quarta-feira, 29 de maio de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ VII ]

 Rua do Açúcar - (2013) Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira (Vista exterior do "Palácio da Mitra" já sem os carris dos eclécticos na "Rua do Açúcar") in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (ant. a 1998) Foto de António Sacchetti - (A escadaria do "Palácio da Mitra" , aliado à nobre e sóbria arquitectura, fazem deste espaço o mais belo e elaborado do palácio e um exemplar característico da arquitectura palaciana Joanina) in LISBOA - UM PASSEIO A ORIENTE
 Rua do Açúcar - (ant. a 1998) Foto de António Sacchetti - (Mais uma foto da belíssima escadaria do "Palácio da Mitra") in LISBOA - UM PASSEIO A ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1945) Foto de André Salgado ("Palácio da Mitra"  perspectiva da fachada longitudinal do grande corpo rectangular para a "Rua do Açúcar". É visível quer o tratamento do pórtico armorejado em alvenaria, onde se inserem as armas patriarcais, quer o gradeamento do portal exterior onde se podem ler as iniciais em ferro T.C.P. e P.D.L. que exprimem o seguinte significado: «TOMAZ CARDEAL PATRIARCA» - «PRELADO DA DIOCESE DE LISBOA»)  in  AFML
 Rua do Açúcar - (anos 40 do séc.XX) Estúdios Mário Novais (Jardim Superior do Palácio de onde se avista o Tejo, anterior à construção dos armazéns nos anos 50, que lhe tiraram as belas vistas do rio) in AFML
Rua do Açúcar - (Anos 40 do séc. XX) Autor da foto não identificado (Uma vista panorâmica sobre a margem do rio Tejo, com o "Palácio da Mitra" muito perto da margem) in AFML 

(CONTINUAÇÃO)- RUA DO AÇÚCAR [ VII ]

«O PALÁCIO DA MITRA ( 2 )»

No tempo de "D. JOÃO V", o Bispo (no caso Arcebispo) de LISBOA passou a usar o título de Patriarca. E foi exactamente o primeiro prelado a usar essa designação, «D. TOMÁS DE ALMEIDA» (1716-1754), quem mandou proceder à grande remodelação do «PALÁCIO DA MITRA». 
Para tanto, recrutou os serviços do arquitecto italiano "GIACOMO ANTÓNIO CANAVARI», que permaneceu poucos anos em Portugal, mas que ainda deixou obra. Lá trabalharam também "RODRIGO FRANCO" e, muito provavelmente "CARLOS MARDEL".
Além da casa, todo o conjunto dos terrenos da «MITRA» foi alvo de embelezamento e engrandecimento.
A Quinta prolongava-se até ao rio, pelo que chegou a ser construído um cais próprio, onde embarcava na sua galeota rumo à cidade, o Primeiro Cardeal Patriarca de Lisboa.

A casa de repouso dos Patriarcas manteve-se assim perto de um século. Depois, em 1834, quando o ESTADO LIBERAL retirou às Ordens Religiosas e à Igreja em geral grande parte das respectivas instalações, o «PALÁCIO DA MITRA» foi "nacionalizado". Diga-se em abona da verdade, porém, que o acto administrativo não teve por alvo a satisfação urgente de uma necessidade colectiva. De facto, o ESTADO ficou com o Palácio, mas não sabia o que lhe havia de fazer.
Assim, como é costume nestas coisas, depois da anexação veio a "privatização", que talvez ainda não se chamasse assim.
O Palácio e Terrenos, foram adquiridos por dez contos de réis, com a conivência oficial do «MARQUÊS DE SALAMANCA», «D. JOSÉ SALDANHA», banqueiro poderoso muito favorecido pelos poderes públicos, por ter sido um dos fundadores da "COMPANHIA REAL DOS CAMINHOS DE FERRO" e seu concessionário.
Em 1874 o «MARQUÊS DE SALAMANCA» vende o "PALÁCIO DA MITRA", por cerca de cinquenta e quatro contos de réis, a "HORATIO JUSTUS PERRY" ( 1 ), encarregado dos negócios dos E. U. na capital espanhola, e casado desde 1852 com a conhecida poetisa espanhola "CAROLINA CORONADO", os quais se encontravam em LISBOA, desde 1873, hospedados regularmente no célebre "HOTEL BRAGANÇA" (na actual RUA VITOR CORDON)

( 1 ) - JÚLIO DE CASTILHO conhecia muito de perto o bondoso diplomata "Horatio Justus Perry" e a ela faz rasgados elogios no seu livro «LISBOS ANTIGA- O BAIRRO ALTO -Volume III, pás. 128 - 1956 - Lisboa - Publicações Culturais da Câmara municipal de Lisboa.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ VIII ]-O PALÁCIO DA MITRA ( 3)»

sábado, 25 de maio de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ VI ]

 Rua do Açúcar - (2013) Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira (O "Palácio da Mitra" no seu lado Sul e entrada pelo "Beco da Mitra") in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (ant. a 1998) Foto de António Sacchetti (Vista exterior do "Palácio da Mitra" ainda com  os carris dos eléctricos na "Rua do Açúcar") in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (ant. a 1998) Foto de António Sacchetti (O Portão de acesso ao pátio do "Palácio da Mitra" na "Rua do Açúcar") in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (Século XVIII) (Lance de escada do "Palácio da Mitra", os azulejos revestem a parede envolvente até à base das janelas, apresentando paisagens transparentes e distantes, nesta se vê um palácio em construção. É sobre esta paisagem que se encontra representada a balaustrada que envolve a escadaria, formada por balaustres torneados, com cinta central, ladeados em cada troço por pilastras arquitectónicas, terminadas por pequenas urnas. As pilastras dos patamares estão decoradas por uma cabeça feminina, envolvida por palmetas e volutas, enquanto as dos lances de escadas apresentam uma grinalda florida, pendente de concheados e volutas.[J.M.] in  LISBOA REVISTA MUNICIPAL 
 Rua do Açúcar - (ant. a 1943) Estúdios Mário Novais (Fachada Nascente do "Palácio da Mitra". Este longo corpo exterior e pórtico evidenciam um tratamento de fachada muito típico no séc. XVII. Nesta foto podemos ver que o alargamento da Rua ainda não se tinha efectuado) in AFML
Rua do Açúcar - (1864) (O "Palácio da Mitra" segundo uma litografia publicada in Archivo Pittoresco, T. VII, 1864. Nota-se ainda os dois obeliscos que ladeavam o cais primitivo, uma das primeiras manifestações em Lisboa deste gosto decorativo romano) in CAMINHO DO ORIENTE

