quarta-feira, 30 de setembro de 2009

CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [ VI ]

Campo dos Mártires da Pátria ( s/d ) (Pintura - inglesa - de autor não identificado) (William Carr Beresford) in WIKIMEDIA COMMONS
Campo dos Mártires da Pátria - (1968) Foto de Armando Serôdio - (Patriarcado de Lisboa, edifício datado do segundo quartel do século XVII) in AFML

Campo dos Mártires da Pátria - (1768-1854) Fotógrafo não identificado ( O Marechal Beresford) in ARQNET
(CONTINUAÇÃO)
CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [ VI ]
«O INÍCIO DA CONSPIRAÇÃO »
Nesta contexto favorável, vários oficiais começaram a encontrar-se em Lisboa e a conspirar.
Não sem certa ingenuidade e romantismo, como depois se verá, os conspiradores vão estabelecendo contactos com outros quartéis de Lisboa e do País, compram uma imprensa, redigem proclamações, definem como objectivos acabar com a presença inglesa e, sobretudo, com o domínio do Marechal, convocar cortes e fazer uma conspiração.
Todavia, tornava-se necessário que um oficial general prestigiado encabeçasse o movimento.
Os olhos dos militares que conspiravam viram-se para o tenente-general «GOMES FREIRE DE ANDRADE» (ver sua biografia aqui) afastado do serviço activo desde o seu regresso de França em 1815, ao serviço da qual se batera integrado na «LEGIÃO PORTUGUESA», que «JUNOT» formara com as melhores tropas portuguesas.
«GOMES FREIRE DE ANDRADE», Grão-Mestre da «MAÇONARIA» desde 1816, era um militar prestigiado e um homem culto, aberto às ideias liberais. Apesar de manter algumas reservas e um compreensível distanciamento, não demove os conspiradores e vai acompanhando o evoluir dos acontecimentos.
--//--
Mas «BERESFORD» (ver sua biografia aqui) é posto ao corrente do que se passa e infiltra no movimento portugueses ao seu serviço, dois jovens oficiais ambiciosos e um bacharel, todos imagine-se, maçons, mas que não recusaram missão tão vergonhosa. «BERESFORD», uma vez com a situação sob controlo, informa os governadores do Reino do que se passava e explica o susto que tal perspectiva de revolta neles provoca, para atalhar sem piedade o que se tramava.
Às primeiras horas do dia 25 de Maio de 1817 principiam as prisões em Lisboa e noutros locais.
Há quem consiga fugir, o que não é o caso de «GOMES FREIRE DE ANDRADE», preso em casa e logo levado para o «FORTE DE SÃO JULIÃO DA BARRA»na região de Oeiras.
(CONTINUA) - (PRÓXIMA) - «CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [VII] - A EXECUÇÃO NO CAMPO DE SANTANA»


sábado, 26 de setembro de 2009

CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [V]

Campo dos Mártires da Pátria - (2008) Fotógrafo não identificado (Um troço do Campo dos Mártires da Pátria) in RUA DOS DIAS QUE VOAM
Campo dos Mártires da Pátria - (1811) Gravura de autor não identificado (General BERESFORD) in E-PORTUGUÊS

