quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

RUA DO BEATO [ V ]

«CONVENTO DO BEATO ( 2 )»
 Rua do Beato - (2005) Foto de APS (Porta do edifício principal da Administração, encimada por medalhas obtidas em exposições Internacionais, no número 44 da RUA DO BEATO) in ARQUIVO/APS
 Rua do Beato - (2014) (A "ALAMEDA DO BEATO" ao fundo a antiga IGREJA DO BEATO ANTÓNIO, que depois de 1836 foi vendida, conjuntamente com as casas que compunham o CONVENTO DO BEATO, ao Industrial JOÃO DE BRITO)  in   GOOGLE EARTH
 Rua do Beato - (1993) Foto de António Sacchetti ( O interior do antigo CONVENTO DO BEATO, num pormenor da escadaria de mármore rosa) in  LISBOA, UM PASSEIO A ORIENTE
 Rua do Beato - (Anos 80 do século passado) (A Abside da antiga IGREJA DO CONVENTO DO BEATO, com as duas chaminés dos fornos de Malte e Bolachas)  in  CAMINHO DO ORIENTE
Rua do Beato - (1927) ( A "ALAMEDA DO BEATO" e a IGREJA DO CONVENTO DO BEATO, segundo o desenho publicado no livro MONUMENTOS SACROS DE LISBOA de Luís Gonzaga Pereira e Augusto Vieira da Silva)  in MONUMENTOS SACROS DE LISBOA

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO BEATO [ V ]

«O CONVENTO DO BEATO ( 2 )»

A tarefa desta iniciativa do «PADRE ANTÓNIO DA CONCEIÇÃO» conhecido pelo "BEATO ANTÓNIO". " (...) se animou a esta grande obra, com sete tostões, que lhe haviam dado de esmola para umas missas (...). à vista de uma resolução tão heróica, começou a correr a fama e juntamente a concorrer a piedade e grandeza de muitas pessoas ricas, que deram para o novo edifício largas esmolas". ( 1 ).
A principal mudança levada a cabo em toda essa obra, portanto, a alteração da orientação de todo o conjunto, bem como o natural engrandecimento das dependências, tudo construído com uma escala pouco habitual entre nós. Tal facto não poderá desligar-se do patrocínio do VICE-REI D. CRISTÓVÃO DE MOURA, MARQUÊS DE CASTELO RODRIGO (1538-1613), cuja intervenção em LISBOA parece sobressair pela escala gigantesca que deliberadamente cultivou; lembre-se o seu próprio PALÁCIO DO CORTE-REAL NA RIBEIRA, o MOSTEIRO DE SÃO BENTO, destinado a PANTEÃO familiar, e, sobretudo, o projecto inicial do "MOSTEIRO DE SANTOS-O-NOVO (Junto à actual AVENIDA MOUZINHO DE ALBUQUERQUE E À  CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA). Se a este juntarmos as obras régias, que ele próprio acompanhou - O TORREÃO DA RIBEIRA e SÃO VICENTE DE FORA - parece estarmos perante um dos mais activos e significativos períodos arquitectónicos de LISBOA, dificilmente conciliável aliás com ideia difundida após a RESTAURAÇÃO de um país espezinhado pela tirania estrangeira. Pelo menos vistas largas, vontade e dinheiro não faltavam. Além de CRISTÓVÃO DE MOURA, cumpre realçar a figura de "D. JOANA DE NORONHA", que teve a ideia de mandar construir a magnifica CAPELA-MOR, destinada a PANTEÃO de sua família, os CONDES DE LINHARES. 
O modelo seguido na construção da NOVA IGREJA, parece ter sido as características de SÃO VICENTE DE FORA. Tal facto é sobretudo evidenciado pelo alçado esguio da fachada, com duas torres com pináculos e coruchéus - pelo menos assim surgem desenhadas na informação gráfica disponível  (infelizmente apeadas em 1878),  numa escolha estética ao tempo carregada de sentido, já que contrariava a prática jesuítica em voga de recuar a Torre sineira para a cabeceira do Templo, como ainda podemos ver no antigo COLÉGIO DE SÃO ROQUE, da COMPANHIA DE JESUS
O interior da IGREJA era de dimensões pouco habituais, marcada sobretudo por algum desequilíbrio maneirista nas proporções entre o comprimento, a largura e a altura excessiva a que foi lançada a abóbada de caixotões, resultando um espaço em que a majestade das proporções deveria causar ao visitante e a estranha sensação de entrar numa imensa caverna sem fim. Dizemos devia porque a recente divisão horizontal do templo foi aproveitado em três pisos, por placas de cimento armado, não nos permite desfrutar o global espaço que, curiosamente, essa inesperada intervenção fez ganhar uma nova aura perturbante: ao desequilíbrio inicial de laivos maneiristas substitui-se um toque surrealista, acentuado pelo forno de Malte instalado no centro da magnifica CAPELA-MOR, envolto pelos mármores cuidados do Panteão dos CONDES DE LINHARES.

( 1 ) - "O CÉU ABERTO NA TERRA", do Padre Francisco de Santa Maria, pág. 481, 1697-Lisboa.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO BEATO [ VI ]-O CONVENTO DO BEATO ( 3 )». 

Sem comentários: