quarta-feira, 29 de junho de 2011

RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ XIII ]

Rua do Cais de Santarém- (2010) Foto de Dias dos Reis (O "Palacete do Chafariz de El-Rei" virado para a "Rua do Cais de Santarém") in DIAS DOS REIS

Rua do Cais de Santarém - (2009) Foto de APS (Uma perspectiva do "CHAFARIZ DE EL-REI" na "Rua do Cais de Santarém") in ARQUIVO/APS


Rua do Cais de Santarém - (2009) Foto de APS (Caravela do escudo de armas da cidade de Lisboa, colocadas nos laterais do "CHAFARIZ DE EL-REI) in ARQUIVO/APS

Rua do Cais de Santarém - (1986) Foto de autor não identificado (Corpo central do "CHAFARIZ DE EL-REI" ostentando as armas do reino sem a coroa) in LISBOA REVISTA MUNICIPAL

Rua do Cais de Santarém - (1907) Foto de Joshua Benoliel ( Já em tempo mais pacifico, inicio do século XX, no "CHAFARIZ DE EL-REI" crianças aguardando a sua vez para encher as suas bilhas) in ILLUSTRAÇÃO PORTUGUESA de 25.03.1907

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ XIII ]
«CHAFARIZ DE EL-REI ( 4 )»

As antigas notícias do «CHAFARIZ DE EL-REI» dizem-nos que ele tinha seis bicas de pedra, com bocais de bronze, e à sua frente ficava um pequeno atrío, com 17,6m de comprimento por 8,8m de largura, e cerca de 1,32m inferiormente ao terreno circunjacente, para o qual se descia por duas escadas laterais com 6,16m de largura(1).

Existiram por várias vezes obras no Chafariz, tanto no seu interior como na fachada; existiu em 1699; em 1726 ainda conservava as SEIS BICAS ( 2 ); no 2º quartel do século XVIII houve novas obras, que se concluíram em 1747, tendo-se aumentado para nove o número de bicas (3), e talvez feito o apainelamento da frontaria do corpo inferior, como se conservou pelo menos até 1821 ( 4 ). Foram realizadas outras obras de intervenção nos anos de 1774/75; em 1836 trabalhava-se no apainelamento superior do frontespício, que se continuava em 1859 ( 5 ), tendo-se assentado nesse anos os paineis e vergas, algumas pilastras e uma parte da cimalha ( 6 ), e em 1861 concluía-se o dito apainelamento superior, a platibanda, a colocação dos dez vasos com piteiras de folha de "Flandres" e as oito pirâmides, que ainda lá se encontram ( 7 ).

O frontispício apresenta a fachada em dois planos ou corpos; um inferior, onde estão as bicas, e outro superior, mais recuado, sobre o qual corre um estreito terraço. Toda a obra é de cantaria, em painéis; o do meio do corpo inferior ostenta as «ARMAS DO REINO», sem a coroa (retirada depois do movimento revolucionário de 1910); e dois laterais mostram a «CARAVELA DO ESCUDO DE ARMAS DA CIDADE DE LISBOA». O pátio ou átrio de acesso às bicas, já reduzido a uns 4 metros de largura, foi estreitado para 2 metros (até ao murete do tanque das bicas); o seu comprimento, na cortina quadrada, é igual a 27,6(metros); o número de bicas está actualmente (1939) reduzido a três, com torneiras, alimentadas com água do «ALVIELA».

No local onde existe o depósito de água era uma parte a descoberto e outra abobadado. Tem por cima uma casa apalaçada de que já falámos, com entrada pela «TRAVESSA DE S. JOÃO DA PRAÇA»; no seu cunhal noroeste vê-se uma pedra com a «CARAVELA DO BRASÃO DE LISBOA», idêntica à que está sobre a porta de entrada no recinto; na parte restante da abóbada é mais elevada, e sobre ela existe um prédio, com entrada na «TRAVESSA DO CHAFARIZ DE EL-REI», e que se prolonga por cima da primeira casa. Na parede do recinto da área de água, fronteira à entrada, vê-se gravada a seguinte inscrição: A CONCERVA FOI LIMPA EM 1856 - E EM JANEIRO DE 1875.

