segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

RUA DAS TRINAS

Rua das Trinas, 46 (1951) Foto Eduardo Portugal - Convento das Trinas do Mocambo - in AFML
Rua das Trinas (1953-05) Foto Eduardo Portugal - Casa onde viveu Mousinho de Albuquerque in AFML

Rua das Trinas, 100 a 136 (1968) Foto João H. Goulart in AFML


Rua das Trinas, 61 a 101 (1968) Foto João H. Goulart in AFML



Rua das Trinas (1962) Foto Augusto de Jesus Fernandes - Escola Primária in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa




Rua das Trinas (Início do século XX) Foto Alberto Carlos Lima - Convento das Trinas do Mocambo in AFML



A RUA DAS TRINAS (antiga Rua das Trinas do Mocambo) pertence a duas freguesias. À freguesia de SANTOS-O-VELHO do número 1 a 101 e de 2 a 78, à freguesia da LAPA o número 103 e do 80 em diante. Começa na Rua da Esperança no número 186 e termina na Rua da Lapa no número 45.

A legenda de "Trinas do Mocambo" tem uma curiosa origem. MOCAMBO (do português antigo) é a adulteração da palavra "MOCÂMO", que significa «Casa ou lugar Sagrado», é-lhe atribuído por supostamente nesse lugar ter existido uma antiga mesquita.
O nome de Trinas advém-lhe do Convento das Trinas do Mocambo aí instalado no século XVII. (Imóvel de Interesse Público, Dec. Nº 32973, DG 175 de 18 de Agosto de 1943, ZEP, Port. Nº 512/98, DR 183 de 10 de Agosto de 1998, ali esteve instalado, durante as primeiras décadas do século passado, o Arquivo de Identificação. Actualmente funciona o Instituto Hidrográfico da Marinha). (1)
Este Convento pertenceu à Ordem dos Trinitários, fundada no século XII que se instalou em Portugal no Século XIII.
A Ordem, que se encarregava de recolher meios para resgatar os cativos das mãos dos "infiéis", teve também religiosas, que eram conhecidas por "TRINAS". Estas tinham outras funções, a de educadoras de meninas.
O Convento de Nossa Senhora da Soledade (conhecido pelo Convento das Trinas) teve origem numa capela, que tinha fundado na sua propriedade rústica um rico negociante flamengo, de nome Cornélio Vandali casado com Marta de Boz. Fez questão deixar em testamento que o local onde tinha a sua casa de campo, anexos e ermida, em Mocambo, era destinada à construção de um Convento para a Ordem da Santíssima Trindade. O Convento foi fundado em 1657 e entregue às Freiras Trinas, que para ali foram em 1661, vindas do Mosteiro do Calvário. A primeira noviça que nele entrou foi depois Sôror Maria da Trindade, que morreu no mesmo Convento com a idade de 111 anos.
À palavra «Mocambo» alguns autores consideram que o significado topónimo é um s.m. (do quimbundo um + kambu) (Bras.). Couto de escravos na floresta; quilombo; choça, palhota em que os pretos se refugiavam quando fugiam para o mato. (2)
Destes factos nos têm mostrado como exemplo várias novelas brasileiras que focam temas relacionados com escravos, onde nos aparece a designação de «quilombo», como sendo lugar de negros "fujões".
A área então chamada Mocambo (actual MADRAGOA), era habitada sobretudo por população negra vinda das Colónias que se complementava, com gente ligada à pesca, alternando esta ocupação com o cultivo das terras.
Para além das gentes ligadas à agricultura ou a serviços domésticos decorrentes da ocupação do sítio por importantes casas senhoriais e conventuais, ou ainda às fainas ligadas ao rio, terá tido, segundo Júlio Castilho, uma importante ocupação de escravos vindos de África, certamente com as suas práticas musicais vivas e expressivas.
Entre 1911 e 1934 foi alterado o nome da rua, passando a chamar-se Rua Sara de Matos, nome de uma noviça supostamente envenenada no Convento das Trinas.
Após a proclamação da República em 1910, o Governo provisório procedeu a uma vasta obra legislativa, no sentido de combater o clero. Um dos primeiros diplomas legislativos, publicados em 8 de Outubro de 1910, foi a expulsão das obras religiosas, Sara de Matos seria "vingada", no dia 23 de Julho de 1911, 20 anos após a sua morte.
Em 19 de Agosto de 1937 a Câmara Municipal de Lisboa repôs a nomenclatura anterior e, assim, a Rua Sara de Matos passou a ser Rua das Trinas.
Na Rua das Trinas, fazendo esquina para a Rua das Praças, foi construído, na segunda metade do século XVIII, um pequeno solar pombalino, que na fachada possui uma lápide comemorativa, assinalando que aí viveu Mouzinho de Albuquerque, o herói das Campanhas de Moçambique em 1898 «CHAIMITE», após o seu regresso de África.
(1) - IPPAR.
(2) - Grande Dicionário da língua Portuguesa, cood. por José Pedro Machado.

