sábado, 28 de fevereiro de 2015

RUA DO BEATO [ XII ]

«O INCÊNDIO NO CONVENTO DO BEATO EM 2004»
 Rua do Beato (2012) - (Emblema do «CORPO DE BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO BEATO» na RUA DO GRILO sendo os primeiros a chegar ao fogo no "CONVENTO DO BEATO" in BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO BEATO
 Rua do Beato - (2011) (Foto de uma notícia publicada no Jornal de Notícias referente às condições das instalações desta Corporação em 14.01.2011) in JORNAL DE NOTÍCIAS
 Rua do Beato - (2012) - Foto de Estrela dos Anjos Guest (Pormenor dum interior do "CONVENTO DO BEATO" já depois de restaurado)  in  PANORAMIO 
 Rua do Beato - (2004) (Esta é a parte central do "CONVENTO DO BEATO", onde na madrugada de ontem, tiveram início as chamas. O incêndio foi combatido rapidamente e os trabalhos de recuperação deveram arrancar em breve).  in  PÚBLICO
Rua do Beato - (1999) - Foto de António Sacchetti (Andar intermédio construído na "IGREJA" do "CONVENTO DO BEATO", onde se visualizam as capelas laterais)  in  CAMINHO DO ORIENTE

(CONTINUAÇÃO) RUA DO BEATO [ XII ]

«O INCÊNDIO NO CONVENTO DO BEATO EM 2004»

De acordo com relatos  de jornais  de LISBOA de  29 e 30 de Julho de 2004. "Cerca de 20% do CONVENTO DO BEATO ardeu no incêndio de quarta-feira 28.07.2004 à noite".
"A área central  foi a mais afectada, onde o arco da escadaria nobre, do século XV, ficou muito destruído. As causas do fogo ainda não são conhecidas, mas a PJ tomou conta das investigações e recolheu indícios na manhã de ontem.
De acordo com RUI FONTES, director da NACIONAL, empresa proprietária do "CONVENTO DO BEATO", o claustro principal e a escadaria em mármore, ficaram intactos e apenas a zona da entrada e a cúpula da escadaria ficaram mais danificadas. Todas as janelas e portas dos dois pisos ficaram destruídas, mas o arco do século XV será o mais difícil de recuperar.
Os quadros eléctricos estão intactos, mas ninguém avança com qualquer suspeita. Sabe-se que pelas 22, 40 horas o guarda do CONVENTO terá feito a sua ronda habitual, não tendo verificado qualquer indício de incêndio. A verdade é que, passados vinte minutos, as chamas tomaram conta da zona central do edifício.
As primeiras previsões, logo após o incêndio, apontavam para uma destruição do edifício em cerca de 60%. A indicação foi dada, na madrugada  pelos BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO BEATO E OLIVAIS.
De acordo com R.S.B., o fogo terá começado na parte desabitada do "CONVENTO DO BEATO", propagando-se à cobertura e cúpula do edifício.
Os BOMBEIROS DO BEATO da RUA DO GRILO, foram os primeiros a avistar a coluna de fumo, e prontamente chegaram ao local - com três viaturas -, sem que fosse necessário qualquer aviso, devido à proximidade entre a Corporação e o "CONVENTO".
O alerta para o REGIMENTO DE SAPADORES BOMBEIROS  foi dada às 23, 09 horas e acorreram ao local onze viaturas e trinta homens da Companhia. O fogo foi dado como extinto às zero horas e dezasseis minutos, fruto da rápida intervenção dos BOMBEIROS.
Havia também a preocupação de o fogo entrar na sala da biblioteca, onde se guardavam vários livros históricos. Mas a porta estava fechada e conseguiu aguentar a pressão das chamas, sem danificar o espólio da biblioteca. Outro arquivo da empresa, pelo qual se temeu durante o incêndio, veio a saber-se mais tarde que estava guardado fora do edifício. Este arquivo não tem, no entanto, grande valor patrimonial.
De acordo com o director da Empresa proprietária do CONVENTO, o imóvel vai ser totalmente recuperado, prevendo-se que as obras de restauro comecem logo que seja ultrapassada a burocracia relacionada com o incêndio, nomeadamente o seguro e as investigações judiciais".
Desde que o GRUPO AMORIM adquiriu, em 1999 a NACIONAL, foram investidos cerca de Quinhentos mil Euros na recuperação de espaços, na substituição da parte eléctrica, mármores, cozinha, sanitários e telhado. O CONVENTO DO BEATO é um edifício classificado pelo IPPAR.
Pela sua beleza e pelos seus bons espaços, o "velho" CONVENTO DO BEATO ANTÓNIO passou, desde há uns anos, a ser aproveitado para eventos culturais e comerciais.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO BEATO [ XIII ]-EVENTOS NO CONVENTO DO BEATO»  

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

RUA DO BEATO [ XI ]