Já no século XX o transporte de água para as necessidades domésticas era (naquela época) um dos trabalhos braçais mais ingratos e que ocupava maior número de pessoas. Os que podiam pagar, compravam a água para os gastos aos aguadeiros, geralmente "GALEGOS", que constantemente percorriam as RUAS DE LISBOA, barril às costas, ou se juntavam, formando grupos numerosos, à volta dos chafarizes, nomeadamente do «CHAFARIZ DE EL-REI», à espera de vez. Alternando com os «GALEGOS», na vez de encher o vasilhame, havia sempre muitas mulheres de várias idades, algumas quase crianças, com cântaros de barro, por vezes até dois, um à cabeça e outro debaixo do braço. Eram geralmente criadas das casas da burguesia ou mulheres do bairro, que transportavam a água para o gasto da família.

( 1 ) - In Memórias sobre o chafariz, Bicas, Fontes etc. por J.S. Veloso Andrade, 1851, pag.105.

( 2 ) - Aquilégio Medicinal, por Francisco da Fonseca Henriques, 1726, pag. 58

( 3 ) - Demonstração Histórica, etc., por Fr. A. da Conceição, 1750, pag. 186

( 4 ) - Segundo desenho dessa altura por "Luiz Gonzaga Pereira"

( 5 ) - Annais do Municipio de Lisboa, Nº 31, 1859, pag. 259

( 6 ) - Annais do Municipio de Lisboa, Nº 61, 1859, pag. 504

( 7 ) - Archivo Municipal de Lisboa, Nº 70, 1861, pag. 560

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ XIV ] - «COZINHA ECONÓMICA Nº 5».








sábado, 25 de junho de 2011

RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ XII ]

Rua do Cais de Santarém - (2009) Foto de APS (Pormenor do "Chafariz de El-Rei" na Rua do Cais de Santarém) in ARQUIVO/APS

Rua do Cais de Santarém - (2010) - Foto de Dias dos Reis (Rua do Cais de Santarém - "Chafariz de El-Rei") in DIAS DOS REIS

Rua do Cais de Santarém - (1906) -Foto de autor não identificado (Aguadeiros enchendo os barris no "Chafariz de El-Rei" no início do século XX) in ILLUSTRAÇÃO PORTUGUESA Nº 28 Rua do Cais de Santarém - (1906) Foto de autor não identificado (Aguadeiros esperando o enchimento dos barris no "Chafariz de El-Rei" em perfeita harmonia) in ILLUSTRAÇÃO PORTUGUESA Nº 28

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ XII ]
«CHAFARIZ DE EL-REI ( 3 )»

Tomou a Câmara posse do prédio no dia 30.06.1542. Sendo este «CHAFARIZ DE EL-REI» o único de abastecimento público bem podemos calcular a romaria constante, e a grandíssima afluência que teria, de todos os pontos de LISBOA. Consequência natural, e porque os que tinham de esperar se zangavam, aquela gente, das baixas camadas sociais, acotovelava-se, derrubava-se, originando grandes conflitos. Com o fim de remediar os perigos quotidianos a Câmara publicou o seguinte: "Constando ao senado que ha homens brancos, negros e mouros, que se vão pôr ás bicas do chafariz d'El-Rei, a vender água a quem a vae buscar, de que se seguem brigas, ferimentos e mortes, faz a sua postura, para repartição das ditas bicas, pela forma seguinte: Na primeira bica, indo da Ribeira para ella, encherão pretos forros e cativos, que forem homens. Logo na segunda poderão encher os mouros das Galés, somente a água que for necessária para as suas aguadas: e logo que encham os seus barris ficará a bica para os negros e mulatos, conforme a declaração atraz.

Na terceira e quarta, que são as do meio, encherão os homens e moços brancos; e na quinta encherão as mulheres pretas, mulatas e índias forras e cativas. E na derradeira bica, da banda de Alfama encherão as mulheres e moças brancas, conforme a declaração das bicas. Sob pena de quem o contrário fizer do que está dito, se fôr pessoa branca e forra, assim homem como mulher pagará 2$000 réis de pena e estará na cadeia três dias sem remissão, de que haverá metade da pena pecuniária quem a accusar, e a outra metade será para a cidade.

A mesma pena terão os ditos brancos, mulatos, índios e pretos forros, que encherem por dinheiro, ou achando-se que encham em qualquer das outras bicas além das que se lhe nomeiam; posto que corra a dita água no chão não poderão encher se não nas declaradas; e os negros e os captivos e os mais escravos e escravas, como forem pessoas captivas, que o contrário fizerem de tudo quanto está dito serão publicamente açoitados, com baraço e pregão, derredor do dito chafariz, sem remissão; conforme a provisão de el-Rei Nosso Senhor, novamente passada. As quaes penas se executarão três dias depois da publicação d'esta postura que se lhes dão para vir primeiro á notícia dos moradores d'esta cidade".

