quarta-feira, 22 de abril de 2015

RUA DA BICA DO SAPATO [ IV ]

«A REAL FÁBRICA DA BICA DO SAPATO»
 Rua da Bica do Sapato - (2012) Foto de Paulo Gonçalves (A autora  BELA SILVA em 1966 desenhou num jogo de ironia, sapatos antigos, simbolizando não só o local da "BICA DO SAPATO", como da própria fábrica) (Abre em tamanho grande) in  VIAJAR E DESCOBRIR
 Rua da Bica do Sapato - (2011) Foto de Luís Y - (Terrina supostamente atribuída à Fábrica da Bica do Sapato)  in  VELHARIAS
 Rua da Bica do Sapato - (2011) Foto de Luís Y - (Travessa do final do século XVIII que tem a marca da "REAL FÁBRICA DA BICA DO SAPATO")  in  VELHARIAS
 Rua da Bica do Sapato - (1999) (Painel BICA DO SAPATO, entre a rampa da Calçada de Santa Apolónia e o antigo  Palácio Quaresma/Alvito. Azulejos policromos uma produção da fábrica de Cerâmica do Monsanto) in ARTE PÚBLICA
Rua da Bica do Sapato - (1939-09) Foto de Eduardo Portugal ( A "RUA DA BICA DO SAPATO" a casa do expedidor da CARRIS, e chafariz. No lado direito da "RUA DIOGO DO COUTO" estavam demolindo os prédios e começa a aparecer em cima o "PALÁCIO QUARESMA/ALVITO, onde mais tarde viria a ser colocado o painel alusivo à "BICA DO SAPATO") (Abre em tamanho grande)  in AML 

(CONTINUAÇÃO) - RUA DA BICA DO SAPATO [ IV ]

«A REAL FÁBRICA DA BICA DO SAPATO»

No local da actual "RUA DA BICA DO SAPATO" existiu uma fábrica de faianças e azulejos da qual não parece restar nenhum vestígio físico.
Muito se tem especulado acerca da produção da fábrica que dura relativamente pouco tempo. Alguns pintores desta fábrica foram trabalhar para a FÁBRICA DE ESTREMOZ, provavelmente depois do período das invasões francesas, transportando consigo as técnicas, o cromatismo e as maneiras da "FÁBRICA DA BICA DO SAPATO" pelo que por vezes se confunda a produção das duas fábricas. No entanto, parece não ter havido uma produção de azulejos significativa em ESTREMOZ, que se dedicava preferencialmente às peças de faianças.
A única peça de faiança que se pode atribuir com absoluta segurança a esta fábrica é a travessa (que aqui reproduzimos em foto), com os dizeres "REAL FÁBRICA DA BICA DO SAPATO", em moldura oval central. Trata-se de uma travessa moldada, de aba canelada decorada com sanefas e festões pendentes.
No interior um anjinho segura um compasso deitado sobre uma construção em volutas e concheados muito decorada com flores, grinaldas e frutos em composição assimétrica. Todos ou quase todos os pigmentos usados na época foram distribuídos pela decoração da peça, que provavelmente seria uma espécie de amostra das capacidades de produção da fábrica.
Algumas peças não marcadas são atribuídas pelos ceramógrafos portugueses à "FÁBRICA DA BICA DO SAPATO", e actualmente, no  "CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO DE CERÂMICA NEOCLÁSSICA EM PORTUGAL são-lhes atribuídas com reserva cerca de 15 peças. Também se publica excerto da documentação  da "JUNTA DO COMÉRCIO, ARQUIVO HISTÓRICO DO MINISTÉRIO DAS FINANÇAS, que se refere ao seu processo de licenciamento. O texto assinado por JOAQUIM FERNANDO BANDEIRA e DOMINGOS VANDELLI, datado de 1801, refere o período de licenciamento da FÁBRICA DE LUÍS SOARES HENRIQUES, junto à "BICA DO SAPATO", na HORTA DAS FLORES, junto ao CAIS DO TOJO quase se estaria a construir. O local e as peças que foram mostradas parecem convenientes, no entanto, o texto revela uma nota negativa em relação ao mestre da fábrica JOAQUIM SIMPLICIANO FRANCO. O pedido de licenciamento já datava de 1796 e ao que parece existem peças que se podem datar de 1795, o que significa que a Fábrica trabalhou sem licenciamento durante algum tempo. A fábrica durou até cerca de 1820.
Do mesmo Catálogo fica provada a existência de uma outra fábrica na zona, a "FÁBRICA DA CALÇADA DOS CESTEIROS"  (a que já nos referimos), pela sua importância na produção de azulejaria de fachada e que se instalava no "PALÁCIO DA COVA" em 1832, nada tendo a ver com a produção nem com o local físico da "REAL FÁBRICA DA BICA DO SAPATO". Nada nos diz, não tenha efectivamente usado a antiga fábrica em determinado momento. No entanto, não usa o nome, nem as produções respectivas têm qualquer sentido de continuidade.
Sabe-se que a Fábrica produziu azulejos pela declaração de FRANCISCO PAULA E OLIVEIRA, publicada no catálogo citado e proveniente da mesma fonte, em que afirma ter ido pintar azulejos para a "FÁBRICA DA BICA DO SAPATO" quando a REAL FÁBRICA DO RATO" fechou em 1808, por motivos das INVASÕES FRANCESAS, tendo regressado ao RATO quando da RESTAURAÇÃO. No entanto, não é possível atribuir nenhum revestimento cerâmico a esta fábrica, apenas conjecturas que tenha fabricado azulejos, peças de muito mais fácil produção do que as peças moldadas que lhe são atribuídas, exigindo, no entanto, maiores conhecimentos de desenho por parte dos mestres pintores, na medida em que se trabalha à escala mural.
Curioso é o facto de o prato com a tabela «REAL FÁBRICA DA BICA DO SAPATO», referido acima , mostrar na sua decoração uma ALEGORIA AO DESENHO como modo de expressar a capacidade dos pintores da FÁBRICA. [ FINAL ].

