quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

RUA DO BEATO [ IX ]

«A NACIONAL ( 2 )»
 Rua do Beato - (2005) - Foto de APS (A parte Sul da ALAMEDA DO BEATO, à direita os novos edifícios projecto de PARDAL MONTEIRO. Ao fundo ainda se distingue a ponte metálica que estabelecia a ligação portuária com a Moagem, sendo a sua construção do ano de 1907) in ARQUIVO/APS
 Rua do Beato (1907) (Arquivo A Nacional) (Edifício da Moagem Austro-Húngara na RUA DO BEATO na primeira década do século XX e sua ponte metálica dessa época) in ARQUIVO  DE A NACIONAL 
 Rua do Beato (Finais do século XIX) (O forno da cozedura das BOLACHAS, na Fábrica de JOÃO DE BRITO no BEATO)  in RESTOS DE COLECÇÃO
 Rua do Beato ( 1886 ) - (Anúncio da firma de "JOÃO DE BRITO" no BEATO, uma panorâmica desenhada, com vista do Rio Tejo) in RESTOS DE COLECÇÃO
Rua do Beato - (1895) (Um anúncio publicitário da Moagem de Cereais de JOÃO DE BRITO na revista AGRICULTURA NACIONAL, Ano II, Nº 1, Lisboa, 8 de Maio de 1895) in FARINHAS, MOINHOS E MOAGENS

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO BEATO [ IX ]

«A NACIONAL ( 2 )»

No "Inquérito Industrial de 1865", a moagem de JOÃO DE BRITO é referida nos seguintes termos: "(...) MOINHOS: um de quatro pares de nós, sistema francês, com motor de força de 18 cavalos, podendo efectuar 250 "MOIOS" ( 1 ) mensalmente. Tudo indica pois, passados 25 anos, os mecanismos principais ainda eram os da altura da instalação da fábrica.
Todavia, o estabelecimento crescera e, em 1873, a moagem já fazia parte de um autentico complexo manufactureiro-industrial: englobava  a moagem de cereais, o fabrico de pão e bolachas, tinha armazéns e depósitos de vinhos, amplas oficinas de tanoaria, serralharia, latoaria de folha branca e carpintaria. Quanto às suas instalações, estava então a construir um novo edifício de quatro pavimentos e, para além; "dos amplos armazéns e arrecadações necessárias aos diferentes ramos da sua industria", bonitas e cómodas casas para habitação dos seus empregados e operários. E acrescentava-se, "à força do trabalho e enormes despesas", ampliara em grande parte, "estes terrenos do lado Sul que formavam os lodaçais arenosos e infectos da margem do TEJO, em belas casas residenciais e úteis armazéns. Pelo Norte reduziu também a bons prédios, terrenos incultos e improdutivos" ( 2 ).
Não admira, pois, que este complexo fosse considerado um dos mais importantes estabelecimentos industriais dos arrabaldes de LISBOA. Pensamos que foi a consciência desta importância que explica a atitude dos seus proprietários perante o inquérito, que o MINISTÉRIO DA FAZENDA mandou fazer, às FÁBRICAS DE MOAGEM, em 1890. A Moagem do BEATO, polidamente, escusou-se a responder com pormenores que lhe eram solicitados e restringiu ao máximo as informações acerca de sua dimensão e actividade.
Em 1895 a firma tinha escritórios na RUA IVENS, 13 e depósitos na RUA DA PRATA, 82 a 86, na RUA DOS REMOLARES, 14, no LARGO DE SÃO JULIÃO, 8 e 9 e na RUA DO TERREIRO DO TRIGO, 46 e 48. Nesta altura a "CASA JOÃO DE BRITO", que continuava a ocupar-se da venda de vinhos por grosso, da moagem de Cereais e do fabrico de biscoitos, já era gerida pelo genro do fundador, "CARLOS DUARTE LUZ". 
As suas instalações e equipamentos cresciam e eram melhorados. A superfície total era nessa altura,  cerca de 20 000 metros quadrados, aos quais convém juntar uma largura de cem metros ao longo do RIO que marginava o seu domínio e umas casas que acabou por comprar ao Governo.
Em finais de oitocentos, a empresa JOÃO DE BRITO afirmava-se no mercado como um depósito de vinhos e cereais. No entanto, a vertente da industria de transformação de cereais era cada vez mais visível e importante. A laborar encontrava-se já uma moagem de cereais sistema Austro-Húngaro e uma fábrica de moagem movida a vapor. A qualidade dos seus produtos era evidente. Em todas as exposições que participou obtiveram sempre medalhas de ouro - Industrial Portuense de 1861; Agricultura em LISBOA 1861; Internacional do PORTO em 1865; Universal de Paris em 1867; Universal de Viena em 1873; Internacional de Filandelfia em 1876; Universal de Paris em 1878; Internacional de Bordéus em 1882 e na de Antuérpia em 1894.
As medalhas colocadas por cima da porta principal no edifício nobre do conjunto industrial é apelativa e afirma a qualidade dos produtos ali fabricados, funcionando como uma publicidade empresarial.(Ver fotos de "RUA DO BEATO [ V ]" de 04.02.2015).
A construção do Edifício Nobre, é das mais significativas do ponto de vista da arquitectura industrial da época. Caracteriza-se pela racionalidade, marcada pelo ritmo da "fenestração "e pela mansarda (acrescentada em 1908), na qual se instalara uma estrutura funcional de transporte de cereal em parafuso sem-fim.
Mais de trezentos operários trabalhavam neste grande e notável estabelecimento industrial; e estes números poderiam subir por vezes até aos 500, em períodos de urgências.
O apetrechamento da fábrica não deixa nada a dever sobre qualquer ponto de vista; toda a fábrica de biscoitos é automática, e o mesmo sucede com a moagem de tipo Austro-Húngara, composta principalmente de três jogos completos de 14 "plansicheters" e 25 moinhos de cilindros. A caldeira da máquina a vapor tem 300 cavalos/força, tripla expansão, o dínamo eléctrico de "ORLIKEM" tem 200 cavalos e 12 fornos para cozer, completam esta vasta e fábrica.

- ( 1 ) - MOIO- (do Lat. modiu )s.m. medida de capacidade correspondente a 60 alqueires - ALQUEIRE (do Árb. alkail), medida para cereais- s.m. antiga medida de capacidade variável, para cereais, que corresponde, mais ou menos a 13 litros.
- ( 2 ) - Ver Portugal Antigo e Moderno - Dic. Geográphico, Estatístico Chronográphico, Heráldico, Archeológico, Histórico, Biográphico e Etynológico de todas as cidades, vilas e freguesias de Portugal e de grande número de aldeias..., LISBOA - LIV. EDITORA de MATOS MOREIRA e COMPª. - 1873.

(CONTINUA)-(PRÓXIMA)«RUA DO BEATO [ X ] A NACIONAL ( 3 )». 

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