É assaz curioso este documento para se avaliar a situação do povo naquele século XVI, tão opulentado em Portugal pelas grandes descobertas e conquistas, que desde finais do século XV tornavam o nosso país alvo da atenção e inveja de todas as nações em geral e em especial de "VENEZA", que não podia conformar-se com a queda do seu domínio quase absoluto nos mares do Oriente.

Quantas pessoas passam perto do «CHAFARIZ DE EL-REI» sem imaginarem as contendas, as lutas, as mortes a que deu lugar o inconsciente local. Imagine-se a longa procissão de criaturas brancas, pardas, negras, de ambos os sexos, mais ou menos pitorescos nos seus trajes, ou miseráveis em seus andrajos, dia e noite desfilando pela «RUA DA RIBEIRA», sempre à beira TEJO, desafogado de prédios, e com um resguardo de parede onde as águas vinham sussurrar a horas mortas.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ XIII ] - CHAFARIZ DE EL-REI ( 4 )»





quarta-feira, 22 de junho de 2011

RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ XI ]

Rua do Cais de Santarém - (2009) (Lado nascente do "Chafariz de El-Rei" na Rua do Cais de Santarém) in SKYSCRAPERCITY

Rua do Cais de Santarém - (1986) -(Foto de Autor não identificado) (Um pormenor do "Chafariz de El-Rei" no final do século transacto) in LISBOA REVISTA MUNICIPAL

Rua do Cais de Santarém - (1986) Foto de autor não identificado ( O "Chafariz de El-Rei" nos anos oitenta do século passado) in LISBOA REVISTA MUNICIPAL

Rua do Cais de Santarém - (1821) -Desenho aguarelado de Luiz Gonzaga Pereira (O Chafariz de El-Rei com as suas 9 "nove" bicas e o escudo Real ao centro, conforme o seu original) (Esta obra encontra-se no Museu da Cidade de Lisboa) in LISBOA REVISTA MUNICIPAL


(CONTINUAÇÃO) - RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ XI ]

«CHAFARIZ DE EL-REI ( 2 )»

Na parte superior do «CHAFARIZ DE EL-REI», morava um tal «LOPO DE ALBUQUERQUE» (como já nos referimos em "Palácio do Marquês de Angeja"), numas casas encostadas às Muralhas, situadas no ponto onde está a fileira de bicas. O proprietário das casas propôs à Câmara que mandaria tapar a fonte com telha e madeira com a condição de lhe ser reembolsada a despesa, caso as obras dessem utilidade. Isto passava-se em 1517, tendo o contrato sido aceite, deu-se-lhe a devida publicidade e sanção em carta régia de 21 de Dezembro do mesmo ano.

Mais tarde entendeu, porém, a Câmara adquirir a propriedade dessas casas, provavelmente para proceder á reforma do chafariz, e encarregou o seu procurador «JOÃO FOGAÇA», o qual tratou do negócio com o proprietário e realizou a compra pelo preço de cinco mil Cruzados, correspondente a dois contos de réis. Anos depois de negociada a venda faleceu o vendedor, sem ter recebido a importância total. Os herdeiros levantaram a questão por causa do pagamento, mas saiu-lhes pela frente o novo procurador da Câmara, «FILIPE FOGAÇA», com embargos ao processo e à compra, alegando que nenhum proveito advinha à cidade pela aquisição do prédio, muito mal situado, tendo entrada por um beco sem saída (na época), e com vista exclusivamente sobre a RIBEIRA e o MAR. Que de resto as casas eram mal dispostas, sem comodidades para os moradores, e que enfim a avaliação fora exagerada e onerosa para a Câmara; e em vista de quanto expunha, ou a Câmara rescindia o contrato, ou o modificava, não pagando mais de um terço do preço estipulado, e do qual «LOPO DE ALMEIDA» já tinha recebido cento e vinte mil réis (120$000).