BIBLIOGRAFIA DA:
RUA DOS CAMINHOS DE FERRO E RUA DA BICA DO SAPATO

- ACTAS da Com. Municipal de Toponímia de Lisboa-1943-1974-CML-2000-LISBOA.
- ARAÚJO, Norberto de - Peregrinações em LISBOA - Livro XV-1993-LISBOA.
- ATLAS DA CARTA TOPOGRÁFICA DE LISBOA-FILIPE FOLQUE-(1856-1858)-CML-2000
- CAMINHO DO ORIENTE -Guia do Azulejo de Luísa Arruda-Liv.Horizonte-1998-LISBOA
- CAMINHO DO ORIENTE -GUIA HIST. I de JOSÉ SARMENTO DE MATOS e JORGE FERREIRA PAULO - LIVROS HORIZONTE - 1999 - LISBOA.
- CAMINHO DO ORIENTE -GUIA DO PATRIMÓNIO INDUSTRIAL de DEOLINDA FOLGADO e JORGE CUSTÓDIO - LIVROS HORIZONTE-1999-LISBOA.
- DICIONÁRIO DA HISTÓRIA DE LISBOA - Direcção de FRANCISCO SANTANA e EDUARDO SUCENA -1994-SACAVÉM.
- LISBOA EM MOVIMENTO 1850-1920-Exposição no Pavilhão, Pátio e Jardim do Museu da Cidade- Campo Grande - 1994 - LISBOA.

INTERNET


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2 comentários:

Anónimo disse...

Caro APS

Gostei de ver o seu trabalho sobre Santa Apolónia e Caminhos de Ferro.
Desconhecia antes onde era a casa de Machado de Castro e também desconhecia a existência duma antiga fábrica de cerâmica.
Popularmente, já não foram sítios de referência como também não tinha sido o Colégio parisiense que desapareceu mais recentemente.

Lamento o desaparecimento do chafariz da Bica do sapato.
Os portões de embarque e desembarque de mercadorias foi uma animação importante outrora.
Provavelmente que novas técnicas de logística modificaram a transferência desta actividade que talvez ulteriormente seja explicada aqui.

Sendo a paragem do eléctrico secção como mostra o letreiro com a letra S entre catenárias, a tarifa até à Praça do Comércio ou Praça da Figueira era de 5 tostões.
Para a Rua do Benformoso e Intendente eram 8 tostões (linha n° 3).

As imagens que apresenta da Rua da Bica do sapato actualmente não exprimem uma arquitectura esplendorosa ainda que do décimo andar possam ter vista para a Moita e com telescópio, o contemplar.
Também não sei se devo apreciar a nova vegetação luxuriante ou qualquer nova obra monumental.

Imagino que o que chama Palácio Quaresma Alvito é para mim o Palácio Mascarenhas.
Queria, se me permite, saudar aqui a memória da Sr.a D.a Maria José Sobreira Zuzarte de Mascarenhas de quem guardo uma feliz recordação de pessoa afável e generosa.
Ela era a proprietária deste palácio durante a nossa juventude.
Poderá ter sido pessoa de seu conhecimento ligada à Irmandade no convento onde se encontrava a nossa escola.
Eventualmente poderá até ser sua parente.

Desejo-lho bom trabalho para o Intendente e rua do Benformoso.
Não vá para o outro lado da rua da Palma senão cai num Desterro.

Com os meus cordiais cumprimentos
José

APS disse...

Caro amigo JOSÉ

Agradeço as suas simpáticas palavras a este Blogue.
Comunicar que já lhe enviei um Mail com mais pormenores.
Obrigado e bom fim de semana.
Despeço-me com amizade,
Um abraço
Agostinho P.Sobreira