sábado, 28 de novembro de 2009

RUA DA MISERICÓRDIA [ II ]

Rua da Misericórdia - (2009) - Foto de APS (A Rua da Misericórdia com seus edifícios em obras) ARQUIVO/APS
Rua da Misericórdia (s/d) - Foto de Eduardo Portugal (Rua da Misericórdia esquina para o Largo da Trindade onde no número 16 S/Loja, nos anos 50 e 60 do século passado, ali funcionou o «SINDICATO NACIONAL DOS EMPREGADOS DE ADMINISTRAÇÃO E REVISORES DA IMPRENSA» in AFML

Rua da Misericórdia - (entre 1898 a 1908) Fotógrafo não identificado (Antiga Rua Larga de S. Roque hoje Rua da Misericórdia) in AFML


Rua da Misericórdia - (entre 1898 a 1908) Fotógrafo não identificado (Antiga Rua Larga de São Roque) in AFML
(CONTINUAÇÃO)
RUA DA MISERICÓRDIA [ II ]
«RUA LARGA DE SÃO ROQUE (2)»
Podemos até lançar um breve olhar ao «BAIRRO ALTO», que nos fica bem ao lado da «RUA LARGA DE SÃO ROQUE».
Podíamos dizer que a «RUA DA MISERICÓRDIA» de "Misericórdia" nada lhe assiste dessa notabilíssima instituição.
Mas podemos falar da «RUA DO MUNDO» esse topónimo funcionou enquanto o JORNAL ali habitou.
Ainda sobre a «RUA LARGA DE SÃO ROQUE» tivemos ocasião de analisar as providências que o «MARQUÊS DE POMBAL», depois do terramoto de 1755, procurou introduzir nesta rua.
A «RUA LARGA DE SÃO ROQUE» até ao LORETO.
"Tendo esta Rua em muitas partes uma disforme largura, e excedendo em todas as mais partes os cinquenta e quatro palmos que lhe hão-se dar para ficar em proporção com a «RUA DAS PORTAS DE SANTA CATARINA», e devendo alargar-se as Travessas que vão, por um lado, para a «IGREJA DA TRINDADE», e pelo outro para a «RUA DAS GAVEAS», se podem indemnizar os donos dos terrenos que forem devassados, compensando-se-lhes palmo por palmo naquelas terrenos excessivos, o que se lhes tomar nos que são necessário, e permitindo-se-lhes se avancem até às extremidades da nova Rua, que se deve fundar com cinquenta e quatro palmos de largura somente". (1)

Diz-nos também o olisipógrafo Engenheiro «A. VIEIRA DA SILVA» no seu livro «A CERCA FERNANDINA DE LISBOA», Volume I, 2ª Ed. (CML)- Lisboa - 1987, nas páginas 150 a 151: "«RUA DA MISERICÓRDIA» - A RUA LARGA DE SÃO ROQUE foi mandada abrir por carta de «D.SEBASTIÃO» para o SENADO da CÂMARA, datada de 8 de Janeiro de 1569 (2). Sucedeu a um antigo antigo caminho que das «PORTAS DE SANTA CATARINA» subia pela encosta do monte de «SÃO ROQUE» para os moinhos de vento e arrabaldes ao norte da cidade. Chamava-se, como já vimos, «RUA DIREITA DO MOSTEIRO DE S. ROQUE» ou Rua pública que vai de «NOSSA SENHORA DO LORETO» para «SÃO ROQUE», ou «RUA DE SÃO ROQUE» (3), ou «RUA LARGA DE SÃO ROQUE» (4), denominação esta que perdurou até à implantação do regime republicano. Mudou-se-lhe então o topónimo para «RUA DO MUNDO» e depois para «RUA DA MISERICÓRDIA» (5).

- (1) - TERRAMOTO DE LISBOA DE 1755 - Fundação Luso-Americana (Editora Público/FLAD - Volume 3, página 281 - Lisboa - 2005.

- (2) - Livro 2º de El-Rei D. Sebastião, pág. 49, citado por Matos Sequeira em «O CARMO E A TRINDADE»m Volume I, página 278.

