quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O POÇO DO BORRATÉM [ II ]

Poço do Borratém - (2008) Fotógrafo não identificado (O Beco do Surrador ) in http://urbanusdetalhes.blogspot.com/2008/07/poo-do-borratem.html
Poço do Borratem - ( 1968 ) Foto de Vasco Gouveia de Figueiredo (O Poço do Borratém, no lado esquerdo a direcção à Rua do Arco Marquês de Alegrete) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa.

(CONTINUAÇÃO)
O POÇO DO BORRATÉM
«O NOME DE BORRATÉM»
Segundo Júlio de Castilho a origem do nome de «BORRATÉM» no seu livro «Lisboa Antiga Bairros Orientais -1935» acredita sabê-lo de tradição oral confusa, alicerçada muitas vezes em etimologias e trocadilhos.
« Diz pois a tradição oral, conservada por pessoas muito idosas do sítio, segundo em tempo antigo, havia por ali um tanoeiro, que usava servir-se do poço público para usos quotidianos do seu trabalho, e deitava para dentro do poço arcos e aduelas das pipas, para amolecerem. Tudo isso era, muito bom, mas o povo que ia lá buscar, para gastos ou para remédios, a mesma água salutar, via o tanque sempre obstruído, e todo maculado de borra e detritos; por isso murmurava dizendo:
-Tem borra; ou borra tem.
Donde foi dado ao poço a alcunha satírica de "BORRA TEM ou BORRATÉM"».
Não existem meios de discutir como lenda ou não, mas o enigma foi, porém, esclarecido pelo arabista Professor Doutor David Lopes, dizendo: o nome recuava a tempos anteriores à tomada de Lisboa. A palavra provém do árabe "BER" e "ATTEN" o que significa «O Poço da Figueira», que desde tempos remotos serviu aquela zona da cidade.
Na verdade o «POÇO» permanece, e da «FIGUEIRA» perpetua o nome da Praça .
Diz-nos Castilho, que se as tanoarias desapareceram deste sítio, ficaram por muito tempo os «SURRADORES»(1), que deram nome ao Beco. Os «ODREIROS» ainda lá os vemos instalados no vão do último arco do casarão enigmático do lado Oriental da rua (2); não esquecendo outros habitantes da mesma paragem os quais, apesar de quadrúpedes, merecem a sua referência.
A existência de «ARRIARIAS»(3) de aluguer por aqueles sítios é já antiga; era provávelmente uma sucursal, hoje semi-morta da «FEIRA DAS BESTAS», no largo entre o Rossio e S. Domingos.
Nesse tempo, todo o sítio era povoado de cavalos, machos, e burrinhos de aluguer. Dali partiam, antes da «MALA.POSTA» e do Caminho de Ferro, as engraçadas e numerosas cavalgaduras de estudantinas para Coimbra, depois de férias.
(1) - «SURRADOR» Homem que surra ou curte peles, o m.q. SURRADEIRO
(2) - Já lá não existem (1935). Na loja está instalada (2004) uma florista; na sobre loja continua a ocupar (a ogiva do arco) a Companhia da Limpeza de Chaminés "A LISBONENSE", fundada em 1861.
(3) - A profissão ou vida de «ARRIEIRO» representa homem que aluga as bestas de estrada, de cavalgar. (Dicionário de Língua Portuguesa de José Pedro Machado-(1958) - É de notar que em 1868 ainda existiam no local algumas arriarias de aluguer.
(CONTINUA) - Próximo «O SÍTIO DO POÇO DO BORRATÉM»

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