Campo dos Mártires da Pátria - (s/d) Gravura a ponteado de Manuel Marques de Aguilar (Sir William Carr Beresford) in PEDRA FORMOSA
(CONTINUAÇÃO)
CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [ V ]
«A LIDERANÇA DOS INGLESES»
A etapa que regulou entre as invasões francesas, a retirada da Casa Real e o estabelecimento da sede da monarquia no BRASIL e a Revolução de 1820, tem sido bastante controverso do ponto de vista da análise histórica e das explicações para os acontecimentos.
Oliveira Martins, por exemplo, escreve que Portugal se tenha tornado numa Colónia do Brasil. A historiografia francesa, por sua vez, acentua a dependência de Portugal face à Inglaterra.
Com o inglês «BERESFORD» à cabeça, desempenhariam um papel decisivo no processo de reorganização do exército português e de recomposição do Estado. Todavia, uma vez o Rei no Brasil, D. João torna-se Rei após a morte de D. Maria I, em 1816 (na sequência, aliás, de uma estratégia de inspiração inglesa, para não dizer imposição), a Inglaterra não só dará por terminada a sua missão após o fim da guerra, como reforçará a sua presença na sequência do que sempre tinha vindo a fazer desde o início da intervenção.
Recorde-se que logo em Dezembro de 1807 tropas inglesas, com «BERESFORD» à frente no caso da MADEIRA, havia ocupado "manu militari" estas ilhas, assim como as possessões na Índia, numa acção de guerra não declarada contra as autoridades portuguesas.
Ao forçarem o príncipe a partir, era sua intenção, por um lado, salvaguarda-lo de cair nas mãos dos Franceses, com as consequências que daí advinham para o posicionamento futuro de Portugal, mas por outro, criar condições para as medidas no que concerne ao comércio com o Brasil. Como é óbvio, a Inglaterra recorria a todos os meios para, no afrontamento com o imperialismo napoleónico, garantir as suas zonas de influência, como hoje se diria, e preservar os círculos comerciais e as rotas marítimas que faziam a sua prosperidade.
O poder passará a residir realmente no exército, enquadrado por oficiais ingleses e disciplinando com punho de ferro, o qual atingirá efectivos enormíssimos em relação à população portuguesa. Por outro lado, e apesar de ser originário de um país já então conhecido pelas suas liberdades cívicas e políticas, «BERESFORDE» apoia os membros da regência que, representando os interesses das classes dominantes tradicionais no país, se preocupam não só em repor a ordem, mas também em travar os focos de mudanças, de iniciativa social e política que haviam surgido na sequência das invasões.
Diga-se entretanto, que os Ingleses, recebidos cordialmente pelas populações em 1808, se tinham feito rapidamente detestar. Às violências e à brutalidade das tropas de que eram vítimas as populações, e que o próprio «WELINGTON» confessa nos seus despachos ter dificuldade em impedir, juntava-se a arrogância dos oficiais nas suas relações com militares portugueses.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [ VI ] - O INICIO DA CONSPIRAÇÃO»

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [IV]

Campo dos Mártires da Pátria - (2000_) Foto de autor não identificado (Embaixada da Alemanha no Campo dos Mártires da Pátria) in SKYSCRAPER CITY
Campo dos Mártires da Pátria - (2008) - Foto de Dias dos Reis (Campo dos Mártires da Pátria) in DIAS DOS REIS

Campo dos Mártires da Pátria - (1939) -Foto de Eduardo Portugal (Faculdade de Ciências Médicas, antiga Escola Médica) in AFML
(CONTINUAÇÃO)
CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [ IV ]
«CAMPO DE SANTANA (3)»
Junto ao «CAMPO DE SANTANA» fica o «HOSPITAL DE SANTO ANTÓNIO DOS CAPUCHOS» instalado no Convento dos Franciscanos e no «PALÁCIO MURÇA», edifício onde esteve o «ASILO DE MENDICIDADE», este transferido para Alcobaça em 1922.
Existia neste sítio o «INSTITUTO CENTRAL DE HIGIENE» fundado em 1899 pelo «DR. RICARDO JORGE». (ver mais aqui)
O professor da «ESCOLA MÉDICA» e enfermeiro-mor do Hospital de S. José, «DR. JOSÉ JOAQUIM DA SILVA AMADO», residia no «CAMPO DE SANTANA», à esquina da «TRAVESSA DO TOREL» em edifício antigo, talvez do século XVII, que ficava no sítio fronteiro àquele onde se ergueram as forcas.
Uma lápide, evocativa do morticínio, fora colocada na fachada do prédio. Já lá não está desde 1937. O edifício entrou para grandes obras e modificações. Foi adquirido em 1928, para a sede do Ministério da Instrução.
Aqui fica a breve síntese da história da «COLINA DO CAMPO DE SANTANA» (hoje dos Mártires da Pátria) que vizinha com a «RUA DE GOMES FREIRE» dum lado e com a de «SANTO ANTÓNIO DOS CAPUCHOS» do outro.
O Jardim chamado de «BRAANCAMP FREIRE», evoca o cidadão liberal, republicano e historiador.
Ao vasto, melancólico e calmo em sítio, de tão agitado e tristes recordações cujo eco foi das ruas ao «PAÇO DA BEMPOSTA», mas que também evoca alegres e folionas, ruidosas cenas como seriam as das touradas na praça onde «DOM MIGUEL» viu picar o "Sedevém".
Ali o povo viu suplicar onze conspiradores numa amarga madrugada de Outubro de 1817, e a sua recordação perdura com a da casa do «VIMIOSO», onde a tradição diz que ele recebia os ciganos "troquilhas" da «CARREIRA DOS CAVALOS».
Do curral de el-rei ao «PAÇO DA RAINHA» passaram-se muitos episódios e na «CALÇADA DE SANTANA», no prédio que, em 1822 tinha os números 139 e 141, existiu uma lápide que relembrava o drama, dum grande poeta sem sorte: "NESTA CASA SEGUNDO A TRADIÇÃO DOCUMENTAL FALECEU EM 10 DE JUNHO DE 1580 - LUÍS DE CAMÕES O ACTUAL PROPRIETÁRIO MANUEL JOSÉ CORREIA MANDOU PÔR ESTA LÁPIDE EM 1867".
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [ V ] - (A LIDERANÇA DOS INGLESES)».