«MANUEL DE ALBUQUERQUE», filho do vendedor, por si e por sua mãe, interpôs contradição baseada em: " que a cidade allegara já no feito os artigos da lesão que agora expunha, sem que lhe fossem recebidos, pelo que não podia já allegar a dita lesão. Que desde o tempo em que se havia feito o contrato se haviam passado mais de quatro annos. Que esta cidade de LISBOA era uma das principais da christandade e muito nobre e de grande renda, e uma das cousas mais necessárias que tinha, e sem a qual se não podia manter, era o "CHAFARIZ D'EL-REI", de que bebia toda a cidade, e que não havia outra água de beber para a gente de LISBOA". E muito mais dizia o instrumento jurídico: "As casas da contenda estão sobre o chafariz e sobre a área da água (...) pelo que fora quando proveito da cidade as ditas casas, (...) ainda que a cidade pague muito mais dinheiro do que o ajustado, faz ainda assim um bom negócio".

Após várias atribulações judiciais, ficou resolvido a questão por meio de uma sentença que obriga a CÂMARA a pagar um conto de réis aos proprietários, contra os quais a mesma questionava. Lavrou-se termo e «MANUEL DE ALBUQUERQUE» recebeu 880$000 réis que, com a quantia recebida por seu falecido pai, perfazia a verba sentenciada.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO) - «RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ XII ] - CHAFARIZ DE E-REI ( 3 )».




sábado, 18 de junho de 2011

RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ X ]

Rua do Cais de Santarém - (1861) Desenho de G. Pereira e gravura de Coelho Júnior) (O "Chafariz de El-Rei" no século XIX) in ARCHIVO PITORESCO


Rua do Cais de Santarém - (Século XVII) ("Chafariz de El-Rei" na planta de Lisboa de 1650 levantada por JOÃO NUNES TINOCO) in LISBOA REVISTA MUNICIPAL



Rua do Cais de Santarém - (Século XVI) (Gravura em cobre)(Extracto da obra de "Braunio Agrippinate" vista parcial de LISBOA, editada na Alemanha em 1593?, o número 14 identifica o "CHAFARIZ DE EL-REI", encontra-se no Museu da Cidade de LISBOA) in LISBOA REVISTA MUNICIPAL


Rua do Cais de Santarém - (Século XX) - (Troço da "Cerca Moura" junto do "Chafariz de El-Rei" segundo uma reconstrução do Engº Augusto Vieira da Silva em 1939) in A CERCA MOURA DE LISBOA


(CONTINUAÇÃO) - RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ X ]


«CHAFARIZ DE EL-REI ( 1 )»


O «CHAFARIZ DE EL-REI» é o avô de todos os Chafarizes de LISBOA. Podemos mesmo considerá-lo o mais antigo chafariz público de toda a cidade de LISBOA. O seu aspecto actual está muito diferente de como se apresentava em séculos passados.


Segundo «JÚLIO DE CASTILHO», «EL-REI» referia-se a «D. DINIS» que, no entanto não foi o responsável pela sua construção, visto já existir no tempo de «D.AFONSO II» (1211-1223), um designado por "achafariz Sancti johanis" (da Praça) ( 1 ), mas no lado interior da «CERCA MOURA». Para comodidade da população é que seria transferido para o exterior da muralha.


Os Árabes não tinham chafarizes, porque gastavam água das cisternas que para isso abriam com abundância. Não sabemos se os Romanos tivessem chafarizes públicos. Se os houve na LISBOA ROMANA, algum terramoto os destruiu radicalmente.


No século XVI, em vista do desenvolvimento náutico, tornou-se altamente embaraçosa a questão da "Aguada" para os navios de alto e pequeno bordo. O "CHAFARIZ DE EL-REI" já a esse tempo, porém, não nos diz quem o fundou, nem em que ano. Em matéria de apontamentos existem duas cartas régias de «D. AFONSO V», proveniente do ano 1487. A primeira manda proceder ao encanamento das águas do chafariz até à muralha do mar, a fim de se poderem abastecer os bateis da Ribeira. Os trabalhos de canalização já tinham sido orçados em 12 mil réis. Na segunda carta participava El-Rei ao corregedor de LISBOA que estavam dadas ordens ao patrão da nau, para se entender com os mestres das embarcações surtas no Tejo, a fim de cada um dar um dia de trabalho nas referidas obras, prestando-se com o seu batel a acarretar pedra e cal. Na mesma ficava o corregedor autorizado a empregar meios coercivos, caso os mestres desobedecessem. Tinha isto o propósito de remediar, as dificuldades com que estavam os navegadores em fazer aguada.


