sábado, 30 de abril de 2011

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XIV ]

Calçada dos Barbadinhos - (2009) - (Início da Calçada dos Barbadinhos, vendo-se no lado esquerdo o antigo Palácio Vasco Veloso - Fábrica do Tabaco - actualmente Comando-Geral da GNR) in GOOGLE EARTH



Calçada dos barbadinhos - ( 195_ )? - Desenho de autor não identificado ( Imagem de guarda motorizada na Sala-Museu da Brigada Fiscal da GNR no Palácio Vasco Veloso - Fábrica do Tabaco - hoje Comando-Geral da GNR, na Rua da Cruz de Santa Apolónia esquina com a Calçada dos Barbadinhos) in CAMINHO DO ORIENTE


Calçada dos Barbadinhos - (195_)? Desenho de Autor não identificado (Imagem de guarda a cavalo que se encontra na Sala-Museu da Brigada Fiscal da GNR, antiga Guarda Fiscal, no Palácio Vasco Veloso - Fábrica do Tabaco - hoje Comando-Geral da GNR na Rua da Cruz de Santa Apolónia esquina com a Calçada dos Barbadinhos) in CAMINHO DO ORIENTE


(CONTINUAÇÃO)


CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XIV ]


«FÁBRICA DA COMPANHIA LISBONENSE DE TABACOS (2)»


Com uma existência curta em termos de realização industrial autónoma (1865-1881) a «FÁBRICA DA COMPANHIA LISBONENSE DE TABACOS», dispunha de algumas características próprias detectáveis nas respostas do Inquérito de 1881. A criação desta unidade obedece a alguns princípios de renovação industrial do sector do TABACO servindo uma fábrica em grande com 878 operários, quase mais cem que a fábrica de «XABREGAS». Dispunha de motores a vapor de origem inglesa (uma máquina de 25 c/v e outra de 8 c/v), com carregador mecânico de carvão para as caldeiras. A resposta ao INQUÉRITO revela vários engenhos e um grau bastante elevado de mecanização ( onze máquinas para fazer cigarros, oitenta e uma máquinas de fazer cigarrilhas, vinte e quatro para fazer charutos e catorze moinhos para rapé), para além de muitas outras para diferentes secções. Na «CALÇADA DOS BARBADINHOS» dispunha de uma litografia bastante evoluída para a impressão das suas embalagens. Do ponto de vista tecnológico a empresa era dirigida por um engenheiro inglês (cigarros e cigarrilhas), outro alemão (charutos) e um mestre português para o fabrico do rapé.


Entre 1865 e 1881, a «FABRICA DA COMPANHIA LISBONENSE DE TABACOS» desenvolvera uma estratégia social de apoio aos seus trabalhadores. Mandou construir casas para cinquenta operários na «CALÇADA DOS BARBADINHOS», arrendadas entre 800 e 1500 réis. Abriu uma escola para a instrução primária, num edifício que mandou edificar e montou um "rancho" para operários, uma espécie de cantina primitiva, onde se comia carne uma vez por semana. As multas aplicadas pelos patrões destinavam-se a beneficiar o "rancho". O trabalho era executado em toda a fábrica e também numa oficina apetrechada na cidade do Porto. A integração da «FABRICA DA COMPANHIA LISBONENSE DE TABACOS» na «COMPANHIA NACIONAL DE TABACOS DE LISBOA» e nas empresas que lhe seguiram é detectável na documentação posterior e em anúncios de várias épocas. A concentração industrial que se seguiu às aprovações governativas de 1927 ( na origem da fundação da "COMPANHIA PORTUGUESA DE TABACOS") contribuíram para o encerramento laboral das instalações da «LISBONENSE».


Os edifícios industriais e o espaço anexo, passaram gradualmente para as mãos do «ESTADO», ocorrendo a primeira sessão, em Maio de 1938, data em que o «COMANDO GERAL e o BATALHÃO Nº 1 DA GUARDA FISCAL» aí começaram a funcionar. No entanto, só em 1961 ocorreu a sua total integração. Hoje neste espaço está instalado o «COMANDO-GERAL DA G.N.R. - REPARTIÇÃO DE RECRUTAMENTO E CONCURSOS».


Relata-nos o nosso compatriota «JOSÉ GRACIOSO» residente em SUCY EN BRIE (FRANÇA), as suas memórias vividas nos anos 50 e 60 do século passado, na «CALÇADA DOS BARBADINHOS» onde morava no número 87. Que: "os números ímpares eram todos da «GUARDA FISCAL» até ao número 55, todos estes aparentemente alugados ou emprestados. O portão com o número 25 era a antiga entrada da Fábrica do Tabaco. No número 55 era a entrada do «GRUPO DESPORTIVO DOS TABACOS», com um campo de Basquetebol e no fundo, um "ringue" para a prática do «HOQUEI EM PATINS»".


(CONTINUA) - (PRÓXIMO)- «CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XV ]-A ESTAÇÃO ELEVATÓRIA DOS BARBADINHOS ( 1 )»









quarta-feira, 27 de abril de 2011

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XIII ]

Calçada dos Barbadinhos (2009) (Início da Calçada dos Barbadinhos, vendo-se ao lado esquerdo o Palácio Vasco Veloso- Fábrica de Tabaco e actual comando da GNR, no lado direito as Casas pequenas dos senhores de Pancas/Palha) in GOOGLE EARTH

Calçada dos Barbadinhos - (1998) (Planta aerofotogramética 3/7 e 4/7. Escala 1:2000. Maio de 1963, actualizada em 1987 - Assinalamos: O Palácio de Veloso, Fabrica de Tabacos e GNR. Mais para a direita o conjunto da Igreja e Convento dos Barbadinhos Italianos, em baixo o antigo Convento de Santa Apolónia) in CAMINHO DO ORIENTE


Calçada dos Barbadinhos - (s/d) - Foto de Eduardo Portugal (Rua da Cruz de Santa Apolónia Palácio Veloso-Fábrica de Tabacos e actualmente a G.N.R.) in AFML

(CONTINUAÇÃO)

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XIII ]

«FÁBRICA DA COMPANHIA LISBONENSE DE TABACOS ( 1 )»

A instalação da «COMPANHIA LISBONENSE DE TABACOS», na «RUA DA CRUZ DE SANTA APOLÓNIA», no número 30, evidencia mais um caso de funcionalidade de um espaço não construído para fins industriais. De facto, o prédio pertenceu a um importante negociante do tempo de «D.JOÃO V», que veio a perder parte da sua fortuna no terramoto de LISBOA de 1 de Novembro de 1755. Sobre o portão principal do palacete ainda se encontra o brasão de armas das famílias «VELOSO E REBELO PALHARES».

