sábado, 30 de maio de 2015

LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ VII ]

«EPISÓDIOS NO LARGO DO INTENDENTE NO FINAL DO SÉCULO XX (2)»
 Rua do Intendente Pina Manique - (2011) Foto de Luís Pavão (Palco para actividades musicais no "LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE") (Abre em tamanho grande) in  AML
 Largo do Intendente Pina Manique - (1967) Foto de Arnaldo Madureira (Edifício premiado, numa das antigas entradas para o "LARGO DO INTENDENTE") in  AML 
 Largo do Intendente Pina Manique - (1944) Foto de Eduardo Portugal (Entrada na época para o "LARGO DO INTENDENTE"no lado da "RUA DA PALMA") (Abre em tamanho grande) in AML
Largo do Intendente Pina Manique - (19__) Foto de José Artur Leitão Bárcia ("Fábrica de Cerâmica da Viúva Lamego" fundada em 1849. A fachada decorada em 1805, por iniciativa do seu proprietário, COSTA LAMEGO. Os motivos decorativos são alegóricos ao Comércio e Industria, da autoria do célebre pintor "FERREIRA DAS TABULETAS") (Abre em tamanho grande)  in  AML 

(CONTINUAÇÃO) - LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ VII ]

«EPISÓDIOS NO "LARGO DO INTENDENTE" NO FINAL DO SÉCULO XX (2)»

De tudo ali pára. "Até crianças nos "BM" dos papás". Não foi na "RUA DO BENFORMOSO" que conheceu NICOLAU. Foi, sim, numa das raras vezes que tentou visitar a mãe. O seu pai mora na mesma casa. "Mas esse não conta".  "NICOLAU" andava por ali, a tentar fazer o menos possível ou à procura de alguém que o acompanhasse nessa tarefa. Viu "ISILDA" sair a chorar. Falaram um bocadinho, foram beber umas imperiais. No dia em que conheceu "ISILDA", "NICOLAU" conheceu outra companheira, que já lhe ocupou as veias dos braços, pernas e pescoço. Hoje, que já passaram dez anos, não prescinde de nenhuma.
"O chulo da "ISILDA", tratei eu dele", conta "NICOLAU", acompanhado por acenos de  aprovação da companheira. Sabe-se lá como, ganhou assim o respeito dos seus pares da rua. Simultâneamente, fez inimigos de peso.  "ARNALDO" - o compreensivo - nunca mais deu as caras no INTENDENTE. Mas soube mais tarde, "aquele sonso andava a "chibarse".  Tradução: "Andava o senhor "ARNALDO" a passar informação à BRIGADA ANTICRIME DA POLÍCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA". A polícia, claro, não gostou de ver um colaborador tão dedicado no banco das urgências do HOSPITAL DE S. JOSÉ. E, na versão de "NICOLAU", desde essa altura nunca mais deixou de ser perseguido. "Eles andam a ver se me apanham. Mas, se julgam que eu sou parvo, estão muito enganados. Tenho sempre muito cuidado quando tenho de sair sozinho. Quando sou revistado, eu é que tiro as coisas dos bolsos". Nem a dez metros, nas imediações da "TRAVESSA DO CIDADÃO JOÃO GONÇALVES", estavam três agentes da PSP, em olhar mecânico para a "passerelle" de mini-saias, quase à paisana entre o corrupiar de taxistas que também ali estacionam as suas viaturas.
"ISILDA" explica o circuito. A partir das 14 horas aquela rua começa a ganhar vida. Grande parte dos bares têm as portas abertas, mas estão tacitamente fechadas. É hora de ponta nas diversas casas de jogo na rua. Foi de lá que saiu "ISABEL", a mais nova das mulheres que ali vivem e trabalham. Veio há coisa de um ano do ALGARVE, "agarrada à fruta". Como "ISILDA", os pais expulsaram-na de casa. "NICOLAU" remata: "É uma pena. É uma miudinha. Podia fazer o que quisesse, anda aqui metida". "ISABEL" meteu-se na conversa. Não estava disposta a falar de si, mas gostava de saber qual era o "gajo para o Casal". O "gajo" era um taxista, com itinerário permanente entre o CASAL VENTOSO, mercado abastecedor, e o INTENDENTE, mercado ansioso de ser abastecido. Lá foi "ISABEL", com encomendas para duas colegas de profissão. Em coisa de meia hora, estaria de volta.
Às 15 horas já a rua está repleta de gente. Uns sofrem a ressaca ao Sol, outros contabilizam os ganhos da noite anterior, as mulheres lançam piropos a quem está de passagem, o SINDICATO DOS TRABALHADORES DE SEGUROS DAS REGIÕES AUTÓNOMAS DA MADEIRA E DOS AÇORES, ergue as suas bandeiras, a farmácia está aberta, as lojas de bijutarias têm os empregados à porta, a empresa de mudanças está em pleno funcionamento. Até às 18 horas, acrescenta a companheira de "NICOLAU", há pouco que fazer. É nessa altura que grande parte dos frequentadores termina o seu horário de trabalho. Nas duas horas seguintes, é grande o movimento, que depois estagna, para retomar por volta das 22 horas.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ VIII ]EPISÓDIOS NO LARGO DO INTENDENTE NO FINAL DO SÉCULO XX (3)».

quarta-feira, 27 de maio de 2015

LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ VI ]

«EPISÓDIOS NO "LARGO DO INTENDENTE" NO FINAL DO SÉCULO XX ( 1 )»
 Largo do Intendente Pina Manique - (2014) Foto de David Kong (O antigo Presidente da CML quer ver o LARGO DO INTENDENTE com mais cafés, para a continuação da reabilitação urbana daquela zona) in  O CORVO
 Largo do Intendente Pina Manique - (1964-03) Foto de Arnaldo Madureira (A "Associação da Soc. Mútuos Almirante Cândido dos Reis" no LARGO DO INTENDENTE. Edifício de traça arquitectónica do século XIX - a placa refere a data de 1863 - evocando uma instituição de carácter social, típico das estruturas institucionais da 1ª. República) in   AML 
 Largo do Intendente Pina Manique - (1968) Foto de Armando Serôdio (O "CHAFARIZ DO INTENDENTE/DESTERRO" depois de mais de cinquenta anos passados da sua transferência do LARGO DO INTENDENTE) (Abre em tamanho grande)  in  AML
Largo do Intendente Pina Manique - (entre 1898 e 1908) Foto de autor não identificado ("LARGO DO INTENDENTE" e "RUA DO BENFORMOSO" o prédio virado para o Largo "FLOR DO INTENDENTE"-Vinhos Comidas e Tabacos) (Abre em tamanho grande)  in  AML 