«A NACIONAL ( 4 )
 Rua do Beato - (2014) - (Edifício nobre de construção e significado do ponte de vista da arquitectura Industrial. Caracterizado pela sua mansarda, acrescentada em 1908, virada para a RUA DO BEATO) in GOOGLE EARTH
 Rua do Beato - (2014) - ( A "RUA DO BEATO" no sentido para o "POÇO DO BISPO", e sua ponte metálica, construída em 1907) in  GOOGLE EARTH
 Rua do Beato - (Década de 50 do século XX) (Vista aérea das novas instalações da "COMPANHIA INDUSTRIAL DE PORTUGAL E COLÓNIAS", um projecto do Arquitecto PARDAL MONTEIRO) in RESTOS DE COLECÇÃO
 Rua do Beato - (Década de 50 do século XX) - (O edifício de PARDAL MONTEIRO, ainda sem a construção da semolaria) in  ARQUIVO DE A NACIONAL 
 Rua do Beato - (Anos 80 do século vinte) - (Chaminé da fábrica de Malte instalada na antiga Igreja do BEATO) in  CAMINHO DO ORIENTE
Rua do Beato - (Depois de 1849) (Sortido de BOLACHAS da marca "NACIONAL" produzidas na fábrica de JOÃO DE BRITO no BEATO) in RESTOS DE COLECÇÃO

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO BEATO [ XI ]

«A NACIONAL ( 4 )»

O "DIÁRIO DA REPÚBLICA" - 2.ª série Nº. 52 de 16 de Março de 2010, na página Nº. 12359 - MINISTÉRIO DA ECONOMIA DA INOVAÇÃO E DO CONHECIMENTO, publica o DESPACHO nº 4636/2010 de 13 de Maio de 2004, que vem definir a nova designação e moldes diferentes da antiga firma de JOÃO DE BRITO.
GABINETE DO SECRETÁRIO DE ESTADO ADJUNTO, DA INDUSTRIA E DO DESENVOLVIMENTO.
Foi assinado entre a AGÊNCIA PARA O INVESTIMENTO E COMÉRCIO EXTERNO DE PORTUGAL-A.I.C.E.P., então denominada "AGÊNCIA PORTUGUESA PARA O INVESTIMENTO - A.P.I., e a MILANEZA-MASSAS E BOLACHAS, S.A. e a NACIONAL-COMPANHIA INDUSTRIAL DE TRANSFORMAÇÃO DE CEREAIS, S.A., no âmbito do regime contratual de investimento, um contracto que tem por objectivo a concessão de incentivos financeiros a um projecto de modernização da actividade de produção de cereais, massas e farinhas nas unidades daquela última sociedade, localizada na MAIA, TROFA e LISBOA (Beato).
O GRUPO AMORIM LAGE, no qual a NACIONAL-COMPANHIA INDUSTRIAL DE TRANSFORMAÇÃO DE CEREAIS, S.A., se insere, foi objectivo de uma reestruturação com o objectivo de reorganizar e simplificar a estrutura das suas participações sociais e bem assim de concentrar as suas principais áreas de negócios, obtendo sinergias e um melhor serviço ao cliente.

A referida reestruturação envolve, entre outras operações, a cisão-fusão da NACIONAL-COMPANHIA INDUSTRIAL DE TRANSFORMAÇÃO DE CEREAIS, S.A., que teve como consequência o destaque da unidade económica «farinhas industriais» daquela sociedade e a incorporação dessa unidade numa outra sociedade do GRUPO, a COMPANHIA DE MOAGEM HARMONIA, S.A., ora denominada CEREALIS-MOAGENS, S.A..

A AMORIM LAGE, SGPS, S.A. e a NACIONAL-COMPANHIA INDUSTRIAL DE TRANSFORMAÇÃO DE CEREAIS, S. A., procederam também à alteração da sua designação social para CEREALIS, SGPS e CEREALIS-PRODUTOS ALIMENTARES, S. A. respectivamente de forma a criar uma identidade comum ao GRUPO.
Da referida cisão-fusão resultou uma alteração na configuração inicial do projecto (...).

Ao longo dos anos as instalações foram crescendo, centralizando todos os produtos de "A NACIONAL", ficando o velho CONVENTO e sua IGREJA rodeados de modernos edifícios e Silos, como uma UNIDADE INDUSTRIAL.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO BEATO [ XII ]-O INCÊNDIO NO CONVENTO DO BEATO EM 2004»

sábado, 21 de fevereiro de 2015

RUA DO BEATO [ X ]

«A NACIONAL ( 3 )»
 Rua do Beato - (Década de 50 do século XX) (Maqueta dos novos edifícios para a Companhia Industrial de Portugal e Colónias, S.A.R.L. .Cais Armazéns e Silos)  in RESTOS DE COLECÇÃO
 Rua do Beato - (1991) - (Planta topográfica da Fábrica do BEATO de 1972, actualizada em 1991) in ARQUIVO DE A NACIONAL
 Rua do Beato - (Década de cinquenta do século XX) (Construção do Edifício na parte Sul da "RUA DO BEATO", projecto do Arquitecto Pardal Monteiro. Álbum da construção da nova moagem) in ARQUIVO DE A NACIONAL.
 Rua do Beato - (1907) ( A "COMPANHIA NACIONAL DE MOAGEM" uma firma que mais tarde viria a fazer parte do bloco das grandes Fábricas a Vapor de Moagem de Trigo,  descasque de arroz e massas) in  RESTOS DE COLECÇÃO.
Rua do Beato - ( 1910 ) - ( A Empresa de "João de Brito, Limitada" viria a ser integrada no bloco da "NOVA COMPANHIA NACIONAL DE MOAGEM, S.A.R.L., em 27 de Agosto de 1917) in RESTOS DE COLECÇÃO

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO BEATO [ X ]

«A NACIONAL ( 3 )»