O edifício andou associado a contendas judiciais até ser adquirido pelos negociantes de tabaco, que aproveitaram a liberdade de comércio e fabrico, introduzida em 01.01.1865, pelo Conde de Valbom, resolveram fundar, sem grandes custos de edificação uma nova fábrica em LISBOA. A fundação deveu-se à iniciativa de «JOSÉ MARIA EUGÉNIO DE ALMEIDA»(1811-1872) e «JOÃO PAULO CORDEIRO», que constituíram uma sociedade anónima de responsabilidade limitada, com o capital de 100 contos, passado para 450 pouco tempo depois. Tendo os seus estatutos sido aprovados em 29.11. de 1865.

As instalações da fábrica correspondiam a quase um quarteirão, situado entre a referida «RUA DA CRUZ DE SANTA APOLÓNIA» (onde se desenvolvia a fachada principal) e a «CALÇADA DOS BARBADINHOS», tendo acesso pela «RUA AFONSO DOMINGUES», correspondente às traseiras do antigo palácio e quinta do grande comerciante do período joanino.

As caracteristicas do imóvel permitiam adaptações forçadas às necessidades da industria do Tabaco, mas os administradores sentiram que se impunham alterações indispensáveis. Em 1879, o administrador da fábrica «GUILHERME P. SÁ VIANA» solicita à Câmara de Lisboa a alteração da fachada do prédio, introduzindo-lhe novas janelas, regular no piso inferior do edifício, em toda a extensão do mesmo.

O presidente do município «ROSA ARAÚJO» autorizou a obra, acabando por ser executada em conformidade com as exigências da Câmara. Por sua vez, o mesmo administrador, em 1883, submete à aprovação um projecto para remodelar as coberturas. Os antigos tectos substituíram-se por um telhado assente em vigas e asnas de madeira, ao mesmo tempo que se constroi uma espécie de mansarda. Todavia, os documentos permitem detectar dois momentos distintos de modificações, um caracterizado por adaptação do palácio nobilitado pela presença do portal e janelas brasonadas e o outro, pela ampliação dos corpos regulares no prolongamento da fachada anterior.

Os documentos provam as alterações ocorridas numa tentativa de adaptação às novas funções industriais. No entanto, a exiguidade das instalações e de espaço obrigou a ampliações na área do logradouro e da quinta do comerciante, crescimento por justa posição de oficinas, entre as quais se deverá referir a casa das máquinas. Os novos edifícios revelaram uma arquitectura consoante às funções tabaqueiras, com imóveis de alvenaria de tijolo e ferro. Entretanto, em 1881, ano do INQUÉRITO INDUSTRIAL, a «COMPANHIA LISBONENSE DE TABACOS» funde-se com a «COMPANHIA NACIONAL DE TABACOS», de XABREGAS. Dessa fusão nasceu a «COMPANHIA NACIONAL DE TABACOS DE LISBOA», doravante administradora das duas empresas a de XABREGAS e a SANTA APOLÓNIA. O seu destino industrial passará a andar associado à história das Companhias que administrarão a fábrica de Xabregas, até 1965.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)-«CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XIV ] - FÁBRICA DA COMPANHIA LISBONENSE DE TABACOS ( 2 )»





sábado, 23 de abril de 2011

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XII ]

Calçada dos Barbadinhos - (2009) (Rua Barão do Monte Pedral ao fundo a Calçada dos Barbadinhos) in GOOGLE EARTH



Calçada dos Barbadinhos - (2009) (A Rua Barão do Monte Pedral, esquina com a Calçada dos Barbadinhos) in GOOGLE EARTH



Calçada dos Barbadinhos - (2009) (Um troço da Rua Barão do Monte Pedral, junto à Calçada dos Barbadinhos) in GOOGLE EARTH

Calçada dos Barbadinhos - (2009) (A RUA BARÃO DO MONTE PEDRAL vista de satélite) in GOOGLE EARTH



(CONTINUAÇÃO)
CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XII ]
«BARÃO DO MONTE PEDRAL»
O «1º BARÃO DO MONTE PEDRAL», «JOSÉ BAPTISTA DA SILVA LOPES» está ligado à freguesia de «SANTA ENGRÁCIA» que, depois da implantação da «REPÚBLICA», e por decreto de 1 de Maio de 1913, foi mudada de denominação para freguesia de «MONTE PEDRAL».
Em 1952 voltava novamente a adquirir a sua anterior designação.
Existe também nesta freguesia uma artéria com o nome de «RUA BARÃO DE MONTE PEDRAL», que começa na «CALÇADA DOS BARBADINHOS» e estende-se para o «VALE ESCURO». Esta rua teve o parecer da «COMISSÃO MUNICIPAL DE TOPONÍMIA», que reuniu em 03.03.1960 e por edital de 10.11.1961, para homenagear o oficial do Exército e criador do «MUSEU MILITAR DE LISBOA», (antigo MUSEU DE ARTILHARIA).

