quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O POÇO DO BORRATÉM [IX]

Poço do Borratém, 15 - (2008) Fotógrafo não identificado (Pensão Residencial Alcobia) in www.almadeviajante.com/hoteis-lisboa
Poço do Borratém - (200_) Fotógrafo não identificado (Fachada do Hotel-Lisboa Tejo) in http://www.book-hotel-in-lisboa.com/
(CONTINUAÇÃO)
O POÇO DO BORRATÉM
«O POÇO» (3)
Num interessante artigo do «SUMÁRIO DE VÁRIAS HISTÓRIAS - 1873» aparecem as medições do POÇO.
Cinquenta palmos de alto, e nove de diâmetro. (...) Como a água do «Poço do Borratém» possuía certas virtudes, houve uma irmandade que, sem se saber com que títulos e em que tempo, conseguiu aproveitar-se d'ela e impor um tributo sobre quem a usava.
A irmandade de Santo André e Almas, da freguesia de Santa Justa, até 1818, recebia 80 réis por mês de cada aguadeiro, e fornecia os baldes e cadeias. Porém, o mais galante é que uma certa Maria Thereza, viúva, constituíra-se administradora do POÇO e exigia 240 Reis por mês de cada aguadeiro e dessa quantia entregava uma pequena parte à irmandade, guardando para si a maior parte, como Senado verificou, e além d'isso tinha em seu poder a chave da cobertura do POÇO.
Houve questão a este respeito, e afinal o desembargo do Paço e o Governo resolveram que o POÇO, por estar em terreno público, pertencia à Câmara, e portanto a sua água era do uso livre do povo.
Assim, o Senado, acabou com as usurpações da irmandade e de Maria Thereza, entregou a chave da coberta a um capataz que reformava as cordas e os baldes, abria e fechava o POÇO, recebendo dos aguadeiros e criados de servir 80 réis mensais.
Em 1849 a Câmara pôs termo por uma vez a essas alcavalas, e resolveu que as despesas com o POÇO fossem feitas pelo seu cofre.
Hoje o POÇO (em 1861) está bem acondicionado debaixo de uma abobada no prédio que ali construiu o senhor Bernardino, em terreno que foi do Hospital de São José, e continua, já se sabe, no uso público.

(CONTINUA) - (Próximo) « O POÇO (4


sábado, 22 de novembro de 2008

O POÇO DO BORRATÉM [VIII]

Poço do Borratém - (15.03.2007) - Foto de Dias dos Reis (O Poço do Borratém à noite) in www.pbase.com/imagem
Poço do Borratém - (1945) Foto de André Salgado (As bicas do Poço do Borratém nos anos quarenta do século XX) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa.
(CONTINUAÇÃO)
O POÇO DO BORRATÉM
«O POÇO » (2)
As portas do casarão lajeado e abobadado onde fica «O POÇO» eram fechados à noite pelo claviculário que era o capataz da Companhia. Pois agora (1935) - diz Júlio de Castilho - já se não fecha tal porta; e o público por mercê de um bico de gás aceso na loja, pode, também à noite, ir utilizar as águas salobras do Borratém.
Já lá dizia no "Pranto de Maria Parda" de Gil Vicente em 1522, «muita água há em Borratém e no poço do tinhoso». Maria Parda lamentava-se pela falta de vinho nas tabernas de Lisboa, evocando os tempos em que ele era abundante e barato. Depois, resolve pedir o vinho fiado a alguns taberneiros que lho negam. Por fim, decide morrer e pronuncia um extenso testamento que se refere obsessivamente ao vinho. Podemos acreditar que Maria Parda foi um símbolo, uma representação metafórica da realidade de Lisboa naquele tempo. Época de fome e miséria, acarretadas pela seca que assolou o país em 1521, devastando as vinhas e vitimando a população de fome ou deixando-a passar grande necessidade.
O nome do «Poço» deu origem a um período de trocadilhos, que vem registado no «ANATÓMICO JUCOSO»: (...) «arrumou-se o Poço do Borratém, e foi-se pôr a um canto: todos os que vão ter com "ELE", vão de balde, pois ele não concorda, mas só com comédias de Caldeirão se trata».
No «AQUILÉGIO MEDICINAL» e a «POLYANTHÊA» gabam a abundância e as virtudes da nascente, cada um com o seu ponto de vista.
Existem pessoas autorizadas, que dizem das propriedades medicinais da água do Borratém serem "salobras e detestáveis". O ilustrado Francisco Manuel de Mendonça (falecido BARÃO DE MENDONÇA) propôs, em 21 de Novembro de 1867, numa sessão da CML, que atendendo às "propriedades medicinais" da dita água, cessasse de funcionar naquele poço a companhia de aguadeiros, passando para o chafariz do Socorro, e que nomeassem dois veteranos para guardas desta «NÁIADE» histórica.
A proposta foi mandada para o conselho de saúde, mas não lhe sabemos o resultado(1).
(1) - ARCHIVO MUNICIPAL DE LISBOA, 1867, Nº 414 pág. 33/47 - Actualmente (1935) a água do Poço é aproveitada pelo proprietário do 1º andar do prédio, que nele tem instalado uma hospedaria (HOTEL PENINSULAR) e um estabelecimento de banhos; a água é elevada por uma bomba com motor eléctrico, montada na cobertura do poço. A câmara do poço, para serventia do público, tem três torneiras, mas alimentadas com água da Companhia das Águas de Lisboa - Nota do Engº A. Vieira da Silva.
(CONTINUA) - (Próximo) «O POÇO (3

