV» mais exactamente em 1647 e fixaram-se naquela local por cedência de terrenos por parte do «DUQUE DE AVEIRO» então «D. RAIMUNDO» (era proprietário de toda a zona que hoje abrange parte da "CALÇADA MARQUÊS DE ABRANTES» (antiga "CALÇADA CONDES DE VILA NOVA DE PORTIMÃO") até à actual «AVENIDA D. CARLOS I». Estes frades tiveram  vida um tanto agitada em Lisboa. De facto os «BARBADINHOS» (assim chamados porque todos usavam barba comprida), tinham já casa no BRASIL, em PERNAMBUCO, e sempre quiseram acumular as duas residências. Uma aliada dos «BARBADINHOS» foi a nossa conhecida «D. MARIA FRANCISCA ISABEL DE SABÓIA»
Os conceitos de património eram há um século diferentes dos actuais. Hoje talvez tivesse sido possível traçar a «AVENIDA D. CARLOS I» sem ter que inutilizar completamente o «CONVENTO DA ESPERANÇA». Tirando alguns elementos soltos reutilizados no novo edifício que substituiu o «CONVENTO», apenas restou parte da «IGREJA» e do «CORO», barbaramente transformado em oficinas, sobre a qual foi descuidadamente construído um piso e com a degradação quase completa do tecto da igreja.
O novo projecto, que teve uma implantação decorrente do desenho dessa via, foi da autoria do arquitecto « JOSÉ LUÍS MONTEIRO» e concretizada cerca de 1890. Destinou-se o Convento ao então denominado «QUARTEL DO CORPO DE BOMBEIROS MUNICIPAIS», actualmente «REGIMENTO SAPADORES BOMBEIROS».
"JARDIM DE SANTOS"
Logo a seguir ao «LARGO VITORINO DAMÁSIO» existe um Jardim que vulgarmente lhe chamamos de "JARDIM DE SANTOS" (outrora "JARDIM DOS GATOS", mas na realidade o seu nome oficial é «JARDIM NUNO ÁLVARES». Tem no seu interior uma estátua de «RAMALHO ORTIGÃO» de bronze com dois metros e sessenta, em cima de um pedestal em granito. A obra foi executada por «NUMÍDICO BESSONE», entre os anos de 1945 e 1956, tendo sido inaugurado no dia 23 de Novembro de 1957.

- ( 1 ) - A «CALÇADA MARQUÊS DE ABRANTES» foi aberta depois de 1755, pelo plano de Urbanização pombalino, rasgando a Quinta dos titulares proprietários do Palácio, sua cerca e terrenos dos «CONDES DE VILA NOVA DE PORTIMÃO», primeira designação que a artéria possuía.
Os «CONDES DE VILA NOVA DE PORTIMÃO» a partir do 7º Conde «D.PEDRO DE LANCASTRE DA SILVEIRA CASTELO BRANCO SÁ E MENESES» foi também o 5º ou (3º) «MARQUÊS DE ABRANTES»

(CONTINUA» - (PRÓXIMO) - «AVENIDA D. CARLOS I [ VI ] - O CONVENTO DA ESPERANÇA ( 1 )»
      

quarta-feira, 13 de junho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ IV ]

 Avenida D. Carlos I - (2012) (O início da "Av. D. Carlos I" visto da "Avenida Brasília", podemos observar o edifício projectado pelo Arquitecto "Tomás Taveira") in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (2009) Foto de autor não identificado (Início da "Avenida D. Carlos I" visto da "Avenida Brasília" in AFML 
 Avenida D. Carlos I - (1965) - Foto de Armando Serôdio (O "QUARTEIRÃO DE SANTOS" na parte sul do "Largo Vitorino Damásio" esquina com a "Avenida D. Carlos I" no antigo sítio do ATERRO de SANTOS) in AFML 
 Avenida D. Carlos I - (1949) - (Cruzamento da "Avenida 24 de Julho" próximo da "Avenida D. Carlos I",  ainda não existia o edifício projectado pelo Arquitecto "Tomás Taveira") in AFML  
Avenida D. Carlos I - (Final do século XIX) - Suporte negativo de gelatina e prata - autor não identificado (O carro chamado de "O AMERICANO", que nos finais do século XIX começou a prestar um grande serviço à população da cidade de Lisboa) in AFML