28 comentários:

aestranha disse...

lzykyppassei aqui por acaso.

é pena que que não se comente o trabalho de outros, especialmente qd é feito com esta paixão.

parabens.

fica aqui o meu humilde comentário.

bela informação.

APS disse...

Cara aestranha
Agradeço reconhecidamente a sua apreciação ao meu BLOGUE. Realmente é necessário ter muita "carolice" para fazer estas pesquisas, mas eu gosto de ajudar o próximo.
Talvez, no caso de não haver mais comentários, se deva ao facto de só aceitar quem estiver registado no GMAIL (Imposição do servidor).
Mais uma vez obrigado, felicidades e até sempre...
APS

Joana Pinto Coelho disse...

Obrigada por este artigo. Confesso ter cá vindo ter por andar a fazer pesquisa de imagens sobre Santos-o-Velho, para um trabalho de Urbanismo.
Ainda bem!
Joana

APS disse...

Cara Joana Pinto Coelho

Fico satisfeito por o meu blogue lhe ter sido útil.

Felicidades no seu trabalho, disponha

Cumpts
APS

Anónimo disse...

Sou do convento das trinas um apreciador, conhecedor. Obrigado por este outro olhar

Anónimo disse...

caro APS,

as saudades da minha rua fizeram me vir parar, (ao fim de 2 horas na net), a este site que de tao interesante tem como de fantastica pesquisa. Senti me verdadeiramente feliz por ver fotografias como as que tinha o meu avo tiradas de nossa casa no numero 34 nas trinas em frente ao convento.

obrigado por este pedacinho de saudade e pelo trabalho verdadeiramente digno de um historiador e defensor das memorias da cidade.

Bruno, Singapura.
bronointernational@gmail.com

APS disse...

Caro Bruno

Fico muito agradecido pelas suas palavras a este Blogue.

Na realidade quando estamos longe de Portugal a tal palavra "SAUDADE" desperta em nós um pouco de nostalgia.

Sinto-me satisfeito pelas fotos da sua «RUA DAS TRINAS» o ter feito feliz, pois é esse o objectivo e o espírito deste Blogue.

Um abraço
APS

Beatriz Empis disse...

Descobri este blog por acaso, pois não sabia o que era este convento, (mencionado nas proximas visitas da Agenda Cultural da CML)e fui procurar para saber se a visita me poderia interessar ou não.

Ainda bem que procurei! Muitos parabéns!
Obgada
Beatriz Empis

APS disse...

Cara Beatriz Empis

Eu é que agradeço o seu comentário.

Muitas felicidades para si, e volte sempre.

Cordiais saudações
APS

João Celorico disse...

Para um melhor conhecimento, permito-me fazer algumas correcções quanto à fotos. Assim, na primeira, a porta com o pau de bandeira, é o nº55, sede dos “Vendedores de Jornais Futebol Clube”, o portão ao lado, era, ao tempo a entrada para uma “vila”, de varinas, pescadores, ardinas e operários, da qual não recordo o nome. À parte de baixo, até à esquina da Rua Garcia de Orta, é o edifício do antigo Convento das Trinas.
Na 4ª foto, que diz Rua das Trinas, 61 a 101, será do 67 ao 101. Neste nº 67, começou, no fim dos anos 50, o que viria a ser a casa de fados “Solar da Madragoa”.

cumprimentos,
João Celorico

APS disse...

Caro João Celorico
Correcção não diria, mas sim acrescentar mais elementos para quem goste deste tema. Acho fundamental como diz o ditado; "é o povo que faz a história", aqui temos um cidadão que, com a sua experiência de vida por estes lugares, pode incluir uma mais valia às fotos referentes à RUA DAS TRINAS o que, pela minha parte muito agradeço.
Um abraço
APS

Nuno Nogueira disse...

Vim ter aqui devido a uma pesquisa que fiz no google sobre o instituto hidrográfico/rua das trinas, deparei-me com algumas fotos da mesma e agora vou desfrutar do resto, pois parece-me um excelente trabalho, bem haja a quem dispõe o seu precioso tempo para dar a conhecer aos outros a nossa grandiosissima cidade de Lisboa ! Obrigado !

APS disse...