(CONTINUAÇÃO) - LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ VI ]

«EPISÓDIOS NO "LARGO DO INTENDENTE" NO FINAL DO SÉCULO XX ( 1 )»

Uma reportagem que o "JORNAL INDEPENDENTE" publicou em 12 de Junho de 1998, escrita pelo grande  jornalista «LUÍS PEDRO CABRAL».
"No dia anterior aquilo mais parecia um "FAR-WEST". Na "RUA DO BENFORMOSO" e "INTENDENTE", havia polícia em tudo o que era canto, um movimento pouco habitual para uma véspera de 10 de JUNHO. Nas dezenas de BARES que proliferam neste sítio, o ambiente era o de sempre. Tal como os residentes do bairro, os "habitiés" parecem já imunes às grandes cenas de pancadaria, às vezes da pesada, que estalam no calor da bebida à  mínima faísca  de provocação.
A porteira do "MOURO BAR" estava de avental e roupa branca, a destoar com as suas carnes mais do que generosas. E com a grossa cortina vermelha por trás. 
Lá dentro encontrava-se a sua irmã gémea, acomodada num dos incómodos lugares em frente ao balcão. Pousou um olhar intrigante e atento nas caras novas que acabavam de entrar e lançou de imediato a primeira informação: "MEUS QUERIDOS, A "BEJECA" É A 350 PAUS". Só estava um cliente no estabelecimento, bem atestado, por sinal. Ao fundo do bar, sobressai uma máquina de dados electrónicos. Um pouco antes, sem nunca abdicar de umas quantas mesas, improvisou-se uma pista de  dança. Dá-se pela sua existência por ser onde "aterra" uma mistura de luzes berrantes, que brotam de uma bola de espelhos a cair de podre. 
Um cliente, desconfiado de que a polícia tinha escolhido o mesmo bar, quis sair de imediato. Mas a empregada de mesa, também dama de companhia, agarrou-o por um braço, antes que este tombasse para o vácuo. Por muito que tentasse não conseguiu convencer o homem de que não estaria para acontecer ali uma rusga. Ela própria não estava muito certa. À cautela, foi debitando o seu sorriso desdentado para manter alguma ordem no estabelecimento, o que não conseguiu.
A música, na circunstancia, não estava a ajudar. Mais uma cerveja ali para o senhor que ia tropeçando, que precisava equilíbrio para sair.
Antes de o "MOURO BAR" ficar às moscas, eis que penetra um trio ruidoso em formação ordenada. O da frente tinha uma boina, camisa às riscas, um "pullover"  azul às costas. Este cliente não parecia no seu elemento. Mas o mesmo não acontecia com os outros, que cumprimentaram o dono da casa e as respectivas meninas como já se conhecessem de outras noites.
No "MOURO", tal como nos outros locais da especialidade, não se deu muita importância ao facto de nem há um dia terem andado aos tiros mesmo em frente à sua porta. "Acontece", comenta a porteira, também já não seria a primeira vez que acontecia com clientes da casa. às vezes, basta que um homem dedique um olhar mais prolongado à acompanhante de outro.
Outras, nem é preciso tanto.
NICOLAU tinha 17 anos, fumava SG fltro e já completara o ensino preparatório quando conheceu a "ISILDA", que já atingira a maioridade e um estado de adição à heroína que deixou de ser segredo. Os amigos, esqueceram-na. Os seus pais, antes que desaparecesse o que ainda restava de valioso em casa, deram-lhe ordem de despejo. Que voltasse quando estivesse livre da droga. "ISILDA" conheceu um rapaz, 15 anos mais velho, que compreendia bem a situação em que ela se encontrava. "Já tinha passado pelo mesmo", diz.
Aceitou o convite para experimentar num bar. O seu homem movimentava-se ali com  grande à vontade. Através dele "ISILDA" conheceu outras raparigas como ela, conheceu homens sem fim, bêbados, drogados, técnicos de Contas, empregados de escritório, estivadores, camionistas, ladrões da pior espécie, até polícias". 

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ VII ]-EPISÓDIOS NO LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE NO FINAL DO SÉCULO XX (2)».

sábado, 23 de maio de 2015

LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ V ]

«DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE ( 3 )»
 Largo do Intendente Pina Manique - (1791) de D.A. de Siqueira Pinto e C. F. Queiroz (Gravura de DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE)  in  RESTOS DE COLECÇÃO
 Largo do Intendente Pina Manique - (191_) Foto de Joshua Benoliel (LARGO DO INTENDENTE com saída para a RUA DO BENFORMOSO, na primeira porta ao lado esquerdo o ARMAZÉM DE PALHA, a "TENDINHA DO INTENDENTE" e "MERCEARIA e SALSICHARIA" - vinhos -tabacos etc.) (Abre em tamanho Grande)  in  AML
 Largo do Intendente Pina Manique - (191_) Foto de Joshua Benoliel (LARGO DO INTENDENTE, ao fundo pomos ver o edifício da "VIÚVA LAMEGO" com a fachada de azulejos policromos da autoria de "FERREIRA DAS TABULETAS") (Abre em tamanho grande)  in  AML

 
Rua do Intendente Pina Manique (ant 1971) Foto de Eduardo Portugal (Chafariz do Intendente construído entre 1823 e 1824 um projecto conjunto dos Artºs. Henrique Guilherme de Oliveira e Honorato José Correia. Permaneceu neste Largo até 1917 junto da Fábrica de Cerâmica da Viúva Lamego, sendo depois transferido para a Rua da Palma) (Abre em tamanho Grande) in AML

Largo do Intendente Pina Manique - (2012) Foto de Autor não identificado (O "CHAFARIZ DO INTENDENTE/DESTERRO" já com a coroa e cruz na parte de cima do escudo Nacional na RUA DA PALMA) in  LISBOA - COMPARAÇÕES COM OUTROS TEMPOS 


(CONTINUAÇÃO) - LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ V ]

«DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE ( 3 )»

«DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE» que em 1780 passava a alto funcionário com a designação de "INTENDENTE-GERAL DA POLÍCIA, terá casado em 1773 com D. INÁCIA MARGARIDA UMBELINA DE BRITO NOGUEIRA DE MATOS. Foram pais de PEDRO ANTÓNIO DE PINA MANIQUE NOGUEIRA DE MATOS DE ANDRADE, que nasceu a 20.09.1774 e faleceu em LISBOA a 05.11.1839, tendo sido agraciado em 1801, pelo Príncipe-Regente D. JOÃO, com o 1º titulo de "BARÃO DE MANIQUE DO INTENDENTE" e depois elevado a VISCONDE do mesmo titulo em 1818 por D. JOÃO VI.

«DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE» formado em LEIS pela UNIVERSIDADE DE COIMBRA, regressa a LISBOA, passou a ver serem-lhe conferidos cargos públicos sempre relacionados ou com polícia ou com moralização de costumes.
Foi colaborador intimo do "MARQUÊS DE POMBAL" e executor rigoroso de algumas ordens deste último. Esta característica supõe uma rigidez que com nada se comovia.

Um caso é bem demonstrativo: O MARQUÊS DE POMBAL, que temia uma guerra próxima com ESPANHA, precisava assim de fortalecer o seu exército e, para tanto, quis mandar incorporar todos os refractários e soube que muitos deles se acoitavam na TRAFARIA, povoação na margem esquerda do rio TEJO, onde a maioria da população era composta por pescadores.
Deu então ordens a MANIQUE e este não hesitou nos meios: cercou a TRAFARIA (naquela noite de 24 de Janeiro de 1777) e, para não perder tempo, mandou deitar-lhe fogo!... Ardeu a povoação toda para se capturar uma dezena de meliantes.

Mas não fique no entanto a ideia, de que PINA MANIQUE procedeu em tudo na vida, como no incêndio da TRAFARIA. Bastará lembrar de que foi ele o fundador da REAL CASA PIA DE LISBOA, (Ordem régia de 20 de Maio de 1780, oficialmente inaugurada a 3 de Julho, sendo a sessão solene do acto no CASTELO DE SÃO JORGE, a 29 de Outubro, com discurso do DUQUE DE LAFÕES), que a instalou no antigo PAÇO DA ALCÁÇOVA. E destinada em principio apenas à recolha e tratamento de órfãos e mendigos, em breve se transformava num excelente estabelecimento de ensino. 
Deve-se também ao INTENDENTE PINA MANIQUE a recuperação social de prostitutas e mendigos.
Outra obra que ainda subsiste é o caso do REAL TEATRO DE SÃO CARLOS (hoje sem o Real), que veio preencher a lacuna do antigo "ÓPERA DO TEJO" ou REAL CASA DA ÓPERA, que o terramoto de 1755 destruiu. Deve-se também a este homem algumas organizações e determinações de questão higiene, abertura de ruas e estradas.
Ficou mais conhecido, porém, a sua luta contra todos os marginais, tentando regenerar os que de tal se mostravam capazes, punindo severamente todos os outros.
Não deixa assim de ser irónico que, nas barbas do seu "ex-PALÁCIO" do VELHO INTENDENTE, se tenha passado um arraial de costumes e marginalidades, que aos poucos se vai debelando. Mas o "DIOGO INÁCIO PINA MANIQUE" não merecia!

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ VI ]-EPISÓDIOS NO LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE NO FINAL DO SÉCULO XX (1)» 

quarta-feira, 20 de maio de 2015

LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ IV ]

«DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE ( 2 )»
 Largo do Intendente Pina Manique - (1780) - ("PINA MANIQUE" em 03.07.1780 cria a REAL CASA PIA DE LISBOA, instalando-a no que restava do velho PAÇO DAS ALCÁÇOVA do Castelo de São Jorge) in CASA PIA DE LISBOA
 Largo do Intendente Pina Manique (2011-09-16) Foto de Luís Pavão (Reabilitação de um edifício do "LARGO DO INTENDENTE") (Abre em tamanho grande) in  AML 
 Largo do Intendente Pina Manique ( entre 1849 e 1917) Foto de autor não identificado  (Chafariz do LARGO DO INTENDENTE, antes de ser transferido para a "Rua da Palma".Na imagem podemos observar um carro "chora", transporte de atracção animal mais utilizado no século XIX até meados do século XX. Alguns faziam o itinerário - MOURARIA-INTENDENTE-BELÉM) (Abre em tamanho grande)  in  AML
 Largo do Intendente Pina Manique (1911) Foto de Jushua Benoliel ("LARGO DO INTENDENTE" a ASSOCIAÇÃO DO REGISTO CIVIL fundada em 1895, no lado esquerdo uma loja de ferragens e no lado direito a Drogaria Americana) (Abre em tamanho grande)  in  AML 
 Largo do Intendente Pina Manique (entre 1940 e 1959) Foto de António Passaporte (Prédio atribuído o prémio VALMOR entre a Rua da Palma e o Largo do Intendente. O Chafariz na esquerda e início da Av. Almirante Reis, (antiga Avenida Rainha D. Amélia) (Abre em tamanho grande) in  AML
Largo do Intendente Pina Manique (2014) (Antiga entrada para o LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE e prédio de gaveto do notável  arquitecto Adães Bermudes "1864-1947, que lhe valeu o prémio VALMOR em 1908)  in  GOOGLE EARTH 


(CONTINUAÇÃO) - LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ IV ]

«DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE ( 2 )»