domingo, 20 de setembro de 2009

CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [III]

Campo dos Mártires da Pátria - (200_) Foto de autor não identificado (Faculdade de Ciências Médicas) in SKYCRAPER CITY
Campo dos Mártires da Pátria - (Início do século XX) Foto de Joshua Benoliel (Embaixada da Alemanha e Instituto Alemão) in AFML

Campo dos Mártires da Pátria (1906-03) Foto de Joshua Benoliel (Ministério da Educação Nacional ) in AFML


Campo dos Mártires da Pátria - (entre 1900 e 1945) - Foto de José Artur Leitão Bárcia (Igreja do Convento de Santana, porta lateral para a antiga Rua do Convento de Santana) in AFML
(CONTINUAÇÃO)
CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [III]
«CAMPO DE SANTANA (2)»
A antiga «CARREIRA DOS CAVALOS» (hoje chamada de) «RUA DE GOMES FREIRE» era um verdadeiro picadeiro público, assim denominado por permitir galopar e correr à rédea solta até ao «CAMPO DE SANTANA».
O «CONVENTO DE SANTANA» que deu nome ao local, (ver mais aqui), pertencia às Religiosas Terceiras da Ordem de São Francisco, fundado em 1561 pela rainha Dona Catarina (mulher de D. João III). Estava instalado na antiga «RUA DO CONVENTO DE SANTANA», hoje «RUA DO INSTITUTO BACTERIOLÓGICO», onde funciona o «INSTITUTO BACTERIOLÓGICO DE CÂMARA PESTANA», criado em 1892, começou a ser construído neste local em 1898 tendo ficado concluído no ano de 1900.
Conforme LISBOA se ia transformando o «CAMPO SANTANA» chamado de «QUINTA COLINA DE LISBOA», ia crescendo com prédios. (ver aqui uma reportagem fotográfica magnifica)
Ao fundo do Largo ajardinado o da «PRAÇA DE TOUROS» foi edificada a nova «ESCOLA MÉDICA-CIRÚRGICA», uma obra dos arquitectos «JOSÉ MARIA NEPOMUCENO» e «LEONEL GAIA». No ano de 1906, em Abril, realizou-se em Lisboa o Congresso de Medicina e foi inaugurado o magnífico edifício em frente do qual foi erguida a estátua do grande professor «JOSÉ TOMÁS DE SOUSA MARTINS».
A crítica apontou como indigna do mestre e do local a obra do escultor «ALEIXO QUEIRÓS RIBEIRO», que apresentou o sábio sentado em banal cadeira, o que levou a jocosos gracejos e até a vibrantes protestos.
Ordenou-se a demolição do monumento, o que se fez de noite. No dia seguinte, nem o entulho se via por perto.
O encarregado pela nova cinzelagem da segunda estátua foi o escultor «COSTA MOTA (tio)», tendo sido inaugurada em 7 de Março de 1907, no dia do aniversário do médico, que falecera em 18 de Agosto de 1897.
A Faculdade de Direito também teve a sua sede no «CAMPO DE SANTANA». Foi fundada no ano de 1913, pelo «DR. AFONSO COSTA», na Escola Politécnica. Próximo deste edifício escolar está o «PATRIARCADO». Depois da Lei da separação da Igreja do Estado, os prelados olisiponenses foram obrigados a deixar o edifício do antigo Convento de S. Vicente de Fora e foi este o escolhido para residência do cardeal «D. ANTÓNIO MENDES BELO» a moradia onde residia o Conde de «TATTENBACH», ministro da Alemanha.
O Palacete foi construído pelo arquitecto de Mafra «JOÃO LODOVICE», mas sofreu muitas modificações.
O patriarca de Lisboa «D. JOSÉ POLICARPO», transferiu em Outubro de 1998 os serviços diocesanos para o antigo «MOSTEIRO DE SÃO VICENTE DE FORA» no «CAMPO DE SANTA CLARA», lugar que já tinha sido residência patriarcal entre 1834 a 1910. (ver mais aqui)
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [IV] - CAMPO DE SANTANA (3)»




quarta-feira, 16 de setembro de 2009

CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [II]