Em 1494 «D. MANUEL I» mandava suspender todas as obras cujo fim era elevar a água deste chafariz. Ao tempo era ele descoberto, e assim se mantinha ainda em 1517, no que era a água muito prejudicada. Limos, poeiras, e várias imundices que a rapaziada lá deitava, tornando o líquido não só asqueroso como também nocivo à saúde dos consumidores.


( 1 ) - Memórias para a história das Inquisições, etc. 1815, Doc., 2, pag. 14.


(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ XI ] - CHAFARIZ DE EL-REI ( 2 )»








quarta-feira, 15 de junho de 2011

RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ IX ]

Rua do Cais de Santarém - (2009) Foto de APS (Sobre o chafariz podemos admirar a fantástica fachada do prédio que sucedeu ao Palácio do Marquês de Angeja) in ARQUIVO/APS

Rua do Cais de Santarém - (2009) (Palacete no antigo sitio do Palácio do Marquês de Angeja) in SKYSCRAPERCITY

Rua do Cais de Santarém - (2003) Foto de Maria Domingos e Orlando de Jesus (Palacete sobre o "Chafariz de El-Rei", visto da "Rua do Cais de Santarém") in AS DEFESAS DE LISBOA

Rua do Cais de Santarém - (2009) Foto de APS (Entrada principal pela Travessa do Chafariz de El-Rei, exactamente como no palácio que anteriormente ali existia) in ARQUIVO/APS

Rua do Cais de Santarém - (2009) Foto de APS - (Placa toponímica da Travessa, entrada para o Palacete) in ARQUIVO/APS

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ IX ]

«PALÁCIO DO MARQUÊS DE ANGEJA»

Na parte de cima e por detrás do «CHAFARIZ DE EL-REI» existiam em 1468 umas "casas e banhos com suas caldeiras". São, possivelmente, as casas que em 1517 pertenciam a «LOPO DE ALBUQUERQUE», compradas pela Câmara, e que em 1755 constituíam o «PALÁCIO DO MARQUÊS DE ANGEJA».

No século XVIII foi construído o «PALÁCIO DO MARQUÊS DE ANGEJA», com 26 metros e trinta centímetros de frente para a parte da «RUA DO CAIS DE SANTARÉM», por cima e por trás do «CHAFARIZ DE EL-REI», ocupando também a torre da esquina. Este palácio tinha outro corpo do lado norte do «BECO DA MOSCA» e do «BECO DA SILVA» com fachadas para a «RUA DE TENTELA» ( 1 ), que faz parte da actual «RUA DE S. JOÃO DA PRAÇA», onde se abria a sua porta principal. A ligação entre os dois corpos do Palácio era feito por cima do «BECO DA SILVA» que, em parte da sua extensão era coberto. Dessa comunicação ou passadiço sobre o beco, que possivelmente ainda existia em 1755, embora o " Tombo" não lhe faça referencia, não resta hoje o menor vestígio.

Por cima do «CHAFARIZ DE EL-REI» podemos hoje admirar a fantástica fachada do prédio que sucedeu ao «PALÁCIO DO MARQUÊS DE ANGEJA», construído no século XIX, tendo a sua entrada pela «TRAVESSA DO CHAFARIZ DE EL-REI» número 6. Sabe-se que o Palácio foi restaurado no início do século XX, e passado mais de um século da sua construção como palacete privado, este edifício romântico, abriu como um charmoso hotel de Lisboa «PALACETE CHAFARIZ D'EL-REI». Do actual edifício residencial, de planta comparada rectangular com uma volumetria que acompanha o declive do terreno, destaca-se um mirante, terraço e pequeno coruchéu, coberturas por telhados de quatro águas e clarabóias. O edifício desenvolveu-se por 5 pisos, sendo dois em parte enterrados. O edifício caracteriza-se por uma estética dominada pelo ecletismo. O seu programa decorativo, inclui vários estilos integrados de uma forma coerente, recorrendo a elementos neo-árabe, neo-barroco, neo-classico, assim como elementos de inspiração MEDIEVAL e elementos contemporâneos, como alguns vitrais de linguagem geometrizante com referencias e motivos de «ARTE NOVA».

O Palacete encontra-se debruçado sobre o chafariz mais antigo de LISBOA, construído no século XIII e uma fonte importante de água no século XVI, para o abastecimento das NAUS PORTUGUESAS.