«JOSÉ BAPTISTA DA SILVA LOPES» nasceu em LAGOS a 01 de Junho de 1784 e faleceu em LISBOA a 22 de Abril de 1857. Colocado como 1º tenente no REGIMENTO DE ARTILHARIA DE ELVAS, distinguiu-se e tomou parte activa nos cercos de «BADAJOZ». No tempo de «D. MIGUEL» tomou parte na insurreição do PORTO de 1828. Organizou a expedição do «MINDELO», veio nela «SILVA LOPES», como «CHEFE DO ESTADO-MAIOR», e passou depois a exercer o COMANDO GERAL DE ARTILHARIA das forças de «D. PEDRO». Foi um dos principais autores da nova organização do EXÉRCITO, promulgada em 18.07.1834.
Deputado pelo ALGARVE os seus projectos de lei foram cheios de profundos conhecimentos em matéria Militar. Movido de sentimentos humanitários, propôs no PARLAMENTO a abolição da pena de VARADAS, então em uso no exército. Deixa o Parlamento e de 1840 à sua morte exerce o cargo de INSPECTOR-GERAL DO ARSENAL DO EXÉRCITO, no qual prestou relevantes serviços à organização militar e armamento, tendo alcançado o posto de Marechal-de-Campo a 10.10.1845 e Tenente-General a 06.06.1847. Foi nomeado par do REINO em 1849, sendo o título de «BARÃO DE MONTE PEDRAL» concedido por decreto de 13.09.1835 por «D. MARIA II».
Por não ter deixado herdeiros directos caiu a representação do título em seu irmão «JOÃO BAPTISTA DA SILVA LOPES», bacharel em leis, advogado e chefe de repartição no Exército.
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(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XIII ] - FÁBRICA DA COMPANHIA LISBONENSE DE TABACOS ( 1 )».







quarta-feira, 20 de abril de 2011

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XI ]

Calçada dos Barbadinhos - (2009) As "Casas pequenas" dos senhores de Pancas/Palha, situadas no início da Calçada dos Barbadinhos. Com a Pedra de Armas da PALHA no seu cunhal e hoje uma continuação dos seus descendentes, a família Pereira Palha Van Zeller) in GOOGLE EARTH


Calçada dos Barbadinhos - (2009) (Rua de Santa Apolónia, à nossa esquerda a Rua da Cruz de Santa Apolónia e o início da Calçada dos Barbadinhos, junto as "casas pequenas" dos senhores de Pancas) in GOOGLE EARTH

Calçada dos Barbadinhos - (200_) Autor não identificado (Início da Calçada dos Barbadinhos à direita o Palácio Pancas) in MARCAS DAS CIÊNCIAS
Calçada dos Barbadinhos - (1973) Foto de Vasco Gouveia de Figueiredo ( Portão a nascente do Palácio Pancas/Palha junto à Calçada dos Barbadinhos) in AFML

Calçada dos Barbadinhos - (1968) Foto de Armando Serôdio (Brasão do Palácio Pancas/Palha, do século XVII) in AFML

(CONTINUAÇÃO)

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XI ]

«O PALÁCIO DOS SENHORES DE PANCAS/PALHA»

As chamadas «CASAS PEQUENAS» dos senhores de «PANCAS», como são referidas na documentação, situam-se junto à antiga entrada da quinta, esquinando para a «CALÇADA DOS BARBADINHOS». Esta propriedade hoje autónoma (após a venda do restante palácio em 1968 à CML), foi muito aumentada nas suas dependências por iniciativa da família «PEREIRA PALHA», ao longo do século XIX, que continua na posse dos seus descendentes, hoje família «PEREIRA PALHA VAN ZELLER».

Do Inventário, retirámos a parte que diz respeito às "CASAS NOBRES MISTÍCAS"..."ao palácio, e respectiva horta, pertencentes ao mesmo casal, situavam-se ao lado do norte da «RUA DIREITA DE SANTA APOLÓNIA», e torneava pelo lado do nascente com a "Cerca dos Barbadinhos Italianos" e consta o seu prédio urbano de uma casa nobre que se compõe de um pavimento de lojas em cinco casas, nas quais entra cocheira , cavalariça, e acomodações de criados, e a face da «CALÇADA DOS BARBADINHOS» tem serventia para uma sobre loja dividida em duas casas, e por cima de todo o referido, e parte em chão firme, há um pavimento de sobrado dividido em dez casas, e mais o seu oratório, e por cima da parte da área das ditas há um segundo pavimento dividido em cinco casas, e da cozinha, que é no primeiro pavimento, para a parte do nascente, tem um pátio, e nele dois telheiros, e em um d'eles tem seu forno, e no mesmo pátio uma conserva de água, que vem do poço da horta, que se reparte para a cozinha e cavalariça. O prédio rústico consta de chão de horta em três tabuleiros com socalcos, com suas parreiras em roda no primeiro tabuleiro(...), parte d'elas sobre pilares de pedra, poço de nora e tanque (...), uma cavalariça grande para dez bestas, e por cima d'ela uma casa, que serve de palheiro. A horta é toda murada em roda, e à face da «CALÇADA DOS BARBADINHOS» com umas casas baixas.

A titularidade da casa «PALÁCIO DOS SENHORES DE PANCAS/PALHA» não foi questão pacifica. Em 5 de Abril de 1802, «D. MARIA BALBINA» recebeu a administração vitalícia da fazenda de PANCAS. Contudo a sucessão do morgado de «PANCAS» competia a «D. MARIA LEONOR MANUEL DE VILHENA» bisneta de «D. INÊS MARIA DE MELO», irmã de «CRISTÓVÃO DA COSTA FREIRE», e casada com «JOSÉ SEBASTIÃO DE SALDANHA OLIVEIRA E DAUM» depois «CONDE DE ALPEDRINHA» ( 1 ), autor de uma memória histórica sobre esta causa. O processo de inventariação prolongou-se, o Palácio foi arrendado já que se tratava de um grande prédio, podendo assim retirar-se algum rendimento.

Na «GAZETA DE LISBOA» foram publicados alguns anúncios, referidos por «CASTILHO». No início do século XIX realizou-se o leilão das carruagens e bestas da «CASA DE PANCAS». Em 1815, por fim, anunciava-se a venda do Palácio. O «PALÁCIO DOS SENHORES DE PANCAS/PALHA» (excluindo a parte que se encontra na esquina da "CALÇADA DOS BARBADINHOS", as chamadas "CASAS PEQUENAS"), depois de restaurado este imóvel do século XVIII, foi levado a "haste pública" no dia 19 de Outubro de 2010, por 4 milhões de Euros, destinado exclusivamente à hotelaria. Sabemos que não existiu licitação para o imóvel.