Com a elaboração em 1788 do «MAPA DE TODAS AS FÁBRICAS QUE EXISTEM EM LISBOA E NO REINO», a construção do "TEATRO DE S. CARLOS" (inaugurado em 30 de Junho de 1793), e a plantação na região de LISBOA, em 1799 de 40 000 árvores, foram outras não menos importantes iniciativas de PINA MANIQUE.
Mas as listas e medidas tomadas em benefício de LISBOA  não se fica por aqui. Ele interveio, praticamente, em todas as áreas da vida da cidade, quer se tratasse de moralizar os costumes quer providenciando quanto à higiene, à saúde e à assistência pública, e quanto à melhoria e embelezamento da cidade. 
A supressão de cães vadios; a proibição de lançamento ao rio de animais mortos; a limpeza dos ribeiros; a criação do serviço de carroças para recolha do lixo (que passou a ser reunido ma praia da BOAVISTA, junto do CAIS DO TOJO, e na praia de ALFAMA, donde era transportado para o ALFEITE); a remoção de lamas; a construção de esgotos; o registo e inspecção sanitária das prostitutas; a fiscalização de produtos alimentares adulterados; a entrega à MISERICÓRDIA, da "RODA DOS ENJEITADOS" (para acabar com o comércio de espanhóis com crianças portuguesas); a construção e conservação de CALÇADAS; o apoio à reconstrução da cidade (proibindo a construção de casas clandestinas, promovendo a demolição de barracas de madeira e de pano, na área urbana e nos subúrbios); a canalização na "RUA DIREITA DOS ANJOS"; das águas provenientes das áreas a Norte da cidade; a tentativa de rasgar uma praça (que só chegou a LARGO) que hoje tem o seu nome, onde colocou o chafariz que agora está no DESTERRO;a abertura da estrada orlada de árvores desde o portão da REAL QUINTA DE QUELUZ, pela "PORCALHOTA" (actual AMADORA), até à AJUDA; a construção e reparação de fontes e chafarizes; o projecto da implantação de uma fonte monumental no CAMPO DE SANTANA com elementos escultóricos do "PASSEIO PÚBLICO" e de outros chafarizes da cidade, tudo isto revela quanto esse homem austero amava a sua cidade natal. 
Finalmente, em 1803, a diplomacia francesa consegue que o príncipe Regente, D. JOÃO, que resistira a anterior pressão, afasta PINA MANIQUE da INTENDÊNCIA-GERAL DA POLÍCIA, nomeando-o CHANCELER-MOR DO REINO, cargo que em pouco tempo permaneceu, vindo a falecer cerca de dois anos depois.
No livro de óbitos da freguesia dos ANJOS, existente na TORRE DO TOMBO, lê-se com efeito: «"No primeiro dia do mez de Julho de 1805, faleceu com todos os Sacramentos, na idade de 72 anos, de um tumor, o Ilustríssimo Diogo Inácio de Pina Manique, Senhor de Manique, Alcaide-Mor de Portalegre, Chanceler-Mor do Reino, e Intendente-Geral da Polícia da Corte e Reino; casado com a D. Inácia Margarida Umbelina de Brito Nogueira e Matos, Moradores na Travessa da Cruz, desta freguesia; fez testamentos; e foi sepultado no seu jazigo, no Convento de Nª. Senhora da Penha de França. O Prior L. do José Ferrão de Mendonça e Sousa"».
Neste assento consta o registo de óbito na antiga freguesia dos ANJOS,  onde se pode ler que "no primeiro dia do mês de Julho de mil oitocentos e cinco",  faleceu, com 72 anos, aquele que mais trabalhou pelo engrandecimento e embelezamento desta cidade. Assim, segundo fez notar uma paciente investigação do olisipógrafo e grande amigo desta cidade, EDUARDO SUCENA, alguém está enganado: ou o registo de óbito (o que parece pouco provável) ou a lápide que se vê no prédio, mandado ali apor pela CASA PIA DE LISBOA, da qual consta que o INTENDENTE PINA MANIQUE morreu... na véspera, ou seja, em 30 de Junho.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ V ]DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE( 3 )».

sábado, 16 de maio de 2015

LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ III ]

«DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE ( 1 )»
 Largo do Intendente Pina Manique - (1983) (Retrato a Óleo pintado por Ovídio Carneiro) - (Retrato de DIOGO INÁCIO PINA MANIQUE, pintado por Ovídio Carneiro em 1983, colecção Casa Pia-Biblioteca Museu Luz Soriano) (Abre em tamanho grande) in REVISTA LIMIANA
 Largo do Intendente Pina Manique - (1968) Foto de João Brito Geraldes (Lápide de homenagem a "DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE-1733-1805", colocada no antigo Palácio do Intendente) in AML
 Largo do Intendente Pina Manique (1944) Foto de Eduardo Portugal (Um aspecto do "Largo do Intendente" na década de quarenta do século XX) (Abre em tamanho grande)  in  AML
 Largo do Intendente Pina Manique (2011) Foto de Luís Pavão (A Reabilitação do Largo do Intendente Pina Manique) (Abre em tamanho grande) in   AML
Largo do Intendente Pina Manique (Século XVIII) (Retrato existente na Casa Pia de LISBOA) (Diogo Inácio de Pina Manique, fundador da CASA PIA DE LISBOA, na capa do livro do amigo JOSÉ NORTON dedicado a PINA MANIQUE) in  BULHOSA

(CONTINUAÇÃO)- LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ III ]

«DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE ( 1 )»

«DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE», nasceu em LISBOA, em 3 de Outubro de 1733  no "BECO DO CARRASCO" à "RUA DO POÇO DA DOS NEGROS" na antiga freguesia de "SANTA CATARINA" actual freguesia da «MISERICÓRDIA», tendo sido baptizado a 13 de Novembro do mesmo ano, na IGREJA DE SANTA CATARINA DO MONTE OLIVETE (desaparecida com o terramoto de 1755).
Senhor do Morgado de "S. JOAQUIM em COINA" (na outra margem do rio Tejo), bacharel em Leis pela UNIVERSIDADE  DE COIMBRA, em 1758, com 25 anos, já era juiz do crime do BAIRRO DO CASTELO em LISBOA.
Por alvará de 29 de Setembro de 1759 foi feito escudeiro-fidalgo e, posteriormente, cavaleiro-fidalgo da CASA REAL. Em 1762, foi nomeado Superintendente-Geral do transporte de tropas e mantimentos por motivos do envolvimento de PORTUGAL na guerra dos SETE ANOS e, em 1765, assumiu o cargo de Corregedor  do crime do bairro de ALFAMA, que em 1768 acumulou com o de Desembargador da Relação e Casa do Porto.
Em 1771 ascende a Desembargador extravagante da CASA DA SUPLICAÇÃO e a Desembargador dos Agravos do mesmo tribunal, tendo passado a exercer desde 1772 funções no Desembargo do PAÇO e de SUPERINTENDENTE GERAL DOS CONTRABANDOS E DESCAMINHOS, cargo que, com destemor, reprimiu abusos e enfrentou poderosos infractores. Foi ainda CONSELHEIRO DA FAZENDA, Administrador da COMPANHIA DE PARAÍBA e PERNAMBUCO, Administrador-Geral da ALFANDEGA GRANDE DE LISBOA e feitor-mor de todas as ALFANDEGAS DO REINO, desenvolvendo sempre meritória acção e promovendo medidas de grande interesse como foram o recenseamento geral da população de (1776) e a obrigatoriedade do registo de correspondência oficial (1780).
Considerado alto funcionário. foi porém, como "INTENDENTE-GERAL DA POLÍCIA" da CORTE e REINO que se celebrizou.
Defensor acérrimo da monarquia tradicional, combateu também, vigorosamente, a criminalidade que trazia LISBOA em constante sobressalto, tratando ao mesmo tempo da recuperação e reinserção social de delinquentes, mendigos, prostitutas e órfãos, politica que traduziu na criação, em 3 de Julho de 1780, da «REAL CASA PIA», instalando-a no que restava do velho "PAÇO DA ALCÁÇOVA DO CASTELO DE SÃO JORGE", onde a sua esclarecida administração realizou um notável trabalho, inclusive de ordem cultural.
No mesmo ano, a 17 de Dezembro, dia do aniversário da RAINHA D. MARIA I, por iniciativa de PINA MANIQUE, foi inaugurada a iluminação pública de LISBOA para o que cada funileiro da cidade teve de contribuir com 100 candeeiros a azeite.
Conseguiu assim iluminar uma área compreendida entre o ROSSIO e a PRAÇA DE S. PAULO, mas a importante iniciativa não foi além de 1792 por lhe terem sido recusadas, sistematicamente, as verbas para a manutenção desse serviço.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ IV ] DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE (2)».