- (3) - «SUMMÁRIO», etc., por C.R. de Oliveira, Rd. de 1755, pág. 22.

- (4) - Corografia Portuguesa, pelo Pe. A. Carvalho da Costa, Tomo III, 1763, página 473.

- (5) - Deliberações Camarárias, respectivamente de 29 de Outubro de 1910 e de 12 de Agosto de 1937, e editais respectivamente de 18 de Novembro de 1910 e de 19 de Agosto de 1937.

(CONTINUAÇÃO) - (PRÓXIMO) - «RUA DA MISERICÓRDIA [ III ] - AS ALTERAÇÕES DO NOME DA RUA».




quarta-feira, 25 de novembro de 2009

RUA DA MISERICÓRDIA [ I ]

Rua da Misericórdia - (1905) Fotógrafo não identificado (Rua de S. Roque, depois Rua do Mundo e hoje Rua da Misericórdia) (Postal ilustrado de Faustino A. Martins).
Rua da Misericórdia - (1948 ?) Desenho do Engº A. Vieira da Silva publicado no livro «A CERCA FERNANDINA DE LISBOA» ( DO POSTIGO DE S. ROQUE AO POSTIGO DA TRINDADE - MAPA IX - (O tracejado a verde representa a "RUA DA MISERICÓRDIA") uma edição da C.M.L.

Rua da Misericórdia - (1948 ?) Desenho do Engº A. Vieira da Silva publicado no livro «A CERCA FERNANDINA DE LISBOA» ( DO POSTIGO DA TRINDADE ÀS PORTAS DE SANTA CATARINA - Mapa XI - (O tracejado a verde indica a Rua Larga de S. Roque, mais tarde Rua de S. Roque, depois Rua do Mundo e actualmente Rua da Misericórdia) uma edição da C.M.L.
RUA DA MISERICÓRDIA [ I ]
«A RUA LARGA DE SÃO ROQUE (1)»
A «RUA DA MISERICÓRDIA» pertence a duas freguesias. À freguesia da «ENCARNAÇÃO» os números ímpares. Na freguesia do «SACRAMENTO» todos os números pares. Começa na «PRAÇA LUÍS DE CAMÕES» no número 48 e termina no «LARGO TRINDADE COELHO» no número 9.
Á «RUA DA MISERICÓRDIA» foi atribuído este topónimo por deliberação camarária de 12/08/1937 e respectivo Edital de 19/08/1937, para homenagear a «SANTA CASA DA MISERICÓRDIA» que se encontra mais a Norte da rua.
Ainda outras designações tinham conhecido esta artéria. «RUA DO MUNDO» (por deliberação Camarária de 27/10/1910 e edital de 18(11/1910), para perpetuar o nome do Jornal que estava sediado neste arruamento e ainda antes designava-se «RUA DE SÃO ROQUE» (deliberação camarária de 18/05/1889 e Edital de 08/06/1889), sendo esta artéria chamada inicialmente por «RUA LARGA DE SÃO ROQUE», em memória da Igreja e Convento de São Roque, que tinha dado nome ao sítio.(1)
A «RUA LARGA DE S. ROQUE», chama-se hoje «RUA DA MISERICÓRDIA». Mas existe uma diferença: enquanto a rua actual termina no «LARGO TRINDADE COELHO» (vulgarmente também conhecido por «LARGO DA MISERICÓRDIA», a antiga rua prolongava-se até sensivelmente ao sítio onde temos agora o «ELEVADOR DA GLÓRIA».
Diz-nos «NORBERTO DE ARAÚJO» mas suas «PEREGRINAÇÕES EM LISBOA» livro VI, página 52 que: "Recuando ao século XVI, ao tempo em que isto era uma encosta a urbanizar-se, ainda com arvoredos e lombas secas, à época em que D. Sebastião fez abrir, municipalizada, esta serventia solene a-par da «TRINDADE», da Casa professa, e à ilharga dos Carmelitas. Então era a «RUA LARGA DE SÃO ROQUE»".
Podemos concluir que de «S. ROQUE» não encontramos quaisquer vestígios na Toponímia local. Quanto ao «LARGO», chama-se «DE TRINDADE COELHO», a nossa RUA hoje tratada chama-se da «MISERICÓRDIA», a outra parte da rua que lhe pertencia até ao elevador passou a chamar-se de «S. PEDRO DE ALCÂNTARA».
Os prédios que bordejam esta rua (mandada abrir por D. SEBASTIÃO) são quase todos do século XIX, (chamado de «POMBALINO TARDIO» alguns mesmo construídos sobre os escombros do terramoto do século XVIII, não possuindo interesse de referência.
No século de Quinhentos uma boa parte destes terrenos urbanos em paralelo com o «BAIRRO ALTO», parece que pertenciam aos frades da Trindade.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DA MISERICÓRDIA [ II ] - A RUA LARGA DE SÃO ROQUE (2)»

