quarta-feira, 20 de abril de 2011

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XI ]

Calçada dos Barbadinhos - (2009) As "Casas pequenas" dos senhores de Pancas/Palha, situadas no início da Calçada dos Barbadinhos. Com a Pedra de Armas da PALHA no seu cunhal e hoje uma continuação dos seus descendentes, a família Pereira Palha Van Zeller) in GOOGLE EARTH


Calçada dos Barbadinhos - (2009) (Rua de Santa Apolónia, à nossa esquerda a Rua da Cruz de Santa Apolónia e o início da Calçada dos Barbadinhos, junto as "casas pequenas" dos senhores de Pancas) in GOOGLE EARTH

Calçada dos Barbadinhos - (200_) Autor não identificado (Início da Calçada dos Barbadinhos à direita o Palácio Pancas) in MARCAS DAS CIÊNCIAS
Calçada dos Barbadinhos - (1973) Foto de Vasco Gouveia de Figueiredo ( Portão a nascente do Palácio Pancas/Palha junto à Calçada dos Barbadinhos) in AFML

Calçada dos Barbadinhos - (1968) Foto de Armando Serôdio (Brasão do Palácio Pancas/Palha, do século XVII) in AFML

(CONTINUAÇÃO)

CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XI ]

«O PALÁCIO DOS SENHORES DE PANCAS/PALHA»

As chamadas «CASAS PEQUENAS» dos senhores de «PANCAS», como são referidas na documentação, situam-se junto à antiga entrada da quinta, esquinando para a «CALÇADA DOS BARBADINHOS». Esta propriedade hoje autónoma (após a venda do restante palácio em 1968 à CML), foi muito aumentada nas suas dependências por iniciativa da família «PEREIRA PALHA», ao longo do século XIX, que continua na posse dos seus descendentes, hoje família «PEREIRA PALHA VAN ZELLER».

Do Inventário, retirámos a parte que diz respeito às "CASAS NOBRES MISTÍCAS"..."ao palácio, e respectiva horta, pertencentes ao mesmo casal, situavam-se ao lado do norte da «RUA DIREITA DE SANTA APOLÓNIA», e torneava pelo lado do nascente com a "Cerca dos Barbadinhos Italianos" e consta o seu prédio urbano de uma casa nobre que se compõe de um pavimento de lojas em cinco casas, nas quais entra cocheira , cavalariça, e acomodações de criados, e a face da «CALÇADA DOS BARBADINHOS» tem serventia para uma sobre loja dividida em duas casas, e por cima de todo o referido, e parte em chão firme, há um pavimento de sobrado dividido em dez casas, e mais o seu oratório, e por cima da parte da área das ditas há um segundo pavimento dividido em cinco casas, e da cozinha, que é no primeiro pavimento, para a parte do nascente, tem um pátio, e nele dois telheiros, e em um d'eles tem seu forno, e no mesmo pátio uma conserva de água, que vem do poço da horta, que se reparte para a cozinha e cavalariça. O prédio rústico consta de chão de horta em três tabuleiros com socalcos, com suas parreiras em roda no primeiro tabuleiro(...), parte d'elas sobre pilares de pedra, poço de nora e tanque (...), uma cavalariça grande para dez bestas, e por cima d'ela uma casa, que serve de palheiro. A horta é toda murada em roda, e à face da «CALÇADA DOS BARBADINHOS» com umas casas baixas.

A titularidade da casa «PALÁCIO DOS SENHORES DE PANCAS/PALHA» não foi questão pacifica. Em 5 de Abril de 1802, «D. MARIA BALBINA» recebeu a administração vitalícia da fazenda de PANCAS. Contudo a sucessão do morgado de «PANCAS» competia a «D. MARIA LEONOR MANUEL DE VILHENA» bisneta de «D. INÊS MARIA DE MELO», irmã de «CRISTÓVÃO DA COSTA FREIRE», e casada com «JOSÉ SEBASTIÃO DE SALDANHA OLIVEIRA E DAUM» depois «CONDE DE ALPEDRINHA» ( 1 ), autor de uma memória histórica sobre esta causa. O processo de inventariação prolongou-se, o Palácio foi arrendado já que se tratava de um grande prédio, podendo assim retirar-se algum rendimento.