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O POÇO DO BORRATÉM [VII]

Poço do Borratém - (2008) - (25.05.08) foto de Álvaro Dias (Esquina do Poço do Borratém ) in www.olhares.aeiou.pt/poço_do_borratem
Poço do Borratém - (1951) Foto de Eduardo Portugal (No momento que o "Claviculário" fechava os gradeamentos do POÇO) in AFML

Poço do Borratém, 8 - (194_) Foto de António Castelo Branco (Hora de movimento junto das portas do POÇO) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

(CONTINUAÇÃO)
O POÇO DO BORRATÉM
«O POÇO» (1)
O poço é antiquíssimo, e foi sempre do domínio público. Quando foram adquiridas as propriedades, ele continuou a ser respeitado na sua serventia. Ficava então numa pequena reentrância, desaparecida quando do alinhamento da rua.
Diz-nos Júlio de Castilho que o lote doado ao Hospital, tornejando para o Borratém sobre a Betesga (hoje Rua doa Condes de Monsanto), ainda em 1858 se encontrava um caos.
" O «POÇO» ficava ao ar livre, e era mais um tanque do que um poço. Percebiam-se-lhe no anteparo, meio aluído em volta do bocal, os sinais do desgaste pelas cordas e baldes. Ainda que cercado de tabuado velho, eram casebres sem forma nem alinhamento, telheiros, palhotas, ruínas amontoadas, um ferreiro, umas estrebarias para os burrinhos das saloias vendedeiras, um tanoeiro, etc. Em Agosto desse ano de 1858 foi a administração do Hospital obrigada pela Câmara a recuar o tapume (1): e pouco tempo depois, começou a edificação do grande prédio que lá vemos na esquina, cobrindo o célebre "POÇO" com uma abóbada.
Quando em 21 de Janeiro de 1861 comprou o senhor Bernardino José de Carvalho ao Hospital, esse prédio ainda incompleto. Depois de concluído, passados vários anos foi vendido ao senhor Visconde de Gandarinha.
Como já nos referimos o "POÇO" foi coberto por uma abóbada além da sua caixa de pedra que hoje o isola e o mantém limpo (2).
Umas quantas horas por dia a água cedida à casa de banhos (não lhe chamaremos de "termas" do Borratém), estabelecida no 1º andar; a serventia pública, reduzida pelo prédio novo, hesita se tem área de RUA ou de PRAÇA.
A Câmara também hesitou, e escreveu na esquina: «POÇO DO BORRATÉM».
(1) - Annais do Mundo de Lisboa, 1858, Nº 17, pág. 145.
(2) - Algumas providências acerca deste poço em Agosto de 1856 e Setembro de 1849, nas Synopses respectivas, da Câmara Municipal.
(CONTINUA) - (Próximo) «O POÇO (2)»