( 1 ) - 1º CONDE DE ALPEDRINHA (30.08.1854), filho do 1º Conde de RIO MAIOR, escreveu a "MEMÓRIA HISTÓRICA" sobre a origem, progresso e consequências da famosa causa de denúncia da coutada e morgado de «PANCAS», etc. LONDRES (1811).
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XII ]-BARÃO DO MONTE PEDRAL»






sábado, 16 de abril de 2011

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ X ]

Calçada dos Barbadinhos - (2009) (Início da Rua da Cruz de Santa Apolónia, Rua de Santa Apolónia, novas instalações da CP, no local do antigo Convento e Igreja de Santa Apolónia à nossa direita) in GOOGLE
Calçada dos Barbadinhos - (1943-01) Foto de Eduardo Portugal (Convento e Igreja de Santa Apolónia "já desactivada" na rua do mesmo nome. A parte mais baixa foi a primeira a ser demolida) in AFML
Calçada dos Barbadinhos - (Primeiro quartel do século XX) (Fachada da Igreja e Convento de Santa Apolónia , segundo fotografia inserto na Ribeira de Lisboa de Júlio Castilho) in CAMINHO DO ORIENTE

(CONTINUAÇÃO)

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ X ]

«CONVENTO DE SANTA APOLÓNIA ( 2 )»

As traseiras dos edifícios (IGREJA E CONVENTO) davam para a praia deserta, depois ocupada pelas linhas férreas e telheiros dos Caminhos-de-Ferro. A Igreja - pegada a um antigo depósito de pólvora e a uma fortaleza que dominava a margem - seguia-se o Convento, com um piso térreo e dois andares superiores.

Com o Terramoto de 1755 o Convento embora pouco danificado, mesmo assim ruíram algumas paredes exteriores, pelo que levou as freiras receosas de algum acidente, abrigarem-se na fortaleza que ficava contígua.

Conta-se que foi o pároco de Igreja da «MADALENA» «Pº. PINTO DA CRUZ», que salvou as sagradas partículas do sacrário da «IGREJA DE SANTA APOLÓNIA», enquanto tudo ruía à sua volta e o pânico se generalizava. O padre foi depois abarracar-se para o «TERREIRO DO PAÇO». Conforme existiu esta boa alma, outras que só criaram confusão e desconfianças. Começou a circular cartas falsificadas em nome da «ABADESSA DE SANTA APOLÓNIA» com pedidos de donativos. Uma vez descoberta a fraude, passou-se a instituir, por segurança, contra a entrega daqueles, atestação selada com o cunho do Convento.

A «IGREJA DO CONVENTO DE SANTA APOLÓNIA» estava situada na «RUA DE SANTA APOLÓNIA» no número 63, em cuja verga se podia ver, ao centro, a data de 1844 acusando talvez um restauro. Num dos lados podia observar-se o ano de 1671, talvez indicando um outro antigo restauro. No pórtico da Igreja de arquitectura tipicamente setecentista, apresentava uma porta larga com uma cabeça de "QUERUBIM" ( 1 ) em pedra, ladeado de duas janelas engradadas, sobre um tímpano clássico três janelas também engradadas e ao cimo um nicho vazio, tudo isto já não existe.

Em 1852 o antigo «CONVENTO DE SANTA APOLÓNIA» é adquirido pela «COMPANHIA REAL DOS CAMINHOS-DE-FERRO». Depois das respectivas obras de adaptação o terminal ferroviário fazia-se neste pequeno Convento desde 1856 até 1865, altura da construção da nova «ESTAÇÃO DE SANTA APOLÓNIA», no «LARGO DOS CAMINHOS DE FERRO», próximo ao «MUSEU MILITAR».

A parte da IGREJA foi aproveitada pela «COOPERATIVA DOS EMPREGADOS DA CP», que ainda nos anos 50 do século XX podemos constatar o seu funcionamento.

Do antigo Convento nada subsiste, no seu lugar surgiram os incaracterísticos edifícios da CP, embora mereça aqui uma referencia pelo simples facto de se ter transformado a sua invocação em topónimo, de toda uma vasta zona da cidade de Lisboa. Os Caminhos-de-Ferro, apesar de terem feito desaparecer fisicamente a casa religiosa, projectaram-lhe o nome para uma área muito mais alargada do que primitivamente acontecia.

( 1 ) - QUERUBIM- Anjo da primeira hierarquia; pintura ou escultura de uma cabeça de criança com asas; criança formosa. (Lat. cherubim, do Hebraico).

(CONTINUA)-(PRÓXIMO) -«CALÇADA DOS BARBADINHOS [XI] - PALÁCIO DOS SENHORES DE PANCAS/PALHA».

quarta-feira, 13 de abril de 2011

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ IX ]

Calçada dos Barbadinhos - (Século XVIII) - (O Convento de Santa Apolónia, segundo o desenho publicado por GONZAGA PEREIRA) in CAMINHO DO ORIENTE Calçada dos Barbadinhos - (Entre 1890 e 1945) Foto de José Artur Leitão Bárcia (Convento de Santa Apolónia, actualmente o edifício pertence à CP) in AFML
Calçada dos Barbadinhos - (1856-1858) (Pormenor da Carta Nº 38 onde o edifício do antigo Convento é referido como ESTAÇÃO CENTRAL. Sabe-se que aqui funcionou o terminus provisório do caminho-de-ferro, originando possivelmente deste facto a denominação de Estação de Santa Apolónia, depois alargada ao novo edifício mais a Sul) in ATLAS DA CARTA TOPOGRÁFICA DE LISBOA Calçada dos Barbadinhos - (1856-1858) (Carta Nº 38 de Lisboa coordenação de Filipe Folque, vendo-se o CONVENTO DE SANTA APOLÓNIA fazendo já parte da CP) in ATLAS DA CARTA TOPOGRÁFICA DE LISBOA

(CONTINUA)

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ IX ]
«CONVENTO DE SANTA APOLÓNIA ( 1 )»
Em 1552 já era referenciada nesta localidade uma Ermida que tinha por orago « SANTA APOLÓNIA», e no último quartel do século XV esta Ermida constituía referência toponímica do sítio. Diz-nos o «SUMÁRIO», (1555) "que era casa de muita devoção e esmolas. Tem confraria da mesma «SANTA»" ( 1 ).