É evidente que a fábrica não passará ao lado do progresso técnico que, em fins do século XIX, revolucionou a Industria Moageira; acompanhando-a e desenvolvendo-a. 
Em 1900 a firma registou a sua nova simbologia que, consistia  num rótulo circular cingido por circunferências concêntricas muito próximas, sendo a exterior mais grossa do que a interior, incluindo os seguintes dizeres: "FÁBRICA DE JOÃO DE BRITO", em caracteres iguais, e LISBOA em caracteres maiores. Estas palavras estão dispostas circularmente em contorno do rótulo. Em dois arcos arcos concêntricos, e seguindo o sector oposto aquele em que está a palavra LISBOA, lê-se "FARINHA SUPERFINA". Abaixo destes dizeres estão os desenhos representando os versos e anteversos de diversas medalhas, obtidas em diferentes exposições.
São oito as medalhas, dispostas na seguinte ordem: três abaixo da palavra "superfina" e da exposição de VIANNA D´ÁUSTRIA, a da FRANÇA em 1889 e a de FRANÇA em 1867; segue-se ao meio a da exposição do PORTO em 1861, e depois duas da ASSOCIAÇÃO CENTRAL DA AGRICULTURA PORTUGUESA, a da Exposição do PORTO em 1865 e PHILADELPHIA em 1874. Entre as três primeiras e a central estão escritas as palavras "NO BEATO ANTÓNIO". Atravessando obliquamente, seguindo no diâmetro, há uma fita passando por cima da quarta medalha, com os seguintes dizeres: " SYSTEMA ÁUSTRO-HUNGARO destinado a farinhas" ( 1 ).
Em 30 de Julho de 1900 tinha a seguinte ficha técnica: "natureza do motor, vapor; trituração e conversão, 8 mós e cilindro; força produtiva anual, 31 200 000Kg/trigo; laboração efectiva anual, 15 362 000Kg/trigo" ( 2 ).
Depois da sua morte foram os herdeiros que assumiram os destinos de uma das Industrias Alimentares mais florescente do país, sob a designação social de "JOÃO DE BRITO, LDA.".
Em 1898, a empresa era dirigida (como já nos referimos) pelo seu genro, e também pelos seus netos, ANTÓNIO, EDUARDO e ARTUR MACIEIRA.
Em termos organizacionais, referentes à alteração do capital social, ao crescimento da produção, à fusão com outras firmas do mesmo ramo (para um melhor controlo de mercado) e às novas designações comerciais, podemos referir os seguintes momentos: - Em 27 de Agosto de 1917 ( 3 ), a empresa JOÃO DE BRITO, LDA, foi integrada no bloco da "NOVA COMPANHIA NACIONAL DE MOAGEM"; - em 17 de Dezembro de 1919, constituiu-se a "COMPANHIA INDUSTRIAL DE PORTUGAL E COLÓNIAS, S.A.R.L.", através da fusão da NOVA COMPANHIA NACIONAL DE MOAGEM e da COMPANHIA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO; - no início dos anos 80 é transformada em Sociedade Anónima, mantendo a mesma designação de C.I.P.C.; - em 23 de Dezembro de 1986, a sua designação passa a ser "A NACIONAL - COMPANHIA INDUSTRIAL DE TRANSFORMAÇÃO DE CEREAIS, S.A.. 

( 1 ) - «REGISTOS DE MARCAS AVISOS E PEDIDOS». Para conhecimento de quem interessar se faz público que nos dias indicados foram pedidos as seguintes marcas que se referem: Em 4 de Janeiro de 1900, Nº 4: 197- classe 1.ª. A firma "JOÃO DE BRITO", com sede em LISBOA, RUA IVENS. D.G., N.º 23, de 30 de Janeiro de 1900, p. 262.

( 2 ) - Informação sobre os seus motores in BOLETIM DO TRABALHO INDUSTRIAL, Nº 48, de 1908, Nº. 80 de 1911.

( 3 ) - Diário do Governo, Nº. 245, II série, 17 de Outubro de 1917.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO BEATO [ XI ] A NACIONAL ( 4 )»

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

RUA DO BEATO [ IX ]

«A NACIONAL ( 2 )»
 Rua do Beato - (2005) - Foto de APS (A parte Sul da ALAMEDA DO BEATO, à direita os novos edifícios projecto de PARDAL MONTEIRO. Ao fundo ainda se distingue a ponte metálica que estabelecia a ligação portuária com a Moagem, sendo a sua construção do ano de 1907) in ARQUIVO/APS
 Rua do Beato (1907) (Arquivo A Nacional) (Edifício da Moagem Austro-Húngara na RUA DO BEATO na primeira década do século XX e sua ponte metálica dessa época) in ARQUIVO  DE A NACIONAL 
 Rua do Beato (Finais do século XIX) (O forno da cozedura das BOLACHAS, na Fábrica de JOÃO DE BRITO no BEATO)  in RESTOS DE COLECÇÃO
 Rua do Beato ( 1886 ) - (Anúncio da firma de "JOÃO DE BRITO" no BEATO, uma panorâmica desenhada, com vista do Rio Tejo) in RESTOS DE COLECÇÃO
Rua do Beato - (1895) (Um anúncio publicitário da Moagem de Cereais de JOÃO DE BRITO na revista AGRICULTURA NACIONAL, Ano II, Nº 1, Lisboa, 8 de Maio de 1895) in FARINHAS, MOINHOS E MOAGENS