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O POÇO DO BORRATÉM [VI]

Poço do Borratém - (2005) (A Praça da Figueira na actualidade) foto de APS
Poço do Borratém - (1949) Foto de Eduardo Portugal (Demolição do Mercado da Praça da Figueira) in AFML

Poço do Borratém - (ant. 1949) Foto de Eduardo Portugal (Rua da Betesga e Praça da Figueira) in AFML
Poço do Borratém - (ant. 1949) foto de Eduardo Portugal (Rua da Betesga e Praça da Figueira) in AFML


Poço do Borratém - (c.-1948) foto de Eduardo Portugal (Mercado da Praça da Figueira) in AFML
Poço do Borratém - Desenho de J. Christino e M. de Macedo foto de Eduardo Portugal - (Mercado da Praça da Figueira) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
(CONTINUAÇÃO)
O POÇO DO BORRATÉM
«A PRAÇA DA FIGUEIRA»
O terreno das ruínas do Hospital de Todos-os-Santos, depois de 1755, foi aproveitado para mercado central, destinado à venda de frutas e legumes, tendo sido apelidado de vários nomes: «HORTA DO HOSPITAL», «PRAÇA DAS ERVAS», «PRAÇA NOVA» e por fim «PRAÇA DA FIGUEIRA».
De um local de bancadas diárias, passou a praça fixa, com barracas arrumadas e um poço próprio. Sofreu ao longo dos tempos, algumas alterações consoante as necessidades da população. Assim, em 1835, é arborizada e iluminada, em 1849 foi-lhe colocada uma cerca gradeada, coberta, e oito portas. No ano de 1882 foi aprovado um projecto para a construção de uma nova Praça, que consistia num edifício rectangular, com estrutura metálica, ocupando uma área de quase 8 mil metros quadrados, inaugurada em 1885 (permaneceu até 30 de Junho de 1949).
Da venda de frutas e legumes, passou à transacção de outros produtos alimentícios, fazendo da baixa lisboeta um local com um constante fervilhar de vida.
Desde logo a praça tornou-se um dos emblemas de Lisboa, quer pela sua construção, quer pela sua localização no centro da Cidade e ainda pela realização de verdadeiros arraiais na altura dos santos populares.
Diz-nos ainda Alfredo Mesquita "há um período de festas populares em que o alfacinha não sai de Lisboa, e em que cai em Lisboa um poder do mundo dos saloios. É no mês de Junho, quando se festeja Santo António, São João e São Pedro. São verdadeiras romagens das aldeias e casais da cercania ao coração da cidade(...). As noites da Praça da Figueira e suas imediações têm nessa ocasião um cunho lisboeta e provinciano que se não confunde, na contagiosa alegria(...) Os balões de cores, das gaitas e assobios de barro, dos pregões de frutas, manjericos e cravos, todo aquele ir e vir de grupos que a folia impele, sem nexo e sem sentido, formigueiro humano, onda de povoléu".
Esta era uma descrição da Praça da Figueira do século XIX inicio do século XX, hoje a realidade é bem diferente: de mercado aberto deu lugar a mercado fechado. Em 1947, a vereação da altura decidiu o fim do Mercado, prevendo o alargamento da rede viária de Lisboa, que incluía a demolição do Socorro e zona baixa da Mouraria, como forma de escoamento de transito, aproximando a cidade de Lisboa aos padrões europeus.
Em 1949 festeja-se o último Santo António naquele mercado e procedendo-se de seguida (30.06.1949) à sua demolição.
Para esta Praça, no ano de 1968 é assinado um contracto de construção da estátua equestre de D.João I que foi inaugurada em 1971, sendo da autoria de Leopoldo de Almeida e Jorge Segurado.
Já em finais do Século XX início do século XXI, sabe-se que obras levadas a cabo para a construção do parque de estacionamento subterrâneo da Praça da Figueira - «vieram destruir os vestígios arqueológicos postos a descoberto (por altura das escavações do Metro), nomeadamente um bairro do século XI. Este bairro era o primeiro conjunto urbano de Época Islâmica a ser descoberto no subsolo da cidade de Lisboa.(...) convém não secundarizar os restantes vestígios sejam eles do antigo HOSPITAL DE TODOS-OS-SANTOS ou da NECRÓPE ROMANA. (...) Por fim, não é demais voltar a frisar a extrema importância deste local dentro da história lisboeta e, num âmbito mais alargado em tudo o que respeita ao passado islâmico no qual a história de Portugal assenta» (1).
(1) - MPT -Partido da Terra - www.mpt.pt/mpthtml/default.asp.132html
(CONTINUA) - (Próximo «O POÇO (1)»