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ VI ]

«O PALÁCIO DA MITRA ( 1 )»

A palavra "MITRA" ainda tem, em Lisboa, sentido diferente daquilo que aparece nos dicionários. Enquanto para o comum dos mortais a palavra está relacionada apenas com a dignidade episcopal, insígnia de Bispo, nesta cidade estende-se-lhe o significado, relacionando-a com extrema pobreza e gente sem tecto.
A "culpa" vem do facto de, em 1933, se ter criado, em terrenos que tinham sido da «MITRA DE LISBOA», um asilo para o qual foram levados velhinhos de ambos os sexos, sem posses entregues às agruras da vida, vivendo da caridade alheia. Depois, para o mesmo albergue passaram a ser encaminhados quantos fossem apanhados a vagabundar pela cidade de Lisboa, sem darem mostras de ter eira nem beira, no fundo aqueles a quem chamamos hoje de  "sem abrigo".
Conduzidos para lá pela polícia muitos chegavam em deploráveis condições, o que terá levado a que a expressão «ir para a Mitra», fosse encarada com um misto de dó e de repulsa, era pois o ponto mais baixo da decadência.
Mas. obviamente, "MITRA" não foi só isso - nem essencialmente isso. Na verdade existe um palácio digno com esse nome, circunstância derivada, obviamente, do facto de ter pertencido aos Bispos, Arcebispos e depois Patriarcas de LISBOA.
Fica no número sessenta e quatro da "RUA DO AÇÚCAR" na freguesia de «MARVILA», e, agora que a parte Oriental da Cidade está na moda, não terá passado despercebida a sua beleza discreta, contrastando com as casas circundantes, certamente bem diferentes em formosura e estado de conservação.
Pertence hoje o Palácio à Câmara Municipal de Lisboa, e num dos pisos, lá teve a sua sede, por cedência da edilidade, o já histórico «GRUPO AMIGOS DE LISBOA».
Mas até chegar a este ponto, longas voltas deu a "MITRA".

Tudo terá começado com «D. AFONSO HENRIQUES», que decidiu em 1149, ou seja, logo dois anos depois da reconquista cristã da cidade, doar ao então bispado, uma enorme extensão de terreno a Oriente.
Os Bispos de LISBOA fizeram ali o seu local de repouso. O Palácio propriamente dito apareceu já no século XVII, através de restauros de casas antigas e novas construções, quando o pastor desta diocese já tinha a dignidade de Arcebispo e o titular era «D. LUÍS DE SOUSA»(1675-1702).

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XVII ]-O PALÁCIO DA MITRA (2)»

quarta-feira, 22 de maio de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ V ]

 Rua do Açúcar - (anterior a 1998) (Fachada da "Quinta das MURTAS" na "Rua do Beato" início da "Rua do Açúcar". Reparem que nesta ocasião ainda tinha os carris dos eléctricos para o "Poço do Bispo" in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (depois 1998) - (Fachada da "Quinta das Murtas" vendo-se em primeiro plano o portão de acesso à rampa do pátio) in  CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (2013) - (Portão que dá acesso ao "Pátio da Quintinha" considerado uma das ilhas de habitação operária, na antiga "Quinta das Murtas") in GOOGLE EARTH
Rua do Açúcar - (2013) Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira (Um armazém na "Rua do Açúcar" no lado nascente in ARQUIVO/APS

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ V ]

« A QUINTA DAS MURTAS»

A «QUINTA DAS MURTAS» indicada no "MAPA DOS FOROS DE MARVILA" representa o número  20.
A informação mais antiga referente a esta propriedade remonta ao primeiro quartel do século XVII, sendo então seus possuidores o secretário «JOÃO LOPES SERRÃO» e sua mulher, «D. JULIANA DE SEMEDO». No ano de 1628 venderam a quinta -  que estava foreira  a «FRANCISCO DE VASCONCELOS», "CONDE DE FIGUEIRÓ" ( 1 ) -  por seis mil réis e dez galinhas, ao "1º CONDE DE PALMA", "D. ANTÓNIO DE MASCARENHAS", sobrinho do seu homónimo da "QUINTA DO GRILO".
Por morte do CONDE coube a quinta em partilhas (18.07.1636) a sua mulher, "D. MARIA DE TÁVORA", que a vendeu pouco depois a "D. ANTÓNIO DE CASTRO", Tesoureiro-mor da "SÉ DE LISBOA", por oitenta mil cruzados. Na escritura de venda, celebrada em 1641, a propriedade é referida como "(...)uma quinta junto do Mosteiro de São Bento de Xabregas, (actual CONVENTO DO BEATO) que foi de Estevão de Alcairo, a qual parte de uma parte com muro do dito Mosteiro e de outra parte com quinta de "João Cotrim" e com estrada pública que vai para o Poço do Bispo (...) que contém em si casas nobres, celeiros, cais de pedraria, jardim, pomar e vinha, toda murada à roda" (2). Os registos paroquiais da freguesia fazem três menções a "D. ANTÓNIO DE CASTRO", neto do "CONDE DE BASTO", "D. DIOGO DE CASTRO": Quinta de "D. ANTÓNIO DE CASTRO" junto a "S. Bento"(1649) ( 3 ).
Esta "QUINTA DAS MURTAS" constitui a parcela extrema sul da grande QUINTA DE MARVILA, constituída por uma estreita faixa entre a "ESTRADA DE MARVILA" e o "Caminho Ribeirinho que vai do Beato para o Poço do Bispo" - hoje RUA DO AÇÚCAR.
É constituída de uma típica construção de quinta arrabaldina, com o seu pátio e dependências funcionais, hoje transformada em ilha popular em muito mau estado de conservação. A antiga casa nobre é bastante simples na sua orgânica, sem grandes elementos decorativos, denotando uma estrutura bastante antiga, possivelmente ainda do século XVII.
São escassas as informações sobre campanhas de obras, mas note-se a informação de aqui ter funcionado em meados do século XVIII uma fábrica de marroquinaria, na mesma altura que a quinta do "BETTENCOURT" era transformada em FÁBRICA DE AÇÚCAR, primeiros sinais de um futuro industrial que toda esta zona viria a conhecer.

