Avenida D. Carlos I - (Século XIX) Autor da fotografia não identificado ( Foto de "GUILHERME COSSOUL" na posição de Capitão-Chefe dos Bombeiros Voluntários) in BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE LISBOA
Avenida D. Carlos I - (2007) Autor da fotografia não identificado (Placa que assinala a "SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO GUILHERME COSSOUL" na "Avenida D. Carlos I") in GUILHERME SUGGIA
Avenida D. Carlos I - (195_) Foto de Eduardo Portugal (Reverso da "Cruz Manuelina do Cruzeiro da Esperança", Cristo Crucificado. Esteve até Janeiro de 1835 no "LARGO DA ESPERANÇA", encontra-se actualmente no "MUSEU DA CIDADE") in DISPERSOS - VOLUME I
Avenida D. Carlos I - (195_) Foto de Eduardo Portugal - (Imagem que representa o "CRUZEIRO DA ESPERANÇA" a "Senhora da Piedade" com o "SENHOR" morto nos braços) (Cruz Manuelina do Cruzeiro da Esperança, esteve no "Largo da Esperança" até Janeiro de 1835, encontra-se actualmente no "MUSEU DA CIDADE") in AFML
(CONTINUAÇÃO) - AVENIDA D. CARLOS I [ IX ]
«A "GUILHERME COSSOUL" E O "CRUZEIRO DA ESPERANÇA"»
«GUILHERME COSSOUL»
O prédio pintado de amarelo-torrado, mesmo na esquina da «RUA DA ESPERANÇA» com a «AVENIDA D. CARLOS I», no seu número 61 primeiro andar, está instalada a «SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO GUILHERME COSSOUL», sendo uma das mais prestigiadas colectividades de Lisboa.
Fundada a 7 de Setembro de 1885 por 47 amadores de música e admiradores de «GUILHERME COSSOUL», compositor e prestigiado violoncelista português do século XIX.
Esta colectividade ao longo da sua existência foi sempre de forte dinamização cultural e cívica. Contemplou necessidades educativas, artísticas e desportivas dos seus associados e da cidade de LISBOA. Alfabetizou cidadãos, ensinou ofícios, formou campeões desportivos, músicos, actores, encenadores, dramaturgos, cenógrafos e técnicos de cena.
O seu contributo para o incremento no panorama do Teatro português, pode avaliar-se pelos nomes que por aqui passaram e se foram afirmando no sector do espectáculo. Sem querer ferir susceptibilidades de alguém, vou só indicar os nomes mais antigos e conhecidos do grande público, tendo alguns desempenhado não só o papel de actores como ainda se revelaram grandes encenadores. ALINA VAZ - ISABEL WOLMAR - ARTUR SEMEDO - CARLOS AVILEZ - HENRIQUE VIANA - HUMBERTO D'AVILA - JACINTO RAMOS - JOSÉ VIANA - RAUL SOLNADO - ROGÉRIO PAULO e VARELA SILVA.
Ligada à prática musical e ao teatro, chegou a existir a «SOCIEDADE FILARMÓNICA ALUNOS DE GUILHERME COSSOUL» que mais tarde daria a «SOC. DE INSTRUÇÃO GUILHERME COSSOUL» que, pouco tempo da sua formação passariam a ocupar o excelente edifício pombalino na «AVENIDA D. CARLOS I». Foi uma Sociedade criada por músicos, que só poderia ter nascido vocacionada para a prática e o ensino das artes dos sons, bem assim como para a representação, tendência que foi dominante até cerca de 1910.
Chegou mesmo esta «SOCIEDADE» a ser apelidada de «CONSERVATÓRIO DA ESPERANÇA».
«GUILHERME COSSOUL» além de bom violoncelista tinha também a qualidade de saber ensinar. Mas as suas faculdades não se esgotavam como grande humanitário que demonstrava, foi nomeado «CAPITÃO-CHEFE DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS» por «El-Rei D. LUÍS I» e empossado Comandante da Nova Companhia, sendo alugada uma casa na «TRAVESSA ANDRÉ VALENTE» para quartel e recolha da bomba braçal. Como curiosidade, o baptismo de fogo dos novos bombeiros deu-se na madrugada de 22 de Outubro de 1868, no incêndio das TERCENAS, na «TRAVESSA DA PRAIA DE SANTOS» já desaparecida.