Caro Nuno Nogueira
Agradeço as suas amáveis palavras a este blogue.
Espero e desejo que conclua a sua pesquisa sobre o "Instituto Hidrográfico" com sucesso.
Despeço-me com amizade
Um abraço
APS

Unknown disse...

Parabéns!

Os meus primeiros 29 anos foram vividos na rua das Trinas pertencente à freguesia de Santos-o-Velho.
Deu para "matar" as saudades.

APS disse...

Caro Bruno Rodrigues

Deve ser agradável ter vivido numa RUA com história. E esta não foge à regra, atendendo que o seu Convento nela inserida, pertenceu à Ordem dos Trinitários do século XII, embora só no século XIII se fixasse em Portugal.

Quanto à freguesia de SANTOS-O-VELHO, que antigamente se chamava de SANTOS, é bastante antiga também, porém, em 2013 esta freguesia juntamente com a da LAPA e PRAZERES, por motivo da nova Reforma administrativa de Lisboa, passa a chamar-se «ESTRELA».
Agradecido pela sua visita, volte sempre
Cumprimentos
APS

Cecilia das Trinas disse...

Boa noite APS, sou do Brasil e me chamo Cecília das Trinas, somos uma família muito pequena aqui, você sabe alguma coisa sobre essa família em Portugal? Se seria por causa dessa rua meu sobrenome? Um abraço! Meu email é ceciliatrinas@hotmail.com agradeceria o contato pra saber mais sobre minha história!

APS disse...

Cara Cecília das Trinas

Muito agradecido pelas suas palavras a este blogue.
Em princípio tudo nos leva a concluir que: um seu antepassado tenha eventualmente residido no "SÍTIO DAS TRINAS" e levou consigo este apelido. Antigamente era muito usual dizer-se: "fulano de tal das Trinas", assim da alcunha passava a apelido.
Como já deve ter lido a parte histórica das trinas no blogue, desnecessário se torna a sua repetição. No entanto devo acrescentar que os "TRINITÁRIOS" faziam muita caridade e costumavam ir aos mercados de escravos no Norte de África e em outros locais, onde compravam escravos com o intuito de os libertar.
Não consta que exista algum apelido de gente nobre ou plebeu com a designação de TRINAS, a não ser exactamente o derivado desta Ordem que se estabeleceu em Portugal e, com o seu Convento deu nome ao sítio das "TRINAS" no bairro da Madragoa.
Não desista, continue a pesquisar, pode ser que mesmo aí no Brasil, consiga os seus objectivos.
Despeço-me com amizade.
Um abraço
Agostinho Sobreira-APS

Anónimo disse...

A saudade levou-me a procurar imagens da rua onde morava a minha avó, Travessa do Pasteleiro. No entanto aqui encontrei ruas onde passei muitas horas da minha infância, no tempo em que ainda se brincava nas ruas.
Obrigada pelas imagens!

APS disse...

Por acaso ainda não falei da TRAVESSA DO PASTELEIRO, mas sei que é bastante antiga. O Bairro da Madragoa é um lugar muito típico e encantador. Na minha adolescência "ajudei" meu pai que tinha tomado um trabalho no PALÁCIO DOS MACHADINHOS, numa das muitas fases de obras que aquele Palácio registou.Tive um colega que morou na Ruas das Madres e um amigo que está em BRISTOL UK que nasceu na "Rua do Meio" à Lapa.
Obrigado pelo seu comentário, muitas felicidades,
APS

Unknown disse...

Formidavel trabalho!Mais uma vez e não me canso Chapeau.Eu sou da travessa do convento das bernardas,com a rua das trinas e vicente borga,a escola na rua das trinas é a numero 11 tinhamos un prof,que éra um autentico carrasco.Professor Parrascho.Bravo e obrigado.Cumprimentos

APS disse...

Caro Manécas Martins

Mais uma vez, os meus agradecimentos pelas suas simpáticas palavras a este blogue.
A escola que se refere deverá ser possivelmente, a "ESCOLA PRIMÁRIA Nº11 nesta RUA, que hoje tem o Nº 129-1º.
Estive ultimamente em contacto (por e-mail), com uma pessoa que procurava nesta ESCOLA, mais elementos de um seu familiar.
Creio tratar-se de um Director, proprietário da Escola, ou mesmo professor no século XX.
Despeço-me com amizade,
Cumprimentos
APS

Anónimo disse...