AZINHAGA DOS ALFINETES
Como curiosidade, na sua origem era denominada "AZINHAGA DAS FONTES", depois, "AZINHAGA DO CAMINHO DE FERRO", começa na «RUA DE MARVILA», ao lado do Nº 131 e finda na "AZINHAGA DO FERRÃO".
O primeiro baptismo derivou da "QUINTA DAS FONTES", por ela servida; o segundo, do assentamento da linha para o Comboio; e o terceiro e actual, pela "QUINTA DOS ALFINETES", contígua à citada Quinta das Fontes, também com igual serventia.
Julgamos que o título de «ALFINETES» proveio de uma fábrica de Trefilaria instalada na fazenda, em meados do século XVIII, onde, além de arame, se fabricavam também aqueles pequenos objectos de uso diverso, bem como pregos ( 3 ).

( 1 ) - IAN/TT,CN, C-12B, Lº307, fl. 38v. -Instituto de Arquivos Nacionais/Torre do Tombo,Cartórios Notariais.
( 2 )    -  Idem
( 3 )  - A Antiga Freguesia dos OLIVAIS de Ralph Delgado - 1969.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ VI ] O PALÁCIO DA MITRA ( 1 )»  

sábado, 18 de maio de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ IV ]

 Rua do Açúcar - (1835) (Pormenor da "Carta das Linhas da Fortificação de Lisboa - 1835 - Vendo-se a Estrada de Marvila e a via junto ao rio, hoje "Rua do Açúcar" até ao "Poço do Bispo", dominado ainda pela grande quinta dos "Condes de Valadares". O Palácio da Mitra, junto ao rio, e o Convento de Marvila", as Quintas dos Marialvas, e dos Abrantes na antiga Estrada de Marvila) in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1992/3) Foto de Filipe Jorge (A margem direita do "RIO TEJO", junto da "ZONA ORIENTAL DE LISBOA", que nesta altura ainda mantinha grande quantidade de armazéns) in LISBOA VISTA DO CÉU
 Rua do Açúcar - (2007) (Da "Rua Capitão Leitão" para sul, toda a propriedade pertencia aos MARIALVAS, incluindo nela estavam as Fábricas dos Fósforos e Borracha) in GOOGLE EARTH
Rua do Açúcar - (2010) Barragon (Panorâmica abrangendo a "Quinta da Mitra". A norte os edifícios construídos pela Fábrica de Cortiça depois Asilo, separado pela "rua Capitão Leitão" as antigas instalações da "Sociedade Nacional de Fósforos", contíguo a antiga "Fábrica da Borracha Luso-Belga". Do nosso lado direito podemos ver um troço da "Avenida Infante D. Henrique", e seguindo para a esquerda encontramos a "Rua do Açúcar") in SKYSCRAPERCITY  

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ IV ]

«A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO ( 4 )

Quanto do Lote ( 7 ) pertencerá então também já à «CASA MARIALVA», pois a partir de 1762 dez anos depois deste desenho, os livros de Registos da Décima são bem explícitos sobre a posse pelos Marqueses de Marialva; "de todos os terrenos à beira da Estrada para o "Poço do Bispo" a partir da "Quinta das Murtas" até à "Quinta da Mitra".
Possivelmente, e a fazer fé neste desenho de memória, o único enclave dentro dos vários lotes reunidos pelos «MARIALVAS» seria o referente ao ( 5 ), citado na legenda como "Quinta defronte da Cruz ao sair da azinhaga das fontes". A Cruz citada é a das "VEIGAS" de que falaremos ao tratar sumariamente do troço inicial da "ESTRADA DE MARVILA".
Refira-se, ainda, o lote ( 10 ), à direita de quem sobe a "RUA DE MARVILA", chamado então a "QUINTA DO ROCHA", cuja casa, apesar de em bastante mau estado, se encontra ainda quase intacta, como o seu pátio, escada exterior com alpendre e varanda. Particularizemos em seguida, cada um destes conjuntos, resultante do emparcelamento da enorme quinta original da "MITRA DE LISBOA".

A ESTRADA DE MARVILA
O troço inicial da "ESTRADA DE MARVILA" merece uma referência específica.
A partir da "ILHA DO GRILO", inicia-se a «ESTRADA DE MARVILA», também chamada no século XIX, como consta na carta de FILIPE FOLQUE, «RUA DIREITA DOS ANANÁSES». Este troço estendia-se até à "AZINHAGA DA FONTE", hoje dita dos "ALFINETES", onde a estrada se passava a chamar «RUA DIREITA DE MARVILA», por se iniciar aí um núcleo urbano. Para poente subiam duas azinhagas de ligação para o interior - a "da BRUXA" e a das "VEIGAS", e para nascente, sobre o rio, a depois chamada "CALÇADA DO DUQUE DE LAFÕES". Antes de chegar à "AZINHAGA DAS FONTES", abre-se hoje um espaço amplo, no qual abriam os portões da antiga «SOCIEDADE NACIONAL DOS SABÕES», e onde outrora existia um CRUZEIRO, talvez de Sinalização Fluvial, chamado a «CRUZ DAS VEIGAS». Em frente abria-se a homónima "Azinhaga das Veigas", dando acesso à "Grande Quinta" também do mesmo nome, onde hoje está instalada a «CASA DE SÃO VICENTE», Instituição de Caridade.
No século XVII, vamos assistir à construção de diversas Quintas em MARVILA, geralmente propriedades de nobres que ali instavam as suas casas de campo para descansar do búlicio da cidade.
A «QUINTA DO BRAÇO DE PRATA» também é dessa época e tem uma história curiosa.
Em 1638, o fidalgo «ANTÓNIO DE SOUSA DE MENESES» perdeu o braço direito numa batalha contra os HOLANDESES no BRASIL. Regressado a PORTUGAL, mandou colocar um braço de prata. A sua Quinta, perto do "POÇO DO BISPO" (actual Quinta da Matinha) cedo tomou aquela designação, mais tarde adoptada pela "Estação do Caminho de Ferro".
Mais uma curiosidade, esta relacionada com a população Moura ou Moçárabe na zona de MARVILA, nos séculos XIII e XIV, e na Panasqueira (freguesia dos Olivais) até ao século XV. Isto foi encontrado em Documentação proveniente dos Cartórios das Corporações Religiosas e conservadas na Torre do Tombo.
As terras dos MOUROS tinham sido doadas à MITRA, mas nem todos abandonaram a região, se bem que alguns tivessem mesmo sido obrigados a permanecer, porque foram feitos escravos.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ V ] «A QUINTA DAS MURTAS». 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ III ]