Campo dos Mártires da Pátria - (19__) - Foto de Chaves Cruz (Faculdade de Ciências Médicas antiga Escola Médica) in AFML
Campo dos Mártires da Pátria - (entre 1898 e 1908) - Fotógrafo não identificado (Patriarcado de Lisboa) in AFML

Campo dos Mártires da Pátria - (entre 1898 e 1908) - Fotógrafo não identificado ( Escola Médica, depois Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e o Monumento a Sousa Martins) in AFML
(CONTINUAÇÃO)
CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [ II ]
«CAMPO DE SANTANA (1)»
O «CAMPO DE SANTANA» (assim denominado desde 1755, devido à existência desde 1561 de um CONVENTO do mesmo nome) transformou-se no «CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA» por nele terem sido mortos nomes ilustres da resistência ao domínio Inglês.
Local de execução política, o «CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA», ficará sempre ligado ao nome de onze companheiros de «GOMES FREIRE DE ANDRADE», que aí perderam a vida.
Referindo-se a este episódio sangrento da história da cidade de Lisboa, «VICTOR DE SÁ» na obra «LISBOA NO LIBERALISMO» alude que a 18 de Outubro de 1817, se presenciou um "tenebroso espectáculo, com milhares de pessoas a assistir, começou pelo meio-dia e durou até às nove da noite" o que levou o Governador de Lisboa, a dizer a célebre frase «felizmente há luar».
O «LIBERALISMO» - Corrente política que se afirma na Europa sensivelmente por esta época. (Ver mais aqui ).
Nesta «CAMPO DE SANTANA», estabeleceu-se a Guarda Real da Polícia.
Ausente no Brasil estava a família Real e não havia maneira de a fazer regressar a Portugal muito embora o tão temido «NAPOLEÃO» já estivesse preso em Santa Helena, não se encontrando mais na Europa.
O reino de Portugal era governado por uma Regência reaccionária que se sujeitava às determinações do Marechal «BERESFORD» no que dizia respeito a assuntos militares. (ver mais aqui)
O Marechal «BERESFORD» recebeu uma denúncia da conjura que se enredara para a proclamação de um Governo de carácter Constitucional. À frente dessa "conspiração" era apontado o General «GOMES FREIRE DE ANDRADE» que não morria de amores pelo Marechal Inglês.
Presos e condenados em processo fechado, o General foi enforcado e queimado no Campo de Alqueidão, junto a «S. JULIÃO DA BARRA» no dia 18 de Outubro de 1817. No «CAMPO DE SANTANA», nessa mesma manhã subiram à forca os outros onze, condenados por alguns juízes venais.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [III] - CAMPO DE SANTANA (2)»

domingo, 13 de setembro de 2009

CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [ I ]

Campo dos Mártires da Pátria - (2009) - (Panorâmica do Campo dos Mártires da Pátria) in WIKIMAPIA
Campo dos Mártires da Pátria - (1939) Foto de Eduardo Portugal (Chafariz do Campo dos Mártires da Pátria) in AFML

Campo dos Mártires da Pátria - (Atlas da Carta Topográfica de Lisboa - sob a direcção de Filipe Folque: 1856-1858 - Planta Número 28 - Campo de Santana (Vendo-se na parte Sul o recinto da Praça de Touros depois ocupado pela Escola Médica in CML - Departamento de Património Cultural - Arquivo Municipal de Lisboa