sábado, 21 de novembro de 2009

RUA DA BICA DE DUARTE BELO [ IX ]

Rua da Bica de Duarte Belo - (2009) Foto de CURLY Z (Parte final da Rua da Bica de Duarte Belo) in A MINHA BICA
Rua da Bica de Duarte Belo - (2007) Foto de Giuseppe Maria Galasso (Ascensor da Bica) in TREKEARTH

Rua da Bica de Duarte Belo - (anos 50 do séc. XX) (Fotógrafo não identificado) (Fernando Farinha "o miúdo da Bica") in GENTE DO FADO


Rua da Bica de Duarte Belo (Fotógrafo não identificado) (GRUPO EXCURSIONISTA "VAI TU" Bica - fundado em 1948) in MUSEU DAS COLECTIVIDADES
(CONTINUAÇÃO)
RUA DA BICA DE DUARTE BELO [ IX ]
«A BICA DE TODOS OS TEMPOS»
Um estudo feito pela antropóloga Drª «GRAÇA DIAS CORDEIRO» no seu livro «UM LUGAR NA CIDADE» retrata o quotidiano, a memória e a representação no «BAIRRO DA BICA».
Nesta livro é mostrada uma visão bastante actual do bairro, relatando também um pouco da sua história.
Uma de entre várias identificações foi a autora conseguir interpretar plenamente a divisão do «BAIRRO DA BICA» em três partes. Como se segue: «BICA DE CIMA»; «BICA DE BAIXO» e «BICA DO LADO DE LÁ DO ELEVADOR».
As três partes do bairro dividem-se de acordo com as três Colectividades existentes. O «VAI-TÚ» representa a (BICA DE CIMA), o «MARÍTIMO» defende a (BICA DE BAIXO) e o «ZIP-ZIP» está afecto à (BICA DO LADO DE LÁ DO ELEVADOR), formam uma espécie de núcleo de cada parte e cada uma delas alberga a sua própria "família", seja pela localização das casas ou pela identificação com os respectivos clubes.
O «GRUPO EXCURSIONISTA VAI-TÚ» fundado em 1948, tem a sua sede na «RUA DA BICA DE DUARTE BELO» no número seis, está inscrita na Federação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio e teve o seu inicio na taberna do (JOÃO MARIA), na «RUA DOS CORDOEIROS».
O «MARÍTIMO LISBOA CLUBE» fundado em um de Outubro de 1944, também está inscrito na mesma Federação e tem a sua sede na «CALÇADA DA BICA GRANDE» no número trinta e seis cave direito.
A terceira colectividade o «GRUPO DESPORTIVO ZIP-ZIP» fundado em 1974, tem a sua sede na «RUA DOS CORDOEIROS».
E assim estas pessoas vão ganhando raízes afectivas ao lugar e criando ao mesmo tempo pequenas rivalidades com as pessoas dos outros núcleos, o que faz com que a «BICA» pareça uma pequena povoação dividida em três aldeias.
Como curiosidade vamos acrescentar uma história que se conta em tom jocoso, lembrando a existência de um velho portão de ferro ao fundo das escadinhas, que se fechava à noite e assim defendia o «BAIRRO» de estranhos.
É de realçar que foi encontrado em ambos os edifícios setecentistas ao fundo da escadaria, tornejando para a «RUA DE SÃO PAULO», as reentrâncias na pedra onde teria eventualmente encaixado o respectivo portão.
A explicação é um pouco demonstrada por um destes edifícios setecentistas, ter sido um «RECOLHIMENTO DE MULHERES DE NOSSA SENHORA DOS AFLITOS», o que nos leva a pensar sobre a existência de uma pequena horta ou quintal sobre o qual fecharia o referido portão. Este portão poderá reforçar a ideia de que a «BICA», embora não possa ser considerada uma vila ou um pátio, de um ponto de vista estritamente urbanístico, no seu ambiente cultural e vivencial assume claramente um elevado grau de fechamento e protecção em relação ao exterior, bem testemunhado aliás, pela permanência de memórias sobre a origem e manutenção deste mundo à parte.
--//--
Não queríamos finalizar este trabalho sem nos referirmos a uma pessoa que na vida artística, tão bem representou o «BAIRRO DA BICA». Trata-se de «FERNANDO TAVARES FARINHA» (o miúdo da Bica) nascido no «BARREIRO», foi com seus pais para o «BAIRRO DA BICA» com 4 anos. ( ver mais aqui)
Deixo aqui a letra de um fado bastante popular ao tempo, que a voz de «FERNANDO FARINHA» tão bem soube dignificar. «BELOS TEMPOS» letra de «FERNANDO FARINHA» música de «JÚLIO DE SOUSA» (fado Loucura).
BELOS TEMPOS, QUEM ME DERA/ VOLTAR À VELHA UNIDADE/ DO RETIRO DA SEVERA/ TER AINDA, O CARINHO/ DESSE GRANDE COMANDANTE/ QUE SE CHAMOU ARMANDINHO/ VER NOVAMENTE, CANTADORES E CANTADEIRAS/ NAQUELE GRUPO VALENTE/ QUE DEU BRADO NAS FILEIRAS/ E OUVIR TAMBÉM/ALGUÉM CHAMAR NA PARADA/ PELO "MIÚDO DA BICA"/ E EU RESPONDER À CHAMADA.
BIBLIOGRAFIA
- Araújo, Norberto de - Peregrinações em Lisboa, Livro XIII, Lisboa
- Cordeiro, Graça Índias - Um Lugar na Cidade - Pub. Dom Quixote - 1997 - Lisboa
(PRÓXIMO) - «RUA DA MISERICÓRDIA [ I ] - RUA LARGA DE SÃO ROQUE (1)»

