Poço do
Borratém - (200_) Fotógrafo não identificado (A Roda dos Enjeitados do século XXI)
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(CONTINUAÇÃO)
O POÇO DO BORRATÉM
«A RODA DOS ENJEITADOS»
Na Rua da Betesga, no seu lado esquerdo quem caminha para o POÇO DO BORRATÉM, num Beco sem saída, na parte de trás do «HOSPITAL REAL DE TODOS-OS-SANTOS», também existiu uma «RODA DOS ENJEITADOS» entre os séculos XV e XVIII.
Foi Frei Guy de Montpellier a mando do papa Inocêncio III, que criou em França no ano de 1188 a «RODA DOS ENJEITADOS». Funcionava como forma de diminuir o índice de recém-nascidos que eram encontrados mortos nas margens dos rios.
Instalado nas portas dos Mosteiros de clausura e Conventos, eram cilindros de madeira giratórios, serviam para que mães deixassem seus filhos em mãos seguras, sem serem identificadas. Era norma que após a colocação do bebé, aquele que se encontrava no exterior tocava uma sineta e a irmã "RODEIRA", no interior do Convento, fazia girar a roda, retirando de seguida o que aí era colocado.
Estes «filhos de ninguém» eram, muitas vezes, filhos de raparigas pobres, frutos de relações proibidas. Por vezes as mães dos enjeitados deixavam algumas marcas identificativas (fitinhas, pequenos bordados com monogramas ou medalhinhas), a fim de, um dia mais tarde, as poderem recuperar.
No Hospital Real de Todos-os-Santos, «esta casa recolhe os enjeitados que se acham à porta do Hospital e na Misericórdia (RODA), e por toda a cidade; são recolhidos por duas amas que há no Hospital, que os levam à casa da fazenda perante o ouvidor e mais oficiais. (...) E muitas vezes os amos e amas destes enjeitados os pedem, e os perfilham; do que se faz escritura e assentamento no livro. O número destes enjeitados continuadamente são sempre quatrocentos e cinquenta, até quinhentos.»(1).
O seu uso constante, acabou por se tornar legítimo chegando mesmo a ser oficializado nos finais do século XVIII e a receber a designação de «RODA DOS EXPOSTOS OU DOS ENJEITADOS».
Pina Manique reconheceu oficialmente a instituição da RODA através da circular de 24 de Maio de 1783, com o objectivo de pôr fim aos infanticídios e acabar com o horroroso comércio ilegal junto à fronteira espanhola.
A «RODA DOS ENJEITADOS» passou a existir em todas as terras, vindo a perder a sua importância e uso com o advento do Liberalismo em Portugal, na primeira metade do século XIX.
Com o aumento considerável de recém-nascidos abandonados - principalmente por imigrantes ilegais - em alguns países da Europa, voltaram novamente à pratica medieval.
A versão moderna da «RODA» entrou em uso corrente nos Hospitais de Itália, Alemanha, Áustria e Suíça. No lugar dos cilindros de madeira, o bebé é colocado num berço através de uma janela que impede a identificação da pessoa que o deixou ali. O berço é aquecido e equipado com sensores que alertam médicos e enfermeiros da presença do bebé.
(1) - Oliveira, Cristóvão Rodrigues - LISBOA em 1551 - SUMÁRIO - Livros Horizonte - 1987 página 61.
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