A Ermida era pertença dos confeiteiros e deu lugar a um recolhimento, fundado por «D. ISABEL DA MADRE DE DEUS», beata de VILA VIÇOSA, protegida pelos Duques «D. JOÃO IV» e «D. LUÍSA DE GUSMÃO» que lhe chamavam "a minha capuchinha". A rainha negociou com os confeiteiros para que deixassem a Ermida e casas anexas, afim de ali se instalar a beata. A estima da «CASA REAL» valeu-lhe um lugar no séquito de «D. CATARINA», em INGLATERRA (1662), de onde regressou a «SANTA APOLÓNIA» em 1693. Aí fundou o recolhimento e em 1712, residiam 20 recolhidas "sujeitas aos arcebispos de Lisboa, aonde tem seu capelão com obrigação de confessor".

Em 1717 o «PAPA CLEMENTE XI-1649-1721» transformou esta recolhimento em «CONVENTO», cujas recolhidas professariam com grande solenidade, sendo a sua capacidade para 28 religiosas (da 1ª regra de Santa Clara). Por altura do ano de 1719 pediam as religiosas ao «SENADO» para fazer a frontaria da sua igreja de novo. A pronta vistoria e mediação determinou que, depois de feitas as obras, a rua da parte Norte, devia ficar com "trinta e seis palmos". Dez anos passados e as religiosas continuaram mal acomodadas e estando a igreja muito batida pelas ondas do rio, pondo em risco a capela-mor. Assim, as freiras pretendiam melhorar de sítio, edificando a Igreja em uma terra murada, que possuíam fronteira ao dito Mosteiro, com passadiço por arco sobre a entrada. Estes pedidos não foram satisfeitos e sabe-se que em 1740, tinham cedido terreno fronteiro aos «BARBADINHOS» para a abertura da Calçada que os levava ao seu «CONVENTO».

Diz-nos o prior «BARBUDA» em 1758, "que a igreja deste Convento antes do terramoto era pequena; porta principal ao norte; pelo terramoto ficou este Convento e Igreja, inabitável (...) que as religiosas perto de dois anos fizeram residência no forte junto ao mesmo Convento. Reedificou-se só o Convento com esmolas particulares, e algumas ocultas. Foi acrescentado para a parte do mar, e se acha esta nova reedificação com mais cómodos, e fortaleza, excepto a Igreja, que não há com que se possa fazer servindo-se inteiramente de uma com excessivo descómodo" ( 2 ).

Em 1833, quando se formaram as linhas de defesa da cidade de LISBOA, as religiosas de «SANTA APOLÓNIA» foram transferidas para o «CONVENTO DE SANTA ANA», com o qual se fundiram, passando posteriormente para o de «SANTA MÓNICA».

Uma vez extinta a residência claustral, o Convento serviu de domicilio aos meninos da «REAL CASA PIA», tendo-se aí instalado um colégio de aprendizes do «ARSENAL DO EXERCITO».

- ( 1 ) - OLIVEIRA, Cristóvão Rodrigues de, SUMÁRIO, LISBOA, Casa do Livro, 1939, pp.48

- ( 2 ) - PEREIRA, Luís Gonzaga, MONUMENTOS SACROS de LISBOA em 1833, Lisboa, BNL, 1927 Página 280.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO)-«CALÇADA DOS BARBADINHOS [ X ]-CONVENTO DE SANTA APOLÓNIA ( 2 )»


sábado, 9 de abril de 2011

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ VIII ]

Calçada dos Barbadinhos - (1998) Foto de António Sachetti (Vista parcial do conjunto do Palácio VASCO LOURENÇO VELOSO, na Rua da Cruz de Santa Apolónia esquina com a Calçada dos Barbadinhos) in CAMINHO DO ORIENTE
Calçada dos Barbadinhos - (2009) - (Uma panorâmica da Calçada dos Barbadinhos e Rua da Cruz de Santa Apolónia. Podemos ver à esquerda o Palácio de Vasco Veloso-Fabrica do Tabaco-GNR, à direita as casas pequenas dos senhores de PANCAS e a Sul as novas instalações da C.P. no local do antigo CONVENTO DE SANTA APOLÓNIA. in GOOGLE Calçada dos Barbadinhos - (2004) Foto de autor não identificado (Vista em ORTOFOTO da Freguesia de Santa Engrácia in SKYSCRAPERCITY .

(CONTINUAÇÃO)

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ VIII ]

«PALÁCIO DE VASCO LOURENÇO VELOSO (3)»

«VASCO LOURENÇO VELOSO» em 25 de Agosto de 1732 já estava estabelecido junto a «SANTA APOLÓNIA» ( 1 ), na «RUA DA CRUZ DE SANTA APOLÓNIA» que durante várias épocas, conheceu diferentes designações: em (1741) era chamada de «RUA NOVA DA CRUZ»; (1753) de «RUA DA CRUZ A VALE DE CAVALINHOS»; em (1762) de «RUA DIREITA DA CRUZ DO VALE DE SANTO ANTÓNIO»; no ano de (1768) era chamada de «RUA DE VASCO LOURENÇO»( 2 ) e «RUA DIREITA DA CRUZ». Por Edital de 1 de Setembro de 1859 foi normalizada e reavaliada toda a toponímia da cidade, passando para o topónimo que ainda hoje ostenta «RUA DA CRUZ DE SANTA APOLÓNIA». «VASCO VELOSO» pessoa com bastantes contactos por toda a EUROPA e ULTRAMAR, era muito solicitado para procurador e fiador de inúmeros negociantes.