 Rua do Açúcar - MAPA DOS FOROS DE MARVILA (1752) - (Instituto de Arquivos Nacionais/Torre do Tombo-Arquivo da Casa de Abrantes-Morgado do Esporão Nº 194, Doc. 4045). Esta planta desenhada à mão é acompanhada pela seguinte legenda: - 1)Palácio e Quinta de Marvila; - 2)Casas defronte do jardim; - 3)Courela defronte do pátio; - 4)Três moradas de casas na "Rua Direita de Marvila"; - 5) Quinta defronte da Cruz ao sair da azinhaga das Fontes; - 6)Vinha (separada da Quinta de Marvila) chamada de Calçada; - 7)Casas na "Rua de São Bento dos Loios" para Marvila; - 8)Quinta e Palácio dos Marqueses de Marialva; - 9)Luís da Costa Campos; - 10)José da Rocha de Vasconcelos; - 11)Padre Estêvão Pissola(casas); - 12)João de Oliveira; - 13)Padre Gabriel da Silva; - 14)Francisco Tinoco; - 15)Luís da Costa; - 16)José Teixeira da Silva; - 17)Doutor Miguel de Araújo; - 18)Quinta do Bettencourt; -19)Convento Nossa Senhora da Conceição de Marvila; - 20)Quinta das Murtas. "A"-Azinhaga das Fontes (depois) Azinhaga dos Alfinetes - "B" - Estrada chamada de São Bento para Marvila e antiga para Sacavém; - "C" - Estrada para o (BEATO?), (Rua Direita do Açúcar) actual "RUA DO AÇÚCAR". in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (2007) (Panorama da "Quinta de Marvila" podemos observar quase na sua totalidade. A direita o Convento de Santa Brígida, baptizado conforme o desejo de Brígida de Santo António, com o nome de "Nossa Senhora da Conceição", e ainda a doca do "Poço do Bispo") in GOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar - (2007) - (Panorama da "Quinta de Marvila", vendo-se a "Quinta da Mitra" a do "Bettencourt" à direita, na parte esquerda a "MITRA" a "Quinta dos Marqueses de Marialva" in GOOGLE EARTH
Rua do Açúcar - (2007) - (Panorama da "Quinta da Mitra o Palácio e seus Jardins" entre a ferrovia e a "Rua do Açúcar") in GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ III ]

«A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO ( 3 )»

Do lado norte dessa azinhaga e estendendo-se entre o rio e o "Vale Formoso de Baixo", ficava a quinta que foi dos "CONDES DE LINHARES", depois dos de "VALADARES", inicialmente conhecida também por quinta do Morgado de "MARVILA", apesar de estar fora dos terrenos abrangidos pelas propriedades episcopal. Mais tarde, talvez para evitar confusões, generaliza-se a designação de «QUINTA DO CONDE DE VALADARES» ao "POÇO DO BISPO".
Dispomos de um desenho tosco, (que iremos fazer acompanhar este post), trata-se de um documento feito à mão e datado de 1752, da subdivisão em foros de todos os terrenos da «QUINTA DE MARVILA», então propriedade de raiz do Morgado do ESPORÃO, e que acompanha como explicação o auto de posse do referido Morgado por "MANUEL RAFAEL DE TÁVORA", em nome do filho, o "CONDE DE VILA NOVA, então menor.
Este documento precioso, pois embora tosco é o mapa mais antigo desta zona, elucida-nos sobre a divisão da propriedade, permitindo identificar com mais ou menos precisão, algumas quintas hoje profundamente transformadas. Vamos olhá-lo com alguma atenção, seguindo a legenda que o acompanha, e identificando as parcelas da grande propriedade de «MARVILA» que mais directamente nos interessam.

MAPA DOS FOROS DE MARVILA - 1752

Começando por uma leitura global, individualizemos as principais vias desenhadas.
A nascente junto ao rio, corre o caminho ribeirinho, aqui chamado "ESTRADA PARA O BEATO". Entronca ele no "POÇO DO BISPO", que por lapso se designa por "BEATO", onde começa a subir a "RUA DE MARVILA", que atravessa em arco o desenho, como eixo central de toda a propriedade, aqui dita "ESTRADA chamada de SÃO BENTO para MARVILA e antiga para SACAVÉM". Dela nasceu para poente duas azinhagas a das "FONTES" (depois  ALFINETES)e outra não nomeada, hoje "RUA JOSÉ DO PATROCÍNIO", ambas cruzando-se a poente na então "ESTRADA NOVA DO FUNDÃO". Entre estas vias, isola-se uma vasta parcela de terreno, com o número ( 1 ), e designada por "QUINTA GRANDE", correspondendo à propriedade principal, então do referido " CONDE DE VILA NOVA", depois «MARQUÊS DE ABRANTES». Mas é o espaço a nascente entre a referida "RUA  DE MARVILA" e a "RUA DO AÇÚCAR" que especialmente nos interessa.
Aqui encontramos as seguintes parcelas, referentes a quintas que adiante iremos apreciar. Partindo da fronteira do "BEATO", e devidamente identificadas na legenda, encontramos: com o (Nº 20) a "QUINTA DAS MURTAS", com o (Nº 8) a do "MARQUÊS DE MARIALVA", com o seu Palácio bem desenhado sobre a "RUA DE MARVILA".
A este segue-se a propriedade aforada à «MITRA», não numerada, onde se ergue o Palácio desse nome, vizinho do lote (Nº3), referido como "Courela em frente ao palácio", ou seja uma parcela ainda então na posse directa do senhorio. Depois, o (Nº18) corresponde ao lote do "BETTENCOURT", terminando por fim num cone imperfeito com o (Nº19), onde então já se achava construído o «CONVENTO DAS BRÍGIDAS DE MARVILA». Alguma confusão se levanta com os números (7) e (9), apresentados respectivamente na legenda como "casas na Rua de São Bento e foro de Luís da Costa Campos", sem mais especificações. Estamos em crer que o (Nº9) corresponderá à chamada "QUINTINHA", já então na posse da "CASA DE MARIALVA", que a adquiriu e, 1717 a um tal "REBELO DE CAMPOS", nome que o autor do desenho possivelmente se deve ter confundido no primeiro apelido, transformando o "REBELO" em "COSTA"