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO BEATO [ IX ]

«A NACIONAL ( 2 )»

No "Inquérito Industrial de 1865", a moagem de JOÃO DE BRITO é referida nos seguintes termos: "(...) MOINHOS: um de quatro pares de nós, sistema francês, com motor de força de 18 cavalos, podendo efectuar 250 "MOIOS" ( 1 ) mensalmente. Tudo indica pois, passados 25 anos, os mecanismos principais ainda eram os da altura da instalação da fábrica.
Todavia, o estabelecimento crescera e, em 1873, a moagem já fazia parte de um autentico complexo manufactureiro-industrial: englobava  a moagem de cereais, o fabrico de pão e bolachas, tinha armazéns e depósitos de vinhos, amplas oficinas de tanoaria, serralharia, latoaria de folha branca e carpintaria. Quanto às suas instalações, estava então a construir um novo edifício de quatro pavimentos e, para além; "dos amplos armazéns e arrecadações necessárias aos diferentes ramos da sua industria", bonitas e cómodas casas para habitação dos seus empregados e operários. E acrescentava-se, "à força do trabalho e enormes despesas", ampliara em grande parte, "estes terrenos do lado Sul que formavam os lodaçais arenosos e infectos da margem do TEJO, em belas casas residenciais e úteis armazéns. Pelo Norte reduziu também a bons prédios, terrenos incultos e improdutivos" ( 2 ).
Não admira, pois, que este complexo fosse considerado um dos mais importantes estabelecimentos industriais dos arrabaldes de LISBOA. Pensamos que foi a consciência desta importância que explica a atitude dos seus proprietários perante o inquérito, que o MINISTÉRIO DA FAZENDA mandou fazer, às FÁBRICAS DE MOAGEM, em 1890. A Moagem do BEATO, polidamente, escusou-se a responder com pormenores que lhe eram solicitados e restringiu ao máximo as informações acerca de sua dimensão e actividade.
Em 1895 a firma tinha escritórios na RUA IVENS, 13 e depósitos na RUA DA PRATA, 82 a 86, na RUA DOS REMOLARES, 14, no LARGO DE SÃO JULIÃO, 8 e 9 e na RUA DO TERREIRO DO TRIGO, 46 e 48. Nesta altura a "CASA JOÃO DE BRITO", que continuava a ocupar-se da venda de vinhos por grosso, da moagem de Cereais e do fabrico de biscoitos, já era gerida pelo genro do fundador, "CARLOS DUARTE LUZ". 
As suas instalações e equipamentos cresciam e eram melhorados. A superfície total era nessa altura,  cerca de 20 000 metros quadrados, aos quais convém juntar uma largura de cem metros ao longo do RIO que marginava o seu domínio e umas casas que acabou por comprar ao Governo.
Em finais de oitocentos, a empresa JOÃO DE BRITO afirmava-se no mercado como um depósito de vinhos e cereais. No entanto, a vertente da industria de transformação de cereais era cada vez mais visível e importante. A laborar encontrava-se já uma moagem de cereais sistema Austro-Húngaro e uma fábrica de moagem movida a vapor. A qualidade dos seus produtos era evidente. Em todas as exposições que participou obtiveram sempre medalhas de ouro - Industrial Portuense de 1861; Agricultura em LISBOA 1861; Internacional do PORTO em 1865; Universal de Paris em 1867; Universal de Viena em 1873; Internacional de Filandelfia em 1876; Universal de Paris em 1878; Internacional de Bordéus em 1882 e na de Antuérpia em 1894.
As medalhas colocadas por cima da porta principal no edifício nobre do conjunto industrial é apelativa e afirma a qualidade dos produtos ali fabricados, funcionando como uma publicidade empresarial.(Ver fotos de "RUA DO BEATO [ V ]" de 04.02.2015).
A construção do Edifício Nobre, é das mais significativas do ponto de vista da arquitectura industrial da época. Caracteriza-se pela racionalidade, marcada pelo ritmo da "fenestração "e pela mansarda (acrescentada em 1908), na qual se instalara uma estrutura funcional de transporte de cereal em parafuso sem-fim.
Mais de trezentos operários trabalhavam neste grande e notável estabelecimento industrial; e estes números poderiam subir por vezes até aos 500, em períodos de urgências.
O apetrechamento da fábrica não deixa nada a dever sobre qualquer ponto de vista; toda a fábrica de biscoitos é automática, e o mesmo sucede com a moagem de tipo Austro-Húngara, composta principalmente de três jogos completos de 14 "plansicheters" e 25 moinhos de cilindros. A caldeira da máquina a vapor tem 300 cavalos/força, tripla expansão, o dínamo eléctrico de "ORLIKEM" tem 200 cavalos e 12 fornos para cozer, completam esta vasta e fábrica.

- ( 1 ) - MOIO- (do Lat. modiu )s.m. medida de capacidade correspondente a 60 alqueires - ALQUEIRE (do Árb. alkail), medida para cereais- s.m. antiga medida de capacidade variável, para cereais, que corresponde, mais ou menos a 13 litros.
- ( 2 ) - Ver Portugal Antigo e Moderno - Dic. Geográphico, Estatístico Chronográphico, Heráldico, Archeológico, Histórico, Biográphico e Etynológico de todas as cidades, vilas e freguesias de Portugal e de grande número de aldeias..., LISBOA - LIV. EDITORA de MATOS MOREIRA e COMPª. - 1873.

