quarta-feira, 5 de novembro de 2014

TERREIRO DO PAÇO [ XVII ]

A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 4 )
 Terreiro do Paço - (2014) - Foto de MIMG47 (A Estátua de D. JOSÉ I na PRAÇA DO COMÉRCIO, uma obra de MACHADO DE CASTRO, depois da intervenção de limpeza em 2013) in PANORAMIO
 Terreiro do Paço - ( 2013) Foto de Mariline Alvas (Estátua equestre de D. JOSÉ I, na altura de intervenção de limpeza entre finais de 2012 até Agosto de 2013) in CORREIO DA MANHÃ
 Terreiro do Paço - (22.11.2012) Foto de Daniel Rocha (Pormenor da parte superior da Estátua equestre de D. José I, durante a intervenção de limpeza)  in  PÚBLICO
Terreiro do Paço - (2013) (A Estátua Equestre de D. JOSÉ I, na PRAÇA DO COMÉRCIO, devidamente protegida para ser limpa)  in  CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA

(CONTINUAÇÃO) TERREIRO DO PAÇO [ XVII ]

«A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 4 )»

A família Real transportou-se para o seu convencionado esconderijo em pequenas carruagens, enquanto POMBAL tomava lugar num cortejo faustoso onde entravam os magistrados do SENADO DA CIDADE, de que seu filho primogénito era presidente, os representantes dos organismos oficiais do comércio e dos "mesteres" ( 1 ) e uma grande parte da Nobreza. Descendo das carruagens, o cortejo, completado ainda por outros dignitários que o esperavam, estendeu-se pela vasta PRAÇA e, fingindo não ver a família Real, que espreitava a cerimónia de uma janela, dirigiu-se finalmente para o monumento recoberto de ricos panejamentos. Escusado será dizer que foi o MARQUÊS DE POMBAL e o filho que puxaram os cordões para o descobrir. Encontrava-se junto da comitiva JOAQUIM DA CRUZ SOBRAL, a primeira fortuna comercial do reino, TESOUREIRO-MOR, ADMINISTRADOR DA ALFANDEGA, INSPECTOR-GERAL DOS TRABALHOS PÚBLICOS, homem inteiramente dedicado ao MINISTRO DO REINO ( 2 )
A PRAÇA DO COMÉRCIO só ainda tinha metade construída; as alas do lado Norte sem o arco, e metade da ala do lado Ocidental.
As festas duraram três dias (mas já durante quatro dias o povo tinha acompanhado o difícil transporte da estátua, como antegozo da festa). A PRAÇA foi decorada com uma grande TORRE DE MADEIRA, cortejos de oito carros alegóricos, devidamente complicados, ao gosto da decoração teatral do círculo de GIACCOMO AZZOLINI (1721-1791) ( 3 ), fogo de artifício, exercícios militares, iluminações públicas, espectáculos de ópera, um baile e um banquete para o povo, e um outro para a corte, que custou mais de 40 contos de réis.
Para o efeito, um imenso serviço de porcelana decorada com a imagem do monumento tinha sido encomendada na CHINA.

