quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

OPINIÕES (III)

Na sequencia da apresentação dos pontos de vista apreciados por estrangeiros sobre a nossa Lisboa, começamos por destacar alguns nomes de quem mais tarde daremos as suas biografias.

RUAS, ESTRADAS, HIGIENE, ILUMINAÇÃO E POLICIAMENTO
(...)
Não era só a falta de higiene ou problemas de instalação que contribuíam para tornar a permanencia do viajante europeu menos agradável. GORANI resume a situação. Ao sair-se das vias com bons passeios de lajes grandes e planas, próprias da baixa pombalina, «a maior parte das ruas são bastante sujas, mal calçadas e os frequentes declives tornavam certas serventias extremamente desagradáveis»; para já não falar na falta de segurança, a que quase todos aludem, e que se agrava com o correr dos anos, devido a um policiamento inoperante e a uma iluminação escassa ou inexistente.

(...) Na Lisboa em ruinas, pupulavam mendigos e vadios e o viajante estrangeiro constituía uma das presas favoritas. Nesta sentido BARITI é aconselhado pelos amigos, em casa dos quais se instalara, a não sair à noite, «pois não é seguro e até já fora insultado e maltratado pela populaçãp». (...) Assim «desde que escurece, torna-se extremamante perigoso saír de casa só e desarmado, porque é quase certo ser-se assaltado e roubado». Como «a polícia não faz nada, a única solução é o processo. Porém, depois de anos de despesas e de papelada sem nenhum resultado vem a desistência».
(...) Por tudo isto, o movimento nas ruas era grande durante o dia e quase nulo depois do pôr-do-sol. As pessoas apressavam-se a regressar a casa e os jardins públicos fechavam. No entanto, para não ser incomodado por malfeitores, bastava colocar uma imagem de santo ou de virgem iluminada em frente da porta, o que tinha ainda a vantagem de iluminar a rua.

CIRCULAR EM LISBOA

Ao mau estado das ruas correspondia a das estradas e caminhos. (...) O empedrado dos pavimentos fazia-se por toda a parte com muita lentidão. (...) «a cada momento esperava ser atirado de nariz do chão», diz-nos BECKFORD. E conclui: «as estradas são abomináveis. É certo que a natureza nestas paragens tomou difícil a construção de bons caminhos, mas não seria coisa extraordinária se se pusessem em estado transitável». Na cidade não existe um só dia em que não fosse possível encontrar um par de horas favorável ao passeio, mas estes eram tão penosos a cavalo como a pé, devido à desigualdade do solo no qual estava construída a cidade e ao seu detestável pavimento, tal como à sujidade das ruas.

Refere COSTIGAN a dado passo: «também nenhuma pessoa (dentro das que o podem) passeia na cidade, por causa do calor excessivo e das grandes distâncias. Daí esta observação dos habitantes: excepto pessoas de baixa condição, não se encontram nas ruas, a pé, enquanto está calor, senão ingleses ou cães».

SÉCULO XVIII - LISBOA SETECENTISTA VISTA POR ESTRANGEIROS
Piedade Braga Santos-Teresa Rodrigues-Margarida Sá Nogueira.

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