quarta-feira, 30 de junho de 2010

RUA DO POÇO DOS NEGROS [ IV ]

Rua do Poço dos Negros - (2009) Fotógrafo não identificado (O Condomínio Palácio da Flor da Murta na Rua do Poço dos Negros esquina com a Rua de S. Bento) in CONDOMíNIO PALÁCIO FLOR DA MURTA


Rua do Poço dos Negros - (2009) - Fotógrafo não identificado ( Condomínio do Palácio Flor da Murta na Rua do Poço dos Negros esquina para a Rua de S. Bento) in LISBOA-SOS




Rua do Poço dos Negros - (2009) - Fotógrafo não identificado (A Rua de S. Bento, o actual "Condomínio Palácio Flor da Murta" e esquina para a Rua do Poço dos Negros) in LISBOA-SOS



Rua do Poço dos Negros - (c. 1900) - Fotógrafo não identificado (Senhoras passeando junto ao Palácio Flor da Murta) in AFML
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(CONTINUAÇÃO)
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RUA DO POÇO DOS NEGROS [ IV]
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«PALÁCIO FLOR DA MURTA ( 2 )»
Na fachada Norte, virado para a «RUA FRESCA», tem duas portas, uma das quais servia a CAPELA. Nos andares baixos chegaram a funcionar cinco estabelecimentos comerciais e em parte do primeiro andar, viveu ainda nos anos 40 do século passado, o seu proprietário «D. ANTÓNIO DE MENESES».
Na outra parte do edifício esteve um serviço público e escritórios particulares e residiram vários inquilinos. Passando a entrada nobre tinha um átrio e escadaria de um só lanço e paredes com silhares de azulejos setecentistas de cenas palacianas e campestres emolduradas por pilastras e grinaldas.
Seguem-se vários corredores, também com silhares de azulejos. De entre as várias salas, de tectos apainelados e paredes revestidas a azulejos, alguns holandeses do século XVII, destacava-se a «SALA DOURADA», pequeno toucador de tecto pintado sobre tela (séc. XVIII) com dourados e grinaldas rodeando uma figura feminina com o «AMOR» ao colo, e tendo aos cantos emblemas com setas e cupido.
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Vem a propósito dizer que «FLOR DA MURTA» não era, como se tem escrito, alcunha galante de «D. JOÃO V» à sua amante, e bela «D. LUÍSA CLARA DE PORTUGAL, aia da rainha «D. MARIA ANA DA ÁUSTRIA».
«D. LUÍSA CLARA DE PORTUGAL» era casada e vivia na Corte em 1731 com seu marido, «D. JORGE DE MENESES», filho de «D. ANTÓNIO DE MENESES e de D. ANTÓNIA MARGARIDA», da «CASA DA FLOR DA MURTA».
Por pertencer a esta casa pelo casamento, é que chamavam «FLOR DA MURTA» a «D.LUÍSA», com quem «D. JOÃO V» teve uma filha bastarda, «D. MARIA RITA DE PORTUGAL» nascida em data que se ignora, foi monja do «CONVENTO DE SANTOS-O-VELHO».
«D.JOÃO V» veio a perder a amante a favor de seu sobrinho, o jovem «D. PEDRO HENRIQUE», «DUQUE DE LAFÕES», (neto de D. PEDRO II) que por essa traição ao REI esteve em vias de ficar eunuco, não fora a oportuna intervenção do valido real, «FREI GASPAR DA ENCARNAÇÃO» que convenceu o monarca a esquecer.
«D. JORGE DE MENESES» o marido traído, retirou-se, com os três filhos, para o «PALÁCIO DE TERRUGEM», de onde nunca mais saiu até ao seu falecimento.
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O «PALÁCIO FLOR DE MURTA» sofre alterações no ano de 1950 na compartimentação interna, tendo sido removidos painéis de azulejos (alguns deles terão passado a integrar o acervo do MUSEU DA CIDADE DE LISBOA).
Em 1973 sofreu outra intervenção com obras de demolição no interior do Palácio. Nos anos de 1993/1994 procede-se à reconstrução completa do interior do imóvel e registando-se o acréscimo de mais um piso.
Em 27 de Fevereiro de 2003 foram iniciadas neste Palácio as obras de construção de quatro pisos e duas caves, com a finalidade de ali ser implantado um Condomínio fechado, constituído por 74 apartamentos do tipo T0.
As fachadas exteriores do Palácio foram mantidas e reforçadas. Na parte de trás relacionado com o armazém e anexo, situado a Norte, irá ser implantada a zona de estacionamento, distribuído por duas caves, com entrada pela «RUA FRESCA».
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Tal como este Palácio, outro Palácio seiscentista, no início desta rua, no «LARGO DO DR. ANTÓNIO DE SOUSA MACEDO» entre as Travessas do «JUDEU» e do «ALCAIDE», teve o mesmo destino.
Trata-se do «PALÁCIO DOS CONDES DE MESQUITELA» onde nos anos 50 do século passado esteve instalada a «ESCOLA COMERCIAL D. MARIA I» de grandes recordações.
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(CONTINUA)-(PRÓXIMO)-«RUA DO POÇO DOS NEGROS - O NEGÓCIO E TRÁFEGO DE ESCRAVOS NA LISBOA QUINHENTISTA» (FINAL)



12 comentários:

Anónimo disse...

