sábado, 21 de novembro de 2009

RUA DA BICA DE DUARTE BELO [ IX ]

Rua da Bica de Duarte Belo - (2009) Foto de CURLY Z (Parte final da Rua da Bica de Duarte Belo) in A MINHA BICA
Rua da Bica de Duarte Belo - (2007) Foto de Giuseppe Maria Galasso (Ascensor da Bica) in TREKEARTH

Rua da Bica de Duarte Belo - (anos 50 do séc. XX) (Fotógrafo não identificado) (Fernando Farinha "o miúdo da Bica") in GENTE DO FADO


Rua da Bica de Duarte Belo (Fotógrafo não identificado) (GRUPO EXCURSIONISTA "VAI TU" Bica - fundado em 1948) in MUSEU DAS COLECTIVIDADES
(CONTINUAÇÃO)
RUA DA BICA DE DUARTE BELO [ IX ]
«A BICA DE TODOS OS TEMPOS»
Um estudo feito pela antropóloga Drª «GRAÇA DIAS CORDEIRO» no seu livro «UM LUGAR NA CIDADE» retrata o quotidiano, a memória e a representação no «BAIRRO DA BICA».
Nesta livro é mostrada uma visão bastante actual do bairro, relatando também um pouco da sua história.
Uma de entre várias identificações foi a autora conseguir interpretar plenamente a divisão do «BAIRRO DA BICA» em três partes. Como se segue: «BICA DE CIMA»; «BICA DE BAIXO» e «BICA DO LADO DE LÁ DO ELEVADOR».
As três partes do bairro dividem-se de acordo com as três Colectividades existentes. O «VAI-TÚ» representa a (BICA DE CIMA), o «MARÍTIMO» defende a (BICA DE BAIXO) e o «ZIP-ZIP» está afecto à (BICA DO LADO DE LÁ DO ELEVADOR), formam uma espécie de núcleo de cada parte e cada uma delas alberga a sua própria "família", seja pela localização das casas ou pela identificação com os respectivos clubes.
O «GRUPO EXCURSIONISTA VAI-TÚ» fundado em 1948, tem a sua sede na «RUA DA BICA DE DUARTE BELO» no número seis, está inscrita na Federação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio e teve o seu inicio na taberna do (JOÃO MARIA), na «RUA DOS CORDOEIROS».
O «MARÍTIMO LISBOA CLUBE» fundado em um de Outubro de 1944, também está inscrito na mesma Federação e tem a sua sede na «CALÇADA DA BICA GRANDE» no número trinta e seis cave direito.
A terceira colectividade o «GRUPO DESPORTIVO ZIP-ZIP» fundado em 1974, tem a sua sede na «RUA DOS CORDOEIROS».
E assim estas pessoas vão ganhando raízes afectivas ao lugar e criando ao mesmo tempo pequenas rivalidades com as pessoas dos outros núcleos, o que faz com que a «BICA» pareça uma pequena povoação dividida em três aldeias.
Como curiosidade vamos acrescentar uma história que se conta em tom jocoso, lembrando a existência de um velho portão de ferro ao fundo das escadinhas, que se fechava à noite e assim defendia o «BAIRRO» de estranhos.
É de realçar que foi encontrado em ambos os edifícios setecentistas ao fundo da escadaria, tornejando para a «RUA DE SÃO PAULO», as reentrâncias na pedra onde teria eventualmente encaixado o respectivo portão.
A explicação é um pouco demonstrada por um destes edifícios setecentistas, ter sido um «RECOLHIMENTO DE MULHERES DE NOSSA SENHORA DOS AFLITOS», o que nos leva a pensar sobre a existência de uma pequena horta ou quintal sobre o qual fecharia o referido portão. Este portão poderá reforçar a ideia de que a «BICA», embora não possa ser considerada uma vila ou um pátio, de um ponto de vista estritamente urbanístico, no seu ambiente cultural e vivencial assume claramente um elevado grau de fechamento e protecção em relação ao exterior, bem testemunhado aliás, pela permanência de memórias sobre a origem e manutenção deste mundo à parte.
--//--
Não queríamos finalizar este trabalho sem nos referirmos a uma pessoa que na vida artística, tão bem representou o «BAIRRO DA BICA». Trata-se de «FERNANDO TAVARES FARINHA» (o miúdo da Bica) nascido no «BARREIRO», foi com seus pais para o «BAIRRO DA BICA» com 4 anos. ( ver mais aqui)
Deixo aqui a letra de um fado bastante popular ao tempo, que a voz de «FERNANDO FARINHA» tão bem soube dignificar. «BELOS TEMPOS» letra de «FERNANDO FARINHA» música de «JÚLIO DE SOUSA» (fado Loucura).
BELOS TEMPOS, QUEM ME DERA/ VOLTAR À VELHA UNIDADE/ DO RETIRO DA SEVERA/ TER AINDA, O CARINHO/ DESSE GRANDE COMANDANTE/ QUE SE CHAMOU ARMANDINHO/ VER NOVAMENTE, CANTADORES E CANTADEIRAS/ NAQUELE GRUPO VALENTE/ QUE DEU BRADO NAS FILEIRAS/ E OUVIR TAMBÉM/ALGUÉM CHAMAR NA PARADA/ PELO "MIÚDO DA BICA"/ E EU RESPONDER À CHAMADA.
BIBLIOGRAFIA
- Araújo, Norberto de - Peregrinações em Lisboa, Livro XIII, Lisboa
- Cordeiro, Graça Índias - Um Lugar na Cidade - Pub. Dom Quixote - 1997 - Lisboa
(PRÓXIMO) - «RUA DA MISERICÓRDIA [ I ] - RUA LARGA DE SÃO ROQUE (1)»

4 comentários:

Carlos Henriques disse...

Caro Amigo,

Dou-lhe os meus parabens pelo trabalho sobre a Bica, simplesmente espetacular, a maioria eu não tinha conhecimento. Gostaria apenas de acrescentar que foi nesta freguesia,S. Paulo, que pela primeira vez se praticou Remo em Portugal e foi formado o primeiro clube - 1828, Arrow Club -. Talvez porque era aqui que se fabricavam os remos, daí a Rua e a Travessa dos Remolares.

APS disse...

Caro Carlos Henriques

Obrigado pelas suas palavras.

Quanto ao nome de "REMOLARES" tem lógica a sua observação, uma vez que se refere aos fabricantes de remos.

Um abraço
APS

cruz urbano disse...

Natural de Lisboa. Alfacinha de gema adorei a suas informaçôes.
Sou natural da Graça! havera referencias a este bairro? Obrigado pela informaçâo.
Continue e bem haja.

APS disse...

Caro Cruz Urbano

Muito bem vindo a esta blogue e agradeço as suas palavras.

Da Freguesia da GRAÇA já publiquei três artérias.
RUA SENHORA DO MONTE (13.01.2008)
RUA NATÁLIA CORREIA (28.02.2008) e
TRAVESSA DAS MÓNICAS [I] e [II], em
16.04.2008 e 17.04.2008.
Espero que lhe agrade esta informação.

Um abraço
APS