(CONTINUA)-(PRÓXIMA)«RUA DO BEATO [ X ] A NACIONAL ( 3 )». 

sábado, 14 de fevereiro de 2015

RUA DO BEATO [ VIII ]

«A NACIONAL ( 1 )»
 Rua do Beato - (1855) (Retrato a Óleo do fundador de "A NACIONAL" JOÃO DE BRITO com a seguinte inscrição: foi inaugurado este retracto em 1855. in RESTOS DE COLECÇÃO 
 Rua do Beato - (1987) (Planta Aerofotogramética 5/8- 1:2000 das instalações de "A NACIONAL"-Companhia de Transformação de Cereais, S.A.) in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Beato - (depois de 1843) (O Cais privado de embarque dos armazéns de JOÃO DE BRITO no BEATO) in  ARQUIVO DE A NACIONAL
 Rua do Beato - (Depois de 1849) (O antigo complexo no pátio do ex-Convento do Beato, onde se instalaram as casas das caldeiras e das máquinas a vapor) in RESTOS DE COLECÇÃO
Rua do Beato - (Depois de 1849) (Massas com a marca "NACIONAL" produzidas na fábrica de "JOÃO DE BRITO" no BEATO) in  RESTOS DE COLECÇÃO

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO BEATO [ VIII ]

«A NACIONAL ( 1 )»

O "CONVENTO DO BEATO" pouco sofreu com o terramoto de 1755, mas com a extinção das ORDENS RELIGIOSAS em 1834, o Templo foi convertido em "REAL HOSPITAL MILITAR", embora tenha sofrido um incêndio poucos anos depois. 
O Edifício manteve-se em ruínas durante alguns anos, até que  toda a propriedade, depois de lotada, foi vendida em haste pública para COMÉRCIO e INDUSTRIA.
Em 1836 o CONVENTO DO BEATO ANTÓNIO é parcialmente adquirido pelo industrial e comerciante JOÃO DE BRITO, que aí montou um ARMAZÉM DE VINHOS, uma oficina de CARPINTARIA e TANOARIA e ainda uma fábrica de MOAGENS A VAPOR, que a partir de 1849 a Rainha D. MARIA II autorizou que usasse a marca  « NACIONAL».
A mais antiga fábrica de moagem que entre nós deixou evidente rasto, foi sem dúvida a «FABRICA DO BEATO», instalada por "JOÃO DE BRITO" ( 1 ), na antiga freguesia dos OLIVAIS, afastada cinco quilómetros do limite de LISBOA naquela época.
Entre 1836 e 1840 adquiriu, por arrematação em haste pública, os terrenos envolventes, o CONVENTO, a IGREJA DO BEATO, que começou a ser edificada no tempo de D. HENRIQUE.
Vivíamos tempos de ardor profano e o "ICONOCLASTA" ( 2 ) empresário, não teve qualquer pelo em instalar no chão sagrado do Templo quinhentista, paredes meias com velhos túmulos de gente nobre, os maquinismos geradores da nova força motriz; "O VAPOR".
Entre 1845 e 1846 aparece registada uma fábrica de farinhas em nome de "JOÃO DE BRITO", cujo estado é dado como progressivo, empregando muitos operários (contados apenas os que trabalhavam na moagem), movida a vapor, que fora estabelecida em 1841.
Passados alguns anos, em 5 de Março de 1849, "JOÃO DE BRITO" recebeu de D. MARIA II, com a assinatura do MARECHAL SALDANHA, a autorização para que a sua Industria adoptasse a marca "NACIONAL" ( 3 ), designação que, em nosso entender, derivaria do nacionalismo económico que, em sucessivos surtos, se foi manifestando na nossa sociedade; haveria de aparecer noutros ramos e produtos industriais e comerciais, mas no domínio da moagem e seus derivados é inequívoco que surgiu pela primeira vez na firma de "JOÃO DE BRITO", posicionando-se na base da "marca" que ainda hoje, passados cento e sessenta e seis anos, depois de muitas transformações sociais, ainda existe.

( 1 ) - JOÃO DE BRITO nasceu em 27 de Outubro de 1796 em ALCOBAÇA e faleceu em 8 de Dezembro de 1863. Negociante de Vinhos em 1936 arrematou em haste pública o Convento e suas pertenças casas do BEATO ANTÓNIO dos Cónegos de São João Evangelista, Arquivo do Ministério das Finanças carta Nº 541-A e 546. Em 1840 arrematou mais uma porção de terreno, cita no mesmo local e foi a partir desta aquisição que criou a Fábrica onde instalou a moagem.

( 2 ) ICONOCLASTA-(do Gr. eikomodastes) - adjectivo e s. m. - destruidor de imagens; aquele que condena o culto das imagens ou dos ídolos; (fig.) aquele que tenta destruir ideias religiosas, opiniões estabelecidas, tradições.

( 3 )  - Documento pertencente ao arquivo de A NACIONAL, nas instalações do BEATO.