quarta-feira, 13 de maio de 2015

LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ II ]

«O PALÁCIO DO INTENDENTE PINA MANIQUE»
 Largo do Intendente Pina Manique - (2014) (Fachada principal seiscentista do PALÁCIO DE PINA MANIQUE, no Largo do Intendente) (Abre em tamanho grande)  in CIDADANIA-LX 
 Largo do Intendente Pina Manique - (2014) (Placa a lembrar que aqui viveu e morreu DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE. Provavelmente é o único elemento a lembrar que se trata de um lugar histórico, placa mandada colocar pela CASA PIA DE LISBOA em 1949) in CIDADANIA-LX
 Largo do Intendente Pina Manique - (2009) Foto de Maria Lisboa (Fachada do "PALÁCIO DE PINA MANIQUE" no LARGO DO INTENDENTE) (Abre em tamanho grande) in  LISBOA
 Largo do  Intendente Pina Manique - (2015-03) (Ante-projecto do "PALÁCIO DO INTENDENTE PINA MANIQUE" neste LARGO, encontrando actualmente à venda)  in TROVIT
Largo do Intendente Pina Manique - (2015-03) (Planta de alterações e Planta de Implantação do "PALÁCIO DO INTENDENTE PINA MANIQUE" a realizar no LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE) in  TROVIT

(CONTINUAÇÃO) - LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ II ]

«O PALÁCIO DO INTENDENTE PINA MANIQUE»

O «PALÁCIO DO INTENDENTE PINA MANIQUE» cuja fachada principal dá para o "LARGO DO INTENDENTE", ocupa os números 48 a 54 deste Largo, nele habitou "DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE", homem de confiança do "MARQUÊS DE POMBAL" e famoso INTENDENTE-GERAL DA POLÍCIA no tempo de D. MARIA I ( 1 ).
Esta casa setecentista terá pertencido à família "NOGUEIRA DE MATOS DE ANDRADE" que pelo casamento de "D. INÁCIA MARGARIDA U. de BRITO NOGUEIRA DE MATOS" em 1773, a trouxe como dote, passando o imóvel a pertencer também a "PINA MANIQUE".

A fachada do edifício de 4 pisos com águas furtadas era rematado por uma cornija decorada por balaustrada. Composto de nove janelas de cantaria, o andar nobre com nove portas de bandeira alpendradas com varandas de ferro, dando a noção de andar nobre. A sobre-loja com igual número de janelas de cantaria, idênticas ao último piso e nove portas de arco abatido no piso térreo.
Numa das portas a seguir ao Nº. 52 na parte de cima existe uma placa, único indicador que aqui possivelmente viveu e morreu "DIOGO INÁCIO PINA MANIQUE". Um elemento a lembrar que se trata de um lugar histórico.
Refere assim a placa: "NESTE PALÁCIO VIVEU E MORREU EM 30.VI.1805 DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE INTENDENTE-GERAL DA POLÍCIA DA CORTE E REINO QUE PRESTOU RELEVANTES SERVIÇOS A ESTA CIDADE E AO PAÍS, AO DESENVOLVIMENTO DAS CIÊNCIAS, DAS LETRAS, DAS ARTES E DAS INDUSTRIAS, E FUNDOU "A CASA PIA DE LISBOA" QUE, RECONHECIDA, MANDOU COLOCAR ESTA LÁPIDA NO DIA DO 169º. ANIVERSÁRIO DE SUA FUNDAÇÃO EM 3-VII-1949.

Neste Palácio ainda se encontra sediado o SPORT CLUBE DO INTENDENTE, fundado em 1 de Julho de 1933, sendo uma das Colectividades mais antigas da FREGUESIA  dos EX-ANJOS. As actividades desta Colectividade vão desde o jogo das setas, passando pelo FUTEBOL DE SALÃO e TÉNIS DE MESA, até à realização de convívios entre os associados. Num estado muito degradado este "LARGO DO INTENDENTE" em finais do século XX, local outrora bem pitoresco e de grande animação comercial, passagem obrigatória, de tráfego intenso, para quem se dirigia aos arrabaldes, até à abertura da AVENIDA DONA AMÉLIA (hoje AVENIDA ALMIRANTE REIS).
Diz-nos "NORBERTO DE ARAÚJO" em 1937: "que o famoso Palácio de PINA MANIQUE hoje reduzido a este prédio de rendimento, número 52, e que pertenceu ao "VISCONDE DE SACAVÉM", que há sete anos o adquiriu a um descendente da família do famoso Intendente das Polícias". O VISCONDE DE SANTARÉM "JOSÉ JOAQUIM PINTO DA SILVA" natural do Porto, filho de um negociante portuense com o mesmo nome. Foi comerciante de grosso trato, e proprietário do PALÁCIO DE LISBOA, o inexpressivo Palácio.
Num site da INTERNET fomos encontrar que este palácio e seus jardins anexos na parte de trás estavam à venda por 3.500.000,00€. Assim como fui encontrada uma recomendação da Assembleia Municipal de Lisboa que alertava a C.M.L., a propósito da "demolição do Palácio do Intendente Pina Manique e a construção de um edifício com volume desmesurado". Listadas algumas considerações, tendo a Assembleia Municipal de Lisboa reunido em Sessão Ordinária em 25 de Junho de 2013, delibera proceder à seguinte recomendação à C.M.L. - 1) Que não permita a demolição do Palácio do Intendente nem a impermeabilização do seu jardim e antes proceda à sua recuperação e adaptação para fins sociais ou culturais da cidade. - 2) Que se abstenha de continuar a admitir a demolição de outros edifícios emblemáticos ou significantes da cidade, [o deputado Municipal "JOÃO DE MAGALHÃES PEREIRA] (Nota de roda-pé - Esta proposta foi aprovada por maioria com os votos contra do PS e abstenção de 5 deputados independentes (cidadãos por Lisboa) e PCP).