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

RUA DA BICA DE DUARTE BELO [ VIII ]

Rua da Bica de Duarte Belo - (2009) - Foto de APS (Elevador da Bica) ARQUIVO/APS
Rua da Bica de Duarte Belo - (2002) - Foto de Andres Lejona (O elevador da Bica na parte Norte da Rua) in AFML

Rua da Bica de Duarte Belo - (2008) - Foto de Mário Lopes (Início do elevador da Bica entrada pela Rua de S. Paulo) in TRANSPORTES EM MOVIMENTO


Rua da Bica de Duarte Belo - (1959) Foto de Fernando de Jesus Matias (Ascensor da Bica inaugurado em 1892) in AFML
(CONTINUAÇÃO)
RUA DA BICA DE DUARTE BELO [ VIII]
«A HISTÓRIA DO ELEVADOR DA BICA (2)»
Só em 1912, após a assinatura de um novo contrato com a Câmara Municipal de Lisboa autorizando a modificação, foi possível acordar com a «LISBON ELECTRIC TRAMWAYS, LIMITED» e a «COMPANHIA CARRIS» a exploração da «CENTRAL ELÉCTRICA DE SANTOS» e assim resolver o problema do fornecimento de energia eléctrica indispensável.
O processo adoptado era extensivo aos ascensores do «LAVRA», «BICA» e «GLÓRIA».
Em cada um funcionariam dois carros ligados por um cabo, de forma a contrabalançarem-se no seu peso.
A via compunha-se de dois carris exteriores em que assentavam os rodados dos carros e de outros dois, limitando uma fenda onde passava o cabo.
Cada carro era provido de um grampo que o ligava ao cabo e de um poderoso freio de garra que actuava apertando os carris centrais entre duas sapatas, uma pela parte inferior e outra pela superior. Para além desta existia ainda outro freio funcionando por pressão sobre os carris.
Pesavam cerca de 10 toneladas e eram accionados por meio de dois motores eléctricos, ligados em série, de forma que um carros só se podia pôr em movimento com a manobra conjunta dos guarda-freios de ambos, bastando contudo a manobra de um só para os imobilizar. Eram fechados, com dois bancos longitudinais e entrada pela plataforma de uma das extremidades.
Quando em 12 de Outubro de 1916, junto ao «LARGO DO CALHARIZ», se ultimavam os trabalhos e se procedia ao assentamento de um dos carros sobre os carris, o mau funcionamento dos travões precipitou-o, após uma descida descontrolada, de encontro à Estação da «RUA DE SÃO PAULO», onde se despedaçou.
Em consequência deste acidente o «ASCENSOR DA BICA» permaneceu inactivo durante vários anos até que, em 1923, a «CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA» exigiu que voltasse a funcionar.
O sistema que então foi adoptado diferia do anterior por terem sido suprimidos os motores dos carros, os quais passariam a ser accionados por um motor instalado num subterrâneo da Estação do «LARGO DO CALHARIZ».
Os carros de um novo modelo, foram fornecidos pela firma «THEODORE BELL». Eram constituídos por um leito e rodado de aço em que assentavam as caixas, abertas, construídas em madeira e reforçadas a ferro.
Os bancos, eram transversais e divididos em três compartimentos, dispostos "em plateia", podendo transportar 16 passageiros sentados e 6 de pé na plataforma da retaguarda.
A 27 de Junho de 1927 o «ASCENSOR DA BICA» retomava o serviço. Já então passava a ser propriedade da «COMPANHIA CARRIS». Nos finais do ano anterior a «NOVA COMPANHIA DOS ASCENSORES MECÂNICOS DE LISBOA», após anos de negociações com a «CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA» e a «CARRIS» dissolvera-se, tendo transferido para esta última não apenas a concessão de que era proprietária mas também todo o seu material fixo e circulante.
Acredita-se ter sido já na década de trinta que os carros sofreram algumas alterações assumindo então o seu aspecto actual.
Pela sua importância e significado, o «ASCENSOR DA BICA» como os seus congéneres do «LAVRA» e da «GLÓRIA», foram classificados de Monumento Nacional por Decreto 5/2002 de 19/02/2002.
(Publicado por CARRIS.pt)
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DA BICA DE DUARTE BELO [IX] - A BICA DE TODOS OS TEMPOS»




sábado, 14 de novembro de 2009

RUA DA BICA DE DUARTE BELO [ VII ]

Rua da Bica de Duarte Belo - (2009) Foto de APS ( Vista do Elevador da Bica tirada do Largo do Calhariz) - ARQUIVO/APS

Rua da Bica de Duarte Belo - (2007) - Foto de Carlos Kariz (Entrada Sul no Elevador da Bica) in ORIGENS


Rua da Bica de Duarte Belo - (2003) - Foto de Dias dos Reis (Ascensor da Bica) in DIAS DOS REIS


Rua da Bica de Duarte Belo - (1959) - Foto de Fernando de Jesus Matias (A rua do elevador) in AFML


(CONTINUAÇÃO)


RUA DA BICA DE DUARTE BELO [ VII ]


«A HISTÓRIA DO ELEVADOR DA BICA (1)»


O relevo acidentado de Lisboa foi desde sempre um grave obstáculo à circulação de pessoas e bens entre partes altas e baixas da cidade. Nem mesmo os «AMERICANOS» (carruagens movidas por tracção animal e deslocando-se sobre carris), surgidos nos finais do século XIX, conseguiram responder a este problema de um modo satisfatório.


Com o advento da tracção mecânica surge uma Empresa vocacionada para a sua resolução, a «COMPANHIA DOS ASCENSORES MECÂNICOS DE LISBOA». Fundada em 6 de Junho de 1882 e remodelada dois anos mais tarde, tendo então adoptado o nome de «NOVA COMPANHIA DOS ASCENSORES MECÂNICOS DE LISBOA», dotou a cidade com um conjunto de ascensores funcionando em plano inclinado.


