sábado, 2 de fevereiro de 2008

RUA DO SALITRE

Rua do Salitre - (25 Março 2007) Foto de Dias dos Reis ( A Rua do Salitre na noite)
Rua do Salitre, 167 - (Actual) Autor desconhecido - (Onde está instalado o Banco Português de Gestão- imóvel propriedade da Fundação Oriente)

Rua do Salitre - (1943-07) Foto Eduardo Portugal (Casa da Itália e casa de Gomes Freire) in AFML


Rua do Salitre - (1968) - Foto Artur Inácio Bastos in AFML



Rua do Salitre - Postal Ilustrado (s.d.) autor desconhecido


Rua do Salitre - [s.d.] Foto Armando Madureira (à esquerda o Palácio Mayer) in AFML




Rua do Salitre - [s.d.] Foto Armando Madureira in AFML



Rua do Salitre - [Post. 1902] Foto Manuel Tavares (Palácio Mayer - Prémio Valmor de 1902) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa.
.
A RUA DO SALITRE pertence a duas freguesias. À freguesia de CORAÇÃO DE JESUS os números 2 a 82, à freguesia de SÃO MAMEDE do número 84 em diante e todos os números ímpares. Começa na Avenida da Liberdade no número155 e termina no Largo do Rato no número 6.
A Rua do Salitre (designação vulgar do nitrato de potássio), apresenta ao longo do seu estreito e ingreme percurso - que de Valverde vinha alcançar o Rato - um conjunto de diversos estilos de construção, reflexo de vários séculos de existência.
No século XIX, iniciando-se na Praça do Rato descia até à Rua das Pretas, junto à entrada norte do "Passeio Público", sendo embelezada de Palacetes e hortas que lhe conferem um sabor de ruralidade. Povoada desde muito antes da fundação da nacionalidade, a freguesia tornou-se num testemunho vivo de outros tempos e vivências, aos quais sobreviveu até hoje.
Na memória da cidade, a data de fixação desta rua é imprecisa mas sabe-se que foi no século XVI que o nome de SALITRE substituiu o de PALMEIRA.
Antes de ser Salitre era esta rua conhecida por PALMEIRA ou dos Cartuxos, designação que têm origem numa horta, provavelmente possuidora duma palmeira. Herdada por D. Jorge de Ataíde (1535-161), Capelão-mor de D. Henrique o Cardeal Rei de Portugal, este doou-a aos frades de São Bruno (CARTUXOS) que ergueram o hospício do Monte Olivete; aí se mantiveram até serem extintas as Ordens Religiosas (1834) Nesta horta os frades começaram as nitreiras(1) existentes no terreno, vindo dai o actual nome de "SALITRE", local onde um século depois se iria instalar o Circo Prince e, mais tarde, passou a funcionar nos números 62 e 64 a primeira Escola Veterinária. A designação de Salitre tem origem numa nitreira no troço baixo da rua, existente já em 1748 numa horta dos Brunos.
Na Rua do Salitre existiu um Teatro que se destinava ao povo e à pequena burguesia e, onde se representava farsas e comédias, entre elas as do Judeu.
Para além do Teatro, o botequim e o bilhar, fonte de rendimento sempre seguro mesmo em épocas de crise teatral, eram mistela de actores e dançarinas de fandango, rufias, aristocratas e boémios, críticos e poetas, entre os quais pontificou durante décadas o boémio-mor de Lisboa, José Agostinho de Macedo.
Pegado ao teatro existia o tauródromo, de forma rara porque atirava para o quadrado, construído entre 1777 e 1780. Em 1790 é inaugurado pelo príncipe D. João e Pina Manique, uma nova Praça de Touros, a primeira destinada ao público. Espectáculo bárbaro que humanistas deputados nas Cortes bem pensaram proibir; em vão, pois como Fernando Tomás confessa, até eles aos domingos lá estavam caídos a assistir às lides taurinas. Espectáculos sempre anunciados pelas ruas da capital com cortejo vistoso, tinham entre as lides e os habituais combates entre toiros e cães de fila, os momentos cómicos em que pontificava o preto Pai Maranhão e as lutas entre balões aquecidos a gás.
Desçamos o Salitre e esqueçamos as travessas do Moreira (onde se ergue hoje o edifício Jean Monnet) e da horta da Cera a Oriente; as ocidentais travessas de S. Mamede, ligação do Salitre com a rua da Fábrica da Seda (Politécnica), e das Vacas pela qual se une à Alegria. No teatro do Salitre emoções políticas sempre unidas se viveram: exaltações nacionalistas em 1808 com estrondosos festejos saudando a chegada do exército britânico, liberdade saudada em 1822 com o 15 de Setembro de 1820; as consequências da Guerra cívil, em 1828 ou 1829; a legitimidade da Rainha ou a queda da usurpação em 1834.
Mais tarde esta praça virá a albergar circos, sendo para aí que o inglês PRICE, encantador dos lisboetas da regeneração, se mudou em 1875, quando fechou o antigo circo, instalado no terreno fronteiro à praça desde 1860.
Em 1879 teatro e praça foram demolidos após mais de um século de actividade e mil e uma histórias para serem ditas e repetidas por todos quantos se interessam por estas coisas.
Resta-nos dizer que hoje, arquitectónicamente guarda o Salitre ainda alguma traça desses tempos, e de outros mais tardios, formando o conjunto doce anarquia representativa de tempos e histórias baralhados pela memória do olhar. Ao fundo da rua, cortada para construção da Avenida da Liberdade, ficaram umas cervejarias que pelo bulício diário que criam lembram outros rostos e aparências, animando aquela área, primeiro à roda do Teatro do Salitre, depois já no século XX, do "PARQUE MAYER".
Ainda no início do século XXI podemos testemunhar alguns prédios antigos designadamente um no número 146 dos finais do século XVIII onde se encontra instalado o Instituto Italiano de Cultura de Lisboa. A Casa do Ribatejo no número 136-1º. edifício da segunda metade do século XIX, com frontão triangular, ao gosto neoclássico e originais varandas de ferro forjado. O Palácio Mayer de 1899 na Rua do Salitre números 1 a 5, projecto do arquitecto Nicolau Bigaglia com um prémio Valmor em 1902, onde actualmente funciona a Embaixada de Espanha.
Desde Maio de 1990 funciona nesta rua no número 66 a 68 a Fundação Oriente. Tem como objectivo a realização e o apoio a iniciativas de caracter cultural, educativo, artístico, filantrópico e social, a levar a cabo sobretudo em Portugal e em Macau. Edifício construído no ano de 1876, com excelente jardim e fachada enriquecida com paineis de azulejos do século XVIII. Residencia particular até 1938, o imóvel esteve nas mãos do Estado Português até à sua aquisição pela Fundação Oriente. Esta Fundação é também, proprietária do Convento da Arrábida, no distrito de Setúbal, imóvel construído no século XVI para os monges arrábidos da ordem franciscana, classificado em 1977 como imóvel de interesse público, integrado no Parque Natural da Arrábida. O Convento e a respectiva propriedade ocupam um total de 25 hectares.(2)
Seria imperdoável omitir o "PARQUE MAYER" (hoje 2008 sem uma definição quanto à sua recuperação) este recinto outrora risonho aos seus visitantes, afinal, todos eles já ouviram falar de artistas e de peças teatrais que deram brado a esta zona, local que foi chamado "Broadway" à nossa maneira, pois ali nasceram os teatros: Maria Victória, Variedades, Capitólio e ABC a olharem bem de perto a Rua do Salitre.
(1) - Lugar onde se forma o nitro (Nitrato de Potássio)
(2) - Elementos retirados da Fundação Oriente (que muito agradecemos)