Algumas verdades e outras inverdades. Eu fui criado neste Palácio desde os meus 15 dias de idade. Sim, dias e não anos. Ali vivi pelo menos 16/17 anos, e posso afirmar que, não houve remoção de painéis de azulejos na data mencionada. Na realidade já haviam sido removidos e encontravam-se guardadeos em bancos/caixa que exitiam no hall de entrada e no corredor do primeiro piso. À data este piso era exclusivamente ocupado pela Delegação das Obras nas Cadeias e um "consultório de mecanico dentista, como se chamava na altura. Muitas outras informações poderia aqui dar.

João Mendes
jcsmendes2@clix.pt

APS disse...

Caro João Mendes
Quando afirma "algumas verdades e outras inverdades", tanto uma como outra são necessariamente para justificar.
Naturalmente quando falamos nos anos 40 (trata-se de uma década) um período que poderá ser de 1940 a 1949. Se nós nos referirmos ao ano 1950, talvez fosse nessa década que os azulejos já encaixotados, tomassem o rumo do MUSEU DA CIDADE.
Tem ideia de nos anos 40 ter habitado nesse Palácio o "D. Antº de Meneses"?
Certamente esta informação é retirada de fontes que nos merecem credibilidade, porque tal como o senhor Mendes, também nasci no ano de 1936, e não vivi o acontecimento.
No início do texto referíamos a um serviço público (sem especificar o seu género)e escritórios particulares (que podiam muito bem ser um protésico dentário),assim como sabemos que residiam nesse espaço muitos inquilinos.
Se não for muita maçada, gostaríamos de saber mais pormenores (de interesse histórico) no seu tempo, enquanto residiu no "PALÁCIO FLOR DA MURTA".
Obrigado pelo seu comentário, despeço-me com amizade.
Cumprimentos
APS-Agostinho Paiva Sobreira

Pedro de Souza disse...

Prezado Senhor Agostinho Paiva Sobreira,

Também eu, nascido e criado em Lisboa, sou um apaixonado pela nossa cidade. Lamento amargamente que boa parte do recheio de nossos palácios e outros edifícios esteja a ser destruída, para só ficarem as fachadas, porventura uma atitude representativa do espírito desta época. Agora está a sofrer o mesmo tratamento iconoclástico o edifício do Calhariz onde ficava o consultório do meu distante pediatra, o gentil Dr Cordeiro Ferreira. Mas se lhe escrevo é para perguntar se teria alguma ideia da razão do nome da rua Fresca. Talvez por inicialmente se encontrar à sombra do jardim do palácio? Desculpe-me a infantilidade, mas acho um nome muito simpático, e espontâneo, perto do carácter solene dos nomes da maioria das nossas ruas.

Atenciosamente
Pedro de Souza

pdrdesouza@gmail.com

Pedro de Souza disse...

Prezado Senhor Agostinho Paiva Sobreira,

Também eu, nascido e criado em Lisboa, sou um apaixonado pela nossa cidade. Lamento amargamente que boa parte do recheio de nossos palácios e outros edifícios esteja a ser destruída, para só ficarem as fachadas, porventura uma atitude representativa do espírito desta época. Agora está a sofrer o mesmo tratamento iconoclástico o edifício do Calhariz onde ficava o consultório do meu distante pediatra, o gentil Dr Cordeiro Ferreira. Mas se lhe escrevo é para perguntar se teria alguma ideia da razão do nome da rua Fresca. Talvez por inicialmente se encontrar à sombra do jardim do palácio? Desculpe-me a infantilidade, mas acho um nome muito simpático, e espontâneo, perto do carácter solene dos nomes da maioria das nossas ruas.

Atenciosamente
Pedro de Souza

pdrdesouza@gmail.com

APS disse...

Caro Pedro Souza

Agradeço o seu comentário a este blogue.