O primeiro foi inaugurado em 1884 na «CALÇADA DO LAVRA», seguindo-lhe o da «CALÇADA DA GLÓRIA» no ano seguinte.
Quando em 20 de Abril de 1888 a «NOVA COMPANHIA DOS ASCENSORES MECÂNICOS DE LISBOA» assinou um novo contrato com a «CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA», obteve a concessão para a instalação de mais um ascensor que, partindo da «RUA DE S. PAULO» pela «RUA DA BICA DE DUARTE BELO», deveria efectuar ligação com o «LARGO DO CALHARIZ».
As obras foram iniciadas em 1890. Em Maio já a instalação da máquina motora estava concluída e em Novembro começava o assentamento das linhas.
Dificuldades de todos os géneros, nomeadamente a instalação do cano colector, abalroamentos e as próprias diferenças de declive, atrasaram a construção. Contudo, após sucessivos adiamentos realizaram-se em 27 de Junho de 1892 as experiências oficiais iniciando-se no dia seguinte o serviço de exploração. O sistema de tracção era de cremalheira e cabo por contrapeso de água. Cada carro estava equipado com um reservatório de água que esvaziava sempre que chegava à «RUA DE S. PAULO» e enchia no «LARGO DO CALHARIZ», de modo que a simples diferença de peso fazia funcionar o sistema. Os carros eram abertos, com nove metros de comprimento e bancos dispostos "em plateia".
Os problemas levantados pelas frequentes faltas no abastecimento de água, obrigando à constante paragem de serviços, fizeram com que, em 1896 a Empresa decidisse substituir o sistema de tracção, passando então a utilizar máquinas a vapor. Estas fornecidas pela firma «MASCHINNENFABRIK » de ESSLINGEN, ALEMANHA, assegurando o serviço até ao momento em que foi decidida a electrificação do sistema.
Já desde 1903 a «NOVA COMPANHIA DOS ASCENSORES MECÂNICOS DE LISBOA», decerto estimulada pelo aparecimento dos eléctricos e pela sua rápida expansão, pedia a empresas estrangeiras orçamentos com vista à electificação.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DA BICA DE DUARTE BELO [VIII] - A HISTÓRIA DO ELEVADOR DA BICA (2)»




quarta-feira, 11 de novembro de 2009

RUA DA BICA DE DUARTE BELO [VI]

Rua da Bica de Duarte Belo - (2009) - (O elevador da Bica) Foto gentilmente cedida por Rafael Santos, autor do blogue DIÁRIO DO TRIPULANTE
Rua da Bica de Duarte Belo - (2005) - Foto de MAF.COM - (Entrada Sul do Ascensor da Bica na Rua de São Paulo) in A MINHA BICA

Rua da Bica de Duarte Belo - (194_) Foto de Manuel Tavares ( O elevador da Bica) in AFML