6 comentários:

raquel sobral disse...

No local dos nºs. 62 a 63 funcionou a primeira Escola Veterinária.

Anónimo disse...

No local dos nºs 62 a 64 funcionou a primeira Escola Veterinária.

Cristina Rodriguez disse...

Antes da Fundação Oriente, funcionou ali durante alguns anos um colégio dirigido pela Drª Evangelina Pinto e que se chamava Externato Feminino Francês.

APS disse...

Cara Cristina Rodriguez

Agradecido pela sua DICA. Realmente não tínhamos conhecimento do Externato Feminino Francês, mas ficamos a saber com o seu depoimento.

Despeço-me com amizade
Cumprimentos
APS

1º Congresso - Arqueologia Contemporânea em Portugal disse...

Excelente publicação.
Seria possível dizer-me a bibliografia que usou? Sou estudante de arqueologia. Ser-me-ia muito proveitoso para um trabalho que estou a realizar.

Melhores cumprimentos

Afonso

Ana Veiga disse...

Também eu fui aluna do Externato Feminino Francês,também residência da directora e penso que de uma irmã. O porteiro era simultaneamente chauffeur de um Mercedes (penso eu), onde se deslocavam nas suas saídas. Colégio muito interessante e com conceitos diferentes para a época.
Obrigada por partilharem histórias de Lisboa.