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ IV ]

«O SÍTIO DA ESPERANÇA E SANTOS ( 2 )»

No segundo quartel do século XIX foi finalmente concretizado o grande ATERRO, edificando-se entre a malha anterior e a nova grande via ribeirinha, a «RUA 24 DE JULHO» (mais tarde Avenida), um significativo marco urbano, o grande quarteirão quadrangular  chamado de (quarteirão de Santos) a sul do «LARGO VITORINO DAMÁSIO», que aproveitamos para especificar um pouco mais este quarteirão: "Quarteirão compacto com prédios de quatro pisos e águas-furtadas, obedecendo a um modelo único, e com estabelecimentos e oficinas no rés-do-chão. Grades de ferro nos tímpanos das portas, algumas com as iniciais dos construtores e assinalando as datas da sua construção: 1868, 1871 e 1877. Variações nas formas dos vãos; verga recta ou de volta redonda. Situa-se na «AVENIDA 24 DE JULHO» números 50 a 56 - «LARGO DE SANTOS» números 13 a 15 - «LARGO VITORINO DAMÁSIO» números 1 a 4 e «AVENIDA D. CARLOS I» números 1 a 47" (ver: NÚCLEO DE ARQUITECTURA DO LNEC).   
Foi também por esta altura, em Novembro de 1873, que se fez o assentamento dos carris do «AMERICANO», antecessor dos vulgarmente chamados "Carros Eléctricos", com o percurso «SANTA APOLÓNIA» para Ocidente, passando pelo «CAIS DO SODRÉ», «ATERRO DA BOAVISTA», e rampa de «SANTOS» que, pelas "Janelas verdes" ligava à «PAMPULHA».
Quem nos reforça esta ideia é o grande pintor, desenhador e especialista na aguarela, «ALFREDO ROQUE GAMEIRO» no seu livro «A ILUSTRAÇÃO - LISBOA VELHA» (1925). "Não esquecerei jamais a impressão de sumptuosidade e de admiração que senti quando, aí por Fevereiro de 1874, vindo da minha humilde aldeia, entrei em LISBOA.
Não tinha visto até então mais do que os casebres dos modestíssimos lavradores e cuja família me honro de pertencer. A LISBOA do fim do século XIX, e especialmente a cidade baixa, caracterizadamente pombalina, apesar do seu fraco movimento e da monótona harmonia das suas construções, impressionaram o meu espírito de provinciano ingénuo, moço e ignorante, como a última palavra do urbanismo estonteante das capitais.
Começava nessa ocasião o assentamento da linha dos carris para o "AMERICANO", do  «TERREIRO DO PAÇO» ao «CONDE BARÃO», e existia, não havia muito, a carreira de vapores de rodas para «ALCÂNTARA» e «BELÉM», de cuja frota fazia parte o roncador e cuspinhento «VAPOR PROGRESSO», (...). Conheci eu muito particularmente as ruas de «SÃO PAULO» e da «BOA VISTA»".
Era criado assim, com este novo meio de transporte colectivo " O AMERICANO" ( 1 ), a importante linha ribeirinha que bordejava a sul as velhas colinas, urbanizadas no passado, que iam de «ALFAMA» e «», pela «BICA» e «BAIRRO ALTO» e ainda pela «ESPERANÇA» a caminho de «ALCÂNTARA».
Entretanto, a poente, perto da última década de oitocentos e após a demolição de parte do «CONVENTO DA ESPERANÇA», é construída quase toda sobre aterro considerável a actual «AVENIDA D. CARLOS I», que fazia a ligação das «CORTES», actual «ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA» passando pelo antigo «LARGO DA ESPERANÇA», até à «AVENIDA 24 DE JULHO».

- ( 1 ) - A primeira linha inaugurada deste transporte foi entre «SANTA APOLÓNIA» e o «ATERRO DA BOAVISTA». Tendo origem no "RIO DE JANEIRO" em 1870, este transporte colectivo de tracção animal deslocando-se sobre carris, chegou a «LISBOA» no ano de 1873. Tinha 22 lugares sentados para passageiros e alguns espaços de pé juntos das plataformas.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «AV. D. CARLOS I [ V ] - O SÍTIO DA ESPERANÇA E SANTOS (3)».

sábado, 9 de junho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ III ]

 Avenida D. Carlos I - (2012) - (Início da "Avenida D. Carlos I" na parte sul, em convergência com a "Av. 24 de Julho". Visível o magnífico edifício com projecto do arquitecto "Tomás Taveira") in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos  I - (2012) - (Início sul da "Avenida D. Carlos I" visto da "Avenida 24 de Julho") in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (1965) Foto de Armando Serôdio - (O "Largo Vitorino Damásio" espaço onde no ano de 2003 foi construído um parque de estacionamento subterrâneo) in AFML
Avenida D. Carlos I - (Século XVIII) - (Pormenor da gravura anónima da "Zona Ribeirinha de Lisboa". Podemos observar no cimo lado direito, o "Convento de S. Bento da Saúde", à esquerda  parte da "Igreja" e "Coro" do "Mosteiro da Esperança, o "Palácio do Duque de Aveiro", em frente com 2 andares e 6 janelas em cada piso, superiores à ponte-cais onde está atracada uma barca da "Aldeia Galega" (Montijo), a carregar provavelmente os lixos da cidade de Lisboa. A "Zona Ribeirinha" corresponde sensivelmente ao actual "LARGO VITORINO DAMÁSIO", onde se distingue claramente o cais de madeira que avança sobre o RIO.- LEGENDA - 1)IGREJA DE Nª Sª. DA ESPERANÇA; - 2)PALÁCIO DOS DUQUES DE AVEIRO; - 3)CONVENTO DE S.BENTO DA SAÚDE; - 4)O CAIS ( local sensivelmente hoje) LARGO VITORINO DAMÁSIO) - in DISPERSOS - VOLUME I

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ III ]

«O SÍTIO DA ESPERANÇA E SANTOS ( 1 )»

Em 1854 surge uma proposta para o aterro da zona da «BOAVISTA» a «SANTOS», da autoria do engenheiro-arquitecto francês «PIERRE JOSEPH PEZERAT ou PEDRO JOSÉ PEZERAT (1800-1872)» ( 1 ),  que chegado a Portugal nos anos 40 de Oitocentos, entrou para os serviços da CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA no ano de 1852. Dois anos mais tarde publicou um estudo de sua autoria. "Memória descritiva sobre o projecto de  Doca com portos-canais e de um novo bairro marítimo nas praias da BOAVISTA, de SANTOS e ROCHA DO CONDE DE ÓBIDOS compreendendo a rectificação do actual bairro da BOAVISTA" ( 2 ). Foi um importante arquitecto que não chegou a ver o seu projecto realizado. O objectivo do seu autor era arranjar os meios de fazer desaparecer aquela grande nódoa de lodo das praias da BOAVISTA e de SANTOS.
Na velha praia de SANTOS sobretudo na maré-cheia, terá sempre uma profundidade contida pois, segundo «JÚLIO CASTILHO» "Pelo lado sul, batia o TEJO aos pés da muralha do Jardim (do Palácio Marquês de Abrantes), e ainda em 1823 se dava esse facto. O TEJO foi fugindo, e já por volta de 1848 a praia de SANTOS começava a ser habitada" ( 3 ). A longínqua calma desta praia iria no entanto a ser irremediavelmente atingida, pois estava em vias de ser transformada, retalhada, toda ela expropriações, carroçadas de terriça e entulho não paravam de chegar. Já lá iam os bons tempos dos abarracamentos de lona branca para banhos na estação calmosa; as construções de barcos, iates e brigues a fervilhar ao longo do areal. O ATERRO vinha a caminhar para poente com toda a força, ia engolir o areal" ( 4 ).
Alguns dos actuais edifícios oitocentistas da então recente «CALÇADA MARQUÊS DE ABRANTES», rebaptizada após o seu inicial nome de «CALÇADA DO CONDE DE VILA NOVA DE PORTIMÃO», sobretudo os mais perto do «BOQUEIRÃO do TEJO» da «BOAVISTA» e do «CAIS DO TOJO» posteriormente desaparecidos ou encurtados, com a construção da «AVENIDA D. CARLOS I», foram construídos sobre pré-existências, de baixa volumetria e uso não habitacional (ARMAZÉNS).
Persistia ainda a sul dessa calçada uma vasta área arborizada no seguimento do «PALÁCIO MARQUÊS DE ABRANTES», mas sem ligação directa à «PRAIA DE SANTOS» e ao RIO, dada a existência em meados de oitocentos, mais a sul, perto da praia, de uma banda de edifícios em contínuo. É bem visível tal situação na «CARTA TOPOGRÁFICA DA CIDADE DE LISBOA DE 1856/1858», coordenada por «FILIPE FOLQUE», assim como o papel claro da «CALÇADA MARQUÊS DE ABRANTES» na ligação da periferia ribeirinha ao centro da cidade. Por aqui passou já, folgadamente, quando da morte em 1861 de «D. PEDRO V», o respectivo cortejo fúnebre, no seu trajecto desde o «PALÁCIO DAS NECESSIDADES» até ao "PANTEÃO" de S. VICENTE DE FORA.
Não podemos deixar de referir «JOSÉ VITORINO DAMÁSIO», o engenheiro, e director do «INSTITUTO INDUSTRIAL» que dirigiu as obras do ATERRO desde «S. PAULO» a  «SANTOS» depois de 1858.