( 1 ) - LISBOA em 1551 - SUMÁRIO de Cristóvão Rodrigues de Oliveira, ed. 1987, página 30.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ X ] - O CHAFARIZ DE EL-REI (1)»









sábado, 11 de junho de 2011

RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ VIII ]

Rua do Cais de Santarém - (2009) - Foto de BARRAGON (Edifício do antigo Palácio dos Condes de Vila Flor restaurado recentemente, na Rua do Cais de Santarém junto ao "Chafariz de El-Rei") in PANORAMIO


Rua do Cais de Santarém - (2009) Foto de APS ( A antiga porta do "CHAFARIZ DE EL-REI" é hoje apenas um corredor de ligação entre a "RUA DO CAIS DE SANTARÉM" e a "RUA DE S. JOÃO DA PRAÇA", com passagem pela "TRAVESSA DE S. JOÃO DA PRAÇA", uma das vistas do seu interior) in ARQUIVO/APS


Rua do Cais de Santarém - (2009) - Foto de APS ( O interior da "Travessa de S. João da Praça" depois das últimas obras de recuperação) in ARQUIVO/APS


Rua do Cais de Santarém - (2009) Foto de APS (Aspecto do antigo "BECO DA MOSCA" ou "BECO DAS MOSCAS", actual "TRAVESSA DE S. JOÃO DA PRAÇA" visto pelo lado de baixo, salientando-se os seus típicos arcos ou passadiços) in ARQUIVO/APS


(CONTINUAÇÃO) - RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ VIII ]


«PALÁCIO DOS CONDES DE VILA FLOR (2)»


Existiram neste «PALÁCIO DOS CONDES DE VILA FLOR» (não se sabe quando foram demolidos), ao longo da sobre loja do Palácio, (varandas rasgadas sobre o rio) razão porque lhe chamavam «VARANDAS DO CONDE DE VILA FLOR», que era uma espécie de terraço estreito, tal como outros que ainda existem no antigo «PALÁCIO DOS TÁVORAS», junto ao «ARCO DE JESUS».


A entrada principal do Palácio era feita pelo antigo «BECO DAS MOSCAS» ou «BECO DA MOSCA», hoje a «TRAVESSA DE S. JOÃO DA PRAÇA», (por edital de 17 de Outubro de 1863) pela porta com o número 19, no pequeno largo da Travessa. Nesta travessa que lhe ficava por trás, e para onde tinha a sua porta principal, do lado norte do "BECO" existia uma outra propriedade do mesmo titular, conhecida pelo Palácio velho do «CONDE DE VILA FLOR», ligada com a anterior por cinco arcos ou passadiços sobre o respectivo BECO, os quais se conservam, embora reduzidos a três.


O percurso da «TRAVESSA DE S. JOÃO DA PRAÇA» serve de corredor de ligação entre a «RUA DO CAIS DE SANTARÉM» e a «RUA DE S. JOÃO DA PRAÇA», atravessando os curiosos arcos vistos pelo lado de baixo (arcos que fazem a ligação entre o palácio), tornando esta travessa numa das mais típicas e pitorescas pelas suas perspectivas, dando-nos uma ilusão da «ALFAMA» quinhentista.


(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ IX ] - PALÁCIO DOS CONDES DE ANGEJA»








quarta-feira, 8 de junho de 2011

RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ VII ]

Rua do Cais de Santarém - (2009) (Edifício do antigo "PALÁCIO DOS CONDES DE VILA FLOR" na "RUA DO CAIS DE SANTARÉM" junto do "CHAFARIZ DE EL-REI") in SKYSCRAPERCITY


Rua do Cais de Santarém - (2004) Foto de Maria Domingos e Orlando de Jesus (Fachada parcial do antigo "PALÁCIO DOS CONDES DE VILA FLOR" e entrada da "Travessa de S. João da Praça", ligados ao "CHAFARIZ DE EL-REI") in AS DEFESAS DE LISBOA


Rua do Cais de Santarém - (2009) Foto de APS (Passagem que antigamente era chamado de "Postigo do Chafariz de El-Rei", tem hoje o nome de "TRAVESSA DE S. JOÃO DA PRAÇA") in ARQUIVO/APS Rua do Cais de Santarém - (2009) Foto de APS (Placa Toponímica) (Esta Travessa era o antigo "POSTIGO DO CHAFARIZ DE EL-REI", dá ligação entre a "RUA DE S. JOÃO DA PRAÇA" e a "RUA DO CAIS DE SANTARÉM") in ARQUIVO/APS


(CONTINUAÇÃO) - RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ VII ]


«PALÁCIO DOS CONDES DE VILA FLOR ( 1 )»


Contíguo ao «CHAFARIZ DE EL-REI» e sobre o arco que antigamente era chamado de «POSTIGO DO CHAFARIZ DE EL-REI» ( 1 ), temos um palácio que pertenceu aos «CONDES DE VILA FLOR». O Palácio, segundo nos diz o mestre «CASTILHO», terá sido talvez construído por «JORGE DE SOUSA MENESES» no terceiro quartel do século XVI.


