quarta-feira, 19 de março de 2008

RUA DOS CONDES [ IV ]

Rua dos Condes - (Início do século XX) Foto Joshua Benoliel (Cinema Olympia) in AFML
Rua dos Condes - (1966) Foto Garcia Nunes (Entrada do Cinema Olympia) in AFML

Rua dos Condes - (1960) Foto Arnaldo Madureira (Cinema Olympia) in AFML

Rua do Condes - (19---) Fotógrafo não identificado (Estêvão Amarante 1894-1951) in www.macua.org.

Rua dos Condes - (Início do século XX) Foto Alberto Costa Lima in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa


(CONTINUAÇÃO)
O CINEMA OLYMPIA
O Olympia abriu as suas portas em 22 de Abril de 1911, pouco mais de seis meses depois de implantada a República. Tratava-se de uma sala elegante, destinada a acolher sobretudo a burguesia que procurava a zona dos Restauradores e Avenida para suas distracções. E o certo é que "pegou".
Segundo os preciosos apontamentos de Félix Ribeiro, o fundador da Cinemateca Nacional, é fácil seguir o percurso do Olympia nos primeiros tempos.
Sabino Correia acabou por deixar o seu "Terrasse" e dedicou-se em exclusivo à nova casa. Por sua acção e da equipa que coordenou a casa da Rua dos Condes teve actuação preponderante na Lisboa de há quase 97 anos.
De facto, sobretudo a partir de 1916, as iniciativas eram muitas.
Uma delas teve por alvo o público infantil: a empresa tomou a inédita decisão de criar «Matinées» destinadas aos espectadores mais pequenos, constantes da projecção de filmes adequados e de música.
Depois, a empresa resolveu captar os espectadores mais velhos, segurando-os através de sorteios: o bilhete servia como senha e era atribuído mensalmente um prémio valioso.
Anote-se, como curiosidade, que o prémio do mês de Junho de 1917 foi nada menos do que um BURRO, autentico e vivo.
Saliente-se que o jerico andou pelas ruas da cidade, ostentando publicidade a si próprio por forma a cativar o seu futuro dono.


Mas a iniciativa não morria no Olympia, outra era com caráter essencialmente cultural: as «Matinées» de arte, durante as quais eram exibidos filmes e depois surgiam no palco actores de teatro ou pessoas conhecidas do mundo da cultura, que declamavam, faziam palestras ou conversavam com o público.
Lá passaram nomes como ÂNGELA PINTO, ERICO BRAGA, ESTEVÃO AMARANTE, JOAQUIM COSTA e outros.
António Ferro, jornalista e escritor - que viria mais tarde a ser o homem forte da cultura do Estado Novo, com obra deixada no Cinema, no Teatro, no Bailado e no turismo... - teve, em 1917, a ideia de fazer umas palestras que ficaram célebres: falou de três artistas, três "estrelas" do cinema internacional.
A par de tudo isto, tinha fama o sexteto musical que acompanhava os filmes, obviamente os mudos. Os músicos exibiam-se também durante os intervalos, com verdadeiros concertos.
O Olympia foi perdendo a sua áurea de sala elegante e ganhando características de cinema popular. Nessa fase o conhecemos, como sessões continuas a partir do principio da tarde até à meia-noite. A programação era dominada pelos filmes de aventuras (cow-boys, um ou outro policial, ficção e capa e espada...), acompanhado quase sempre por uma comédia. Ou seja: temas destinados à rapaziada, de escassos recursos económicos mas vida transbordante, que tinham assim direito a dois filmes pelo preço de uma sessão. Não havia lugares marcados e, ao intervalo bastava atar o lenço nas costas da cadeira para ter a garantia de que o assento seria respeitado.
Passou essa fase e o Olympia nos últimos vinte e tal anos, caiu na pornografia, frequentado apenas por um público especial e já longe da "rapaziada brava que avisava o rapaz do ecran de que o bandido estava atrás da porta".
No meio deste panorama pouco animador, surgiu a notícia de que um homem de teatro de nome Filipe Lá Féria decidiu comprar o velho Cinema Olympia, recuperá-lo, e juntá-lo ao vizinho Politeama, para lhe dar uma nova vida.

Como aqui já foi lembrado, em tempos o eixo (RUA DAS PORTAS DE SANTO ANTÃO- RUA DOS CONDES), tem condições para ser zona privilegiada da cultura e de lazer: casas de espectáculo, restaurantes, cervejarias, casas com história, segurança dada pela luz, pelo movimento e pela beleza da sua localização distinta, são atributos bastantes para este lugar da cidade de Lisboa.
(CONTINUA - No próximo famos falar do Cinema ODÉON)



1 comentário:

Anónimo disse...

hoje só poem tapete vermelho no dia dos Globos. Nos outros dias é o esquecimento.