Na «GAZETA DE LISBOA» foram publicados alguns anúncios, referidos por «CASTILHO». No início do século XIX realizou-se o leilão das carruagens e bestas da «CASA DE PANCAS». Em 1815, por fim, anunciava-se a venda do Palácio. O «PALÁCIO DOS SENHORES DE PANCAS/PALHA» (excluindo a parte que se encontra na esquina da "CALÇADA DOS BARBADINHOS", as chamadas "CASAS PEQUENAS"), depois de restaurado este imóvel do século XVIII, foi levado a "haste pública" no dia 19 de Outubro de 2010, por 4 milhões de Euros, destinado exclusivamente à hotelaria. Sabemos que não existiu licitação para o imóvel.

( 1 ) - 1º CONDE DE ALPEDRINHA (30.08.1854), filho do 1º Conde de RIO MAIOR, escreveu a "MEMÓRIA HISTÓRICA" sobre a origem, progresso e consequências da famosa causa de denúncia da coutada e morgado de «PANCAS», etc. LONDRES (1811).
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «CALÇADA DOS BARBADINHOS [ XII ]-BARÃO DO MONTE PEDRAL»






11 comentários:

Gracioso disse...

Caro APS
Casas pequenas e de entrada difícil.
Recordo-me da senhora Maria do Carmo.
Ela era só Van Zeller por aliança.
As "casas pequenas" recolheram famílias de húngaros (1956).
Conheci os gémeos Nuno e João e o mais novo.
O Bruno, mais novo, tinha já o apelido completo de van Zeller Pereira Palha.
A mãe, a Dona Maria do Carmo, distribuiu nos anos 50 e 60 alimentos da Cáritas americana nas instalações da igreja.
Se compreendi bem, o edifício junto à Calçada dos Barbadinhos continua a ser propriedade da família Van Zeller mas a parte na Rua de Santa Apolónia que vai até à Travessa do Recolhimento Lázaro Leitão é que pertence agora à CML.
Interessante e instrutivo o seu descriptivo.
Não me lembro de lá ter entrado mas é possível que sim. Com o tempo perco a memória.
Um abraço
Gracioso

APS disse...

Caro Gracioso
Efectivamente o edifício que esquina com a «CALÇADA DOS BARBADINHOS» e casas na parte de trás, são ainda hoje propriedade da família VAN ZELLER. O outro edifício que fica situado na «RUA DE SANTA APOLÓNIA» e termina na «TRAVESSA DO RECOLHIMENTO DE LÁZARO LEITÃO» é propriedade da CML e estava à venda (em Outubro de 2010) por 4 milhões de Euros.
Obrigado por ter acrescentado ao blogue, os seus valiosos conhecimentos da sua juventude.
Desejo para si e sua família uma PÁSCOA FELIZ!

Um abraço
APS

Anónimo disse...

Caro Gracioso
Mais ou menos correcto. De facto este palacio ainda pertence a familia Van Zeller e eu sou uma das donas. A entrada principal nao e nada dificil, tem uma porta bastante grande e larga que da acesso a uma escadaria para os andares de cima. A casa, alem da porta principal, tem varias portas secundarias. Talvez se tenha referido a essas entradas. Achei interessante encontrar este blog puramente por acaso pois, vivo nos USA.
De facto a minha familia recolheu uma familia refugiada hungara em 1956. Nao foi somente a minha tia Maria do Carmo como tambem a minha tia Conceicao e a minha Mae Maria Inez que,nesses tempos conturbados, fizeram o melhor que puderam para ajudar os que mais precisavam.
M.T.VanZeller

Gracioso disse...