Campo dos Mártires da Pátria - (1812) (Campo de Santana e a Carreira dos Cavalos) -Trecho do «Mapa da Cidade de Lisboa e Belém em 1812» in LISBOA REVISTA MUNICIPAL Nº 11 - 1º Trimestre de 1985 página 50 - Edição da C.M.L.
«CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [ I ]»
(CAMPO DO CURRAL) e (CAMPO DE SANTANA)
Pertence à freguesia da «PENA» e fica entre: «LARGO DO MITELO, LARGO DO MASTRO, RUA GOMES FREIRE, TRAVESSA DE JOSÉ VAZ DE CARVALHO, ALAMEDA DE SANTO ANTÓNIO DOS CAPUCHOS, CALÇADA DO MOINHO, RUA DO INSTITUTO BACTERIOLÓGICO (antiga RUA DO CONVENTO DE SANTA ANA) e RUA MANUEL BENTO DE SOUSA.
Antigo «CAMPO DO CURRAL», depois de 1755 «CAMPO DE SANTANA», e por edital de 11 de Julho de 1879 passou a chamar-se «CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA».(ver mais aqui)
Este local de grandes tradições na vida citadina era uma das zonas animadas da cidade. No antigo «CAMPO DO CURRAL», assim denominado por ser local de venda de gado e abate, embora o sítio seja "lavado de ares", o Matadouro do Campo do Curral, que seria mais tarde o de Santana, incomodava a vizinhança com o cheiro das imundices das rezes abatidas.
Já «D. SEBASTIÃO» tinha assinado uma provisão no sentido de melhorar o estado sanitário do local, pensando mesmo na transferência do curral.
No ano de 1767 ali bem perto existia uma «PRAÇA DE TOUROS» que seria depois muito famosa, onde eram apresentados também alguns espectáculos de ginástica e acrobacias. Presume-se que estivesse em ruínas ou mesmo desaparecido a Praça porque, em 1828, «JOSÉ MARIA PIMENTEL BETTENCOURT» requereu para mandar construir outra no sítio (1).
Existiu um chafariz no «CAMPO DE SANTANA», inaugurado no ano de 1795. Era alimentado pela galeria de Santana proveniente do Aqueduto das Águas Livres de Lisboa. Acabou por ser demolido no segundo quartel do século XX.
No ano de 1818 arrumavam-se no «CAMPO DE SANTANA», as forcas a que iriam subir os patriotas que tinham conspirado contra a Regência e também contra o Marechal «BERESFORD», Comandante do Exército Português.
A chamada «FEIRA DA LADRA» em 1823 foi transferida para o «CAMPO DE SANTANA», onde esteve apenas três meses, voltando novamente para a «PRAÇA DA ALEGRIA». No ano de 1835 regressa ao «CAMPO DE SANTANA», onde se conservou até 1882.
Este lugar passou a ser designado «CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA» e ainda perdura no dístico Municipal, muito embora existam pessoas que lhe chamem «CAMPO SANTANA».
(1) - TINOP - Lisboa de outros tempos página 232
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «CAMPO DOS MÁRTIRES DA PÁTRIA [II] - CAMPO DE SANTANA (1)»


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

RUA DOS CORREEIROS [ II ]

Rua dos Correeiros - (2009) - Foto gentilmente cedida pelo Blog S.O.S. - (Já fechado, o último Correiro desta Rua dos Correeiros) in LISBOA S.O.S.
Rua dos Correeiros - (2005) - Foto de Marcelo Donizete (Zona pedonal na Rua dos Correeiros, à esquina no lado esquerdo temos a Confeitaria Nacional) in PANORAMICO

Rua dos Correeiros - (1949) Foto de J.C. Alvarez ( Tapume para a demolição da Praça da Figueira, ao fundo a Rua dos Correeiros) in AFML
(CONTINUAÇÃO)
«RUA DOS CORREEIROS [ II ]»