(CONTINUA) - (PRÓXIMO)-«RUA DO AÇÚCAR [ IV ]- A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO ( 4 )»

sábado, 11 de maio de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ II ]

 Rua do Açúcar - (2007) - (Panorama do percurso mais a norte da "Quinta de Marvila". O Lote do Convento,  do Bettencourt e a "Vila Pereira" integrado neste último lote) in GOOGLE EARTH 
 Rua do Açúcar - (1867) Gravura em madeira de J. Pedrodo (A "Quinta de Marvila" dos Condes de Valadares, ao Poço do Bispo, publicada no Álbum das Gravuras em Madeira) in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (1835) - (Pormenor da "Carta das linhas de fortificação de Lisboa"(1835), sendo bem visível o traçado antigo da "Estrada de Marvila" e a via junto ao rio, hoje "Rua do Açúcar" até ao "Poço do Bispo") in CAMINHO DO ORIENTE
Rua do Açúcar - (anos 50 do séc. XX) (Foto de autor não identificado) (Lavadouro Municipal na "Rua Direita de Marvila" onde se encontra o histórico "Poço do Bispo") in   ANTIGA FREGUESIA DOS OLIVAIS

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ II ]

«A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO ( 2 )»

Sobre o «PALÁCIO DOS MARQUESES DE ABRANTES» cabeça original desta imensa propriedade  já naquela época "as casas e assento da dita Quinta" , pormenorizar-se-á a evolução do senhorio desta propriedade, transformada em foro perpétuo no século XVI, que foi inicialmente dos senhores de «PANCAS» e mais tarde integrada no «MORGADO DO ESPORÃO», que veio a cair por herança na grande casa de "VILA NOVA DE PORTIMÃO/ABRANTES".
Aqui interessa sobretudo traçar os contornos genéricos que o termo abrangia e perceber-lhe a evolução, quer da subdivisão da propriedade, quer da evolução viária.
Uma das informações contidas nessa descrição de 1495 é a ausência de qualquer referência a uma via pública ribeirinha, afirmando-se que entre o "Mosteiro de São Bento" e o "Poço do Bispo" a quinta segue "a par com o mar". A estrada que vai da cidade é então só uma, aquela que ainda hoje conhecemos como a "ESTRADA DE MARVILA".
Pergunta-se então quando terá sido batido o caminho pela praia até ao "POÇO DO BISPO", da nossa actual "RUA DO AÇÚCAR"? "Ralph Delgado", no seu importante estudo sobre os OLIVAIS, em cuja freguesia de MARVILA se encontrava integrada desde a sua criação , em 1398, afirma que em 1573, «D. INÊS DE NORONHA», viúva de « JOÃO DA COSTA». senhor de «PANCAS», renovou o plano dos aforamentos de toda a quinta, falando-se de uma «QUINTA NOVA», exactamente com serventia já pelo caminho ribeirinho. Ou seja, poderá admitir-se que entre 1495 e 1573, essa nova via foi sendo consolidada ao longo da praia, impondo naturalmente uma utilização diversa da propriedade que a bordejava em toda a sua extensão, alteração essa administrativamente consagrada na última data referida.
Se ligarmos esta informação a outra já atrás reunida, podemos de facto começar a afirmar com segurança, apesar da ausência de documentação explícita, que a via ribeirinha, foi ganhando consistência ao longo do século XVI, aliás no seguimento da franca aproximação da margem do rio detectada em toda a cidade.
Quanto aos limites genéricos abrangidos então pelo termo «MARVILA», são eles bem claros na documentação: "o muro norte do "Convento de São Bento, ( o BEATOe o "Poço do Bispo", que iremos agora localizar com mais precisão.
O POÇO dito do BISPO dada a sua localização na propriedade episcopal, situava-se no término da mesma, quase na base da rampa da actual «RUA DIREITA DE MARVILA». Junto existia uma pequena azinhaga de ligação à praia, cujo traçado deveria corresponder aproximadamente à parte plana da actual «RUA ZÓFIMO PEDROSO» - de certo está muito mais larga - constituindo uma espécie de limite norte da "QUINTA DOS ARCEBISPOS".
Para cima a via passava a chamar-se o "Vale Formoso", bifurcado em duas direcções; o de "CIMA" e o de "BAIXO".
O topónimo «POÇO DO BISPO», logo estendido à vizinha azinhaga, depressa se autonomizou, passando com o tempo a denominar a parte junto ao rio e o seu prolongamento para Norte, distinguindo-se com nitidez da parte antiga mais acima, junto do velho caminho, que manteve o nome "MARVILA", depois reforçado pela construção do «CONVENTO DAS BRÍGIDAS».