Rua da Bica de Duarte Belo - (1921) Fotógrafo não identificado ( O elevador da Bica nos anos 20 do século passado) in RESTOS DE COLECÇÃO
(CONTINUAÇÃO)
RUA DA BICA DE DUARTE BELO [ VI ]
«O ELEVADOR DA BICA»
A necessidade da existência de veículos que ajudassem os pobres humanos a subir os íngremes caminhos da cidade de Lisboa foi sentida sempre. Basta olhar para ela: toda aos altos e baixos, Lisboa mete respeito a quem tenha de a percorrer.
Um sacerdote sonhador e amigo das coincidências descobriu-lhe sete colinas, tantas como as de ROMA - «CASTELO», «GRAÇA», «SANTO ANDRÉ», «SANTANA», «SÃO ROQUE», «CHAGAS» e «SANTA CATARINA».
Para além da confusão que faz a qualquer mortal distinguir por exemplo, entre as colinas de «SÃO ROQUE» e das «CHAGAS» (que, afinal, em rigor fazem parte da mesma elevação), cedo se tomou consciência de que as elevações são muito mais; basta lembrar, assim de repente, a «ESTRELA», a «AJUDA», a subida para as «AMOREIRAS» e tantas outras...
Os elevadores, fosse qual fosse a sua natureza, apareceram assim como a naturalidade de quem olha para os que necessitam.
Os elevadores que existem, nasceram todos entre os finais do século XIX e o princípio do século XX.
Fica na zona da «BICA» o mais típico destes veículos, inaugurado em 28 de Junho de 1892 (embora a sua exploração pela -COMPANHIA DE CARRIS DE FERRO DE LISBOA-tenha sido iniciada em 1927).
Deve o seu pitoresco ao facto de atravessar um "velho" bairro de Travessas e prédios na sua maioria do século XVIII, passando na «RUA DA BICA DE DUARTE BELO», aberta pela natureza.
Começa por ser curiosa logo a entrada no transporte, que é feito por um vulgar prédio de rendimento de cinco andares na «RUA DE SÃO PAULO».
Inicialmente movido por contrapeso de água, passou, quatro anos mais tarde, à locomoção a vapor. Devido a um acidente, por ocasião dos trabalhos para a sua electrificação iniciada em 1914, o «ASCENSOR DA BICA» esteve encerrado até 1923.
Deve-se a sua concepção ao Engenheiro «RAOUL MESNIER DU PONSARD», (Ver mais aqui)
responsável por este e outros existentes, bem assim como alguns já desaparecidos. Apesar do nome francês, era bem português, natural do «PORTO».
Foi este engenheiro o homem que mais poupou os pulmões dos alfacinhas, arranjando forma de lhes facilitar as subidas e descidas.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DA BICA DE DUARTE BELO [ VII ] - A HISTÓRIA DO ELEVADOR DA BICA (1)»




sábado, 7 de novembro de 2009

RUA DA BICA DE DUARTE BELO [ V ]

Rua da Bica de Duarte Belo - (2007) Fotógrafo não identificado (A Rua da Bica de Duarte Belo) in PANORAMIO
Rua da Bica de Duarte Belo - (2009) Foto de Curly z (A Rua da Bica de Duarte Belo) in A MINHA BICA

