quinta-feira, 15 de maio de 2008

PRAÇA DUQUE DA TERCEIRA [ VII ]

Praça Duque da Terceira - (2005) Foto de Maria Teresa Teixeira (Fachada actual do antigo Hotel Central) in http://www.porumfio.com.br/
Praça Duque da Terceira - (1913) Foto de Joshua Benoliel (O Hotel Central) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

Praça Duque da Terceira - (1878) Fotógrafo não identificado (Grand Hotel Central) in http://jvernept.blogspot.com/


(CONTINUAÇÃO)
PRAÇA DUQUE DA TERCEIRA
«O GRAND HOTEL CENTRAL»
Na Praça Duque da Terceira na face oriental existe um edifício, - entre a Rua Bernardino Costa e a do Cais do Sodré - que teve a sua época áurea. Trata-se do célebre «GRAND HOTEL CENTRAL», um dos mais famosos de Lisboa oitocentista e dos alvores do século XX. Ficou este estabelecimento hoteleiro na crónica e no romance. Nele se hospedaram, príncipes, políticos de nomeada, diplomatas, artistas de renome internacional. Eça de Queiroz, mais do que qualquer outro escritor, ajudou à celebridade. Passaram-se no Central as cenas de alguns romances, nomeadamente de «Os Maias», já que este foi o local onde se realizou o célebre jantar de homenagem ao banqueiro Cohen.
Um guia lisboeta, redigido em francês, dos finais do século XIX descrevia o «Central» como sendo «edificado à beira do Tejo, gozando-se das suas janelas um magnífico panorama do Porto de Lisboa».
As instalações são recomendadas aos visitantes estrangeiros como «muito confortáveis», sendo o serviço «de primeira ordem».
Acrescente-se por curiosidade, que o preço de uma diária, em 1897, oscilava, conforme o tamanho do quarto ocupado e do serviço pedido, entre 2200 e os 3500 réis.
O sítio parecia fadado para hotel: na verdade, antes do «Central» ocupou aquele espaço um outro hotel, pertencente a uma «MADAME LENGLET». Seguiu-se o «Central» em meados do século XIX e lá se manteve até 1919, ano em que encerrou as portas. Para lá foi a Sociedade Estoril, então concessionária da linha férrea que parte do Cais do Sodré em direcção a Cascais.
No piso térreo do edifício, funcionaram cafés que foram também pontos de encontro de primeiro plano em Lisboa. Foi o caso do «CAFÉ GREGO», que já existia em 1809 e fora fundado, como quase todos os cafés lisboetas, por um italiano, Angiolo Canaglioti. Ao que parece, a casa esteve sempre amplamente vigiada pela polícia, e acabou por fechar quando já era pertença de um português, António Salinas. Seguiu-se, no mesmo lugar, a "Casa José Bento", fundada segundo os preciosos apontamentos do mestre Norberto de Araújo, em 1889. Lá existiu também um «CAFÉ LONDRES», em época mais próxima da nossa.
No mesmo quarteirão do «HOTEL CENTRAL», mas virada ao rio, encontrava-se uma «TAVERNA INGLESA», designação comercial que era vulgar nestes sítios (e continua semelhante, uma vez que naquela zona ainda subsiste o «BRITISH BAR» e os Bares irlandeses).
Uma outra do mesmo nome ficou no quarteirão fronteiro, a dar para os Remolares; a esta «Taverna Inglesa», um pouco mais antiga, se deve referir Eça de Queiroz no final do seu «Primo Basílio», quando o protagonista e o Visconde Reinaldo nada encontraram para fazer e para chorar a morte da prima Luísa senão ir beber Xerez àquele estabelecimento.


Sabe-se que «Júlio Verne» esteve em Lisboa pela primeira vez em 1878. Visita a casa de um amigo «Jorge O'Neill», mas costumava ir jantar a este famoso «Grand Hotel Central», voltando ao seu iate para pernoitar.
Após o encerramento do Hotel, seguiram-se obras de remodelação às fachadas do edifício ao gosto da década dos anos 20.
O rés-do-chão com frente para a Praça também sofreu novas alterações, provavelmente na década de 40.
Hoje, o edifício do antigo «Hotel Central» está ocupado por escritórios e estabelecimentos, com realce entre estes para as agências de viagens, num sinal de que a zona da «PRAÇA DUQUE DA TERCEIRA», não perdeu de todo as características de entreposto de partidas e chegadas.


(CONTINUA) - Próximo - «O EDIFÍCIO DA AGPL e a PRAÇA»

4 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Catarina disse...

Olá. Saudações pela iniciativa!
Fiquei com umas dúvidas relativamente por exemplo a datas do edifício do Gran Hotel Central ?
Em 1838 pertencia à francesa Madame Lenglet que o denominou Hotel de France e creio que foi trespassado em 1955… Mas quando foi construído e por quem ?!
Obrigada

APS disse...

Cara Ana Catarina
Obrigado pelas suas palavras.
Sabe-se por plantas (antigas), que este edifício foi construído depois do terramoto de 1755. O espaço onde estava implantado era atravessado obliquamente pela antiga "RUA DIREITA DA PRAIA".
A urbanização é pombalina, a sua edificação não existe data pormenorizada.
Provavelmente será do início de oitocentos, existindo já referência na segunda metade de oitocentos. A primeira hospedaria que ocupou o quarteirão com os números 20-27 da PRAÇA DUQUE DA TERCEIRA (antigos números 3 e 11), chamava-se "ESTRELLA BRANCA" no começo de 1835. Logo em 1838 (três anos depois) foi trespassada à francesa Madame LENGLET que lhe deu um título mais pomposo de "HOTEL DE FRANCE".
Com uma solida fama e um excelente serviço de mesa, o Hotel recebeu hospedes ilustres, na temporada em Portugal, do compositor Franz Liszt de 1844-1845.
Novamente trespassado (c. 1855) e transformado no "HOTEL CENTRAL". O Central foi, na LISBOA da segunda metade de oitocentos, aquilo que o AVENIDA PALACE viria a ser na "BELLE-ÉPOQUE".
O "HOTEL CENTRAL" foi um dos centros de convívio da LISBOA Queirosiana, também EÇA cita-o em "OS MAIAS", "PRIMO BASÍLIO" e outros.
O "HOTEL CENTRAL" encerrou em 1919, após um período de crise económica, a SOC. ESTORIL, será o novo arrendatário do imóvel, mandando proceder a obras de vulto na fachada.
Espero ter contribuído com este esclarecimento.
Despeço-me com amizade
APS
PS- O Plano de Obra será eventualmente:(Manuel da Maia, Eugénio dos Santos e Carlos Mardel) ou seja o sistema Pombalino.

vanessa omena disse...

Obrigada APS pelo post e explicações sobre o destino final do prédio que abrigou o Hotel Central. De facto, o consagrado escritor Eça de Queirós soube propagar muito bem em seus romances o que esse hotel, e essa zona próxima ao Cais do Sodré representou para a sociedade da época, e continua sendo um dos sítios encantadores de Lisboa.
Saudações
Vanessa Omena.