Em finais de 2012 começou uma intervenção de restauro e limpeza na estátua de D. JOSÉ I. O restauro a cargo do "WORLD MUNUMENT FUND" (Organismo Internacional que intervencionou a TORRE DE BELÉM e o MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS) foi orçado em 490 mil euros.
A estátua foi devidamente protegida e montados andaimes a uma altura  mais de 14 metros do solo. O último dos andaimes que cobria o conjunto, composto pelo cavalo e a figura do REI,  colocada sobre um elaborado pedestal em pedra. Diz o coordenador do projecto JOSÉ IBÉRICO NOGUEIRA: "Qualquer metal sofre efeitos da erosão e, neste caso, o vento e a aproximação do mar causam sempre enormes desgastes. O trabalho é de limpeza e de contenção desse processo químico e mecânico". 
Apesar da vista deslumbrante sobre o TEJO, os técnicos ao serviço de WMF pouco se distraem. Paciência, precisão e minúcia, são os instrumentos necessários para que a obra se finalize no tempo previsto, obrigando a muito trabalho manual. Só para se ter uma pálida ideia, há quem se dedique a limpar todo o gradeamento que rodeia o pedestal, com algodões embebidos em álcool e acetona para retirar gorduras.
Um estudo iniciado ao estado da estátua permitiu analisar todas as patologias e o levantamento gráfico, em que se usou uma técnica que cruza feixes de "laser" e cujo resultado é próximo ao de uma radiografia, detectou os problemas que afectam a pedra e o metal e permite ver para dentro do plinto, analisando a estrutura. Um micro jacto de água limpou a pedra e a precisão dos técnicos faz o mesmo ao cavalo do rei.
A liga de que é composta a peça foi também alvo de apurado estudo. "Especulou-se muito sobre a cor original, mas hoje sabe-se que, do ponto de vista químico a liga, que se pensava ser de bronze, estará mais próxima do latão almirantado, usado pela MARINHA em peças polidas, e que tem coloração dourada. É uma liga de cobre, zinco e também chumbo, com alta capacidade de resistência à salinidade".
O restauro esteve a cargo da firma WMF, que financiou com 370 mil euros, a CML com 80 mil Euros e 40 mil de privados. Foram encontradas nesta intervenção 14 tiros de balas marcados na estátua, tendo sido a primeira limpeza da Estátua em 1926. Em 1983, foram retirados do interior do cavalo 3 mil litros de água. 
Notas finais: D. José I não pousou para MACHADO DE CASTRO, o rosto do REI foi desenhado à imagem de um medalhão e as mãos são as do próprio autor do trabalho.
A conclusão da intervenção de limpeza da Estátua Equestre e seu pedestal, ficaram concluídas no mês de Agosto de 2013.

( 1 ) - MESTERES - do Lat. s. m. artes, ofícios, profissões manuais; (Hist.) cada um dos 24 ofícios mecânicos que tinham os seus procuradores na Casa-dos-Vinte-e-Quatro).

( 2 ) - Optámos pela versão publicada por J. RIBEIRO GUIMARÃES (op. cit., II, p. 215) segundo ms. anónimo. No dizer do Jesuíta de quem seguimos, Pombal e Cruz Sobral teriam puxado os cordões. A versão pareceu-nos mais verosímil, uma vez que o filho  do Ministro era o Presidente do Senado da Cidade
.
( 3 ) - Conhecem-se pagamentos feitos aos pintores, decoradores; JOSÉ ANTÓNIO NARCISO, BELCHIOR DOS REIS ANTUNES e DOMINGOS JOSÉ BRUNO e ainda ANTÓNIO JOSÉ PINTO.(Ver E. FREIRE DE OLIVEIRA op. cit. XVII, pp. 496, 498 e 499)

[ FINAL ]

BIBLIOGRAFIA

- ARAÚJO, Norberto - Peregrinações em Lisboa-Livro XII-Vega_1992-LISBOA
- CASTILHO, Júlio de -A RIBEIRA DE LISBOA -Imp. Nac.- 1893 - Lisboa
- CHORÃO, João Bigotte - Nossa Lisboa dos Outros - 1ª Ed. CTT - 1999 Lisboa
- COELHO, Antº. Borges - Ruas e Gentes na Lisboa Quinhentista - Caminho-2000-Lisboa
- CONSIGLIERI, Carlos e ABEL, Marília-LISBOA- 750 anos de capital 1ª Ed.-  Dinalivro -2005 - Lisboa.
- Correio da Manhã de 10 de Fevereiro de 2013.
- Dicionário da História de Lisboa- Cood. de Francisco Santana e Eduardo Sucena - Carlos Quintas & Associados-Consultores,Lda- 1994 - Sacavém.
- FRANÇA, José-Augusto - LISBOA POMBALINA E O ILUMINISMO - 3ª Ed. - Bertrand Editor - 1987 - Lisboa.
- HISTÓRIA nº 80 - Outº de 2005 - ANO XXVI (III série) - Lisboa.
- LISBOA Revista Municipal Nº 16 e Nº 17 de 1986 - CML - 1986 LISBOA.
- MOITA, Irisalva - O LIVRO DE LISBOA . Livros Horizonte - 1994 - Lisboa.
- OLHARES DE PEDRA - Editor - João Fragoso Mendes - Global Notícias Publicações-2004-Lisboa.
- PINHEIRO MAGDA - Biografia de LISBOA - Esfera do Livro - 20011 - Lisboa.
- SANTOS, Maria Helena Pinheiro dos - A BAIXA POMBALINA-PASSADO E FUTURO- Livros Horizonte- 2000 - LISBOA.
INTERNET

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