Em 1732 ( 3 ) torna-se sócio do contrato da entrada e saída da «ÍNDIA», ano em que enviou a nau «Nº.S.ª da AJUDA e EUROPA», para a primeira das três viagens a «SURRATE», costa de «COROMANDEL» e «BENGALA». Tinha recebido licença régia em 1731, para a viagem, de caixões de prata, barris de cochinilha, coral lavrado, chumbo e ferro em barras etc., com que a nau foi carregada, somaram mais de 86 contos ( 4 ), sendo também fiador de 12 000 cruzados sobre prata e géneros carregados à volta ( 5 ), pedindo também, em sociedade, 4 000 cruzados "sobre o casco e aparelhos da nau" ( 6 ).

Desta viagem dizia o rei, em 1740, que apenas tivera perda, ganhando somente experiência daquela navegação. Do «BRASIL» trazia açúcar e tabaco em 1746, foi "contratador dos Portos Secos Molhados e Vedados deste reino e ALGARVE ( 7 ).

De 1750 a 1757 foi administrador da «REAL FÁBRICA DAS SEDAS», "por ser necessário que fosse um homem bem poderoso em cabedais, para dar a devida amplitude à laboração de uma fábrica que a companhia não pode sustentar ( 8 ). «VASCO VELOSO» ao contrário de outros mercadores de LISBOA, não obteve facilidades para as dívidas resultantes dos prejuízos com o terramoto, pois como administrador, necessitava de autorização régia ( 9 ).

Em 1755 fundearam no «RIO DE JANEIRO» dois navios; "um com o ouro da negociação de «VASCO LOURENÇO» ( 10 ), que vinha da «COLÓNIA DO SACRAMENTO», e outro a nau de «MACAU», de que é caixa «VASCO LOURENÇO VELOSO», que transporta o Embaixador à CORTE DE PEQUIM; e se segura que a sua carga é uma das mais importantes que passou ainda à EUROPA ( 11 ).

«VASCO LOURENÇO VELOSO» é referido nos livros da DÉCIMA como "homem de negócios dos exceptuados, era servido por três criados (bolieiro, criado de servir e um grave) à data da sua morte, em 16.11.1770 ( 12 ), indo a sepultar na «IGREJA DOS BARBADINHOS». A complexidade da administração deste homem de negócios, notóriamente rico ( 13 ), foi um fardo demasiado pesado para seu filho, «TOMÁS REBELO VELOSO PALHARES», que permaneceu em «SANTA APOLÓNIA». Habilitado pelo «SANTO OFÍCIO» em 1750, casou com «D. ANA GERTRUDES BONABIE», de quem teve «JOÃO RAFAEL», «JOÃO GUALBERTO» e «JOÃO NABOR VELOSO REBELO PALHARES», todos desempenharam funções militares.

Num processo em 1777-79, depois da queda de «POMBAL», a mulher e o filho do «VELOSO» pediram uma moratória por seis anos. «TOMÁS» manteve o palácio com a mãe até 1783. Em 1793 residia na cidade de VIANA, vindo a ser preso após a morte de sua mulher e depois "mandado para fora da corte, por forjar documentos falsos ( 14 ).

Em 1783, «D. MARIA JOAQUINA PALHARES» "arrenda o Palácio ao «MARQUES DE PENALVA», por 600 000 réis ( 15 ). A casa do «VELOSO» tornava-se, assim, por mais de meio século , no «PALÁCIO DOS MARQUESES DE PENALVA», assistidos por 30 criados em média. A última personagem importante a habitar este palácio foi o «MARQUÊS DO ALEGRETE» que o deixa devoluto entre (1829-31) ( 16 ).

«JOSÉ EUGÉNIO DE ALMEIDA» ( 17 ), comprou a propriedade ao «VISCONDE DE FONTE BOA», que a adquirira por execução aos herdeiros do «VELOSO», levando de imediato à praça os prédios na «RUA DA CRUZ DE SANTA APOLÓNIA» e «CALÇADA DOS BARBADINHOS» nº 1 a 29.

Finalmente, estando a propriedade na posse do Estado, instalou-se no antigo «PALÁCIO DE VASCO LOURENÇO VELOSO» a «COMPANHIA PORTUGUESA DE TABACOS» que ali permaneceu até ao segundo quartel do século XX.


- 1 - IAN/TT, C-12B, Cx.50 L.º571, fls 9-10 - 2 - Idem, RP. Óbitos, Cx. 27 L.º6, fls. 48-v - 3 - Idem, C-12.B, Cx.49 L.º567, fls. 69-70 - 4 - Idem, Idem, Cx.50, L.º569, fls. 90-91 - 5 - Idem, idem, Cx.49, L.º568, fls. 50V-52v - 6 - Idem, idem, idem, idem, idem, 67-68 - 7 - Idem, C-9A, Cx.85, L.º500. fls, 25v-26 - 8 - NEVES, José Acúrcio das, - "Noções Históricas Económicas e Administrativas sobre a produção e Manufacturação das Sedas em Portugal (...) Lisboa, Imp. Régia, 1827, pp. 67-77 - 9 - SANTANA, Francisco, Documento do Cartório Junta do Comércio, CML, Vol.I,Fls 211/212 - 10 - AHU, Rio de Janeiro (Annaes da B.N.) Castro e Almeida, Vol. VIII nº 18 582 - 11 - Idem, Idem, Idem, nº 18 259 - 12 - IAN/TT,RP, Óbitos, Santa Engrácia, Cx.27, L.º6 - 13 - Idem, HSO, Mç. 5, nº 72 - 14 - Idem, DP, Estremadura. Mç. 2117, nº 53 - 15 - Idem, C-12B, Cx.91, L.º779, fls. 116-116-v - 16 - AHTC,DC, Santa Engrácia, Livros de Arruamentos, Mçs, 464-465 - 17 - NOGUEIRA, José António, Esparsos, Coimbra, Imprensa da Universidade,1934.pp.9-14

SIGLAS - AHTC-Arquivo Histórico do Tribunal de Contas - AHU-Arquivo Histórico Ultramarino - DC-Décima da Cidade - HSO-Habitações do Santo Ofício - IAN/TT-Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo - RP-Registos Paroquiais.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) «CALÇADA DOS BARBADINHOS [ IX ] - O CONVENTO DE SANTA APOLÓNIA( 1 )».

quarta-feira, 6 de abril de 2011

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ VII ]