(CONTINUA) - (PRÓXIMO)-«RUA DO AÇÚCAR [ III ] -A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO (3)».    

quarta-feira, 8 de maio de 2013

RUA DO AÇÚCAR [ I ]

 Rua do Açúcar - (2013) Desenho adaptado da "Rua do Açúcar" e seu enquadramento - Sem Escala - APS - LEGENDA -1)Rua do açúcar - 2)Quinta da Mitra - 3)Palácio da Mitra - 4)Fábrica de Cortiça na Mitra e outras actividades - 5)Quinta e Palácio dos Marialvas - 6)Quinta das Murtas - 7)A Quintinha - 8)Fábrica de Borracha Luso-Belga - 9)Companhia Portuguesa de Fósforos-Sociedade Nacional de Fósforos - 10)Quinta do Bettencourt - 11)Vila Pereira - 12)Convento de Nossa Senhora da Conceição de Marvila - 13)Quinta e Palácio do Marquês de Abrantes - 14)Quinta Grande depois Quinta do Marquês de Abrantes - 15)Linha de Cintura de Lisboa (Marvila-Alcântara Terra) - 16)Linha do Norte (Santa Apolónia-Porto) in ARQUIVO/APS  
 Rua do Açúcar - (1835) (Pormenor da Carta das linhas de fortificação de Lisboa - 1835 - sendo visível o traçado antigo da Estrada de Marvila e a via junto ao rio, hoje "Rua do Açúcar". Podem ver ainda como pontos de referencia o "Palácio da Mitra", junto ao Rio, e o Convento de Marvila, a as Quintas dos Marqueses de Abrantes e Marialva, na Rua de Marvila) in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (Desenho possivelmente do séc. XVI, gravura do séc. XIX de Pedroso) O lugar da sede dos Olivais, antes do seu aproveitamento. De notar que, nesta altura, Sacavém, numa curva do Tejo, era visível do sítio do templo) in  A ANTIGA FREGUESIA DOS OLIVAIS
Rua do Açúcar - (2008) (Foto de Microsof Virtual Earth) (Panorâmica de uma grande parte da "QUINTA DE MARVILA" no cimo podemos ver o antigo "Palácio dos Marqueses de Abrantes", A "Quinta da Mitra" na ponta esquerda, a "Vila Pereira", o Lote do Bettencourt e o "Convento de Marvila") in SKYSCRAPERCITY


RUA DO AÇÚCAR [ I ]

«A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO ( 1 )»


A «RUA DO AÇÚCAR» pertence à freguesia de «MARVILA», começa na «PRAÇA DAVID LEANDRO DA SILVA»( ao Poço do Bispo) e termina na «RUA DO BEATO».
Com data da deliberação Camarária de 18.05.1889 e Edital de 08.06.1889, sabe-se que este topónimo cuja data de atribuição se desconhece, mas que provavelmente a partir do século XVIII, já era denominação de «RUA DIREITA DO AÇÚCAR» e parece estar relacionada com uma "FÁBRICA DE AÇÚCAR REFINADO", que existia na "QUINTA DO BETTENCOURT" a qual foi explorada pelo súbito inglês e homem de negócios «CHRISTIAN SMITH» até ao ano de 1782.
No anos de 1752 também aparece no «MAPA DOS FOROS DE MARVILA» a designação desta artéria como «ESTRADA PARA O BEATO».
A «RUA DO AÇÚCAR» é atravessada próximo do "Poço do Bispo" pela «RUA PEREIRA HENRIQUES» e são-lhe convergentes no sentido norte para sul, no lado direito o «BECO DA MITRA», «RUA CAPITÃO LEITÃO», «RUA JOSÉ DOMINGOS BERREIRO» e «RUA AMIGOS DE LISBOA». No lado esquerdo é convergente a «RUA ACÁCIO BARREIRO».

A QUINTA DE MARVILA
O nome de «MARVILA», juntamente com o de «XABREGAS» e «CHELAS», constituem os topónimos mais antigos da Zona Oriental de Lisboa.
Logo após a conquista de LISBOA, "DOM AFONSO HENRIQUES" doou à "MITRA DE LISBOA" "todas as rendas e terras de Marvila que possuíam as Mesquitas dos Mouros", ( 1 ) partilhando logo no ano seguinte o bispo metade da propriedade com o "CABIDO", angariando-se assim a base de sustentação da mais alta estrutura eclesiástica de LISBOA.
Sabendo nós que o Vale de Chelas pertencia em grande parte às antigas freguesias colegiadas de Lisboa, sem que se conheça neste caso qualquer doação, talvez se possa colocar a hipótese de o acto de 1149 não ser mais que a confirmação de uma situação preexistente, lançando alguma luz sobre a orgânica social e administrativa milenar da cidade de LISBOA.
Os limites de MARVILA - sobretudo os da "QUINTA DOS ARCEBISPOS" - são bem conhecidos, definidos com precisão e, 1495, no contrato de emprazamento que o arcebispo "D.JORGE DA COSTA", o célebre CARDEAL de «ALPEDRINHA», fez à sua irmã, "D. CATARINA DE ALBUQUERQUE", de toda a propriedade, assim constituída: "Uma Quinta que se chama de Marvila, que está além do Mosteiro de São Bento (...), a qual parte com o mar, desde o "Poço do Bispo" até ao dito Mosteiro(...), vindo pelo muro do dito Mosteiro ter à Estrada que vai da cidade, e atravessando a dita Estrada, partindo com vinhas do Cabido (...), indo ter à cerca dos currais e palheiros que estão junto com as casas e assento da dita Quinta (...) cerrando onde primeiro começou, ficando o dito "Poço do Bispo" dentro das ditas divisões. 

( 1 ) - Cunha, Rodrigues da - História Eclesiástica da Igreja de Lisboa-Lisboa 1642 pp 69 e seguintes.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DO AÇÚCAR [ II ] - A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO ( 2 )».

sábado, 4 de maio de 2013

RUA DE DONA ESTEFÂNIA [ XXI ]

 Rua de dona Estefânia - (2012) (Entrada da "Academia Militar" na parte Norte do "Palácio da Bemposta", no início da "Rua de dona Estefânia" lado Sul) in GOOGLE EARTH
 Rua de dona Estefânia - (2012) (A "Academia Militar" no "Palácio da Bemposta" com uma entrada pela "Rua de dona Estefânia") in GOOGLE EARTH 
 Rua de dona Estefânia - (2010) (Terrenos da "Quinta da Bemposta" do antigo "Palácio da Bemposta" ou "Paço da Rainha", hoje campos de treino da "Academia Militar" in MÁRIO MARZAGRÃO ALFACINHA
 Rua de dona Estefânia - (1960) (Palácio da Bemposta - "Academia Militar". Painel de azulejos com cenas militares na parede do átrio, autor da obra "Jorge Colaço" datados de 1918) in AFML
Rua de dona Estefânia - (entre 1938 a 1959) Foto de Augusto Bobone (A "Escola do Exército" no "Palácio da Bemposta" no "Largo do Paço da Rainha" in  AFML 