( 1 )- O cargo de Intendente-Geral da Polícia foi criado pelo Alvará com força de lei de 25.06.1760. Em 1780 a rainha D. Maria I nomeou "PINA MANIQUE" como Intendente Geral da Polícia da Corte e do Reino, que se manteve em funções até 1803. Em  8 de Novembro de 1833, foi abolida a Intendência Geral da Polícia da Corte e do Reino [Nota do Arquivo Nacional da Torre do Tombo].

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE[ III ]-DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE ( 1 )»

sábado, 9 de maio de 2015

LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ I ]

«O LARGO DO INTENDENTE E SEU ENQUADRAMENTO»
 Largo do Intendente - (2012) Foto de Teresa Diniz - (O "LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE" de "cara lavada") in  OS MEUS ÓCULOS DO MUNDO
 Largo do Intendente - (2007)  - (Panorama do "LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE" com obras a decorrer na época)  in  GOOGLE  EARTH 
 Largo do Intendente - (2007) - Aspecto do "LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE" visto de outro ângulo)  in  GOOGLE EARTH
 Largo do Intendente - (1960) Foto de João H. Goulart  (Antiga entrada para o "LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE", quem venha da "RUA DA PALMA") ( Abre em tamanho grande)   in  AML
Largo do Intendente - (entre 1940 e 1959) Foto de António Passaporte (1901-1983)  Fachada do Edifício entre a "RUA DA PALMA" e o "LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE",Prémio VALMOR 1908, Arquitecto da obra premiada ARNALDO REDONDO ADÃES BERMUDES)  (Abre em tamanho grande)  in  AML  

LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ I ]

«O LARGO DO INTENDENTE E SEU ENQUADRAMENTO»


O «LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE» pertence à antiga freguesia dos "ANJOS", hoje pela REFORMA ADMINISTRATIVA DE LISBOA DE 2012 pertence à freguesia de «ARROIOS». (A freguesia dos ANJOS, PENA e S. JORGE DE ARROIOS, foram integradas, passando a formar uma só freguesia - ARROIOS).
Este LARGO fica entre a "RUA DA PALMA", "RUA DO BENFORMOSO", "RUA DOS ANJOS", "TRAVESSA DO CIDADÃO JOÃO GONÇALVES", "TRAVESSA DA CRUZ AOS ANJOS" e "TRAVESSA DO MALDONADO".
O "LARGO" era há muito conhecido pelo "LARGO DO INTENDENTE" em virtude de o "INTENDENTE-GERAL DA POLÍCIA" "DIOGO INÁCIO PINA MANIQUE" (1733-1805), ali ter o seu Palácio. Só em 30 de Junho de 1955, por EDITAL MUNICIPAL, passou a chamar-se "LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE".
O Largo onde o  INTENDENTE mandou fazer a sua casa era, até então, ponto de passagem sem história especial, a não ser o facto de lá terem existido umas estalagens mencionadas em registos da freguesia dos ANJOS, do século XVI.
O facto de PINA MANIQUE para ali ter ido morar deu pois, azo ao nascimento de uma importante via que, como já se frisou (na RUA DO BENFORMOSO), era serventia obrigatória para quem quisesse dirigir-se ao Norte.
Se andarmos uns passos em redor do LARGO DO INTENDENTE encontramos o que resta do prédio apalaçado mandado edificar por DIOGO INÁCIO DE PINA MANIQUE.
Outro Palácio deste Largo, e que teve significado local revestido de certas tradições, pertenceu ao VISCONDE DA GRAÇA "JORGE CROFT" nascido em MANCHESTER no ano de 1808 e faleceu em LISBOA no ano de 1874. Grande proprietário em LISBOA e INDUSTRIAL, foi fundador de uma importante fábrica de Vidros na MARINHA GRANDE. O Palácio situava-se entre os números 31 a 39, junto da "TRAVESSA DO MALDONADO". Por morte do VISCONDE no século XIX, herdaram o prédio uns sobrinhos, que em 1908 o venderam à COOPERATIVA DE VIVERES A RETALHO. Com o fecho da COOPERATIVA em 1913, o extinto palácio, já como casa de rendimento, onde passaram vários retalhistas e inquilinos, esteve em muito mau estado de conservação, estando nesta altura recuperado.
Nesta LARGO existiu o "CHAFARIZ DO INTENDENTE" mandado erguer por influência do "INTENDENTE-GERAL DA POLÍCIA" entre os anos de 1823 e 1824, sendo em 1917 transferido para outro local.
Existe ainda um prédio de gaveto formado pela AVENIDA ALMIRANTE REIS, 2 a 2k, e o LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE, 1 a 6. Uma obra do Arquitecto "ADÃES BERMUDES" que lhe valeu o PRÉMIO VALMOR EM 1908. Imóvel classificado pelo IIP- Imóvel de Interesse Público - Decreto Lei nº 28/82, DR, I Série, nº 47, pág. 426, de 26.02.1982 (LINK:)
Nota histórica - Artística - Obra do arquitecto revivalista Adãe Bermudes, a sua construção remonta a 1908. Trata-se de um edifício que congrega em si diversos elementos estilísticos, resultando o todo num ecletismo arquitectónico ao qual foi, por isso, atribuído o PRÉMIO VALMOR no mesmo ano da sua edificação.
Esta construção de quatro pisos, estrutura-se em planta longitudinal, que termina num corpo semicircular, coroado por uma cúpula. Em ambas as fachadas do edifício encontramos um revestimento azulejar policromo, preenchido por pavões e motivos florais, ao nível do tímpano dos frontões . À procura de uma linguagem decorativa ARTE NOVA nos azulejos e na malha sinuosa do ferro forjado, alia-se um sabor neo-barroco, patente na cúpula do edifício e nos seus ornatos.
Sabe-se que estes sítios na encosta dos Montes da GRAÇA e de S. GENS era uma zona fértil em argila, o que levou muitos oleiros à fixação de suas explorações e Olarias. O topónimo anda perto deste LARGO com os nomes de RUA DAS OLARIAS, LARGO DAS OLARIAS, ESCADINHAS DAS OLAIAS e BECO DAS OLARIAS", e assim sendo não podíamos deixar de nos referirmos à olaria mais importante na nossa época, que se instalou em 1849 no LARGO DO INTENDENTE ainda, por "ANTÓNIO COSTA LAMEGO", embora seja mais conhecida pela "CERÂMICA DA VIÚVA LAMEGO".  