Calçada dos Barbadinhos - (2004) Foto de autor não identificado (Vista em ORTOFOTO da zona da Calçada dos Barbadinhos e em especial o conjunto do antigo Palácio -VASCO VELOSO-FABRICA DO TABACO e hoje COMANDO da GNR. in SKYSCRAPERCITY. Calçada dos Barbadinhos - (2011) (A Rua da Cruz de Santa Apolónia, edifício à esquerda o antigo Palácio de Vasco Lourenço Veloso, uma das suas entradas) in GOOGLE EARTH
Calçada dos Barbadinhos - (1998) Foto de António Sachetti ( Portal-Janela do Palácio Vasco Lourenço Veloso, possivelmente anterior a 1732, na Rua da Cruz de Santa Apolónia) in CAMINHO DO ORIENTE

(CONTINUACÃO)

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ VII ]

«PALÁCIO VASCO LOURENÇO VELOSO ( 2 )»

Com a impressionante quantidade documental em torno da actividade de «VASCO LOURENÇO VELOSO», faz dele uma das personagens centrais da vida económica de LISBOA naquela época setecentista.

A sua tentativa de reanimar o comércio da ÍNDIA, não terá sido visto muito bem nos meios mais interessados no Brasil.

Provavelmente nasceria aqui a animosidade do futuro «MARQUÊS DE POMBAL» de que se queixaria mais tarde a viúva de «VASCO VELOSO». Do que podemos estar certos é que passará por ele qualquer tentativa séria para se conhecer a fundo a história deste período da vida lisboeta portuguesa.

O edifício principal de carácter palaciano, foi adaptado facilmente a residência da «CASA PENALVA-ALEGRETE», instalada cerca de 50 anos, após a destruição do seu palácio pelo terramoto, junto à antiga «PORTA DE S. VICENTE DA MOURARIA», actual «MARTIM MONIZ».

A figura de «VASCO LOURENÇO VELOSO» faz parte da história deste Palácio situado na «RUA DA CRUZ DE SANTA APOLÓNIA» e tudo indica ter sido de sua iniciativa a construção. Filho de lavradores abastados, nasceu a 06.07.1682 tendo falecido em 16.11.1770. Natural de «BELAS» «MONÇÃO» e morou em «VIANA» como "mercador de grosso negócio".

No ano de 1720 veio para LISBOA, morando em 1723 já em casas suas na «RUA DO MARECHAL»(1) e, em 1724, habilitado pelo «SANTO OFICIO», era administrador geral dos portos secos e toma as rendas reais (...) do consulado das «BARRAS DO SUL DE LISBOA»(2).

Em LISBOA vendia barris de vinho, trazidos de «CAMINHA», para onde mandava trigo comprado em SINES; "negociava com sal de ALCÁCER" ( 3), teve o contrato da «SACA DA ALFANDEGA DO PORTO»(4) (1723) e foi sócio do contrato do «PAÇO DA MADEIRA»(5) (1726).

No ano de 1723 e 1726 arrendou o contrato da DÍZIMA DA ALFÂNDEGA DA BAÍA, por três frotas, orçado em centenas de milhares de cruzados.

Seu irmão, «JOÃO LOURENÇO VELOSO» era o "testa-de-ferro em terras Brasileiras"(6).

"Foi ainda contratador do pau-Brasil e seu consumo" (7) de 1727 a 1730, para vender e carregar para todo este reino como para os de CASTELA, FRANÇA, ITÁLIA, INGLATERRA, HOLANDA, HAMBURGO e mais partes ( 8 ).

Em 1731 de novo administrou o contrato das "DÍZIMAS DA ALFANDEGA DA BAÍA" ( 9 ),

tendo procuradores desde o «RIO DE JANEIRO» até à colónia do «SACRAMENTO», nos portos da «BAÍA», «PERNAMBUCO», «MARANHÃO», «PARÁ» e «PARAÍBA», e também os contratos do reino de «ANGOLA» e seus presídios ( 10 ), pois arrematara os contratos da escravaria do REINO DE ANGOLA POR 6 ANOS (1723), PAGANDO 1200 RÉIS POR CABEÇA (11 ).

Adquiriu e rebaptizou navios de diferentes caracteristicas, conhecendo-se as galeras «N. Sª. do CARMO E ALMAS» (1723) e «SANTO ANTÓNIO DE PÁDUA» (1725) para poder fazer viagens para o porto de BENGUELA e resgatar escravos ( 12 ), os navios «SANTA ANA E ALMA» ( 13 ) e «RAINHA SANTA E ALMAS» ( 14 ), possuindo já o navio «N. Sª. da AJUDA e EUROPA».

Nos AÇORES administrou o contrato dos tabacos ( 15 ) de 1725 a 1728) que arrematou em sociedade (1725-27), no «CONTRATO GERAL DO TABACO DO REINO», para que nas ilhas dos AÇORES pudessem fabricar e vender tabacos ( 16 ).

Casou aos 45 anos ( 17 ) ( 09.02.1728) com «D. MARIA JOAQUINA PALHARES», filha de «RAFAEL MUSSO», mercador genovês, e «D. ANTÓNIA PALHARES». A noiva era natural de LISBOA, onde esta família sempre existiu muito conhecida por seu irmão «MIGUEL REBELO» (... ) escrivão da «CÂMARA DO SENADO» ( 18 ), estando os «FERREIRA REBELO» e os «PALHARES» em Lisboa desde a segunda metade do século XVII .

«VASCO LOURENÇO VELOSO» continuava a morar na «RUA DO MARECHAL» em 07.06.1732 ( 19 ), onde em 1730 nasceu o filho «TOMÁS» ( 20 ).

( 1 ) - IAN/TT, C-12B, CX.39, Lº518,fls.4.

( 2 ) - Idem, HSO, Mç. 1, nº.11.