(CONTINUAÇÃO) - RUA DE DONA ESTEFÂNIA [ XXI ]

«A ACADEMIA MILITAR ( 2 )»

O segundo período vai de 1863 a 1890. "SÁ DA BANDEIRA" tinha sido nomeado seu director em 1851, manteve-se no cargo até 1863, e passou a "Comandante" até à sua morte, em 1876, salvo nos períodos em que desempenhou as funções de "Ministro" ou "Secretário de Estado".
Em 1860 quando Ministro, efectuou nessa qualidade a reorganização da "ESCOLA DO EXÉRCITO", que a prestigiou, embora acabando por não poder acompanhar os rápidos progressos da ciência e da técnica militar então percorridos.
No terceiro período, de 1890 a 1910, procedeu-se em 1891 a nova reorganização, pretendendo elevar o nível cientifico dos candidatos a oficiais.
Passou a existir mais cursos de "Administração Militar", e o "Corpo de Alunos", incorporando todos os alunos militares a funcionar nela o internato a partir de 1901. Nesse mesmo ano foi levantada na antiga cerca do "PAÇO DA RAINHA" as edificações necessárias, cujas obras estiveram a cargo do Engº RENATO BAPTISTA.
Com a implantação da REPÚBLICA, o nome da "ESCOLA DO EXÉRCITO" mudou para "ESCOLA DE GUERRA".
Foi profunda a remodelação, devido ao aparecimento no Exército, de oficiais milicianos e à necessidade de preparar os de carreira para bem os enquadrarem e lhes servirem de exemplo, suprimindo-se o curso de "Engenharia Civil", por se ter criado em LISBOA o "INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO" e dividindo-se o curso de ARTILHARIA nos de "ARTILHARIA DE CAMPANHA" e "ARTILHARIA A PÉ".
Durante este período houve necessidade em 1916, com a entrada de PORTUGAL na 1.ª Grande Guerra Mundial (1914-1918), da reorganização de cursos reduzidos, com a duração de cinco meses de frequência efectiva e um mês para exames. A população escolar chegou a ser superior a setecentos alunos, esforço extraordinário só possível à notável acção de comando do General «JOSÉ ESTÊVÃO DE MORAIS SARMENTO". Findo o conflito, a "ESCOLA DE GUERRA" mudou de nome mais uma vez, chamando-se «ESCOLA MILITAR» de 1919 a 1938.
Aumentou a duração dos cursos para melhor se efectuar a educação militar dos alunos.
Pela reorganização de 25 de Outubro de 1926 o curso de "Estado-Maior", em vez de ministrado na "Escola Militar", passou a sê-lo na "ESCOLA CENTRAL DE OFICIAIS", então criada e acabou a existência de dois cursos de ARTILHARIA, embora um complementar, para permitir a alguns artilheiros a obtenção do diploma de engenheiro fabril.
O Decreto-Lei nº 30874, de Novembro de 1940, reorganizou a "ESCOLA MILITAR", novamente designada "ESCOLA DO EXÉRCITO". Foi criada, pela primeira vez o curso de "AERONÁUTICA", e parte do curso de "ENGENHARIA MILITAR".
Pela primeira vez também puderam ser admitidos à matricula sargentos do quadro permanente, com menos de 27 anos, que mais se distinguissem. Por Decreto-Lei nº.35 189, de 24 de Novº de 1945, foi autorizado também o ingresso aos oficiais milicianos com prolongamento permanente nas fileiras e revelada vocação militar.
Os cursos preparatórios foram integrados nos planos de ensino da "ACADEMIA MILITAR", criaram-se novos cursos, como o de "TRANSMISSÕES" para o Exército, o de Engenharia Aeronáutica para a Força Aérea e o de Engenharia Mecânica para o Exército e eventualmente para a Força Aérea, sendo eliminado o curso complementar de Artilharia.
Para a execução desta  reforma, além do "PALÁCIO DA BEMPOSTA", a «ACADEMIA MILITAR» necessitou de dispor também do aquartelamento do «ANTIGO BATALHÃO DE ENGENHOS» na AMADORA, onde passaram a funcionar os cursos preparatórios e o 1º. ano do CURSO GERAL DAS ARMAS. Nestas bases funcionou a "ACADEMIA MILITAR" até ao 25 de Abril de 1974. Actualmente a «ACADEMIA MILITAR» da "QUINTA DA BEMPOSTA" é comandada por um oficial general, estando directamente dependente do "CHEFE DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO".      [ FINAL ]

BIBLIOGRAFIA

ARAÚJO, Norberto de - Peregrinações em Lisboa- Vega - 2ª Ed. livro IV-1992-Lisboa
ATLAS da Carta Topográfica de Lisboa- sob a Direcção de Filipe Folque:1856-1858-CML
DIÁRIO ILUSTRADO - Ed. de 25 de Julho de 1877
DICIONÁRIO da História de Lisboa-(Dirc.Francisco Santana e Eduardo Sucena-1994
FACTOS E FIGURAS DA HISTÓRIA DE PORTUGAL-Coord. Mafalda P.Almeida-1998-Lx.
HOSPITAIS Civis de Lisboa-Hist. do Azulejo(Veloso, A.J.Barros)-Col. Hist. Arte-1996-Lx.
LISBOA-Rev. Municipal Nº 17-1986 Ed. CML-Repartição de Acção Cultural- Lisboa
MARTINS, Rocha-Lisboa de Ontem e de Hoje-Ed. ENP-1945 - Lisboa
NOBREZA de Port. e do Brasil-A.Zuquete-Ed.Enciclopédia -1960 Lisboa
OLHARES DE PEDRA-Estátuas Portuguesas-Ed.João F. Mendes - 2004 - Lisboa
SARAIVA, José Antº. - O Palácio de Belém. Ed. Inquérito - 1985 - Lisboa
VIDAL, Angelina - Lisboa Antiga e Lisboa Moderna- Vega-2ª. Ed. 1994 - Lisboa

INTERNET



(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ I ] A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO(1)»   

quarta-feira, 1 de maio de 2013

RUA DE DONA ESTEFÂNIA [ XX ]

