quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

RUA DO BEATO [ III ]

«O BEATO ANTÓNIO ( 2 )»
 Rua do Beato - (2005) - Foto de APS  (Fachada da antiga Igreja do Convento do Beato António. Depois de 1836 foram adquiridas parte das instalações do CONVENTO em haste pública, pelo empresário JOÃO DE BRITO. Em 1876 foram apeadas as suas torres sineiras)  in  ARQUIVO/APS 
 Rua do Beato - (2014) - (A "RUA DO BEATO" ao fundo as instalações de A NACIONAL com sua ponte metálica, estabelecendo ligação entre o SUL e o NORTE da antiga Moagem de JOÃO DE BRITO) in  GOOGLE EARTH 
 Rua do Beato - (2014) - (As instalações de "A NACIONAL" na RUA DO BEATO) in GOOGLE EARTH
 Rua do Beato - (século XXI) (Placa Toponímica tipo II que assinala o início da "RUA DO BEATO" há muitos anos,  quem vem do Poço do Bispo) in  TOPONÍMIA DE LISBOA
Rua do Beato - (1970) Foto de João H. Goulart (Início da "RUA DO BEATO" e final da "RUA DO AÇUCAR") (Abre em tamanho grande)  in   AML  

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO BEATO [ III ]

«O BEATO ANTÓNIO ( 2 )»

"FREI ANTÓNIO DA CONCEIÇÃO" ficou obviamente sepultado no seu CONVENTO. Mas em 1834, por força das leis liberais, foram encerrados todos os CONVENTOS.
Ora os restos mortais do "BEATO" não ficariam bem no edifício que, profanado, passou vicissitudes várias (de HOSPITAL MILITAR a ARMAZÉM DE VINHOS até se transformar em secção de uma importante MOAGEM). Assim, as ossadas foram trasladadas  para a vizinha IGREJA que pertencera ao também extinto «CONVENTO DOS AGOSTINHO DO GRILO» (os frades "GRILOS", como LISBOA lhes chamou) localizado na "RUA DO GRILO" e que passou a constituir a sede da actual paróquia de "SÃO BARTOLOMEU".
Por falar em sepulturas, virá a propósito contar uma bizarra história acerca de um túmulo que existiu na velha "IGREJA DO CONVENTO DO BEATO"

A figura que ali teve a sua última morada, (ou penúltima, uma vez que, como se sabe, o templo deixou de o ser), foi homem de grande poder no seu tempo. Tratava-se de «PEDRO SALGADO», cujo nome dirá pouco ou nada aos contemporâneos. Para o identificar, diga-se pois que ele foi o "CHANCELER-MOR", no tempo de D. DINIS. Entre outros afazeres, exercia as funções de TESOUREIRO DO REINO, pelo que o monarca não mandava executar qualquer obra sem o consultar. Curiosamente, ficou em sua memória o "BECO DO CHANCELER" e o "LARGO DO CHANCELER", em ALFAMA, junto à "RUA DO VIGÁRIO", designação que a Toponímia lisboeta conserva desde os séculos XIII ou XIV.
«PEDRO SALGADO» tinha instituído capela própria, para si e sua família, na IGREJA DE SANTA MARINHA, que ficava para os lados da "GRAÇA". O LARGO subsiste, mas o templo não. Quando foi extinto, os altares, imagens e demais obras foram distribuídas por várias paróquias de LISBOA.
Dois túmulos, o da CASA DE PANCAS e o do CHANCELER-MOR, foram para o BEATO, constando que o segundo foi arrastado "a pau e corda" até ao seu destino. Chegada ao BEATO, a sepultura foi aberta. Para espanto de quem a abriu, descobriu que lá restavam, de facto, alguns ossos humanos, mas, em contra partida, estavam intactas as solas das botas do falecido. Ao cabo de alguns séculos, o corpo do poderoso senhor tinha quase desaparecido. De todo o seu poder, tinham ficado (meias solas).

Como já nos referimos, deve-se todo o empenho de "FREI ANTÓNIO DA CONCEIÇÃO" a construção do CONVENTO e respectiva IGREJA, aproveitando embora, no possível, a estrutura que já existia desde o século XV. Ao que parece, quando o frade ali chegou, encontrou a casa tão decadente que o dormitório, por exemplo, "Se sustentava a benefícios de pontões".
Segundo a tradição o "BEATO" meteu-se à obra sem possuir recursos que lho permitissem. Todo o pecúlio que amealhara provinha das esmolas e era escasso. No entanto os trabalhos decorreram sempre sem dificuldades, apesar da majestade do edifício do CONVENTO e da IGREJA.
Estes factos muito contribuíram para aumentar a fama de milagroso que já era atribuída ao frade.
Crê-se que alguma construção já estaria pronta quando o (Rei Castelhano FILIPE II - de Espanha) se instalou também no trono português, por consequência do DUQUE DE ALBA(1507-1582),   se recolher ao CONVENTO a que chamamos de "BEATO" e lá morreu em  11 de Dezembro de 1582, sendo depois transladado para Espanha.

Por força da fama de FREI ANTÓNIO DA CONCEIÇÃO, BEATO por vontade do povo ainda em vida, acabou por ser esquecida a antiga designação de "SÃO BENTO": O CONVENTO, A IGREJA, O SÍTIO, A FREGUESIA, passaram a ser do «BEATO». O mesmo se diga da "ALAMEDA", ainda existente, onde foi moda ir passear nas tardes e noites de Verão no século XIX; as sombras e os frescos das árvores eram convidativas.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO BEATO [ IV ] - O CONVENTO DO BEATO ( 1 )»

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