domingo, 9 de novembro de 2008

O POÇO DO BORRATÉM [V]

Poço do Borratém - Hospital Real de Todos-os-Santos - (Maqueta do século XX feita de acordo com descrições do hospital feitas em séculos anteriores à destruição do edifício, a maqueta encontra-se actualmente no hospital de S. José em Lisboa) in www.skyscrapercity.com
Poço do Borratém - (Século XVII) Desenho - (Hospital de Todos-os-Santos) - Museu da Cidade -in www.geocites.com/martinsbarata/ilustra/lx8sh.htm

Poço do Borratém - (Século XVIII) Desenho - (Hospital de Todos-os-Santos antes do fatídico Terramoto de 1755, vendo-se à esquerda o Convento de S. Domingos) in http://www.skyscrapercity.com/


Poço do Borratém, 36 e 38 - (195_) Foto de Armando Madureira (Poço do Borratém) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

(CONTINUAÇÃO)
O POÇO DO BORRATÉM
«O SÍTIO DO POÇO DO BORRATÉM»
Um lote, virado para a Rua do Amparo (actualmente Rua de João das Regras), foi comprado em 1835 por Bernardo José do Couto; aí existiam umas casas velhas, era o que restava da primitiva estalagem dos Camilos, assim chamada por estar nas dependências do Convento. As casas que eram constituídas por uma cavalariça e abrigo de carroças dos saloios, foram demolidas para se construir prédios de habitação.
O outro lote que ficava sobre o "Largo" do Borratém, foi vendido a António José da Silva Braga, cuja viúva o vendeu a Bernardino José de Carvalho, em Agosto de 1853. Era neste último lote que se incluía a Igreja dos Camilos.
Diz-nos ainda Júlio de Castilho que a transformação do sítio do Borratém foi total. «Havia no topo Sul da Rua do Arco do Marquês do Alegrete, um passadiço a que chamaram o "ARCO DOS CAMILOS", por ligar uma dependência do Convento com o prédio fronteiro, que fazia esquina para o Beco dos Surradores; passadiço esse que era simplesmente uma antiga comunicação do "quarto pequeno" ao Palácio dos Marqueses de Cascais. Esse passadiço era impropriamente chamado de "arco", pois não era mais que uma comunicação em linha recta. A rua aí era tão estreita, que ao alargar-se recuou a parede dezanove palmos (4m 18).
Em Novembro de 1835 convencionou a Câmara Municipal com a Administração do Hospital de S. José, a demolição do dito arco»(A).
-(A) -Synopse dos principais actos da CML em 1835, página 23.
«HOSPITAL REAL DE TODOS-OS-SANTOS»
El-Rei D. João II lançou a primeira pedra para a obra do Hospital na cerca do Mosteiro de S. Domingos em Lisboa em 15.05.1492, onde hoje se situa a Praça da Figueira e parte do Rossio.
A obra ficou a cargo do mestre arquitecto Diogo Boitaca sobre projecto de Mateus Fernandes seu sogro. Com o objectivo de juntar num só edifício os pequenos hospitais espalhados por Lisboa, cidade que na altura tinha cerca de 60 000 habitantes, foi inaugurado no ano de 1501.
O edifício sofreu três grandes incêndios. Um em 27.10.1601, outro em 10 de Agosto de 1750 e o terceiro no dia de todos os Santos (01.11.1755). Com o Terramoto e subsequente incêndio tão destrutivo, não resistiu.
Foi o primeiro grande hospital a ser construído em Portugal. O seu edifício estava elaborado segundo os princípios mais evoluídos na época, por isso, foi considerado um dos melhores hospitais da Europa.
A albergaria foi incluída no edifício do Hospital.
Posteriormente um devoto (assim se conta) instituiu por sua herdeira a Santa Casa da Misericórdia. De entre as alfaias e peças que lhe deixara, estava uma imagem da Senhora do Amparo. Então a irmandade edificou uma ermida para colocar a imagem.
A enfermaria ou hospital dos incuráveis passou, segundo parece, em 1583, para debaixo dos arcos, contígua à ermida.