Numa entrevista ao jornal «A CAPITAL» de 28.09.2000, «RAUL SOLNADO» (de alcunha "o Raul das vassouras", motivado pelo seu pai ter -na época- um negócio de vassouras), terá recordado o seu bairro da «MADRAGOA», ao dizer que nasceu e cresceu naquele bairro muito característico e típico de LISBOA: Era um bairro de gente do mar, vinham muitas pessoas de OVAR, "os OVARINOS", daí as varinas, as mulheres que vendiam o peixe". Tinha as melhores recordações daquele bairro de pessoas muito solidárias e amáveis. Diz também que não podia deixar de lembrar a «GUILHERME COSSOUL», Associação recreativa onde começou a representar, ele, o José Viana, Henrique Viana o Jacinto Ramos e muitos outros que tiveram uma carreira bem sucedida.
«O CRUZEIRO DA ESPERANÇA»
Em frente ao «CHAFARIZ» entre o «CONVENTO DA ESPERANÇA» e as primeiras casas da rua que vai para «SANTOS» existiu o denominado «CRUZEIRO DA ESPERANÇA». Um "Monumento" de Piedade, senão muito artístico, pelo menos cheio de terno e doce pitoresco, sem rivalizar com a arte patenteada no seu homólogo de «ARROIOS».
Existe referência da existência do Cruzeiro por volta de 1578. Era formado de um telheiro colocado sobre pilares de ferro, com vidraças em volta, duas escadas circulares de cantaria um pouco vulgar; dentro encontrava-se de um lado a «IMAGEM DA SENHORA DA PIEDADE», com o "SENHOR" morto nos braços, e na parte oposta um «JESUS CRUCIFICADO». Pendia do alto uma luz, que ardia de noite, acesa pelos fiéis e sustentada pela crença da gente bairrista, o povo varino das fainas do mar e do mourejo dos mercados e vias citadinas.
Quando no dia da festividade da «SANTA CRUZ», os moradores da freguesia de «SANTOS» contribuíam com algumas esmolas, empenhavam-se em solenizar e render homenagem àquele "Monumento", não só com grandes fogueiras com muito fogo na véspera, como também armado um coreto, onde se colocava uma banda de musica marcial.
O «LARGO DA ESPERANÇA» encontrava-se todo juncado de flores, buxo, espadana, e muita areia encarnada; o CRUZEIRO estava todo ornado de sedas e de flores com muitas velas de cera dentro, estando acesas de dia e de noite; a afluência do povo era numerosa. No dia da festividade celebrava-se "MISSA CANTADA", com "SACRAMENTO" exposto no «CONVENTO DAS RELIGIOSAS DA ESPERANÇA».
Eram distribuídas esmolas aos pobres, era um dia de alegria e festivo para os moradores daquele sítio.
Este "Monumento" foi mandado demolir de noite por um partido da Câmara Municipal, sendo levados para a "CERCA DA ESPERANÇA" alguns objectos. A imagem do "CRUZEIRO" com a "SENHORA DA PIEDADE" foi levada para o Convento, onde permaneceu uns tempos.
Em Janeiro de 1835 solicitou e obteve a CÂMARA a remoção da "Imagem Sagrada" que se venerava no cruzeiro; e logo depois, foi este demolido ( 1 ).
Um edital da mesma Câmara de 1 de Junho de 1854 proibia as festas de arraiais que era uso antigo celebrarem-se em algumas praças da capital ( 2 ).
Sabe-se que os restos deste «CRUZEIRO DA ESPERANÇA» se encontram presentemente no «MUSEU DA CIDADE».
- ( 1 ) - Sinopse dos primeiros actos administrativos da CML, em 1835, pag. 5
- ( 2 ) - Annaes do Município de Lisboa, 1858, Nº 12, pág. 108.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«AVENIDA D. CARLOS I [ X ] - O CONVENTO DAS FRANCESINHAS( 1 )»