A "RUA FRESCA" pertencia à freguesia de SANTA CATARINA (hoje pertence à freguesia da MISERICÓRDIA). Começa na "RUA CAETANO PALHA, 17 e termina na "RUA DE SÃO BENTO, 12, não sabemos o seu significado. (No entanto podemos entender que será uma RUA com pouca entrada de luz solar, dada a sua posição, e dessa forma se torna fresca). Fica na parte de trás do antigo Palácio dos Conde de Murça (hoje entrada para as garagens).

Sem mais de momento, despeço-me com amizade.
Cumprimentos
APS

Anónimo disse...

Gostaria de saber onde ficava a Rua da Flor da Murta e o jardim lúdico "Tivoli na Rua da Flor da Murta" que aí existiu entre cerca de 1835 e 1841, se me puderem ajudar. Agradecido. Excelente blog. Parabéns.

Pedro de Souza disse...

Talvez conste na seguinte obra disponível na Biblioteca Camões:

Feiras e outros divertimentos populares de Lisboa : história, figuras, usos e costumes / Mário Costa ; pref. Augusto Vieira da Silva. Lisboa : [Câmara Municipal], 1950.

APS disse...

Caro Ertsevlys

Os meus agradecimentos pelas suas palavras a este Blogue.

Realmente não encontro nenhuma "RUA DA FLOR DE MURTA" nem mesmo o Jardim lúdico "TIVOLI", lamento. No entanto não podemos deixar a hipótese de alguma vez lhe terem chamado por esse nome, ao percurso junto do "Palácio Flor da MURTA". O amigo PEDRO DE SOUZA, já lhe deu também uma dica que acho muito boa. Eu não tenho esse livro, tenho sim do mesmo autor "O CHIADO PITORESCO E ELEGANTE", centralizando-se na Rua Garrett, Largo do Chiado, e um pouco do Bairro Alto.
Despeço-me com amizade
saudações
APS

Mauro Burlamaqui Sampaio disse...

Agostinho Paiva Sobreira,

Antes de mais parabéns pelo seu Blogue que muitas vezes visito como Investigador de História do Século XVIII Português, encontro muita informação pertinente e que obviamente quando insiro em trabalho cito religiosamente a sua fonte.

Há um livro da Escritora Alice Lázaro sobre a Flor da Murta para quem se interessar sobre o assunto aqui vai o Link foi publicado em 2012 pela Chiado Editora.

https://www.chiadoeditora.com/livraria/a-flor-da-murta

atentamente,

Mauro Burlamaqui Sampaio

APS disse...

Caro Mauro B. Sampaio

Quero agradecer as suas amáveis palavras a este Blogue.

Quanto à dica para adquirir o livro de "ALICE LÁZARO" sobre "FLOR DE MURTA", agradeço mas em principio não vou voltar a escrever a "RUA DO POÇO DOS NEGROS" e nomeadamente sobre o PALÁCIO FLOR DE MURTA, além de que já não tenho espaço na minha Biblioteca para tantos livros.

De qualquer modo, fico agradecido e sensibilizado pela sua lembrança.
Despeço-me com amizade,
Cumprimentos
APS

João Mendes disse...

Meu caro APS- Só hoje aqui vim e encontrei a sua questão quanto ao Palácio Flor da Murta. ora bem, O palácio foi vendido em hasta pública, milagrosamente, na altura da morte do Presidente Carmona e quando havia sido decretado Luto Nacional, Rendendo um pouco mais do que Mil Contos. Nos continuamos a residir por mais alguns meses, talvez até mais que um ano como inquilinos do então proprietário, este genro do dono da garagem na rua fresca, em regime de aluguer. Portanto fizemos a mudança para a Av da República em Lisboa, após essa temporada como inquilinos. E asseguro-lhe que os azulejos que haviam sido retirados creio que do interior da então fábrica de licores A Esmeralda, ou parte deles, estavam dentro dos bancos/armários que existiam, como eu disse, no grande hall de entrada e em um dos corredores no primeiro piso. Também nunca vi tetos apainelados, o tal toucador em tela e muitas outras coisas que se dizem. É de notar que estamos a rever memórias de mais de sessenta anos. Mas posso assegurar a quem quer que seja que me lembro absolutamente de tudo, e, se fosse o caso, descrever a estrutra do edifício. Quanto a inquilinos particulares, o tecnico dentist, um casal caboverdiano e o então Dr Mario Capper Alves de Sousa médico que trabalhava também para c Companhia Portuguesa radioMarconi na Rua das Flores. Mais esclarecimentos não hesite. Obgdo. email sousamendes1936@sapo.pt

Lino J. Pazos disse...

Localizo un diate (iate) nombrado FLOR DA MURTA que en 1809 realiza un viaje de Setúbal a Oporto acabando su viaje en Marín, Pontevedra, debido a vientos contrarios y no poder tomar la barra.