Nas ruas de Lisboa era frequente ver circular (nos tempos antigos) as seges, as tipóias e as carroças. Aos «CORREEIROS» não lhes faltava trabalho. Na baixa concentravam-se no arruamento que o Marquês de Pombal lhes destinara, a «RUA DOS CORREEIROS».
Quem hoje percorre esta rua já não vai encontrar aquele que foi o último correeiro da «RUA DOS CORREEIROS», nos números 200 e 202.
Era uma casa fundada no ano de 1921 (tomada de outro correeiro) último testemunho histórico do passado lisboeta de uma arte tradicional que teve muitos artífices. Há países que lutam pela continuidade dos seus correeiros, o que não aconteceu na nossa Lisboa, onde esta casa fechou, ao entrar na sua 4ª geração a vender artigos de arreios e cavalgaria, bolas de futebol, malas, porta-moedas, mas sempre confeccionados de maneira artesanal.
No seu interior tinha um pequeno museu dedicado ao correeiro «VITORINO DE SOUSA», onde estavam as suas ferramentas pessoais, uma máquina de costura e até algumas criações mestras. Ainda do tempo de «VITORINO DE SOUSA» ficou famoso o selim que realizou para «NUNO DE OLIVEIRA», criado segundo moldes exclusivos para este cavaleiro.
É de realçar que outros «CORREEIROS» teimaram instalar-se por essa Lisboa fora, alguns deles deixando a «RUA DOS CORREEIROS» preferindo zonas mais nobres da cidade, como o «CHIADO», embora também esses já extintos.
Nesta rua nos números 220-226 existe ainda o célebre e antigo restaurante «JOÃO DO GRÃO».
Para a construção de um hotel no quarteirão do «ÚLTIMO CORREEIRO» (ver mais aqui), foi este ano aprovado pela C.M.L. o pedido de licenciamento de obras de ampliação e alteração de interiores e exteriores do edifício localizado na «RUA DE SANTA JUSTA», 42 a 48 e o da «RUA DOS CORREEIROS», 194 a 218.
Como curiosidade, queria aqui acrescentar um elemento que proporcionou aos «CORREEIROS» grandes recortes artísticos à sua imaginação.
A «SEGE» nome dado aos carros pequenos geralmente de um ou dois lugares. Carruagem semelhante a um pequeno «COCHE», com duas rodas e tiradas por um ou dois cavalos, usada muito em Lisboa durante os séculos XVI a XIX. A caixa assentava sobre correias e era coberta por um lote, que descia até meio, com aberturas quadrangulares de cada lado, em vez de janelas. Este meio de transporte era reservado para marchas de curta resistência. (1)
(1) - Dicionário de Língua Portuguesa - Coordenação de José Pedro Machado Volume VI - 1968 Página 725 - Edição da Sociedade de Língua Portuguesa.
(PRÓXIMO) - «CAMPO MÁRTIRES DA PÁTRIA [I] - (CAMPO DO CURRAL E CAMPO SANTANA)

sábado, 5 de setembro de 2009

RUA DOS CORREEIROS [ I ]

Rua dos Correeiros - (2008) - Foto gentilmente cedido pelo Blog Ruas dos Dias que Voam - (O último correeiro - ainda aberto neste ano - na Rua dos Correeiros) in RUAS DOS DIAS QUE VOAM
Rua dos Correeiros - (1963) - Foto de Armando Serôdio (Um troço da Rua dos Correiros) in AFML

Rua dos Correeiros - (Início do século XX) Foto de Joshua Benoliel ( uma vista da Rua dos Correiros) in AFML
«RUA DOS CORREEIROS [ I ]
A «RUA DOS CORREEIROS» pertence à freguesia de «SÃO NICOLAU». Começa na «RUA DA CONCEIÇÃO» no número 81 e termina (actualmente) na «PRAÇA DA FIGUEIRA» no número 18.
«Foi um topónimo oficializado pela portaria pombalina de 5 de Novembro de 1760 que atribuiu denominações às ruas da Baixa lisboeta, entre a Praça do Comércio e a Praça do Rossio, na sequência da reconstrução da zona após o terramoto de 1755 e que é o primeiro diploma que tratou exclusivamente de matéria toponímica.
A nomenclatura toponímica atribuída corresponde também à fixação de artes e ofícios pelos arruamentos(...)
Sobre a «RUA DOS CORREEIROS) define o diploma o seguinte: "Nesta rua e a que fica entre a «RUA BELA DA RAINHA» (actual Rua da Prata) e a «RUA AUGUSTA», e nela terão arruamento os ofícios de «CORREEIROS», de «SELEIROS» e de «TORNEIROS»"(...).
Anteriormente, por edital Municipal de 06/11/1920, foi deliberado que, a face da «PRAÇA DA FIGUEIRA» situada no lado Ocidental, vulgarmente chamada «RUA DAS GALINHEIRAS» (que tinha os números 1 a 27), conjuntamente com a «RUA NOVA DE SÃO DOMINGOS» em toda a sua extensão, fossem integradas na «RUA DOS CORREEIROS». Mais tarde, pelo edital de 28/08/1950, o troço entre a «RUA DO AMPARO» e o «LARGO DE SÃO DOMINGOS» passou a denominar-se «RUA D. ANTÃO DE ALMADA»(1)
A «RUA DOS CORREEIROS» também chamada de «TRAVESSA DA PALHA», «CORREARIA NOVA» e «NOVA DOS CORREEIROS», embora esta designação oral se fosse perdendo no tempo.
Diz-nos ainda NORBERTO DE ARAÚJO nas suas "PEREGRINAÇÕES EM LISBOA", livro XII, página 42; "Neste troço da «Rua de Santa Justa», entre as Ruas dos Correeiros (vulgo Travessa da Palha) e a Rua da Prata (...) e ainda a «RUA DA PALHA» que ia desembocar na «RUA DA BETESGA» velha. Assim como a «RUA DOS CORREEIROS», foi destinada aos ofícios dos seleiros (...).
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DOS CORREEIROS [ II ]