Bom dia. Parabéns por esta homenagem/esclarecimento sobre a Rua das Trinas, local onde eu nasci mais concretamente na Villa Dorothea (Pátio)
Ainda sou do tempo em que as parteiras iam a casa "ajudar" aos nascimentos e assim aconteceu a minha vinda ao mundo. Bairro da Madragoa, onde todos se conheciam e faziam GRANDES amizades.

Cumprimentos

Vítor Almeida

APS disse...

Caro Vitor Almeida
Obrigado pelas suas amáveis palavras a este blogue.Tenho a felicitá-lo por ter nascido num bairro tão pitoresco e tradicional o "BAIRRO DA MADRAGOA".
A "VILLA DOROTHEA" (pertencia à freguesia de "SANTOS-O-VELHO") hoje pertence à freguesia da "ESTRELA" e fica na "RUA DAS TRINAS no número sessenta e um, com nova ortografia passou a chamar-se "VILA DOROTEIA".
O "PÁTIO DOROTEIA" fica na antiga freguesia de "S.JOSÉ" na RUA DA ALEGRIA, 120 hoje freguesia de SANTO ANTÓNIO.
Despeço-me com amizade, boa saúde.
Cumprimentos
APS

Unknown disse...

Sou brasileira,me chamo Maria Lucilla das Trinas,sou neta do português Joaquim José das Trinas (artista plástico). Meu pai era brasileiro e chamáva-se Rubens Ferreira das Trinas,tanto meu avô,quanto meu pai eram artistas.O pseudônimo de meu pai é TRINAZ FOX. Me orgulho de meu sobrenome TRINAS. Eu gostaria muito de saber mais,inclusive se posso conseguir cidadania portuguesa. Muito agradecida!!!!!

Anónimo disse...

Muitos parabéns pelo blogue, votos de continuação do excelente trabalho.

Estou a redigir um trabalho para um trabalho de faculdade e a sua informação mostrou-se fundamental

Ernesto disse...

É sem dúvida um grande trabalho didáctico e de elevado interesse. Tinha uma tia minha que morava nessa rua desde os anos 60 e tinha lá uma residencial onde iam a maioria de imigrantes cabo-verdianos que viviam na Holanda e França, quando vinham de férias à Portugal. Eu ia muitas vezes visitar a minha tia e desconhecia a enorme história dessa rua. Bem haja!

Diogo Ferreira disse...

Que surpresa agradável ter encontrado esta informação
MUITO OBRIGADO
Nasci no nº 75 da RUA DAS TRINAS, em 1948, e ali vivi até aos 24 anos.
A minha Mãe também nasceu na mesma casa, no mesmo 2º andar, em... 1905!
Na noite em que nasceu veio a banda dos Bombeiros tocar na rua, à porta do prédio, segundo contava (penso que o meu Avô era ou teria sido presidente).
Antes disso o meu Avô ter-se-ia mudado do 1º para o 2º andar.
Durante a 1ª Grande Guerra era em casa que o meu Avô Diogo se reunia com alguns vizinhos para acompanhar o avanço das tropas envolvidas, possuindo mapas onde ia assinalando os movimentos.
Nas fotos identifico a casa onde nasci e vivi, a mercearia e leitaria que existiam no prédio onde viveu Mouzinho de Albuquerque, e tantas outras fachadas que guardo em memória.
Lembro-me de ouvir a minha Mãe contar que, antes de eu nascer, a leitaria tinha uma vacaria nas traseiras, de onde vinha o leite para venda e para fazer manteiga.
E, para complemento das informações que fazem parte do blogue e tão bem descrevem este local, posso dizer que a ESCOLA PRIMÁRIA Nº 11, onde fiz a Instrução Primária (da 1ª à 4ª classe) era conhecida pela Escola do Lucas pois o seu director e professor da 4ª classe era o Grande ANTÓNIO DE ALMEIDA LUCAS, mestre sabedor e exigente que conseguia pôr os alunos a fazer problemas tão difíceis como desafiantes e que só encontrávamos no liceu já com "direito" a incógnitas e equações!!!
O Professor era autor de vários cadernos de exercícios que ajudaram muitos alunos do país.
Ah, e conheci a casa de comes e bebes do Sr. Betencourt, onde me lembro de ver filmes numa das primeiras televisões da época, e que se transformou no Solar da Madragoa, com o grande e castiço fadista César Cardoso.
Peço perdão pela extensão deste meu comentário. talvez por falta de hábito mas nunca tinha feito isto e a "matéria" entusiasmou-me!
Espero ser do agrado de antigos vizinhos ou "passantes" pela Rua das Trinas e mesmo apreciado por Familiares que ainda se sintam ligados ao sítio.

luis disse...

Grande trabalho. Obrigado pela partilha.

Luís