Estimada Cara Senhora M.T. Van Zeller
Desde então já correu mais de meio século e concedo que a memória me falha e que poderei ter trocado detalhes.
Eu andei na catequese com os gémeos que têm um dia a mais do que eu que sou do dia 24 de Setembro do mesmo ano claro e andaram comigo na catequese.
A senhora que eu conheci com mais actividade da família Van Zeller, foi a mãe deles que penso ter sido a Senhora Dona Maria do Carmo, a menos que eu esteja enganado e fosse a sua Mãe Maria Inez.
Já lá vai tanto tempo !
Em todo o caso, esta Senhora mãe deles, sempre a conheci duma generosidade fora do comum.
Aliás não foram só os húngaros beneficiários mas também jovens carenciados de origem local.
Cheguei a entrar no palácio mas não muitas vezes e até só no jardim.
Por isso a minha menção de "entrada difícil" não se referia a termos arquitectónicos mas sim à convivência dos jovens nessa altura e frequência de casas.
Será também isto que explicará porque não me lembrar de todos os nomes.
Em todo o caso, rogo-lhe a sua anuência pelo meu termo de "entrada difícil" que as práticas culturais de então, o justificavam. Sempre tive o maior respeito com a família Van Zeller de quem até através a Sr.a Dona Maria do Carmo testemunho da minha gratidão mais de meio século depois.
Tal como a Senhora, resido no estrangeiro e também achei interessante encontrar este blog que o seu autor e amigo, Senhor Agostinho, mantém viva uma memória colectiva, património imaterial comum, já que vidas e interesses actuais têm dividido geograficamente testemunhos do século passado. Eis por isso é de louvar a árdua tarefa do Senhor Agostinho neste blog que nos une na memória.
Cordialmente
José Gracioso

APS disse...

Cara M.T. Van Zeller
Muito me enaltece saber que em (2012) o Palácio antigamente chamado de "Casas Pequenas" dos senhores de «PANCAS», ainda permaneça na posse dos descendentes de «PEREIRA PALHA», a família "VAN ZELLER".

Creio ter obtido da parte do amigo «GRACIOSO» a justificação pretendida, e tal como a senhora «M.T.VAN ZELLER» vive nos USA, o senhor «GRACIOSO» também reside no estrangeiro.

Podemos agradecer a este "poderoso" invento que é a «INTERNET», estarmos a discutir um assunto com mais de cinquenta anos, entre duas pessoas portuguesas radicadas no estrangeiro, passando a divulgação por Portugal.
O progresso é contagioso!
Bem-haja!
APS

Anónimo disse...

Caro Sr. Gracioso
Agradeco com alegria o seu comentario sobre as suas boas recordacoes. Os gemeos Joao, Nuno mais o irmao Bruno, sao meus primos direitos e, sao os mais novos de 11 irmaos. Ao todo naquela casa eramos 18 netos da nossa avo. Andamos todos na mesma catequese, uns mais novos, outros mais velhos mas, todos la andamos e onde fizemos a nossa primeira comunhao etc., lembro-me muito bem desses tempos com optimas recordacoes. Folgo muito em saber que o Sr. tambem as tem. Realmente, tanto a minha Mae, como as minhas Tias foram muito generosas e dedicadas aos trabalhos sociais da freguesia.
Concordo consigo no que diz respeito a entrada dificil, nesse tempo era assim, eu interpretei mal a sua frase e depreendi que se referia a entrada fisica da casa. Peco desculpa.
Eu venho constantemente a Portugal e mantenho os meus aposentos na dita casa. Infelizmente nos tempos que vao correndo, cada vez se torna mais dificil e dispendioso a manutencao de palacios como o nosso.
Tambem agradeco ao Sr. Agostinho que, segundo percebi e o autor deste blog, o ter mencionado o palacio da minha familia, onde nasci e que, gracas a internet tive a oportunidade de ler e comunicar.
Obrigada pelos comentarios
M.T.VanZeller

gracioso disse...

Cara Senhora MT Van Zeller
Agradeço os seus comentários.
Depois falei com a minha irmã que foi para a Calçada dos Barbadinhos em 1931.
Ela falou com a madrinha do meu sobrinho, senhora com mais de 90 anos de idade.
Ambas afirmaram textualmente, a propósito da sua família "gente muito bondosa".
Tanto uma como outra foram ao seu parque "buscar folhas para o bicho da seda".
Isto entre os anos 1925 e 1935.
Será então por isto que eu também lá fui mas nos anos 50.
Fui eu que me expliquei mal no meu comentário de 2011.
Quanto aos nomes, efectivamente Bruno é um nome que me lembro bem.
Não entendi se eram João e Nuno os gémeos. Bruno não seria mais novo ?
Recordo-me que os gémeos vinham muitas vezes com um casacão castanho com capucho.
As catequistas eram a Dona Mascarenhas da Rua da Cruz, irmãs de caridade e a Dona Georgina, professora na escola de Santa Clara onde o Sr. Agostinho passou o exame de 4ª classe.
Era numas celas junto a uma sala, onde mais tarde se ergueu um palco.
Antes era uma cela onde se preparavam flores. Isto do tempo do Sr. Prior Borges.
Também resido no estrangeiro e tenho uma pequeníssima propriedade em Portugal. Faço ideia que a manutenção de palácios como o seu, é caríssimo.
Cordialmente
Gracioso

M.T.VanZeller disse...