Rua da Bica de Duarte Belo - (2009) Fotógrafo não identificado ( Rua da Bica de Duarte Belo in MILA
(CONTINUAÇÃO)
RUA DA BICA DE DUARTE BELO [ V ]
«A RUA DA BICA DE DUARTE BELO»
O traçado actual da «BICA» e a sua envolvente, de malha ortogonal hoje classificada de pré-pombalina, com a sua articulação entre ruas, escadas e travessas, apesar do acentuado declive do solo, é, como se vê, bastante anterior ao terramoto de 1755.
De um modo geral, o sistema de arruamentos que ali hoje podemos observar, tem por conseguinte, cerca de quatro séculos de existência e terá sido contemporâneo da edificação do «BAIRRO ALTO».
A «RUA DA BICA DE DUARTE BELO» é quase integralmente ocupada pelo elevador (inaugurado em 29 de Junho de 1892), aquando da sua passagem. Cruza a «BICA» de alto a baixo, como se de uma coluna vertebral se tratasse. Ao passar na «CALÇADA DA BICA PEQUENA» e nos laterais finais o «LARGO DE SANTO ANTONINHO» e a «TRAVESSA DA BICA GRANDE», indo terminar por debaixo do prédio onde finaliza ou começa o elevador, referenciado com o número 242 da «RUA DE SÃO PAULO».
De facto, a «RUA DA BICA DE DUARTE BELO» é a rua do elevador e, para muitos ela é mesmo considerada como o centro do «BAIRRO DA BICA».
Os pequenos comércios do bairro encontram-se quase todos nesta rua. Algumas "Tascas", frequentadas sobretudo por residentes locais, algumas lojas antigas, como a «CASA DOS BOTÕES», um Cabeleireiro, pequeníssimas mercearias, alguns artífices em pequenas oficinas.
Uma Colectividade o «VAI-TU», já perto da última Travessa que cruza a linha do elevador a «TRAVESSA DO CABRAL».
Diz-nos ainda o Mestre «NORBERTO DE ARAÚJO» nas suas «PEREGRINAÇÕES EM LISBOA» (...)"este «CABRAL», que deu nome à «TRAVESSA», foi o bacharel «MANUEL RODRIGUES CABRAL», que nasceu no final do século XVI e morreu em 1632; a «TRAVESSA» na direcção nascente poente, liga as «CHAGAS» a «SANTA CATARINA», pela «RUA DO ALMADA». Ainda mais uma nota, no número 35 no prédio da esquina nascente da «RUA DA BICA DE DUARTE BELO», e esse curioso pórtico nobre, que faz hoje a porta de um barbeiro; nenhum de nós pode afirmar, mas podemos admitir, que foi aqui o solar do «RODRIGUES CABRAL».
O Topónimo de «BUARTE BELO» é dado a um certo armador e negociante da LISBOA QUINHENTISTA, e que possuía na «BOAVISTA» umas casas e um terreno no qual existia uma bica, designada pelos seus utentes como «BICA DOS OLHOS».
Como curiosidade, "em 1726, publicava-se em Lisboa no «ARQUIPÉGIO MEDICINAL» que recomendava, como remédio infalível para terçolhos e outros males da vista, a lavagem dos olhos na «BICA DO DUARTE BELO». Devia ser antes do Sol nascer, para garantir a cura".
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) «RUA DA BICA DE DUARTE BELO [VI] - O ELEVADOR DA BICA»