 Rua de dona Estefânia - (2012) (Uma das entradas da "Academia Militar" na "Rua de dona Estefânia" nos terrenos da "Quinta da Bemposta") in GOOGLE EARTH
 Rua de dona Estefânia - (2007) (Panorâmica da "Academia Militar" junto da "Rua de dona Estefânia" na "Quinta da Bemposta") in GOOGLE EARTH
 Rua de dona Estefânia - (2011) Foto de Mário Marzagão (Baixo relevo do Brasão de Armas da "Academia Militar" instalada no "Palácio da Bemposta" e seus jardins) in MÁRIO MARZAGÃO ALFACINHA
 Rua de dona Estefânia - (2010) Foto de Mário Marzagão  (Pormenor de um interior da "Academia Militar" onde estão colocados vários painéis de azulejos com motivos da 1ª Guerra 1914-1918, da autoria de "Jorge Colaço" este representando a Cavalaria, datado de 1918. Ao lado um vitral com as insígnias da "Ordem Militar de Santiago e Espada") in MÁRIO MARZAGÃO ALFACINHA
Rua de dona Estefânia - (entre 1940 e 1959) Foto de António Passaporte (A "Academia Militar" no "Palácio da Bemposta" também conhecido por "Escola do Exército" até 1959) in AFML 

(CONTINUAÇÃO) - RUA DE DONA ESTEFÂNIA [ XX ]

«A ACADEMIA MILITAR ( 1 )»

A «ACADEMIA MILITAR» encontra-se instalada desde o ano de 1851 no «PALÁCIO DA BEMPOSTA», o «PAÇO DA RAINHA» «D. CATARINA DE BRAGANÇA» filha de «D. JOÃO IV» e casada com «CARLOS II» de INGLATERRA. Ali habitou o Príncipe Regente «D. JOÃO» e, depois da partida deste para o BRASIL, lá se instalou o "Quartel-General" da Divisão do general DELABORDE, Governador Militar de Lisboa durante a 1ª Invasão Francesa. Voltou a ser residência real após o regresso do BRASIL,  de «D. JOÃO VI» e nele viveu também «D. PEDRO», Regente do Reino em  nome de sua filha «D. MARIA II».
A «ACADEMIA MILITAR» é um estabelecimento de ensino superior militar destinado a formar oficiais do quadro permanente do EXÉRCITO e, mais tarde, da "FORÇA AÉREA", sucedendo nessa missão a vários outros.
A sua história remonta ao século XVII e conhecendo outras designações: «ACADEMIA REAL DE FORTIFICAÇÃO, ARTILHARIA e DESENHO (1641), fundada no contexto da «GUERRA DA RESTAURAÇÃO»; «ESCOLA MILITAR» de 1837 a 1910; «ESCOLA DE GUERRA» de 1911 a 1919; «ESCOLA MILITAR» de 1919 a 1938; «ESCOLA DO EXÉRCITO» de 1938 a 1959 e finalmente de «ACADEMIA MILITAR» desde 1959 até aos dias de hoje no mesmo local, na «QUINTA DA BEMPOSTA»(Paço da Rainha), embora com um "POLO" na cidade da «AMADORA».
Das reformas operadas na instituição durante várias anos, realçamos a do «VISCONDE DE SÁ DA BANDEIRA» "BERNARDO DE SÁ NOGUEIRA DE FIGUEIREDO", iniciado no ano de 1834 que transformou a «ACADEMIA REAL DE FORTIFICAÇÃO, ARTILHARIA E DESENHO» em «ESCOLA  DO EXÉRCITO».
As "Invasões Francesas" terão eventualmente perturbado o seu funcionamento, interrompido de 1809 a 1811 e depois no ano lectivo de 1833-1834, durante as «LUTAS LIBERAIS».
Havia necessidade de uma reforma radical, reclamada por professores e alunos, em 1837.
Assim , pelo Decreto de 12 de Janeiro de 1837 por «DONA MARIA II», sendo o "Ministro dos Negócios da Guerra", o "1.º MARQUÊS de SÁ DA BANDEIRA», que deu lugar à criação d«ESCOLA DO EXÉRCITO».
Podemos distinguir três períodos na vida da «ESCOLA DO EXÉRCITO»: o primeiro, de 1937 a 1862, em que se ministravam cursos de «ESTADO-MAIOR», de «ENGENHARIA MILITAR» e de «ARTILHARIA», o de «INFANTARIA» e «CAVALARIA», além dos destinados a Engenheiros civis. Indício seguro do aparecimento da «ESCOLA DO EXÉRCITO», em vez de criação, ter representado profunda reforma do ensino superior militar, já antes existente, foi o de ela se manter nas instalações da «ACADEMIA REAL DE FORTIFICAÇÃO, ARTILHARIA E DESENHO» até um grande incêndio, em 1843, ter obrigado a transferi-la para "Rilhafoles", onde funcionava o «COLÉGIO MILITAR». Um mês depois, passou para uma propriedade no «PÁTIO PIMENTA» e, em Julho de 1844, para os terrenos onde hoje se encontra o «HOSPITAL DE SANTO ANTÓNIO DOS CAPUCHOS».
Finalmente, em 1851, instalou-se no «PALÁCIO DA BEMPOSTA» onde se mantém até hoje.
A 8 de Julho de 1853 o Palácio e a Quinta passaram a ser partilhados com o «INSTITUTO-GERAL» e a «ESCOLA REGIONAL DE AGRICULTURA», mas, verificando-se graves prejuízos para os exercícios de campo, vieram estes a abandoná-los em 1866, transferindo-se para a «TAPADA DA AJUDA». 
Em 1861, «D. PEDRO V» cedeu cerca de metade da área da "Quinta da Bemposta" para construção do «HOSPITAL DE DONA ESTEFÂNIA», iniciada em 1865, além dos Quartéis Municipais do «CABEÇO DE BOLA» e da «BELA VISTA», bem como para algumas ruas, circundantes,  das quais destacamos a «RUA DA ESCOLA DO EXÉRCITO» e a «RUA DE DONA ESTEFÂNIA».

(CONTINUA) - (PRÓXIMO)«RUA DE DONA ESTEFÂNIA [ XXI ] -A ACADEMIA MILITAR (2)»