sábado, 25 de outubro de 2014

TERREIRO DO PAÇO [ XIV ]

A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 1 )
 Terreiro do Paço - (2011) Foto de Manuelinho Daire (A estátua de D. José I na PRAÇA DO COMÉRCIO, antes da intervenção de obras. Esta estátua foi inaugurada em 1775, ainda a Praça estava inacabada) in MANUELINHO DE ÉVORA
 Terreiro do Paço - (1902) (Tabacaria Costa) - (A PRAÇA DO COMÉRCIO no início do século vinte. O Arco do Triunfo desta Praça, ficou finalmente concluído no ano de 1861)  in  A CAPITAL
 Terreiro do Paço - (Anos trinta do século vinte) (Cliché de N. Ribeiro) (A Estátua Equestre de D. JOSÉ I, levantado a meio da mais vasta Praça de Lisboa, e uma das mais belas da Europa, ela é bem o padrão de glória de Lisboa reedificada, que foi um "milagre" do esforço Pombalino) in ENCICLOPÉDIA PELA IMAGEM - LELLO E IRMÃO
Terreiro do Paço - (1774) (Gravura de Joaquim Carneiro da Silva) (Gravura representando a ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I, tal como foi construída. Na face anterior do pedestal além das armas reais, um medalhão com o busto do MARQUÊS DE POMBAL)  in MURAL DAS PETAS

(CONTINUAÇÃO) - TERREIRO DO PAÇO [ XIV ]

«A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 1 )»

O Terramoto de 1755, ao arrasar grande parte do centro histórico de LISBOA, motivou um novo plano urbanístico, desenvolvido a partir da ideia básica de uma grande PRAÇA Régia aberta ao TEJO. Para o centro da PRAÇA DO COMÉRCIO, designação nova que substituía a de TERREIRO DO PAÇO, projectou-se desde o início uma estátua equestre representando o monarca reinante, D. JOSÉ I.
O sítio da estátua consta do plano de EUGÉNIO DOS SANTOS (1711-1760) e será deste engenheiro-Arquitecto o primeiro desenho para a obra (c. 1759), inspirado em modelos de PERRAUL e LE BRUN. É entretanto colocada a primeira pedra, assinalando o local definitivo. Um projecto do pintor VIEIRA LUSITANO, datado de 1756, é rejeitado, e somente em 1770, através de um concurso, é seleccionado o escultor JOAQUIM MACHADO DE CASTRO (1731-1822) para executar a estátua. 

MACHADO DE CASTRO formara-se em MAFRA, com ALEXANDRE GIUSTI, e será ao longo da sua vida um permanente defensor da dignidade do escultor e da escultura face à incompreensão de uma sociedade deficitária em cultura artística.
Através das obras que esculpiu e, sobretudo, por meio dos textos teóricos que foi produzindo. MACHADO DE CASTRO assume um papel decisivo na cultura portuguesa da sua época, revelando-se um intransigente defensor do método e da estética do classicismo. A estátua equestre é a sua primeira obra de responsabilidade, embora se veja coagido   a executar um projecto alheio, exactamente aquele que EUGÉNIO DOS SANTOS delineara.
Estabelece-se então uma guerra surda e uma disputa pelo comando hierárquico do trabalho entre arquitecto e o escultor. As permissas  culturais da ditadura pombalina beneficiavam o primeiro. 
As críticas de MACHADO DE CASTRO e as alterações propostas só parcialmente são atendidas. Da proposta inicial consegue eliminar um LEÃO que o cavalo pisava, substituindo-o pelas serpentes; intervêm na correcta definição dos grupos laterais, o TRIUNFO com o cavalo, a FAMA com o elefante alusivo ao IMPÉRIO; consegue alterar algo à definição das pregas dos panejamentos.  Mas a sua ortodoxia estética não vinga, pois não consegue impor a sua ideia de vestir o rei à romana e de coroá-lo de louros.
Trabalhando sobre prazos curtos, MACHADO DE CASTRO enceta então uma verdadeira auto pedagogia, pois o escultor confessa que à partida tudo ignorava sobre estátuas equestres. É-lhe disponibilizado um cavalo para estudo e desenho mas não consegue que o REI pose; socorre-se de abundante bibliografia estrangeira que devora e cita. Seguindo um correcto fraseamento metodológico fará sucessivos estudos em cera, barro e estuque, modo de ir controlando a obra. Mas não consegue testá-la completamente pois não tem possibilidades de a colocar num espaço amplo e de avaliar os efeitos luminosos da luz natural. Apertado num atelier algo deprimente, o autor joga toda a sua pessoal participação criativa em sábias criações de "ICONOLOGIA" de CÉSAR RIPPA, fonte literária que usa abundantemente para os relevos do pedestal.
Estes relevos, não previstos no projecto inicial, dão a MACHADO DE CASTRO a satisfação de produzir obra própria, desde a concepção à execução, fazem-no sentir um verdadeiro artista e não um mero artífice, mão-de-obra apenas, como quando executava a figura do REI a cavalo, um projecto alheio.
Para a retaguarda do pedestal MACHADO DE CASTRO imagina uma cena em que a cidade inerte sai dos escombros, auxiliada pelo AMOR da virtude e pela generosidade RÉGIA, amparadas financeiramente pela providência humana e pela Arquitectura.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ XV ]-A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 2 )»

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