O arranjo artístico do "LARGO DO INTENDENTE" esteve sujeito a um concurso de votação pública, subordinado às "Melhores  Ideias para o LARGO DO INTENDENTE". O projecto "URBAN UMBRELLA", de PIERRE PERISSINOTTO, foi o vencedor. Existe um pequeno vídeo a circular no Facebook, de onde retiramos este apontamento. (no âmbito da iniciativa "FabLab in The City".)

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ II ] O PALÁCIO DO INTENDENTE PINA MANIQUE»

quarta-feira, 6 de maio de 2015

RUA DO BENFORMOSO [ IV ]

«A RUA DO BENFORMOSO ( 4 )»
 Rua do Benformoso - (Início do século XX) Desenho colorido de ROQUE GAMEIRO - (Desenho de ROQUE GAMEIRO Nº. 21. Um conjunto de prédios actualmente alterados e onde era a "Tendinha do Benformoso"-Chás e Cafés.  Encontra-se neste neste blogue uma foto de BÁRCIA do princípio do século e a foto actual (2012) do amigo MÁRIO MARZAGÃO para comparar) in MÁRIO MARZAGÃO
 Rua do Benformoso - (2012) Foto de Mário Marzagão (Comparação com o desenho aguarelado Nº 21 de ROQUE GAMEIRO, situado na Rua do Benformoso. Foi alterado dois edifícios ficando apenas um mais a Norte. O edifício de cor rosa subiu mais um andar e deixou de ter o ressalto). in MÁRIO MARZAGÃO
 Rua do Benformoso - (Início do Século XX) Desenho de ROQUE GAMEIRO (Desenho a lápis carvão de ROQUE GAMEIRO Nº. 6, conjunto do prédio na "RUA DO BENFORMOSO". Podemos comparar o edifício de duas águas e saliente ou ressalto do primeiro andar até ao telhado, desta casa tipo seiscentista)  in  MÁRIO MARZAGÃO
 Rua do Benformoso - (2012) Foto de Mário Marzagão (Na comparação com o desenho P&B Nº 6 de Roque Gameiro, situado na "RUA DO BENFORMOSO, representa a alteração Um dos edifícios  a altura mantém, varandas e moldura das janelas do 1º andar em curva, uma porta transformada em montra. O segundo (depois da sinal de transito de "30") foi bastante alterado, deixando assim de simbolizar um edifício seiscentista para um vulgar prédio de rendimento)  in MÁRIO MARZAGÃO 
 Rua do Benformoso - (Entre 1898 e 1908) Foto de autor não identificado (A "RUA DO BENFORMOSO" com seus prédios forrados de azulejos, com cinco pisos e águas furtadas, notando-se particular tendência para cobrir de azulejos as suas fachadas)  (Abre em Tamanho grande) in AML
 Rua do Benformoso - (Entre 1900-1945) Foto de José Artur Leitão Bárcia (O conjunto de edifícios na "RUA DO BENFORMOSO" que mais tarde dois deles foram alterados com mais um piso e suprimido o ressalto. Podemos ler facilmente na sua fachada "Tendinha do Bemformoso" chá e café) (Abre em tamanho grande)  in  AML
 Rua do Benformoso - (190-) Foto de José Artur Leitão Bárcia - (O prédio seiscentista da "RUA DO BENFORMOSO" também depois alterado na sua configuração típica, passando a um mero edifício de rendimento) (Abre em tamanho grande)  in  AML  
 Rua do Benformoso - (1951) Foto de Eduardo Portugal  (A "RUA DO BENFORMOSO" com um vendedor a atravessar o seu basalto, no lado direito o famoso conjunto já aqui muito badalado) (Abre em tamanho grande) in AML  
Rua do Benformoso - (2015) (Um troço da "RUA DO BENFORMOSO" de Sul para Norte, podemos observar alguns prédios com azulejos nas fachadas)  in  GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO BENFORMOSO [ IV ]

«A RUA DO BENFORMOSO ( 4 )»

AZULEJARIA
Esta RUA é particularmente composta de vários edifícios de arquitectura popular lisboeta de relevante interesse. Edifícios possivelmente alguns anteriores ao Terramoto de 1755 e existindo uma azulejaria absolutamente fantástica e invulgar. Não devemos no entanto esquecer que neste sítio existiram várias fábricas de azulejos e cerâmica, de padrões muito variados, que produziam bastante no século XIX.

Dizem que a "RUA DO BENFORMOSO" é um sítio "intrincado" difícil de compreender. Dá, porém, um certo receio a quem dele se aproxima pela primeira vez. De há uns anos para cá, tem vindo a melhorar, no entanto, não deixa de ser uma zona onde em cada loja existe uma nacionalidade diferente. Casas lojas ocupadas por CHINESES, INDIANOS, NEPALESES, SENEGALESES e alguns oriundos do BANGLADESH. Existe até uma "DELEGAÇÃO" da "MESQUITA CENTRAL DE LISBOA"Praça de Espanha), nesta "RUA DO BENFORMOSO" no número 119-1º,2º e 3º.
Sintetizando, a história terá possivelmente voltado a repetir-se; a «MOURARIA» regressa aos seus antigos hábitos, ocupando lentamente esta RUA e o sítio que em tempos lhes "pertenceram". 
A nossa maior estranheza prende-se com a maneira de vestir deste emaranhado de povos que por ali circulam. 
Podemos mesmo observar muitas mulheres inteiramente cobertas com véu, como nos países de origem; muçulmanos ou indianos mais conservadores e aqueles "panejamentos" até são particularmente garbosos.

 ROQUE GAMEIRO
Desenhou dois quadros da velha LISBOA e em particular um troço da RUA DO BENFORMOSO o número 21 a cores e o Nº. 6 a preto e branco. Representam uma imagem que é completada pela outra.
Temos ainda duas fotos cedidas gentilmente pelo amigo MÁRIO MARZAGÃO, que correspondem às alterações verificadas nos prédios em (2012). Da foto (Nº. 21 de ROQUE GAMEIRO) a casa de ressalte é a mesma a as reixas nas varandas ainda se mantém, mas resta apenas o último dos três edifícios ligados.
O prédio cor rosa tomou o lugar dos outros dois, sendo suprimido o ressalte, e levantado mais um piso. No prédio seguinte junto ao sinal de transito "30", desapareceram duas portas, para dar lugar a montras de um estabelecimento de comércio, tudo o mais se mantém neste edifício incluindo as ferragens das varandas e um esboço da original moldura das janelas curvas.
O prédio que se segue (Nº. 6 de ROQUE GAMEIRO) - é o mesmo de duas águas só com uma janela no último piso -, foi convertido em 2º  andar, 2 janelas e telhado de uma só água para a frente, tendo desaparecido o ressalte e o telhado de bico, (que lhe dava uma graciosidade seiscentista). No prédio seguinte ainda se mantém a janela das águas furtadas que ROQUE GAMEIRO desenhou no início do século XX. 