Sabemos que «D. João II não pôde ver o seu Hospital construído porque morreu em 25.10.1495, quando só algumas paredes-mestras estavam concluídas. D. Manuel I foi o Rei que terminou esta obra, seguindo e cumprindo as disposições testamentárias deixadas por D. João. (...) Uma cópia autentica desse documento encontra-se na secção de Reservados da Biblioteca do Hospital de S. José. O Hospital tem a forma de cruz, com quatro braços iguais e, ao centro, estava situada a capela. (...) A fachada principal estava virada para o Rossio, tendo na sua entrada principal um lindo pórtico de estilo manuelino. As fachadas laterais davam para a Rua da Betesga e Amparo. A parte posterior para a Cerca do Convento de S. Domingos e terrenos pertencentes ao Conde de Monsanto, no "POÇO DO BORRATÉM" (1).
Existiam quatro claustros, um em cada braço da cruz, e em todos um poço, uma espaçosa horta, também com poço que ficava onde hoje se situa a PRAÇA DA FIGUEIRA.
No reinado de D.José I (1750) o Hospital Real de Todos-os-Santos após o segundo incêndio - este maior - ficou arruinado, recebendo grandes benefícios e mesmo uma renovação. Com a reconstrução e ampliação realizadas no Hospital, existiu a necessidade de comprar 14 propriedades circundantes do mesmo. No dia um de Novembro de 1755 com o terramoto tudo se perdeu.
-(1) - Santana, Francisco e Eduardo Sucena - Dicionário da História de Lisboa -Lisboa-1994 p. 449.
(CONTINUA) - Próximo «A PRAÇA DA FIGUEIRA»

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O POÇO DO BORRATÉM [IV]

Poço do Borratém, 6 e 7 - (1971) -Fotógrafo não identificado (O Poço do Borratém) in AFML
Poço do Borratém - (195_) Foto de Judah Benolier ( Poço do Borratém, vendo-se o eléctrico em direcção à Rua do Arco Marquês do Alegrete) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

(CONTINUAÇÃO)
O POÇO DO BORRATÉM
«O SÍTIO DO POÇO DO BORRATÉM (2)»
Nos dois terços do Rossio que ficam livres, está situado o Hospital de Todos-os-Santos, vulgarmente chamado de el-Rei, por ter sido el-Rei D. João II quem o mandou construir sendo uma obra sumptuosa.
Foi acabado por el-Rei D. Manuel I que o dotou de muitas rendas e privilégios.
O edifício tinha a forma de Cruz.
Depois do Terramoto o vasto terreno do Hospital Real de Todos-os-Santos, contido entre as quatro largas serventias foi doado a três entidades. Aos padres Camilos, à Misericórdia e ao Hospital de São José.
Nos últimos meses do ano de 1778, o Arquitecto civil e militar da Mesa da Consciência e Ordens, medidor e avaliador oficial, media a mando do Conde de Valadares, escrivão da mesa da Santa Casa da Misericórdia, os terrenos de toda esta "ilha", de que se acharam de posse os religiosos de S. Camilo.
Foi dividida em duas partes desiguais, no sentido leste-oeste, a enorme fatia: o quinhão do Norte com 2/3 da área total coube aos frades; o quinhão do Sul dividiu-se em duas parcelas: a do poente e torneando para a Rua Oriental da Praça da Figueira, foi distribuída à Misericórdia; a do Borratém, foi doada ao Hospital de S. José, que tinha então anexa a Misericórdia, ficando-lhe porém, o «POÇO DO BORRATÉM» de fora, numa reentrância, que era logradoiro público.
Os religiosos de S. Camilo estabeleceram-se na parte que lhes foi concedida, fazendo o seu Templo na Ermida de S. Mateus, que passou a chamar-se também «IGREJA DOS CAMILOS», e que durou até à extinção das ordens religiosas em 1834, ficava mesmo defronte ao actual Beco dos Surradores.
Depois da extinção das Ordens Religiosas, a parte que lhes pertencia foi vendida em vários lotes ao Tesouro Público.
(CONTINUA) - Próximo «O SÍTIO DO POÇO DO BORRATÉM-(3