( 3 ) - Idem, C-12B, Cx.38, Lº 513,fls. 15-15v

( 4 ) - Idem, C-12B, Cx. 39, Lº 519, fls.4

( 5 ) - Idem, C-12B, Cx. 43, Lº 535, fls. 16v-18

( 6 ) - Idem, C-12B, Cx.40,Lº520,fls.63v-64 e AHU, BAHIA, Castro e Almeida nº3858-61

( 7 ) - Idem, C-12B, Cx.44, Lº539, fls. 94v-95

( 8 ) - Idem, C-12B, Cx.44, Lº540, fls.43v-43v

( 9 ) - Idem, C-12B, Cx.48, Lº561, fls.81v-82v

( 10 ) - Idem, C-12B, Cx. 41, Lº525, fls. 19-20

( 11 ) - Idem, C-12B, Cx. 40, Lº521, fls. 32-32v

( 12 ) - Idem, C-12B, Cx. 42, Lº531, fls. 96-97

( 13 ) - Idem, C-12B, Cx. 42, Lº533, fls. 82-32

( 14 ) - Idem, C-12B, Cx. 42, Lº534, fls. 86v-88

( 15 ) - Idem, C-12B, Cx. 41, Lº527, fls. 78v

( 16 ) - Idem, C-12B, Cx. 44, Lº543, fls. 71v-72v

( 17 ) - Idem, RP, Casamento, S.Sebastião da Pedreira, Lº2, fls 139v

( 18 ) - Idem, HSO, Mç. 5, nº 72

( 19 ) - Idem, C-12B, Cx. 50, Lº569, fls. 90-91

( 20 ) - Idem, HSO, Mç. 5 nº 72

SIGLAS

IAN/TT - Instituto de Arquivos Nacionais/Torre do Tombo

HSO - Habitações do Santo Ofício

RP - Registos Paroquiais

AHU - Arquivo Histórico Ultramarino

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «CALÇADA DOS BARBADINHOS [ VIII ] - PALÁCIO VASCO LOURENÇO VELOSO (3)»

sábado, 2 de abril de 2011

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ VI ]

Calçada dos Barbadinhos - (1998) Foto de António Sachetti ( Uma vista do PALÁCIO VASCO LOURENÇO VELOSO - já com alterações - , situado na RUA CRUZ DE SANTA APOLÓNIA com esquina para a CALÇADA DOS BARBADINHOS) in CAMINHO DO ORIENTE.
Calçada dos Barbadinhos - (1998) - Foto de António Sachetti (Pedras de armas no portal-janela da entrada do PALÁCIO DE VASCO LOURENÇO VELOSO, na RUA CRUZ DE SANTA APOLÓNIA e esquina com a CALÇADA DOS BARBADINHOS) in CAMINHO DO ORIENTE
Calçada dos Barbadinhos - (Post. a 1780) - (Nesta carta posterior a 1780, começa-se a delinear a urbanização do VALE DE SANTO ANTÓNIO, existindo já a calçada dos barbadinhos. O espaço assinalado no Nº 145 representa a Igreja e o Convento dos Barbadinhos Italianos, na sua retaguarda a horta. Com o Nº 144 era o CONVENTO DE SANTA APOLÓNIA e IGREJA. O rectângulo frente a Santa Apolónia era a delimitação do Palácio Vasco Lourenço Veloso. in CAMINHO DO ORIENTE.

(CONTINUAÇÃO)

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ VI ]

«PALÁCIO VASCO LOURENÇO VELOSO ( 1 )»

O «PALÁCIO VASCO LOURENÇO VELOSO» um volumoso conjunto de edifícios anteriormente usados pela «FÁBRICA DA COMPANHIA LISBONENSE DE TABACOS» e sua continuadas, até ao início da década de trinta do século XX.

Em Março de 1938 dava entrada neste espaço, o «COMANDO GERAL E BATALHÃO Nº 1 DA GUARDA FISCAL» que aí começava a funcionar. No entanto só em 1961 se realizava a sua total integração.

Nesta momento, vamos encontrar neste antigo palácio o «COMANDO-GERAL DA G.N.R.» Repartição de Recrutamento e Concursos, com entrada pela «RUA CRUZ DE SANTA APOLÓNIA», esquinando para a «CALÇADA DOS BARBADINHOS».

Este palácio encerra uma complexa história de usos e funções que aconteceram na história de LISBOA.

Os terrenos foram aforados às «COMENDADEIRAS DE SANTOS-O-NOVO», por volta do século XVIII. «VASCO LOURENÇO VELOSO» fez erguer um grande casarão para residência própria e, tudo nos faz crer que também se destinava a armazém para apoio às suas actividades comerciais ou ainda possivelmente para residência dos seus funcionários.

Uma pequena parcela deste terreno não fazia parte do conjunto original, tratava-se efectivamente do prédio de esquina com a «CALÇADA DOS BARBADINHOS», em litígio de posse no século XVIII com o vizinho fronteiro o «CONVENTO DE SANTA APOLÓNIA».

É precisamente numa fatia desse terreno, cedido pelas freiras, que se virá a abrir a referida Calçada, indispensável para o acesso ao novo «CONVENTO DOS BARBADINHOS ITALIANOS».

Após o Terramoto de 1755, o resto da parcela de terreno já aparece construído e integrada na propriedade do «VASCO LOURENÇO VELOSO», possivelmente em comum acordo com as freiras de «SANTA APOLÓNIA».

Surge-nos, assim, o «PALÁCIO VELOSO» como uma espécie inesperada de sede de uma grande empresa comercial, com ligações espalhadas por todo o vasto perímetro do Império português e com activas ramificações nos meios europeus.

No entanto, curiosamente o seu aspecto estético exterior, em nada o diferencia do modelo dos grandes palácios da aristocracia portuguesa.

Edifício de grandes proporções, com idêntica glorificação do andar nobre, possivelmente destinado à residência particular do senhor, e afirmação de propriedade feita através do eixo de entrada, marcado por um belo portal/janela de cuidado desenho, sobreposto a indispensável pedra de armas identificadora.

As armas conjugadas das famílias, representam «VELOSO E REBELO PALHARES», sendo portanto referidas a «TOMÁS VELOSO REBELO PALHARES» filho do construtor.


.(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «CALÇADA DOS BARBADINHOS [ VII ] - PALÁCIO VASCO LOURENÇO VELOSO ( 2 )».