segunda-feira, 30 de março de 2009

CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA [VI]

Calçada da Cruz da Pedra - (s/d)- Fotógrafo não identificado (6º Conde de São Vicente D. Manuel Carlos da Cunha e Távora) in general.net
Calçada da Cruz da Pedra - (s/d) - Fotógrafo não identificado (Rua da Madre de Deus ao cimo a Calçada da Cruz da Pedra) in Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
(CONTINUAÇÃO)
CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA
«O 6º CONDE DE SÃO VICENTE (1)»
Manuel Carlos da Cunha e Távora 6º Conde de São Vicente, nasceu a 29.01.1749 e faleceu a 08.12.1795.
Este fidalgo esteve envolvido num episódio que muito apaixonou a opinião pública da época e que o forçou a retirar-se a toda a pressa, para Espanha, para assim se furtar a mais graves consequências.
Vivia então com seus pais e uma irmã, perto das Salgadeiras, ao Bairro Alto, uma jovem actriz,
conhecida popularmente pela Francisquinha e que, por ser filha de um esteireiro, tinha a alcunha de «ESTEIREIRA». A sua beleza e a sua desenvoltura deliciavam as plateias dos teatros do Bairro Alto e da Rua dos Condes, trazendo incendiados os corações de muitos dos espectadores que, terminada a representação, a seguiam até à sua morada e por ali ficavam na esperança de, noite alta, lhe poder falar. Era toda a juventude peralta, fidalga e não fidalga, de Lisboa pombalina ainda mal refeita do terramoto.
Perto da casa da Francisquinha vivia um mestre-de-campo dos Auxiliares de Trás-os-Montes, José Leonardo Teixeira Homem, rapaz conhecido pela sua elegância e pela fama de várias aventuras amorosas, que logo passou notoriamente a fazer parte do grupo de galanteadores, ateando vastos ciumes entre os demais concorrentes, entre os quais se encontrava também o Conde de São Vicente.
Uma noite, em meados de Novembro de 1774, Teixeira Homem recolhia a casa já de madrugada, quando seis embuçados armados investiram com ele, acabando por matá-lo e abandonando o seu cadáver na rua até que de manhã foi encontrado, com grande emoção da população de todo o bairro e depois de toda a Lisboa.
Surgiram as insinuações de que o assassino só poderá ter sido cometido ou ordenado por algum dos admiradores da «ESTEIREIRA», por motivo de ciúmes, e logo as suspeitas caíam sobre o Conde de São Vicente que, por ser pessoa de alta estirpe, rodeado de lacaios obedientes, poderia com facilidade preparar a espera e mandar matar o rival.
A qualidade do morto e o romance do drama bastavam para atrair as atenções gerais e Lisboa inteira expandia-se em vociferações contra o fidalgo e em versos insultuosos, como aquele que uma manhã apareceu escrito num papel afixado no Pelourinho que há pouco havia sido erguido na Praça do Município.
Está belo e excelente
P'ra o CONDE de SÃO VICENTE (1).
(1) - NOBREZA DE PORTUGAL E DO BRASIL - Direcção e coordenação do Dr. Afonso Eduardo Martins Zuquete - Editorial Enciclopédia, Lda.- Lisboa e Rio de Janeiro Volume III - 1961 Página 358.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA [VII] - O 6º CONDE DE SÃO VICENTE (2)»


4 comentários:

Popelina disse...

Querido APS, as suas histórias tão bem contadas continuam a encantar-me. Nem sempre comento, porque digo sempre o mesmo: obrigada, obrigada, obrigada.

APS disse...

Mas é sempre com muito gosto, que registo as suas palavras amigas.
O meu muito obrigado!

Anónimo disse...

Blog interessante, mas em relacao ao sexto Conde de S.Vicente contem um pequeno erro. Os Condes que viveram em Cruz da Pedra nao foram conterraneos deste Conde. Este palacio foi adquirido bastante mais tarde. Se me permite curiosamente a Travessa da Espera no Bairro Alto tem este nome por ter sido aqui que se verificou o alegado ataque a Teixeira Homem.

APS disse...

Caro Anónimo

Agradeço as suas palavras e tem razão quanto á contemporaneidade do 6º Conde de S. Vicente (1749-1795). Ele não chegou a residir nesse palácio da Cruz da Pedra, porque em 1837 ainda pertencia ao Visconde de Manique.
Da «TRAVESSA DA ESPERA» gostei de saber, vou apurar mais um pouco.
Muito obrigado pelo contacto,
Cumpts
APS