- ( 1 ) - No Arquivo Municipal do Arco do Cego encontram-se algumas plantas que terão sobrevivido ao incêndio dos Paços do Concelho em 1863, uma das quais é do projecto da Praça de D. Luís a construir no ATERRO assinada por PÉZERAT: "Projecto da Praça a edificar na extremidade oriental do aterro da BOAVISTA proposto pelo Exmo. Snr. Vereador José Carlos Nunes, na sessão de 20 de 1862, pelo Engº da C.M. Pézerat". (23/v. pl. 10972).

- ( 2 ) -Pierre Joseph Pézerat - Memória descritiva sobre o projecto da Docka(...) LISBOA. Typografia Manoel Jesus Coelho, 1854.

- ( 3 ) - JÚLIO CASTILHO - "A RIBEIRA DE LISBOA" VOL. V (Lisboa) 1968, pág. 88

- ( 4 ) - JÚLIO CASTILHO - "A RIBEIRA DE LISBOA" VOL. V (Lisboa) 1968, pág. 117.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «AV. D. CARLOS I [ IV ] - O SÍTIO DA ESPERANÇA E SANTOS ( 2 )».
     

quarta-feira, 6 de junho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ II ]

 Avenida D. Carlos I - (2010) - (Um troço da "Avenida D. Carlos I" in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (2012) - (A parte norte da "Avenida D. Carlos I", vendo-se ao fundo o "Convento de S. Bento", hoje "Assembleia da República") in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (2011) - Foto de João Carvalho ( O "Chafariz da Esperança") in WIKIPÉDIA
 Avenida D. Carlos I - (2007) (Panorama da Esperança, podemos observar o comprimento da "Avenida D. Carlos I) in GOOGLE EARTH
Avenida D. Carlos I - (Início do século XX) Foto de Joshua Benoliel (A passagem de nível frente à "Avenida D. Carlos I" na parte sul) in AFML

(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ II ]

«A AVENIDA D. CARLOS I ( 2 )»

Parafraseando «ANTÓNIO GEDEÃO» em afirmar "o sonho comanda a vida", o comum dos mortais, faz sempre votos firmes de mudanças de rumo. E, no que dos próprios não depende, prende-se a um sentimento que, mesmo não estando agarrado a qualquer âncora de certeza, é muitas vezes o farol que ilumina as vidas. Chama-se «ESPERANÇA» e, por mais indefinível que a "situação" se apresente,  faz de tal forma parte de cada um que poucos negam ser ela a última coisa a morrer. Mas desta vez estamos a falar da «ESPERANÇA» "física" do sítio da «VELHA ESPERANÇA».