Caro Sr. Gracioso
Realmente ha uma grande amoreira onde as creancas da freguesia iam apanhar folhas para os respectivos bichos da seda. Lembro-me muito bem nos anos 50, antes disso eu era muito pequenina, nao me recordo. No tempo das amoras, tambem la iam colhe-las. Tambem me lembro que, os meus primos e eu, nos punhamos em cima do muro para atirar amoras a parede da frente que era o Quartel Geral da Guarda Fiscal e agora e Guarda Nacional Republicana. Tentavamos escrever palavras com as amoras esburrachadas de encontro a dita parede, ate sermos apanhados e fugirmos cada um para seu lado. Recordacoes....recordacoes...
Infelizmente, nos tempos de agora, como nao ha dinheiro que chegue para tudo, o palacio esta um bocado degradado, mas, vivivel. O jardim esta pior, esta uma autentica selva. Tenho um grande desgosto, mas, e um facto. Quando estou em Portugal, estou mais tempo numa propriedade que tenho no Alentejo so quando vou a Lisboa, entao vou para o palacio.
Ainda sou dos tempos aureos em que estava tudo impecavel. Nos as netas da minha Avo, eu incluida, casamos la pois, temos capela e os copos de agua respectivos foram nos saloes e jardim que, claro nessas alturas estavam lindos.
O Joao e Nuno sao os gemeos e o Bruno e um ano mais novo que eles.
Enfim.....haja saude que, ainda e o mais importante.
Cumprimentos
M.T.VanZeller

PS Com certeza que ja percebeu que tenho teclado ingles portanto nao tenho acentos nem cedilhas.
Detesto assassinar a nossa lingua.

Unknown disse...

Boa tarde cara M.T.VanZeller,

Tomo a liberdade de lhe escrever esta mensagem, utilizando este blog, para lhe colocar uma questão que embora lhe possa parecer tolice, tenho uma pequena esperança que talvez consiga dissipar-me: eu fui aluna na Escola Industrial Afonso Domingues e nessa instituição fui aluna de uma senhora que me marcou profundamente pela sua imensa capacidade de ensinar e ouvir os alunos; acarinhar e puxar sempre mais por cada um deles; ser firme mas de uma generosidade ímpar: a Sra. Professora Georgina VanZeller, professora de História.
Uma Senhora elegante, muito distinta e bonita, que nunca esqueci e que ainda hoje guardo com um carinho imenso. Não sei se porventura será sua familiar e daí a minha questão, uma vez que as voltas da vida fizeram com que perdesse todo o contacto com a Professora VanZeller (na época não haviam por cá telemóveis nem, imagine-se (!) redes sociais :) e portanto, não sei nada dela há muitos anos.

Era essa a minha questão: será que conhece esta senhora?

Muito obrigada e desculpe desde já o atrevimento :)
Ana Amorim

Unknown disse...

Boa tarde a todos que postaram comentários sobre este palácio.
Eu estou a trabalhar num projecto de musealização do acervo da Igreja de Santa Engrácia.
Gostaria de saber se por acaso andaram na catequese na Igreja de Santa Engrácia e em que ano, e em caso afirmativo se não se importariam de partilhar memórias desse tempo, para incluir num projecto expográfico em preparação nas dependências desta igreja.
Agradeço antecipadamente. Maria Monsalve.

M.T.VanZeller disse...

Boa Tarde Maria Monsalve

Li agora o seu comentario sobre um projecto de musealizacao do acervo da Igreja de Santa Engracia onde pede a colaboracao de alguem que tenha andado na catequese na dita Igreja. Eu realmente andei nessa catequese pois, Santa Engracia era a freguesia da minha casa. Ja la vao muitos anos, pois, eu fiz a primeira comunhao, se nao me engano, em 1948 portanto andei na catequese uns anos antes.
Se calhar, esta informacao e demasiado tarde para o seu projecto. Se por acaso ainda for a tempo e quizer comunicar comigo, sera melhor atraves de e-mail pois, eu vivo nos Estados Unidos e nem sempre vejo os blogs.
Meu mail Vanzellart@aol.com
Cumprimentos
M.T.VanZeller