(CONTINUAÇÃO)-(PRÓXIMO)«RUA DO BEATO [ IX ] A NACIONAL ( 2 )» 

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

RUA DO BEATO [ VII ]

«O CONVENTO DO BEATO ( 4 )»
 Rua do Beato - (2012) (Fachada do edifício dos Serviços Administrativos de A NACIONAL, com entrada principal pela RUA DO BEATO, 44) in HISTÓRIA DE PORTUGAL 
 Rua do Beato - (2005) Foto de APS (Aspecto da Porta principal encimada com as medalhas obtidas por esta empresa em exposições Internacionais, na RUA DO BEATO) in ARQUIVO/APS
 Rua do Beato (2014) (A RUA DO BEATO no lado esquerdo os silos da antiga Companhia Industrial de Portugal e Colónias, S.A.R.L.) in  GOOGLE EARTH
 Rua do Beato - (2014) ( A Rua do Beato no sentido para Oriente, ladeado pelas construções da fábrica de moagem e novas instalações)  in  GOOGLE EARTH
Rua do Beato - (1970) Foto de João H. Goulart (Em primeiro plano o portão de acesso à rampa do pátio da "QUINTA DAS MURTAS" na RUA DO BEATO) (Abre em tamanho grande)  in  AML

CONTINUAÇÃO) RUA DO BEATO [ VII ]

«O CONVENTO DO BEATO ( 4 )»

Diz-nos o PADRE FRANCISCO DE SANTA MARIA, no seu livro "O CÉU ABERTO NA TERRA", que a "CAPELA-MOR" do "CONVENTO DO BEATO, tinha quatro sepulturas dos LINHARES: a primeira era dos avós de D. JOANA DE NORONHA o 1º. CONDE DE LINHARES; a segunda dos pais (2º. CONDE DE LINHARES) ( 1 ) ; a terceira, do irmão, D. FERNANDO DE NORONHA (3º. CONDE DE LINHARES) e suas duas filhas, D. MARIA e D. VIOLANTE DE NORONHA "(...) que (...) faleceram moças, sem casar; e por não terem descendentes que herdassem a sua casa, lhe fez mercê a Majestade del-Rei FILIPE III por seus muitos serviços e merecimentos, de a poder nomear, o que ele fez nos CONDES D. MIGUEL DE NORONHA, e D. INÁCIA seus sobrinhos, que ao presente a possuem; e a quarta do outro irmão, diz textualmente; "SEPULTURA DE D. ANTÓNIO DE NORONHA, PRIMEIRO FILHO DO SEGUNDO CONDE DE LINHARES D. FRANCISCO, E DA CONDESSA D. VIOLANTE, QUE OS MOUROS MATARAM EM CEUTA A 29 DE ABRIL DE 1553 ANOS, SENDO ELE DE 17. D. JOANA DE NORONHA, SUA IRMÃ, QUE NUNCA CASOU E FEZ ESTA CAPELA À SUA CUSTA, QUANDO A ACABOU, QUE FOI NO ANO DE 1622, TRANSLADOU SEUS OSSOS DA SÉ DE CEUTA A ESTA SEPULTURA, E NÃO A DEU AOS MAIS IRMÃOS SEUS, PORQUE DOIS DELES MORRERAM EM ÁFRICA COM EL-REI D. SEBASTIÃO, E OS OUTROS DOIS NAS PARTES DA ÍNDIA, E DOIS SÃO RELIGIOSOS DA ORDEM DE SANTO AGOSTINHO" .

São comoventes estas inscrições. D. JOANA DE NORONHA (que nunca casou), levou certamente uma vida inteira de oração e penitência, ter-se-à resumido em acomodar piedosamente e condignamente os seus defuntos, enquanto ela própria esperava com imperturbável resignação a sua vez de partir.

O surgir de novos tempos, não encontrou eco nestes "Epitáfios", e a ampla CAPELA-MOR que "D. JOANA" amorosamente ornara para a destinar a jazigos dos seus, foi profanada, os túmulos abertos, e as cinzas dos NORONHAS, miseravelmente "despejados" dentro de um CARNEIRO ( A ) ou subterrâneo ( 2 ). Conservam-se todavia as inscrições tumulares metidas nas paredes da CAPELA-MOR, onde aliás, sempre terão estado ( 3 ). E vamos lá saber até quando...

O Terramoto de 1755 pôs à prova a boa construção do CONVENTO, que não foi abalada.
Depois do sismo, as cinzas da Infanta D. CATARINA (1391-1438), filha Del-Rei D. DUARTE, depositadas no CONVENTO DE SANTO ELÓI, no "LARGO DOS LÓIOS", da mesma congregação, foram para este CONVENTO DO BEATO transladadas e depositadas na CAPELA-MOR, devido ao estado de completa ruína em que aquilo ficou.
Data também dessa época a transferência da paróquia de SÃO BARTOLOMEU para a IGREJA DO CONVENTO, (conforme já nos referimos), passando então a mesma a designar-se de nova PAROQUIA DE S. BARTOLOMEU DE LISBOA.
o erudito e incansável INÁCIO VILHENA BARBOSA (1811-1890), que foi noviço do CONVENTO DO BEATO, diz-nos; "Duas coisas havia neste CONVENTO dignas de menção: a livraria, que contava com os seus dez mil volumes, pela grandeza e alegria da casa; e a escada conventual pela sua beleza e magnificência. Construída de mármore branco e cor de rosa, era guarnecida de balaustrada com estátuas".