Já aqui abordámos quando publicámos a «CALÇADA DO COMBRO», do antigo «CAMINHO PARA OCIDENTE», que servia de passagem a quantos, vindos das «PORTAS DE SANTA CATARINA», se dirigiam a «ALCÂNTARA» atravessando depois a respectiva "RIBEIRA", a caminho de BELÉM. No século XVI, já a «ESPERANÇA» era conhecida e trilhada.
São conhecidas as casas dos «DUQUES DE AVEIRO» no sítio da ESPERANÇA, bem assim como dos «CONDES DE VILA NOVA DE PORTIMÃO», mais tarde os «MARQUESES DE ABRANTES».
Está documentado que os «DUQUES DE AVEIRO» tinham várias residências em LISBOA. Em «BELÉM», «CASTELO», «CAMPO DAS CEBOLAS» em «SÃO SEBASTIÃO» e na «ESPERANÇA». É sem dúvida a mais documentada a residência que os «DUQUES DE AVEIRO» possuíam no sítio da «ESPERANÇA».
Está assinalado na revista "OLISSIPPO THEATRUM URBIUM" de Jorge Bráunio (3º quartel do século XVI), a sul do «CRUZEIRO» e do «CONVENTO DA ESPERANÇA». Mas com mais precisão localiza «JÚLIO CASTILHO» o Palácio Ducal: "Quando o leitor, vindo pela "RUA DO POÇO DOS NEGROS" e atravessando o "LARGO DA ESPERANÇA", tomar para a "RUA DIREITA", que vai ter às «BERNARDAS» (...) repare na casa que faz a esquina esquerda, para a «RUA DIREITA» e para o "LARGO" (...). Pois saiba que aí mesmo foi o palácio soberbo dos netos de "El-Rei D. JOÃO II", os poderosos e altivos «DUQUES DE AVEIRO» (...). E acrescenta: "Ainda antes de 1882, ano em que se construíram os prédios novos que tornejam para a «CALÇADA DO MARQUÊS DE ABRANTES», via quem passava nesta calçada, a frente do palácio que olhava para a banda do Tejo" (...). "CASTILHO" localiza ainda os Jardins do Palácio: "Para poente (...) isto é, ao longo da nossa actual «RUA DIREITA DA ESPERANÇA», entre ela e a praia, até à actual «TRAVESSA DOS BARBADINHOS» (ou talvez um pouco mais acima), alastravam-se (...) os não muito vastos jardins dos «DUQUES»".

Junto ao antigo «CONVENTO DA ESPERANÇA» na sua parte sul podemos ainda observar o «CHAFARIZ DA ESPERANÇA» que secou nos anos 30 do século passado. Mesmo defronte do «CHAFARIZ» erguia-se «O CRUZEIRO DA ESPERANÇA».

(CONTINUA) - (PRÓXIMO)- «AVENIDA D. CARLOS I  [ III ] - O SÍTIO DA ESPERANÇA E SANTOS ( 1 )»

sábado, 2 de junho de 2012

AVENIDA D. CARLOS I [ I ]

 Avenida D. Carlos I - (2012) (Desenho adaptado da "AVENIDA D. CARLOS I" e seu envolvente, sem escala - APS - LEGENDA - 1) AVENIDA D. CARLOS I - 2)REGIMENTO DE SAPADORES BOMBEIROS - 3)ANTIGO CONVENTO DA ESPERANÇA - 4)CHAFARIZ DA ESPERANÇA - 5)LARGO VITORINO DAMÁSIO - 6)CONVENTO DE SÃO BENTO(Assembleia da República) - 7)PALÁCIO FLOR DA MURTA - 8)ANTIGO CONVENTO DAS FRANCESINHAS.  As RUAS assinaladas com dois traços vermelhos, já foram publicadas neste blogue.
 Avenida D.Carlos I - (2012) - (Um troço da "AVENIDA D.CARLOS I" de sul para norte, no lado esquerdo podemos ver o início do "LARGO VITORINO DAMÁSIO") in GOOGLE EARTH
 Avenida D. Carlos I - (2012) ("Avenida D. Carlos I" na parte sul. À direita o "QUARTEIRÃO DE SANTOS", à esquerda o bonito edifício projectado pelo Arquitecto "TOMÁS TAVEIRA") in GOOGLE EARTH
 Avenida D.Carlos I - (1856-1858) - (Conjugação das cartas topográficas de LISBOA Nº41 e  Nº49 de Filipe Folque, de sul para norte o "Convento da Esperança" a nascente o "Palácio da Flor de Murta". A noroeste, primeiro o "Convento das Francesinhas" seguido do "Convento de S, Bento") in ATLAS DA CARTA TOPOGRÁFICA DE LISBOA
Avenida D. Carlos I - Foto de  (195_) Eduardo Portugal (Planta da zona onde estão os Conventos: «DA ESPERANÇA», «DAS FRANCESINHAS», «DAS INGLESINHAS» e de «SÃO BENTO DA SAÚDE» em 1807) in AFML