(PRÓXIMO)«LARGO DO INTENDENTE PINA MANIQUE [ I ] -O LARGO DO INTENDENTE E SEU ENQUADRAMENTO»

sábado, 2 de maio de 2015

RUA DO BENFORMOSO [ III ]

«A RUA DO BENFORMOSO ( 3 )»
 
Rua do Benformoso - (2011) Foto de Luís Pavão (A "RUA DO BENFORMOSO" na bifurcação com  a  "RUA DO TERREIRINHO" e seu fontanário , 61 anos depois)  (Abre em tamanho grande)  in   AML
 Rua do Benformoso - (1950-10) Foto de Eduardo Portugal ( A RUA DO BENFORMOSO" na bifurcação com a "RUA DO TERREIRINHO"  na nossa esquerda ao fundo o seu chafariz) (Abre em tamanho grande)  in  AML
 Rua do Benformoso - (2011-09-16) Foto de Luís Pavão (Exposição todos 2011 nas varandas" da "RUA DO BENFORMOSO", uma iniciativa da C.M.L.)  (Abre em tamanho grande)  in   AML
 Rua do Benformoso - (Edifício de meados do século XIX) [Prédio da "RUA DO BENFORMOSO" número 244. Fachada principal com janela de sacada, no primeiro andar sede do (GRUPO EXCURSIONISTA E RECREATIVO "OS AMIGOS DO MINHO")]  in PATRIMÓNIO CULTURAL
 Rua do Benformoso - (Edifício de meados do século XIX)  (Prédio da "RUA DO BENFORMOSO" Número 244 - fachada pincipal registos superiores. Varanda suportada por mísuras de pedra)   in  PATRIMÓNIO CULTURAL
 Rua do Benformoso - Edifício de meados do século XIX) Foto de DIAS DOS REIS (Porta com brasão na "RUA DO BENFORMOSO" número 244, e a placa do "Grupo Excursionista e Recreativo OS AMIGOS DO MINHO"  in   DIAS DOS REIS
Rua do Benformoso - Edifício de meados do século XIX) (Prédio da "RUA DO BENFORMOSO" Nº 244, fachada principal, observa-se cinco janelas superiores com vão de volta perfeita e guardas de ferro)  in  PATRIMÓNIO CULTURAL

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO BENFORMOSO  [ III ]

«A RUA DO BENFORMOSO ( 3 )»

Com a abertura da "RUA (NOVA) DA PALMA" em (1862) remeteu para segundo plano a "RUA DO BENFORMOSO", tendo perdido esta grande agitação, mas mantém algumas características pitorescas da "LISBOA ANTIGA".
A "RUA DO BENFORMOSO" ainda no início do século XX mostrava as suas pitorescas casas (conforma aqui se documenta, graças às fotos cedidas gentilmente pelo ARQUIVO FOTOGRÁFICO DA C.M.L., casas seiscentistas, algumas de andares de ressalto, um conjunto bem alfacinha velho e puro, lembrando pedaços de ALFAMA, no BENFORMOSO, paredes meias com a "MOURARIA". Algumas desapareceram, outras foram transformadas no decorrer dos anos.
Na extrema deste primeiro troço quase a fazer topo entre esta artéria e a "RUA DO TERREIRINHO", existia um prédio e (documentado hoje em foto) com umas casas encostadas que, de certo modo, bem representativa do tempo antigo, com duplo andar de ressalto e empena de bico. Está hoje modificada, a parte superior do bico passou a telhado horizontal (de uma só água) adquirindo assim mais espaço superior para o edifício, tirando-lhe a beleza pitoresca que tanto a prestigiava. (No próximo episódio, daremos mais detalhes destas casas seiscentistas).

Este edifício romântico da "RUA DO BENFORMOSO" com o número de polícia 244,  é um prédio construído em meados do século XIX e constituído por três andares com cinco vãos emoldurados com cantaria.
No andar térreo encontramos, no eixo da composição, uma porta decorada superiormente com uma bandeira de leque na qual se encontra inscrito um brasão; e quatro janelas de arco pleno decorados com cantaria.
No andar seguinte (andar nobre) observamos, nos extremos, duas janelas com guardas de ferro; e ao centro, suportadas por mísuras, três janelas de sacada cujo movimento ondulante lhe confere ritmo ao conjunto. O último piso - com cinco vãos de volta perfeita e guardas de ferro - é rematada por uma cornija decorada por balaustrada e coroamento de pinhas.  O edifício é decorado no exterior por azulejos policromados. A cobertura do edifício é constituída por telhado a duas águas rasgado por duas clarabóias. Tem como categoria de tipologia de Arquitectura civil é classificado como - IIP - Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto Nº. 8/83, DR, I Série, Nº. 19, de 24.01.1983.
Na parte de cima da porta central entre as mísulas que suportam a varanda, encontra-se um reclame que nos diz: GRUPO EXCURSIONISTA E RECREATIVO "OS AMIGOS DO MINHO", Associação instalada no 1º. andar deste prédio com magnificas instalações, tendo a sua fundação datada de 8 de Dezembro de 1950. Dedicada inicialmente a excursões ao MINHO na segunda metade do século XX, hoje visa sobretudo um meio de convívio a minhotos e outros associados. Foi durante muito tempo bastante conhecida pelos seus bailaricos de fim de semana. Promove ainda acções de beneficência, nomeadamente a crianças mais carenciadas. 
COMO CURIOSIDADE - Podemos acrescentar que foi JOÃO FREIRE CORREIA o grande fotógrafo e fundador da "PORTUGALIA FILMES" nos seus estúdios improvisados na "RUA DO BENFORMOSO", que se rodou o nosso primeiro filme de entrecho e que tem LISBOA como cenário: «OS CRIMES DE DIOGO ALVES». Foi realizado por "JOÃO TAVARES" e estreado em Abril de 1911, com exteriores filmados também aqui bem perto, no "BECO DA BARBADELA".

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO BENFORMOSO [ IV ] A RUA DO BENFORMOSO (4)».