Neste Palácio nasceu a 18 de Março de 1792 o célebre «ANTÓNIO JOSÉ DE SOUSA MANUEL DE MENEZES SEVERIM DE NOGUEIRA» «1º DUQUE DA TERCEIRA», «7º CONDE DE VILA FLOR» e «1º MARQUÊS DE VILA FLOR» e faleceu a 26 de Abril de 1860.


Mais tarde o Palácio foi vendido ao «VISCONDE DA ABRIGADA», «JOSÉ MARIA CAMILO DE MENDONÇA» (1815-1885), que o reconstruiu em Agosto de 1866, negociante muito abastado (na época) da praça de LISBOA. Sabemos que na reconstrução do Palácio, «CAMILO DE MENDONÇA», teve a habilidade de lhe retirar os garridos azulejos, e aquelas platibandas de barro pintado, de aparência antiga e fidalga, reduzindo-o a um enorme prédio burguês. Afirma-se também que no seu interior terá o Palácio perdido o seu primitivo cunho.


( 1 ) - O POSTIGO DO CHAFARIZ DE EL-REI, era considerado a última porta na MURALHA MOURA do lado do RIO e ficava quase contígua à fonte pública. Consta que em 1866 lhe tiraram a forma arqueada, e hoje é apenas um corredor que estabelece a comunicação entre as ruas do «CAIS DE SANTARÉM» e a de «S. JOÃO DA PRAÇA», passando pela «TRAVESSA DE S. JOÃO DA PRAÇA»


(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ VIII ]-PALÁCIO DOS CONDES DE VILA FLOR ( 2 )».








sábado, 4 de junho de 2011

RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ VI ]

Rua do Cais de Santarém - (2006) - Imagem em 3D de Miguel Santos (Fotomontagem em 3D do projecto para a recuperação do "PALÁCIO DOS CONDES DE COCULIM" na "RUA DO CAIS DE SANTARÉM" na frente Rio da "Colina da Castelo") in SILVA DIAS - ARQUITECTOS
Rua do Cais de Santarém - (2006) Imagem em 3D de Miguel Santos (Aspecto da fotomontagem em 3D do «PALÁCIO DOS CONDES DE COLULIM" na "RUA DO CAIS DE SANTARÉM" situado na frente Rio da "Colina do Castelo") in SILVA DIAS - ARQUITECTOS

Rua do Cais de Santarém - (2006) Imagem em 3D de Miguel Santos (Panorama de vista aérea, da fotomontagem 3D, vendo-se o "PALÁCIO DOS CONDES DE COCULIM" situado na "RUA DO CAIS DE SANTARÉM" na frente do Rio da "Colina do Castelo") in SILVA DIAS - ARQUITECTOS

Rua do Cais de Santarém - (2006) Foto de Miguel Santos - (Fotomontagem 3D do projecto para a recuperação do "PALÁCIO DOS CONDES DE COCULIM" reconvertido num "HOTEL" de cinco estrelas» in SILVA DIAS - ARQUITECTOS

Rua do Cais de Santarém - (2006) Maqueta de Fernando Farinha ( Maqueta do projecto para a recuperação do "PALÁCIO DOS CONDES DE COCULIM" na "RUA DO CAIS DE SANTARÉM" na frente do rio da "Colina do Castelo") in SILVA DIAS - ARQUITECTOS

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ VI ]

«PROJECTO DE RECUPERAÇÃO DO "PALÁCIO DOS CONDES DE COCULIM"»

Existiu um projecto com a designação "33/URB2006", o qual se referia ao loteamento/emparcelamento/demolição/ampliação e construção para este local, denominado «HOTEL DO CAIS DE SANTARÉM», integrado no antigo «PALÁCIO DOS CONDES DE COCULIM», abrangendo cinco edifícios localizados, entre outras, na «RUA DO CAIS DE SANTARÉM», números 44-66, «ARCO DE JESUS», números 2-10 e a «RUA DE S. JOÃO DA PRAÇA» números 23-29 e 59-63. Trata-se da transformação de um vasto quarteirão (à muito em estado degradante), para nele ser construído um «HOTEL DE CINCO ESTRELAS», que poderia, em termos de estética, ser uma mais valia e revitalização para esta zona de LISBOA, na frente do Rio Tejo e encostada à Colina do Castelo.