AVENIDA D. CARLOS I [ I ]

«A AVENIDA D. CARLOS I ( 1 )»

A «AVENIDA DOM CARLOS I» pertence a três freguesias.
À freguesia de «SANTOS-O-VELHO», todos os números ímpares. À freguesia de «S. PAULO» do número 2 ao número 120. Na freguesia de «SANTA CATARINA» do nº 122 em diante. Começa na «AVENIDA 24 DE JULHO» no número 48, e finaliza na «CALÇADA DA ESTRELA» no Nº 41. É atravessada pela «CALÇADA MARQUÊS DE ABRANTES», tem no seu lado direito de sul para norte a «RUA DOM LUÍS», «RUA CAIS DO TOJO», «RUA DO MERCA-TUDO»   seguindo-se a «RUA DO POÇO DOS NEGROS». No lado esquerdo igualmente de sul para norte encontramos o «LARGO VITORINO DAMÁSIO», «RUA DA ESPERANÇA» e «RUA DOS INDUSTRIAIS». 

A actual «AVENIDA DOM CARLOS I» ou parte dela já foi denominada por  vários topónimos em diversas épocas. No troço inicial que começa na «AV. 24 DE JULHO» até à antiga «RUA VASCO DA GAMA» (esta última artéria fazia parte do actual "LARGO VITORINO DAMÁSIO") teve aquando da sua abertura, o nome de «RUA DO DUQUE DA TERCEIRA». Foi também em 1889 a «RUA D.CARLOS», «AVENIDA DAS CORTES» depois da  proclamação da República em 1910, ainda lhe chamaram de «AVENIDA PRESIDENTE WILSON» embora em edital de 23 de Dezembro de 1948, tomasse o topónimo de «AVENIDA D. CARLOS I» como consta na actualidade.

No século XVI, LISBOA propriamente dita acabava, no que diz respeito ao lado ocidental, nas «PORTAS DE SANTA CATARINA», ou seja, no actual «CHIADO». Seguia-se depois a encosta do «COMBRO» e, passada esta, entrava-se em terras ditas da «BOAVISTA», numa suave colina que subia até à «LAPA» de hoje. O facto de estar fora de portas não implicava, porém, que toda essa zona estivesse despovoada. Pelo contrário, cedo se viu que os terrenos que hoje fazem parte das freguesias de «SANTA CATARINA» e «SANTOS-O-VELHO» suscitavam interesse de ordens religiosas e de simples particulares para edificarem suas habitações.

Assim, uma fidalga de ascendência Castelhana, «D. ISABEL DE MENDANHA» (esposa de D. João de Meneses) - cuja família tinha vindo para PORTUGAL no tempo de «D. AFONSO V» - decidiu fundar um Convento destinado essencialmente a senhoras nobres.
Para tanto, foi pedida a necessária autorização ao «PAPA CLEMENTE VII» e à Sede da ORDEM à qual pretendia recolher-se: a «ORDEM SERÁFICA» ramo Franciscano, que tivera como primeira abadessa, a própria "SANTA CLARA".
Para instalar o Convento, escolheu «D. ISABEL DE MENDANHA» a antiga  "Quinta da Sizana" que ficava abaixo da encosta da (actual "CALÇADA DO COMBRO") e já na vertente da colina da «BOAVISTA». Aí se fez a edificação, tomando a casa o nome de «MOSTEIRO DA PIEDADE DA BOA VISTA», também conhecido pelo «MOSTEIRO DA ESPERANÇA».
Quem hoje quiser situar o «CONVENTO DA ESPERANÇA», basta imaginar e olhar para o actual «QUARTEL DO REGIMENTO DE SAPADORES BOMBEIROS», era exactamente nesse lugar!

(CONTINUA) - (PRÓXIMA) -«AV.D CARLOS I [ II ] - A AVENIDA D. CARLOS I (2)»