terça-feira, 18 de novembro de 2008

O POÇO DO BORRATÉM [VII]

Poço do Borratém - (2008) - (25.05.08) foto de Álvaro Dias (Esquina do Poço do Borratém ) in www.olhares.aeiou.pt/poço_do_borratem
Poço do Borratém - (1951) Foto de Eduardo Portugal (No momento que o "Claviculário" fechava os gradeamentos do POÇO) in AFML

Poço do Borratém, 8 - (194_) Foto de António Castelo Branco (Hora de movimento junto das portas do POÇO) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

(CONTINUAÇÃO)
O POÇO DO BORRATÉM
«O POÇO» (1)
O poço é antiquíssimo, e foi sempre do domínio público. Quando foram adquiridas as propriedades, ele continuou a ser respeitado na sua serventia. Ficava então numa pequena reentrância, desaparecida quando do alinhamento da rua.
Diz-nos Júlio de Castilho que o lote doado ao Hospital, tornejando para o Borratém sobre a Betesga (hoje Rua doa Condes de Monsanto), ainda em 1858 se encontrava um caos.
" O «POÇO» ficava ao ar livre, e era mais um tanque do que um poço. Percebiam-se-lhe no anteparo, meio aluído em volta do bocal, os sinais do desgaste pelas cordas e baldes. Ainda que cercado de tabuado velho, eram casebres sem forma nem alinhamento, telheiros, palhotas, ruínas amontoadas, um ferreiro, umas estrebarias para os burrinhos das saloias vendedeiras, um tanoeiro, etc. Em Agosto desse ano de 1858 foi a administração do Hospital obrigada pela Câmara a recuar o tapume (1): e pouco tempo depois, começou a edificação do grande prédio que lá vemos na esquina, cobrindo o célebre "POÇO" com uma abóbada.
Quando em 21 de Janeiro de 1861 comprou o senhor Bernardino José de Carvalho ao Hospital, esse prédio ainda incompleto. Depois de concluído, passados vários anos foi vendido ao senhor Visconde de Gandarinha.
Como já nos referimos o "POÇO" foi coberto por uma abóbada além da sua caixa de pedra que hoje o isola e o mantém limpo (2).
Umas quantas horas por dia a água cedida à casa de banhos (não lhe chamaremos de "termas" do Borratém), estabelecida no 1º andar; a serventia pública, reduzida pelo prédio novo, hesita se tem área de RUA ou de PRAÇA.
A Câmara também hesitou, e escreveu na esquina: «POÇO DO BORRATÉM».
(1) - Annais do Mundo de Lisboa, 1858, Nº 17, pág. 145.
(2) - Algumas providências acerca deste poço em Agosto de 1856 e Setembro de 1849, nas Synopses respectivas, da Câmara Municipal.
(CONTINUA) - (Próximo) «O POÇO (2)»

2 comentários:

Tigre disse...

Excelentes textos !
Adoro "vasculhar" a Lisboa desaparecida.
A proposito do poço do Borratem permita-me acrescentar dois pormenores, que provavelmente (ou não) terá conhecimentos :
1) Há muitos anos, mais de 30, o meu pai levou-me a visitar um poço que existia dentro das Galerias do Alegrete e nessa altura foi-me dito que aquele era o Poço do Borratem. Talvez fosse uma boca de acesso. Mas que vi o poço lá bem dentro da loja, isso vi.
2) Não muito longe dali, no Largo do Terreirinho (Rua dos Cavaleiros), dentro do restuarante a Taverna do Poço, existe...um poço. O dono faz brio em mostrar a todos quantos lá vão. Ao nivel do restaurante, o poço é ladeado por lajes aparelhadas em meia cana e após a "chaminé" desse poço, o interior é bem mais amplo, dando ideia de ser abobadado em tijolo. São 7 metros da boca do poço até ao nivel de agua e mais 11 metros de fundo, sempre com agua (impropria para consumo) durante todo o ano. Será algum lençol do Regueirão dos Anjos?
Fica aqui o apontamento.
Muitos parabens pelo blog e boa continuação.

APS disse...

Caro "Tigre"
Agradeço a sua visita a este Blog, bem assim como suas palavras de encorajamento.
Quanto à sua questão, devo acrescentar que não conheço como «O POÇO DO BORRATÉM» aquele que eventualmente estará nas "Galerias Alegrete". As Galerias Alegrete eram uns grandes armazéns de revenda, lembro-me de ter lá entrado depois de 1974 e confesso não me apercebi da existência de qualquer poço. No entanto, com estas minhas palavras, não é minha intenção desmenti-lo.
Aproveito para lhe referir um antigo mestre na olisipografia "Norberto de Araújo" que indica exactamente o sítio do poço na sua obra "Peregrinações em Lisboa" volume III página 80.
(...) os três grandes prédios do lado poente da Rua pertencem hoje: o da esquina para a Rua da Betesga (hoje Rua dos Condes de Monsanto), no qual se encrava o "POÇO" do Nº 1 a 9 (...).
Na sua segunda pergunta, estou convencido que para abrir um poço não é necessário existir (ou ter existido) um curso de àgua (Rio, Ribeira, Regueirão etc.)nas proximidades, mas sim tentar encontrar uma zona freática apropriada à manutenção do poço. Assim, podemos tirar a conclusão, que nada terá a ver com a ribeira que em tempos passava na Mouraria.
Volte sempre,
APS