sábado, 1 de novembro de 2008

O POÇO DO BORRATÉM [ III ]

Poço do Borratém - 2008 - (Vista de satélite do Poço do Borratém e seus envolventes) in http://wikimapia.org/

Poço do Borratém - (Sitio da Praça da Figueira e Poço do Borratém, um pouco mais perceptível - embora sem escala - do percurso da Rua da Betesga até ao Borratém. APS


Poço do Borratém - (Depois de 1755) - Desenho retirado de uma planta da época por Júlio de Castilho) - (Planta do sítio do Poço do Borratém) in Lisboa Antiga-Bairros Orientais Volume III página 131


(CONTINUAÇÃO)
O POÇO DO BORRATÉM
«O SÍTIO DO POÇO DO BORRATÉM»


Após o Terramoto de 1755 grande parte de Lisboa e em especial a zona da baixa ficou bastante destruída.
Com base numa planta topográfica local (elaborada por Júlio de Castilho) vamos tentar explicar como o sítio do Borratém se modificou.
Começou-se por alargar e traçar em linha recta a Rua da Betesga. «BETESGA» era, segundo o Dicionário "Morais", um Beco sem saída, que fazia saco, ou fundo de saco; daí derivar o verbo "embetesgar" (A).

Referente a esta rua existe uma expressão tipicamente lisboeta «METER O ROSSIO NA RUA DA BETESGA» o que significa quando se quer meter algo num espaço onde nunca caberá, pois o Rossio é uma Praça de grandes dimensões e a Betesga uma rua estreita. (Atendendo a que esta rua antes do terramoto era ainda mais estreita).
Esta viela já se encontra nos escritos do século XVI.
Saía do canto sueste do Rossio (como hoje); uma esquina era para o Rossio, a outra para a «PRAÇA DA PALHA»(1), seguia para nascente, tinha à direita o «BECO DA ESTALAGEM»(2), depois uma rua angulosa chamada «POCINHO DENTRE AS HORTAS»(3), à esquerda mais à frente um "BECO"(4), onde funcionava uma "roda dos enjeitados". Sobre a «RODA DOS ENJEITADOS» teremos ocasião de nos debruçar noutro capítulo.
A seguir à Roda continuava a Rua da Betesga o seu caminho tortuoso, espalmava-se num mesquinho terreiro poligonal chamado «LARGO DO MENDANHA»(5), e dava para a «RUA DO BORRATÉM»(6).
A mão do Marquês de Pombal rasgou nas hortas a Rua Oriental da Praça da Figueira, desde a Rua Nova da Palma (hoje Rua D. Duarte), até pouco mais ou menos à antiga roda dos enjeitados; e no sentido poente a levante rasgou a Rua do Amparo que tomou o nome de uma ermida, que o Hospital de Todos-os-Santos possuía sobre o Rossio.
A «RUA DO BORRATÉM», embora um pouco alargada e regularizada, ficou sensivelmente com a mesma directriz e forma que sempre teve.

(A) - Meter em Betesga; encurralar.
(1 a 6) - Podemos acompanhar o percurso da Rua da Betesga (o ponteado é anterior a 1755) do Rossio ao Borratém.

(CONTINUA) - Próximo «O SÍTIO DO POÇO BORRATÉM-(2)»