( A ) - CARNEIRO - (...) Ossário, Jazigo; Sepulcro ou Cemitério.
( 1 ) - O CORPO DE D. FERNANDO DE NORONHA, diz-nos o cronista, não jazia ali, porque tendo morrido "com cheiro a santidade", foi achado incorrupto, e arranjaram-lhe nova sepultura no vão do altar-mor.
( 2 ) - "COLECTÂNEA OLISIPONENSE", vol. I, pag. 84, LISBOA, 1982.
( 3 ) - "ARQUIVO PITORESCO", de VILHENA BARBOSA, 1864, pag. 214.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO BEATO [ VIII ]-A NACIONAL ( 1  )».

sábado, 7 de fevereiro de 2015

RUA DO BEATO [ VI ]

«O CONVENTO DO BEATO ( 3 )»
 Rua do Beato - (2005) -Foto de APS ("ALAMEDA DO BEATO" edifício da nossa esquerda - pertença de A NACIONAL - onde podemos ver uns paus de bandeira, nos anos 40 e 50 do século passado, era uma esquadra da PSP do BEATO, há muitos anos desactivada. in ARQUIVO/APS
 Rua do Beato - (2005) Foto de APS - (Pormenor da porta do edifício nobre de grande significado na arquitectura industrial, encimado com as medalhas) in  ARQUIVO/APS
 Rua do Beato - (2003) Desenho aguarelado de Vasco d'Orey Bobone (Edifício dos serviços administrativos de A NACIONAL. Esta fábrica erigida no meio de densa construção fabril, em meados do século XIX. Neste espaço esteve inicialmente instalado o antigo CONVENTO DO BEATO e posteriomente, a Moagem a Vapor de João de Brito) in SAUDADES DE LISBOA 
 Rua do Beato (1993) Foto de António Sacchetti (Pormenor de outra escadaria existente no antigo CONVENTO DO BEATO) in LISBOA, UM PASSEIO A ORIENTE 
Rua do Beato - (1993) - Foto de António Sacchetti (Um ângulo da escadaria no CONVENTO DO BEATO) in LISBOA, UM PASSEIO A ORIENTE

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO BEATO [ VI ]

«O CONVENTO DO BEATO ( 3 )»

A IGREJA DO BEATO ANTÓNIO, de momento ainda em riscos de sobrevivência, é assim ao presente um dos espaços mais estranhos e extraordinários de LISBOA, misturando sensibilidades e funcionalidades num resultado que parece merecer rapidamente uma intervenção salvadora, isto em 1998.
Quanto às restantes dependências sobressaem aquelas que têm sido alvo de um meritório processo de restauro processo de restauro pela NACIONAL, sua anterior proprietária: o claustro, o corpo do refeitório e da biblioteca, duas magníficas salas sobrepostas ligadas pela escadaria, para a qual o adjectivo mais apropriado é espampanante, aliás de acordo com o gosto cenográfico barroco vigente no tempo em que foi construída, ou seja, após 1697.
Quanto ao claustro, também ainda inexistente nessa data em que escreve o cronista, é bastante mais sóbrio nas linhas da arcaria de pilastras, podendo talvez aventar-se a explicação de se tratar de projecto mais antigo que as dificuldades financeiras atrasaram na execução.

CAPELA-MOR DO BEATO
A peça mais celebrada ao longo dos tempos na IGREJA DO BEATO foi a magnífica CAPELA-MOR, toda de "mármores brancos e jaspes vermelhos", terminada em 1622 e erguida por iniciativa de D. JOANA DE NORONHA, filha dos CONDES DE LINHARES, família então proprietária da grande Quinta ali perto ao POÇO DO BISPO, depois dos "CONDES DE VALADARES".
A sua dimensão, ajustada às proporções da própria IGREJA, fazia dela um espaço majestoso, embora de grande sobriedade, enobrecido somente pelo jogo subtil das pilastras e molduras arquitectónicas ao "moderno", realçada pela variedade suave das tonalidades do mármore. Não se conhece qualquer informação sobre o retábulo do "altar-mor".
Destinou-a "D. JOANA DE NORONHA" este espaço a panteão de sua família, dispondo em redor embebidos na grossura das paredes as lápides dos sucessivos túmulos, desde seu Avô "D. ANTÓNIO DE NORONHA" - 1.º CONDE DE LINHARES (1464-1551), aos pais e irmãos. Entre eles destaca-se o de D. ANTÓNIO DE NORONHA, o irmão primogénito, morto em CEUTA aos 17 anos (29.04.1553), em cuja lápide D. JOANA deixou bem explicita a sua vontade de reunir no sono derradeiro, uma família que morrera repartida pelos vários cantos do MUNDO. Esta heróica morte do herdeiro de uma das maiores "CASAS" da alta nobreza de PORTUGAL, mereceu ser cantada por CAMÕES num soneto.
A CAPELA-MOR albergava os quatro majestosos túmulos dos «LINHARES», sustentados por elefantes de mármore. Tinha um excelente retábulo e um perfeito Sacrário com seu cofre riquíssimo, ornado de várias pedras com muitos engastes de ouro, jóia de grande preço e feitio. 
Na EPÍSTOLA pode ler-se: D. JOANA DE NORONHA, que nunca casou, filha do Conde D. FRANCISCO DE NORONHA, e da Condessa D. VIOLANTE DE ANDRADE, fez esta CAPELA à sua custa e lhe dotou uma missa quotidiana além da que já tinha. E no lado do EVANGELHO: não tomou D. JOANA para si sepultura nesta CAPELA, por ter já lugar no MOSTEIRO DE NOSSA SENHORA DA ANUNCIADA, a que sempre teve muita devoção e afeição, onde tem quatro irmãs freiras; acabou-se esta CAPELA no ano de 1622. 