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

RUA LUZ SORIANO [ IV ]

Rua Luz Soriano - (s/d) - (Ilustração de Onofre Varela) (O benemérito SIMÃO JOSÉ DE LUZ SORIANO) in História de Portugal-Dicionário de personalidades-Volume XX
Rua Luz Soriano - (2009)- (Panorama do sítio do «BAIRRO ALTO» onde destacamos a localização da «RUA LUZ SORIANO) in WIKIMAPIA

Rua Luz Soriano - (1846-1849) - (Luz Soriano escreveu a "HISTÓRIA DO CERCO DO PORTO" em 2 volumes de 1846 a 1849) in ALMANAQUE REPUBLICANO
(CONTINUAÇÃO)
RUA LUZ SORIANO [ IV ]
«SIMÃO JOSÉ DE LUZ SORIANO (4)»
Dos legados que «LUZ SORIANO» fez, podemos destacar a casa onde viveu largos anos na antiga «RUA DO CARVALHO», no BAIRRO ALTO que ficou para a CÂMARA MUNICIPAL, a fim de aí ser instalada uma «aula pública de instrução primária».
Ao legado, juntou a quantia de oito contos de réis para assegurar o seu funcionamento. Como agradecimento, a Câmara, então presidida por «FERNANDO PALHA», alterou a designação da rua, passando para «RUA LUZ SORIANO», através da resolução de 12 de Abril de 1887.
O benemérito foi pois consagrado em vida: faleceria em 1891.
Mas não se fica por aqui as doações do historiador: para os túmulos de «CAMÕES» e de «VASCO DA GAMA», nos Jerónimos, entregou cerca de quatro contos, quantia que previamente ajustou com a oficina de canteiro dos irmãos «CORREIA», situado no «CORPO SANTO». A «CASA PIA DE LISBOA», onde, como se disse, começara a sua vida de estudo, não foi esquecida no testamento de «LUZ SORIANO». O «CASA PIA ATLÉTICO CLUBE» não se esqueceu do benemérito, dando o seu nome a uma biblioteca-museu, onde não faltam os livros e as obras de arte.
A maior e mais conhecida oferta de «LUZ SORIANO» será, porém, a que se encontra mais à vista: deve-se a «SIMÃO JOSÉ DA LUZ SORIANO» a iniciativa de ter sido erigido um monumento a «AFONSO DE ALBUQUERQUE», localizado em «BELÉM» na «PRAÇA AFONSO DE ALBUQUERQUE». Para tanto, deixou em testamento, a quantia então enorme de 35 contos de réis. O escultor «COSTA MOTA» (tio) e o arquitecto «SILVA PINTO», foram encarregados do projecto. O monumento completa no próximo dia 3 de Outubro (107) anos, data em que foi inaugurado.
E foi assim «LUZ SORIANO»: uma vida inteira a amealhar, trabalhando em quantidade e qualidade, para depois espalhar os seus bens em obras meritórias.
Cabe ainda uma breve referência a uma outra casa que foi pertença do historiador: a que se situava na actual «RUA PENA MONTEIRO», antiga «TRAVESSA DO PRIOR», e que «LUZ SORIANO» tomou como "casa de verão". Hoje situa-se numa freguesia plenamente lisboeta, a do «LUMIAR». Como curiosidade maior: esta residência de «LUZ SORIANO» ficava exactamente ao lado da casa onde morou o "pai" da olisipografia: o mestre «JÚLIO DE CASTILHO».
BIBLIOGRAFIA
- Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura 17º Volume, Editorial Verbo
- História de Portugal - Dicionário de Personalidades, Volume XX-QUIDNOVI-2004-página 19
(PRÓXIMO) - «RUA DOS CORREEIROS [ I ]»