Atendendo à volumetria do edifício em causa, não se enquadrando com PDM vigente na altura, foi este "projecto reprovado" pela Câmara Municipal de Lisboa, no ano de 2008.

Não me cabe a mim avaliar questões técnicas e estéticas do edifício, será porque iria tirar vistas a outros que lhe ficam por trás? No entanto gostaria de ver o local mais apresentável futuramente. Deixo aqui algumas fotos do que se iria fazer. Uma maqueta e quatro fotomontagens do empreendimento.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ VII ] - O PALÁCIO DOS CONDES DE VILA FLOR»

quarta-feira, 1 de junho de 2011

RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ V ]

Rua do Cais de Santarém - (2009) - (Palácio dos Condes de Coculim, na Rua do Cais de Santarém, bastante degradado) in RUIN'ARTE



Rua do Cais de Santarém - (2009) Foto de APS (Fábrica Portuguesa de Encerados-Florentino, que também esteve instalada no Palácio dos Condes de Cocutim) in ARQUIVO/APS



Rua do Cais de Santarém - (2009) (uma perspectiva do antigo Palácio dos Condes de Coculim, na rua do Cais de Santarém) in SKYSCRAPERCITY



Rua do Cais de Santarém - (2004) Foto de Maria Domingos e Orlando de Jesus (O Palácio dos Condes de Coculim que caiu pelo terramoto de 1755, transformado no século XX em armazém de ferro) in AS DEFESAS DE LISBOA




Rua do Cais de Santarém - (1968) Foto de Serôdio (Portal seiscentista do antigo palácio dos Condes de Coculim) in AFML



(CONTINUAÇÃO)



RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ V ]



«PALÁCIO DOS CONDES DE COCULIM (2)»



Diz-nos o mestre «CASTILHO» que não sabe bem explicar como este palácio, que era da «CASA DE FRONTEIRA», representantes dos «CONDES DE COCULIM», tenha pertencido aos antigos «CONDES DE LINHARES-NORONHAS», é certo que estes «NORONHAS» tinham residência na «RIBEIRA». Com o falecimento do «2º CONDE DE COCULIM» no ano de 1735, (filho primogénito dos primeiros Condes) o palácio passa para a posse do «3º CONDE DE COCULIM - D. FRANCISCO DE MASCARENHAS» nascido no ano de 1702. Este Conde foi General-de-batalha, Governador das Armas de Trás-os-Montes, Gentil-homem da Câmara do «INFANTE D. ANTÓNIO». Casou em 24.09.1719 com «D. TERESA DE LENCASTRE», filha dos «4ºs. CONDES DE VILA NOVA DE PORTIMÃO».



O terramoto de 1755 causou danos profundos no Palácio, tendo também a parte mais baixa ficado cheia de entulho proveniente do desmoronamento dos prédios da «RUA DE S. JOÃO DA PRAÇA».



No início do ano de 1858 é a transformação das ruínas do antigo «PALÁCIO DOS CONDES DE COCULIM» em armazéns de ferro da firma «SOMMER & Cª.». Entre os anos de 1896 e 1898 deram entrada na CML alguns pedidos para a reabilitação do edifício, mas nada ficou decidido por nessa altura se ter descoberto no solo, vestígios arqueológicos.



A «EMPRESA DE CIMENTOS DE LEIRIA» instala-se no edifício, nos anos de 1923-1949, tinha a sua sede no número 64 da «RUA DO CAIS DE SANTARÉM». De 1923 a 1942 estava instalado no número 2 do «ARCO DE JESUS» a «FÁBRICA PORTUGUESA DE ENCERADOS-FLORENTINO», tendo mais tarde ocupado outro espaço no palácio. Sabe-se que por essa ocasião na altura das escavações efectuadas na década de quarenta, são recuperadas peças arqueológicas manuelinas que hoje se encontram no «MUSEU ARQUEOLÓGICO DO CARMO».



Apesar de ainda se encontrar em estado degradante este palácio, existiu um projecto de «REABILITAÇÃO» para nele ser instalado um HOTEL de cinco estrelas.



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