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO BEATO [ VII ]-O CONVENTO DO BEATO ( 4 )» 

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

RUA DO BEATO [ V ]

«CONVENTO DO BEATO ( 2 )»
 Rua do Beato - (2005) Foto de APS (Porta do edifício principal da Administração, encimada por medalhas obtidas em exposições Internacionais, no número 44 da RUA DO BEATO) in ARQUIVO/APS
 Rua do Beato - (2014) (A "ALAMEDA DO BEATO" ao fundo a antiga IGREJA DO BEATO ANTÓNIO, que depois de 1836 foi vendida, conjuntamente com as casas que compunham o CONVENTO DO BEATO, ao Industrial JOÃO DE BRITO)  in   GOOGLE EARTH
 Rua do Beato - (1993) Foto de António Sacchetti ( O interior do antigo CONVENTO DO BEATO, num pormenor da escadaria de mármore rosa) in  LISBOA, UM PASSEIO A ORIENTE
 Rua do Beato - (Anos 80 do século passado) (A Abside da antiga IGREJA DO CONVENTO DO BEATO, com as duas chaminés dos fornos de Malte e Bolachas)  in  CAMINHO DO ORIENTE
Rua do Beato - (1927) ( A "ALAMEDA DO BEATO" e a IGREJA DO CONVENTO DO BEATO, segundo o desenho publicado no livro MONUMENTOS SACROS DE LISBOA de Luís Gonzaga Pereira e Augusto Vieira da Silva)  in MONUMENTOS SACROS DE LISBOA

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO BEATO [ V ]

«O CONVENTO DO BEATO ( 2 )»

A tarefa desta iniciativa do «PADRE ANTÓNIO DA CONCEIÇÃO» conhecido pelo "BEATO ANTÓNIO". " (...) se animou a esta grande obra, com sete tostões, que lhe haviam dado de esmola para umas missas (...). à vista de uma resolução tão heróica, começou a correr a fama e juntamente a concorrer a piedade e grandeza de muitas pessoas ricas, que deram para o novo edifício largas esmolas". ( 1 ).
A principal mudança levada a cabo em toda essa obra, portanto, a alteração da orientação de todo o conjunto, bem como o natural engrandecimento das dependências, tudo construído com uma escala pouco habitual entre nós. Tal facto não poderá desligar-se do patrocínio do VICE-REI D. CRISTÓVÃO DE MOURA, MARQUÊS DE CASTELO RODRIGO (1538-1613), cuja intervenção em LISBOA parece sobressair pela escala gigantesca que deliberadamente cultivou; lembre-se o seu próprio PALÁCIO DO CORTE-REAL NA RIBEIRA, o MOSTEIRO DE SÃO BENTO, destinado a PANTEÃO familiar, e, sobretudo, o projecto inicial do "MOSTEIRO DE SANTOS-O-NOVO (Junto à actual AVENIDA MOUZINHO DE ALBUQUERQUE E À  CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA). Se a este juntarmos as obras régias, que ele próprio acompanhou - O TORREÃO DA RIBEIRA e SÃO VICENTE DE FORA - parece estarmos perante um dos mais activos e significativos períodos arquitectónicos de LISBOA, dificilmente conciliável aliás com ideia difundida após a RESTAURAÇÃO de um país espezinhado pela tirania estrangeira. Pelo menos vistas largas, vontade e dinheiro não faltavam. Além de CRISTÓVÃO DE MOURA, cumpre realçar a figura de "D. JOANA DE NORONHA", que teve a ideia de mandar construir a magnifica CAPELA-MOR, destinada a PANTEÃO de sua família, os CONDES DE LINHARES. 
O modelo seguido na construção da NOVA IGREJA, parece ter sido as características de SÃO VICENTE DE FORA. Tal facto é sobretudo evidenciado pelo alçado esguio da fachada, com duas torres com pináculos e coruchéus - pelo menos assim surgem desenhadas na informação gráfica disponível  (infelizmente apeadas em 1878),  numa escolha estética ao tempo carregada de sentido, já que contrariava a prática jesuítica em voga de recuar a Torre sineira para a cabeceira do Templo, como ainda podemos ver no antigo COLÉGIO DE SÃO ROQUE, da COMPANHIA DE JESUS
O interior da IGREJA era de dimensões pouco habituais, marcada sobretudo por algum desequilíbrio maneirista nas proporções entre o comprimento, a largura e a altura excessiva a que foi lançada a abóbada de caixotões, resultando um espaço em que a majestade das proporções deveria causar ao visitante e a estranha sensação de entrar numa imensa caverna sem fim. Dizemos devia porque a recente divisão horizontal do templo foi aproveitado em três pisos, por placas de cimento armado, não nos permite desfrutar o global espaço que, curiosamente, essa inesperada intervenção fez ganhar uma nova aura perturbante: ao desequilíbrio inicial de laivos maneiristas substitui-se um toque surrealista, acentuado pelo forno de Malte instalado no centro da magnifica CAPELA-MOR, envolto pelos mármores cuidados do Panteão dos CONDES DE LINHARES.

( 1 ) - "O CÉU ABERTO NA TERRA", do Padre Francisco de Santa Maria, pág. 481, 1697-Lisboa.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO BEATO [ VI ]-O CONVENTO DO BEATO ( 3 )».