quarta-feira, 4 de novembro de 2009

RUA DA BICA DE DUARTE BELO [IV]

Rua da Bica de Duarte Belo - (2009) Fotógrafo não identificado (Troço da Rua da Bica de Duarte Belo com a esquina da Travessa do Sequeiro virada para as Chagas) in MILA
Rua da Bica de Duarte Belo - (2008) Fotógrafo não identificado (Troço da Calçada da Bica Pequena) in TRANSPORTES EM MOVIMENTO

Rua da Bica de Duarte Belo - (2000) Foto de Lampião (Bica dos Olhos na Rua da Boavista) esta bica representa uma Nau com os corvos de cada lado. Se ampliarem a imagem podem ler embora com certa dificuldade a inscrição: "He obrigado o dono desta propriedade a conservar esta bica sempre corrente e à sua conta". in SKYSCREPERCITY


Rua da Bica de Duarte Belo - (Início do século XX) Foto de Joshua Benoliel (O Largo do Santo Antoninho na Bica) in AFML
(CONTINUAÇÃO)
RUA DA BICA DE DUARTE BELO [ IV ]
« SOBRESSALTOS DOS DESABAMENTOS»
Embora o «BAIRRO DA BICA» conserve o ar pacato e pitoresco que lhe foi timbre durante séculos, alguns sustos grandes lhe marcaram a vida.
De facto, segundo é tradição, davam as onze horas da noite em 21 de Julho de 1597 quando se ouviu uma voz desconhecida a gritar pelas ruas do sítio, que fugissem todos de casa porque o monte iria ruir. E assim aconteceu.
Mesmo não encontrando explicação para o estranho aviso, os moradores saíram em corrida, procurando abrigar-se mais para Norte.
Foi o que lhes valeu, já que às primeiras horas do dia 22 se deu na verdade a grande derrocada, que explica a abertura da colina a meio, dando azo à «RUA DA BICA DE DUARTE BELO», por onde hoje passa o elevador da «BICA».
A imaginação popular procurou feito miraculoso no aviso.
Mas simplesmente, como aventa mestre «JÚLIO DE CASTILHO», poderia tratar-se de qualquer transeunte retardatário que percebendo de desabamentos de terras, antevisse a desgraça que poderia dar-se, apressando-se a avisar os habitantes do local em perigo.
Aliás, em Outubro desse mesmo ano de 1597, novo desabamento ocorreu.
E o mesmo aconteceu em 13 de Fevereiro de 1621, com a «BOAVISTA» a ficar quase soterrada sob o monte de terra que lhe caiu em cima.
Todos estes sobressaltos tiveram lugar quando os Reis espanhóis reinavam em Portugal. No entanto, diga-se, o Senado da Câmara soube interpretar as necessidades dos moradores junto do Vice-Rei e obter as verbas necessárias para proceder aos arranjos preciosos, por forma a salvar o tempo de SANTA CATARINA e as casas nobres que por ali se erguiam.
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